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quarta-feira, 16 de outubro de 2013

A face oculta do mundialismo verde



Pascal Bernardin


Tradução de Joel Nunes dos Santos e Roberto Mallet

Os visitantes deste site já conhecem o nome de Pascal Bernardin, tanto pela alusão que a ele fiz no meu artigo “Ideário do absurdo” quando pelos comentários de Charles Lagrave no link O império ecológico e o totalitarismo planetário. Agora encontrei esta conferência dele na página do Instituto Euro 92 (onde há dezenas de outras leituras importantíssimas), e não pude deixar de transcrevê-la aqui com algumas notas minhas, malgrado minha falta de tempo para traduzi-la. Se algum visitante puder fazer a tradução e enviá-la a olavo@olavodecarvalho.orgterá prestado um esplêndido serviço a todos. – O. de C.

Nota do Instituto Euro 92

Desde o fim do comunismo, o socialismo bate em retirada ao conceder mais espaço aos mecanismos que deixam uma maior margem de liberdade aos comportamentos individuais. Contudo, a ameaça não desapareceu. Embora não se trate de grandes leis históricas que fariam do Proletariado o instrumento e o veículo do Progresso, trata-se da Ecologia – mais precisamente, das elites científicas e ecológicas que se autodenominaram os messias dos novos tempos – que pretendem impor seus objetivos como elementos reguladores da liberdade dos indivíduos. No texto a seguir, Pascal Bernardin, autor de “O Império ecológico” mostra como o problema da gestão dos “bens comuns” é hoje em dia utilizado como álibi para recriar completamente as regras da justiça e da moral, sempre pretendendo manter-se no estrito limite de uma crítica liberal. Este texto é a transcrição de uma conferência pronunciada ao Instituto Euro 92 no dia 14 de abril de 1999.

Permitam-me, de início, apresentar-me. Sou politécnico e doutor em informática. Ensino informática fundamental, quer dizer, matemática da informática na Universidade de Aix-Marseille III.

Esclareço-o porque irei tratar de questões científicas muitas vezes debatidas, em particular a questão do efeito estufa.

Vim falar de minha obra intitulada O Império Ecológico, lançada em dezembro de 98, a qual trata da ecologia em suas principais dimensões, com a notória exceção dos aspectos jurídicos e educativos.

No curso desta conferência, vou mostrar como e em que medida a política e os temas ecológicos se articulam com os dois fenômenos políticos maiores do último decênio e do fim do século, a saber, a perestroika e a emergência da Nova Ordem Mundial.

As questões ecológicas são as questões fundamentais que envolvem todos os domínios: domínio econômico, político, constitucional, financeiro, e às vezes o ético e o religioso. Trata-se, portanto, para mim, de uma questão verdadeiramente central, que retoma certas idéias liberais mas que vai muito além delas.



De início, na primeira parte desta intervenção, quero falar dos objetivos mantidos pelas elites pós-comunistas que permaneceram de pé, malgrado o desaparecimento do comunismo e da queda do muro de Berlim, as quais, hoje em dia, estão integradas no conjunto das elites ditas mundialistas, alojadas no coração das instituições internacionais. Vocês notarão a diferença entre mundialismo e mundialização. Conservo o termo mundialismo para descrever a emergência das forças políticas em nível mundial; reservo o termo mundialização para a emergência de um mercado global e de instituições econômicas e financeiras globais.
A situação política do último quarto de século tem sido marcada pela queda do muro de Berlim, e simultaneamente pela instauração de uma “Nova Ordem Mundial” proposta pelo presidente George Bush. Considero que a análise desses dois fenômenos permanece ainda muito incompleta. Com efeito, nenhuma explicação real do fenômeno da perestroika foi dada. Além do mais, os objetivos precisos da mundialização e do mundialismo permaneceram muito vagos. Dito de outro modo, estamos, atualmente, num vazio conceptual absoluto; vazio que toca os dois elementos principais da vida política mundial deste fim de século. Tais são os elementos que vou pôr em evidência, adotando a ecologia como fio condutor.



No que se refere ao mundialismo, vou basear-me exclusivamente nos textos oficiais das instituições internacionais – e eles são extremamente numerosos –, como Our Global Neighbourhood (1995 – Oxford University Press), um relatório da Comissão sobre o Governo Global (Comission on Global Governance). É uma comissão estabelecida sob a égide da ONU, que inclui membros eminentes e de elevadíssimo nível, em particular Jacques Delors, atualmente Presidente da Comissão européia.

De um outro ponto de vista, vou referir-me a Ethics and Spirituals Values, relatório redigido pelo Banco Mundial, centrado nos valores éticos e espirituais para um desenvolvimento durável; quer dizer, para um desenvolvimento ecologicamente são, ou pelo menos pretendido tal.

Enfim, e não o menor deles, a um documento oriundo da conferência de Copenhague, organizado pelas Nações Unidas (Cúpula Mundial para o Desenvolvimento Social, de 6 a 12 de março de 1995), com o título de As Dimensões Éticas e Espirituais do Desenvolvimento Social.


Para as referências à perestroika, apoio-me igualmente em documentos públicos, que não têm a mesma autoridade porque não possuem a chancela das Nações Unidas, contudo escritos por Gorbatchev e Chevernadze entre outros.

Da Perestroika à ecologia

Para começo de conversa, que é a perestroika? Contrariamente ao que a mídia quer nos impingir, é algo diferente da queda do muro de Berlim sob um incontido impulso democrático. A perestroika é, na realidade, um movimento que foi planejado desde o fim da década de 1950. Sua descrição chegou-nos de um certo Goligsyne, oficial superior da KGB, que mudou para o Ocidente no fim dos anos 1960. Encontramos seus escritos num relatório que estava destinado aos Serviços Secretos, mas também numa obra pública que apareceu antes de 1985 e da chegada ao poder de Gorbatchev. Que diz ele? Que a perestroika é um processo socialista revolucionário, inspirado na Nova Política Econômica de Lênin: que ela está destinada a reestruturar (perestroika significa reestruturação) o socialismo na URSS e não a erradicá-lo. Sobretudo, trata-se de reestruturar a imagem que os ocidentais podem ter do socialismo em geral.

Descartando completamente a tese de um complô mundial, minha convicção é que é a reunião dos temas revolucionários, que permanece de pé atualmente, contidos na perestroika, que se encontra no coração da política ecológica. Não existe acaso. É possível lembrar que Gorbatchev, em seus escritos, diz explicitamente que a ecologia é um veículo revolucionário. Hoje em dia, Gorbatchev é o Presidente da Cruz Verde internacional.

Falemos agora dos objetivos do poder mundialista. Este poder pretende, evidentemente, tirar proveito, ao mesmo tempo, tanto da experiência democrática como da liberal – as referências aos elementos liberais são numerosas, não obstante considerando-as num quadro que não tem, na realidade, muita coisa a ver com o liberalismo – a fim de, delas, fazer uma síntese orientada por um objetivo na verdade coletivista. Este poder parte do princípio – liberal! – de que toda coerção está voltada ao fracasso, que os métodos não coercitivos, que deixam nos governados a ilusão de liberdade, são os que devem ser utilizados para chegar ao objetivo pretendido.

A idéia de recusar a coerção e fazer apelo apenas ao sentimento de liberdade é uma idéia fundamental utilizada por um grande número de pensadores. Penso, por exemplo, em Antônio Gramsci, o revolucionário do início do século, que sempre achou que a política stalinista era um erro, que ela não poderia senão conduzir ao fracasso da Revolução, muito simplesmente porque era preciso, antes, proceder a uma revolução cultural – uma revolução da superestrutura ideológica – para, em seguida, ser bem sucedido na condução desta revolução na infraestrutura. Isto é o exemplo típico de uma idéia não coercitiva, que denominarei também não aversiva (para retomar uma certa terminologia de psicologia social), cujo objetivo visa, primeiramente, à cultura, antes de tentar modificar o estrato econômico.

Outras correntes de idéias desenvolvem a mesma relação: como por exemplo B. Skinner, o fundador de uma escola de psicologia – o Behaviorismo – que, em substância, diz que o homem é uma máquina à qual basta dar estímulos positivos para obterem-se boas respostas. Skinner diz também, de maneira ainda mais explícita, que a repressão é inútil: que, ao contrário, os reforços não-aversivos – quer dizer, as recompensas – são sempre extremamente úteis para modificar o comportamento dos indivíduos. Os reforços aversivos, eles, provocam a oposição e a crispação dos indivíduos e da sociedade, e estão, em conseqüência, fadados ao fracasso.

Uma aplicação das teorias do controle

Outros trabalhos de psicologia social dedicam-se a desenvolver esta relação. Penso na psicologia do engajamento, uma teoria psicológica segundo a qual modifica-se eficazmente os comportamentos, e, em conseqüência, os valores, ao levar as pessoas a se engajar (no sentido de dirigismo), e, portanto, proibindo-se, por isso, toda prática aversiva.

Vemos assim surgir uma diferença fundamental entre poder e controle. O exercício do poder é a técnica tradicionalmente adotada por todos os Estados do planeta. Ela tem como principal defeito chocar-se contra a revolta latente dos indivíduos que lhes estão submissos. O exercício do controle é uma técnica toda diferente, que consiste em colocar as pessoas num quadro tal que elas desfrutarão de um sentimento de liberdade, às vezes de grande liberdade, ao tempo em que esta liberdade será, na realidade, estreitamente canalizada num quadro fixado pelos governantes. Esta oposição entre controle e poder permite assegurar a síntese de numerosos trabalhos, e de compreender o que está a caminho de ocorrer tanto no Ocidente quanto no antigo bloco comunista.

As idéias que presidem tanto à perestroika quanto à instauração da Nova Ordem Mundial são uma aplicação das teorias do controle. Elas pretendem modificar os quadros que organizam nossas ações em todos os domínios. Os quadros (âmbitos) são numerosos: religiosos – os principais âmbitos mentais são fornecidos pela religião –, éticos – citados nos documentos abaixo mencionados –, ideológicos. Mais freqüentemente, trata-se de reorganizar a cultura e os objetivos de nossa sociedade com relação a um “objetivo supra-ordenado” – quer dizer, um objetivo final da socidade em torno do qual todos os demais objetivos se ordenam.

Eis-nos portanto confrontados, devido a nossos problemas ecológicos, com um inimigo, que não é mais comunista, mas coletivista. O inimigo, sempre socialista, está sempre vivo, e, embora esteja imerso na cultura liberal, persegue sempre a velha idéia de realizar a síntese do “socialismo de mercado”, porém por outros meios.

Uma descrição mais científica da lógica deste movimento revolucionário articula-se em torno da teoria dos sistemas e da teoria do caos. Para os que não estão familiarizados com estes conceitos, vou descrever a teoria do caos a partir de um exemplo muito simples. Se alguém coloca um cigarro no meio desta sala, a fumaça a encherá muito rapidamente. Porém, a fumaça vem quase que de um único ponto, da ponta do cigarro, e cinco minutos mais tarde, as parcículas de fumaça preencherão toda a sala. Este exemplo significa que as partículas de fumaça, que estão inicialmente em posições muito próximas, podem, ao cabo de um tempo relativamente curto, encontrar-se nas posições extremamente afastadas, às vezes totalmente opostas. A característica de um sistema que se encontra numa situação de caos é que ele pode evoluir em diereções radicalmente opostas.

De um ponto de vista construtivista – quer dizer, do ponto de vista de indivíduos que querem agir sobre a sociedade para conduzí-la a uma certa condição – esta experiência significa que, se é possível escolher uma partícula de fumaça, e se se conhece precisamente a evolução das partículas de fumaça, pode-se escolher aquela que se encontra em tal lugar, lá onde se deseja que ela chegue. Se uma partícula não se encontra lá onde se deseja conduzí-la, basta deslocá-la muito levemente desde o início – desde as condições inciais, como dizem os cientistas – para que ela acabe lá onde se deseja que ela esteja. A característica de uma situação de caos seria tal que permitira modificar radicalmente a evolução futura, sempre introduzindo apenas leves modificações na situação inicial. Para usar uma linguagem mais abstrata, dir-se-ia que uma situação caótica se controla com as forças muito fracas, como o deslocamento quase que infinitesimal das partículas de fumaça da ruim à boa posição inicial.
Se se transporta esta relação ao domínio social, ao domínio econômico e ao domínio político, as conseqüências são, evidentemente, imensas.

Segundo a teoria dos sistemas, caso se queira modificar a trajetória da partícula de fumaça, aquele que estiver fora deste sistema, deverá fazer parte de um sistema de ordem superior. Devemos então imaginar que o subsistema inferior, a fumaça, está submissa a um sistema de ordem superior – por exemplo, ao experimentador, este podendo estar também submisso a um outro sistema, digamos, por exemplo, a um sistema jurídico, ele também condicionado por sua dependência a respeito de um quarto sistema de uma ordem ainda superior, como o sistema legislativo, e assim por diante. Temos, portanto, uma hierarquia de sistemas onde cada um dentre eles pode intervir sobre o sistema de nível imediatamente inferior graças a forças muito fracas. Portanto, o sistema (a fumaça) pode ver suas trajetórias modificadas graças às forças infinitesimais, aplicadas por um operador do qual se poderá, caso ele se encontre numa situação caótica, modificar o comportamento por meio de forças igualmente muito fracas, o processo repetindo-se indefinidamente de um nível a outro. Assim, se admitimos uma hierarquia sistêmica de universos caóticos, podemos manipulá-los com forças muito fracas em cada nível.

Conciliar um liberalismo aparente com um construtivismo sempre real.

Não descrevi, no caso presente, nada mais que as instituições de poder internacional que estão na iminência de se estabelecerem, com uma hierarquia de níveis, em princípio mundial, depois continental, regional, nacional, departamental, municipal, etc.

A particularidade desta teoria dos sistemas, quando aplicada às ciências sociais, é permitir, em teoria, conciliar liberalismo – um liberalismo “aparente” – e coletivismo – mas um coletivismo bem “real”; o que, do ponto de vista midiático e político, não é, bem entendido, nêutro.

Temos assim um subsistema que está em baixo, o dos atores econômicos, numa situação aparentemente liberal; depois, acima, as instituições internacionais, que não canalizam necessariamente a ação desses atores econômicos, mas modificam suas antecipações manipulando a moeda, o orçamento, as legislações ou as regras do comércio internacional. Temos, então, um dirigismo real no alto e, para as necessidades intermediárias, uma suficiente aparência de liberalismo em baixo. Temos exatamente a mesma coisa no domínio político, com uma democracia aparente e um dirigismo, às vezes um totalitarismo, totalmente reais. Em baixo vota-se, mas o quadro dentro do qual se efetua o voto é predeterminado desde cima.

Lembro a vocês que o mundialismo é o movimento que se identifica com a emergência de forças políticas mundiais, no primeiro nível das quais está a ONU. Esta representa uma verdadeira força política mundial. Ela responde a uma lógica que, de um lado, lhe é interna; de outro lado, o mundialismo dá-se por objetivo a criação de uma nova civilização, como se verá na seqüência de minha explicação. Não nos iludamos: temos necessidade de instituições internacionais em certos domínios; tais domínios, porém, são, de fato, pouco numerosos.

Depois de ter mostrado os métodos, vou agora falar dos objetivos.

O primeiro, tal como está claramente expresso em todos os documentos citados, é diminuir, ou pelo menos estabilizar, a população humana, com números variáveis segundo as fontes. Há textos que falam de quinhentos milhões de pessoas! É o caso, por exemplo, de Jacques-Yves Cousteau, para quem a população humana não deveria ultrapassar meio bilhão! de pessoas.

Um segundo objetivo é o de impor, graças à influência da mídia, mas também por meio da lei, valores ecológicos que implicam numa profunda modificação de nossos valores. É assim que alguns chegam mesmo até a pretender criar uma nova religião, que se apoia numa nova espiritualidade, como abertamente o dizem certas obras às quais já me referi.

Terceiro objetivo: a equalização mundial dos salários. Os textos são superabundantes e totalmente explícitos. Eles revelam uma obsessão igualitarista que tende à equalização dos salários em todo o planeta. O que resulta, bem evidentemente, num controle da economia, das riquezas e da finança.

Uma vez que se tenha esses objetivos na cabeça, não é difícil compreender que a ecologia constitui uma formidável alavanca para assegurar sua realização.

O falso processo da camada de ozônio

Referir-me-ei, em princípio, ao buraco na camada de ozônio, depois ao efeito estufa. E para isto, começarei pela questão dos “objetivos supra-ordenados” dos quais já falei.

Trata-se de um conceito de psicologia social, desenvolvido, por exemplo, nos trabalhos de Mustapha Shérif. Em substância, diz-nos, dois grupos antagonistas – ou pelo menos aparentemente antagonistas – não podem chegar a cooperar ou a se aproximar a menos que exista um objetivo suscetível de focalizar o conjunto de suas energias. Este objetivo, qualificado de “supra-ordenado”, deve amalgamar todos os outros objetivos, em particular aqueles dos atores individuais, mas também congregar os Estados, os ministérios, ou toda outra organização dirigente. Isto significa reinventar o totalitarismo, caso se lembre que, no passado, os “objetivos supra-ordenados” foram os da raça, da classe ou de uma casta.

Enquanto que o buraco na camada de ozônio nada mais é que um balão de ensaio, o efeito estufa, ele, é verdadeiramente concebido e apresentado como um “objetivo supra-ordenado” maior. Penso, por exemplo, em Al Gore, quando ele diz que é preciso criar uma nova civilização, cuja proteção do meio-ambiente será o pivô.

Interroguemo-nos sobre a realidade desses fenômenos. O buraco na camada de ozônio , como, sem dúvida, você se lembra, foi o símbolo de uma época quando a abertura do jornal televisado das 20 horas se fazia freqüentemente com uma imagem em cores falsas representando a Antartica e o buraco, este enorme buraco que, diziam-nos, crescia inexoravelmente e ameaçava cobrir todo o planeta, absorver-nos, queimar-nos, com, em conseqüência, um aumento considerável e inelutável do número de cânceres de pele, mutações genéticas incontroláveis, ou ainda a destruição inevitável da bio-diversidade (porque algumas espécies são mais sensíveis a ele que outras).

Desde então, o gás acabou. E, desde há muito, não se escutou mais falar do buraco na camada de ozônio.

O que é preciso reter? Um pequeno artigo de cinco centímetros e meio por quatro e meio, do prêmio Nobel de química Paul Crutzen, na página vinte quatro de um número do jornal Le Monde: “quando as previsões apocalípticas foram noticiadas”, lia-se, “não se conhecia exatamente a amplitude da deterioração da camada de ozônio. Agora, sabe-se que os danos serão mínimos. A demonstração tem sido feita, de que a camada de ozônio deteriora-se num rítmo muito lento.” Este é o ponto-de-vista de numerosos outros cientistas.

Tem-se dito que o buraco seria causado pelos CFC (Cloro-Fluor-Carbono), um produto químico que se encontra principalmente nas geladeiras. Esses CFC foram fabricados industrialmente após a segunda guerra mundial, e sua produção em massa marcou os anos 1960, época do grande boom econômico.

Ora, a comunidade científica conhecia o buraco na camada de ozônio – a literatura científica disso dá fé – desde 1929; quer dizer, pelo menos trinta anos antes da produção intensiva dos CFC ter começado. Eles não podem, portanto, ser a causa do fenômeno.

Mas sua existência serviu maravilhosamente aos desejos de certas organizações internacionais – notadamente a Organização Meteorológica Mundial, sempre em busca de maiores orçamentos para financiar suas pesquisas. É ela que iniciou a grande campanha de sensibilização das opiniões públicas. Por isto, os cientistas que lhe deram apoio – como Paul Crutzen, antes de ele mudar, parece, de ponto-de-vista – desenvolveram os modelos matemáticos complexos que demonstravam – diziam-nos – que os CFC rejeitados pelo homem destruiriam inexoravelmente a camada de ozônio. Mas esses modelos eram, na realidade, baseados em bases experimentais extremamente frágeis e incompletas.

Hoje em dia está quase que admitido e provado que esses modelos eram incapazes de simular a realidade, portanto, que eles eram falsos.

Como já disse, a literatura científica mostra claramente que, desde 1929, portanto, muito antes da produção em massa dos CFC, o buraco na camada de ozônio era já uma realidade. Ele resulta de um fenômeno natural que existe desde sempre e que se observa em lugares extremamente afastados, principalmente o Polo Sul. O que está em causa é principalmente a atividade vulcânica natural do globo. Os vulcões lançam infinitamente mais Cloro na atmosfera que os CFC. Por exemplo, citarei o Monte Érebo, um vulcão da Antártida em constante erupção, que lança permanentemente milhares de toneladas de gases, notadamente os compostos clorados, justamente no lugar onde se situa o famoso buraco na camada de ozônio.

Dispomos hoje em dia de numerosos elementos que vão em sentidos totalmente incompatíveis com a tese das mídias que acusam o homem de autor deste crime ecológico.

Dito isto, as conseqüências econômicas e políticas, elas, são verdadeiramente reais.

Haverá, em princípio, a criação de órgãos internacionais encarregados de controlar a evolução do buraco, e de incitar os Estados a impedir este processo destruidor. Elas, porém, têm-se mantido relativamente discretas, com relação ao que se passa num outro front, o do efeito estufa.

Há em seguida o efeito midiático e psicológico que se traduziu pela introdução na consciência coletiva de um sentimento novo: o de uma autêntica responsabilidade mundial que envolveria tanto os russos, os chineses, os americanos, quanto os europeus (porque, na atmosfera, todos os dejetos terminam por se misturar). Assim apareceu, e se impôs, a idéia de que se estava verdadeiramente em face de um real problema comum, que era preciso necessariamente gerir em conjunto.

Assim, criou-se um sentimento de interdependência, o qual conduz as opiniões públicas a considerar que sua sorte está doravante ligada aos dejetos de CFC que poluem o outro lado do planeta. Recuar admití-lo designa quem o faça, automaticamente, como cúmplice de um empreendimento de destruição do planeta. Difunde-se assim um sentimento de fidelidade, não mais a uma comunidade local, nacional, talvez européia, mas a uma comunidade mundial. Este fator psicológico representa um fato político de primeira grandeza.

A impostura do efeito estufa

Agora, falemos do efeito estufa. Ele resulta, dizem-nos, do aquecimento do gás carbônico lançado na atmosfera pela combustão da madeira, do gás natural ou do petróleo. Esta ameaça é terrificante, porque dela deveria resultar uma elevação da temperatura terrestre média, compreendida entre dois e cinco graus. O nível dos mares poderia elevar-se algumas dezenas de centímetros. As doenças tropicais elevar-se-iam em nós e o ciclo da água potável em seu conjunto seria totalmente perturbado.

Tratar-se-ia, portanto, de um problema verdadeiramente global, que envolveria todo o planeta, porque toda atividade humana implica numa produção de energia, portanto de emissão de gás carbônico. É um problema econômico global que envolve toda a sociedade, na menor de suas atividades, como dirigir ou se deslocar. Todo o domínio social, político e institucional estará fatalmente envolvido. Mesmo o domínio ético, porque, na avaliação do perigo infinito que esta ameça faz pesar sobre o planeta, é preciso, dizem-nos, modificar todo nosso sistema de valores, inclusive os valores espirituais.

É preciso igualmente adaptar o direito internacional, modificar também todo o sistema educativo.

Está-se então em presença de um fenômeno “sistêmico”, quase que em seu estado puro, e que envolve todos os domínios da liberdade e da organização dos seres humanos.

A Comissão Trilateral, cujos membros representam, exclusivamente eles, quase que sessenta por cento das forças econômicas do planeta, evoca claramente o objetivo de uma redução do consumo de energia nos países desenvolvidos compreendido entre 20 e 60%. Deixo que vocês imaginem o que isto significa em termos econômicos.

Do ponto-de-vista científico, o que se pode pensar disso? Duas escolas digladiam. A primeira, a escola dos liberais, mantida pelos sábios americanos de renome, fala explicitamente de impostura. A segunda escola é a dos revolucionários que, desde o fim dos anos sessenta, não param de anunciar uma catástrofe iminente. Para eles, é incontestável que a temperatura já começou a aumentar, e inclusive que o nível dos mares já sofreu um sensível fenômeno de elevação. Na realidade, os que falam assim baseiam-se, uma vez mais, em modelos muito incompletos, aproximativos, e portanto completamente falsos, segundo o ponto-de-vista mesmo dos sábios, os mais rigorosos e os mais objetivos.

Todas as previsões deduzidas destes modelos até aqui sempre se revelaram inexatas, muito afastadas da realidade. A mais bela prova de seu erro repousa em sua incapacidade de dar uma simulação aceitável das evoluções climáticas do passado. As equações que utilizam são muito simplificadas. Notadamente, elas não integram os fenômenos de ondas planetárias, que desempenham, neste domínio, um papel importante.

Os trabalhos mais rigorosos, e que não se apoiam unicamente sobre modelos de simulação matemática, sugerem que há, efetivamente, um certo aumento da temperatura devido ao gás carbônico. Eles não negam que as emissões humanas possam exercer uma influência sobre a evolução dos climas. Contudo, eles mostram que esta influência é extremamente fraca – da ordem de 0,5 grau apenas –, que ela está no limite do imperceptível, e que ela não representa, de fato, grande coisa com relação às flutuações climáticas naturais que se registram ao longo dos séculos.

Não devemos esquecer que o clima é um elemento que varia permanentemente. Por outro lado, meio grau de aquecimento seria antes uma boa coisa, porque o aumento da concentração de gás carbônico, que o provocasse, beneficiaria mais que prejudicaria o crescimento das plantas, portanto à agricultura, às florestas, e mais geralmente à vida – porque esta se baseia, em princípio, no fenômeno da fotossíntese.

Talvez seja possível identificar alguns efeitos secundários negativos bem insignificantes; contudo, fundamentalmente, os ecologistas convencem apenas a eles mesmos, e os que desejam ser convencidos.

De fato, o efeito estufa é principalmente imputável às modificações da atividade solar, o sol sendo o principal vetor de influência do clima. Os cientistas observam esta influência desde há uns cinqüenta anos. Mesmo que não compreendamos ainda todos os seus mecanismos, é um fenômeno que se torna cada vez melhor conhecido. Destarte, é bem conhecido, igualmente, que os elementos contingentes, como a modulação da irradiação galática, exercem uma influência sobre a evolução da cobertura das nuvens e assim modificam a maneira pela qual uma parte dos raios solares é reenviada em direção ao espaço.

Portanto, que dizer disso, senão que isto com o que tratamos nada mais é que uma grande “escroqueria”? A maioria dos sábios se esforça em resistir a esta dupla impostura midiática e política (porque os políticos, caso realmente quisessem, teriam todos os elementos à sua disposição para saber do que verdadeiramente se trata).

O princípio de precaução, retorno ao pensamento mágico

As conseqüências desta impostura são gigantescas, porque elas envolvem todos os domínios, quer sejam econômicos, éticos ou espirituais. É preciso então bem compreender o que está envolvido. Principalmente tudo o que deriva da ativação do famoso “princípio de precaução” ao qual todo mundo se refere hoje em dia cada vez mais abertamente.

Substancialmente, este princípio diz toda ação deve ser proibida, uma vez que não esteja provado de maneira indiscutível que ela não introduzirá efeitos negativos.

Fato essencial, este princípio de precaução se encontra desde já, de fato, integrado no direito, tanto no direito internacional quanto no direito francês. Não se trata apenas de uma fantasia de intelectuais. Porém, de um instrumento extremamente poderoso que nos imerge diretamente no universo do pensamento mágico. Com efeito, caso se o siga ao pé da letra, resulta que desde que alguém vislumbre um perigo, ainda que imaginário, cria-se uma regra de direito que nos proibe tudo que poderia concretizar este perigo (imaginário) e nos ordena expressamente fazer o que poderia minimizá-lo. Deste modo, se um ecologista afirma, de maneira convincente (mas puramente retórica) que queimar petróleo aumenta a temperatura da atmosfera, mesmo que ninguém de fato nada saiba a respeito, e se não existe nenhuma prova científica, resulta do princípio de precaução que esta afirmativa se torna ipso facto verdadeira do ponto-de-vista do direito, e desencadeia efeitos jurídicos(1).

A culminação de uma tal conclusão é, logicamente, conduzir à suspensão de toda atividade econômica, e de toda atividade tout court! Concretamente, trata-se somente de limitar a atividade econômica dos países desenvolvidos, de maneira, dizem-nos, que favoreça a recuperação dos países subdesenvolvidos. Eu sou, bem entendido, favorável ao desenvolvimento dos países subdesenvolvimentos, mas por que frenar o desenvolvimento dos outros?
Para terminar, quero voltar aos objetivos do movimento mundialista e invocar, momentaneamente, um texto extraordinário. Trata-se do Report From The Iron Mountain (1967, trad. francesa de 1984 sob o título La Paix Indésirable? [A Paz Indesejável?] – relatório sobre a utlidade das guerras)(2). Seu tema: a utilidade econômica das guerras. Mais exatamente, na perspectiva da convergência entre o sistema soviético e o sistema americano – portanto da desaparição das guerras – como substituir, com alguma outra coisa, o papel econômico que o sistema militar-econômico supria?

Sob inúmeros aspectos, é um relatório delirante. Mas existe de fato um tema, daquela época, e um debate muito vivo, nos Estados Unidos, do qual os maiores intelectuais do país têm participado. Ele tem-se beneficiado de uma cobertura máxima da mídia.
Entre as soluções propostas como substitução ao sistema militar-industrial, apareceu a da criação de uma ameaça ecológica fictícia que permitiria cumprir uma “missão”. Qual missão? No espírito dos autores, trata-se de encontrar o meio de conservar ao Estado um mínimo de controle efetivo sobre o aparelho econômico. Dito de outro modo, de utilizar a regulamentação ecológica para manter nas mãos do Estado uma capacidade de ação econômica (mas também psicológica), que substituirá aquela da qual ele dispunha no passado, em virtude das despesas armamentistas.

Este texto remonta aos anos 1965-1967. Mas nós sofremos sua posteridade. No O Império Ecológico, mostro como toda uma corrente, representada hoje em dia pelo vice-presidente americano Al Gore, inspira-se nesta problemática.

A conseqüência de tudo isto, hoje em dia, são os protocolos adotados quando da conferência de Kyoto: cotas de gás carbônico, venda e revenda dessas cotas...Disso resultará que a produção baixará nos países desenvolvidos e aumentará nos países subdesenvolvidos. Haverá deslocamentos massivos de indústrias, de capitais, de tecnologia, talvez mesmo de mão de obra e de competências. Dito de outro modo, o ponto de chegada de toda esta manipulação científica, midiática, e política, corresponde, muito diretamente,  ao que eram os objetivos de partida formulados nos anos 1970 pelos mantenedores da “Nova Ordem Mundial”.

Mas tudo isso se faz, hoje em dia, sob a cobertura de uma linguagem assim dita liberal, em nome do liberalismo. A característica desta nova ideologia do poder é a de nos afirmar que, desde a desaparição do comunismo, estamos livres para fazer o que quisermos; mas, atenção, somente dentro de certos limites, determinados pelo nível de emissão de gás carbônico aceitável! Assim, encontram-se conciliados uma certa aparência de liberalismo, com um construtivismo e um dirigismo totalmente reais, porque isto que aí se encontra é um encontro “sistêmico” caracterizado, onde os atores econômicos de nível inferior estão livres para fazer o que querem, mas num quadro pré-determinado pelas instituições internacionais, em particular as que estão encarregadas das questões do efeito estufa.

Ecologia, a alavanca de um desvio do estado de direito.

Quais são os elementos do liberalismo que este sistema conserva? O primeiro, psicologicamente o mais importante, é a ilusão da liberdade individual. É a herança de todos os trabalhos de psicologia social que estabeleceu de maneira firme que não se pode governar um país ou fazer funcionar uma economia, nem funcionando como os soviéticos, nem autorizando-lhe uma autonomia muito grande dos atores. O sistema atual integra esta crítica, porque nele você encontra uma liberdade individual que é muito considerável, com uma aparência de pluralismo, mas que integra um ponto que não é permitido submeter a discussão: a questão do efeito estufa.

Tem-se então um sistema complexo, auto-organizado, sem controle aparente, com uma ordem social espontânea. Tem-se igualmente um estado de direito, outro elemento fundamental. Portanto, aparentemente e do ponto de vista da mídia, estamos num estado de direito. Somos governados por leis, e não por homens ou ditadores. Mas essas leis, regras abstratas, inscrevem-se no seio de um quadro que é predeterminado pelas instituições internacionais, em particular aquelas encarregadas do efeito estufa, que estão em condições de exercer uma influência decisiva sobre todas as atividades econômicas.

Somos portanto governados pelas leis. A repressão está reduzida ao mínimo. Estamos libertos de todo sistema totalitário, para entrar em alguma coisa que tem as aparências de uma sociedade de direito. Mas não se trata senão de aparências de uma sociedade aberta, porque esta sociedade, uma vez mais, inscreve-se num quadro que já foi pré-fixado. Há, de alguma maneira, instrumentalização, desvio das idéias liberais, pela base, do caráter central dado à gestão coletiva de certos “bens comuns” tais como a atmosfera. A gestão desses “bens comuns” é o álibi, a alavanca que permite, hoje em dia, chegar a ponto de recriar completamente as regras da justiça e da moral, sempre pretendendo permanecer no reto caminho da crítica liberal. Isto permite manipular os valores ou as atitudes, manipular as normas sociais e a sensibilidade.

A propósito da concepção marxista evocada no início de minha intervenção, vou tratar da modificação da superestrutura pela modificação das regras que se aplicam à sociedade.
Esta síntese “sistêmica” oferece, no nível inferior, uma aparência de sociedade aberta, mas com um escalão superior que se dedica a gerar as regras finalizadas, de onde resulta uma sociedade que só possui as aparências da abertura. Não estamos mais numa sociedade aberta. Dela, só possuímos sua aparência. É uma sociedade fechada, que se inscreve na lógica de um tal arranjo.
O objetivo, ao qual retornarei, é nada menos que criar uma nova civilização. De maneira global, tem-se alguma coisa que lembra, muito, uma manipulação da concepção de Deus(3).
A este respeito, os textos das instituições internacionais são explícitos. Eles nos mostram que a ecologia resume-se geralmente a uma vontade de conduzir os indivíduos a uma concepção pagã da natureza, onde é a natureza que é a divindade. O que é assim claramente buscado é uma modificação explícita da concepção do homem, de Deus, da natureza, do mundo...portanto, uma modificação das concepções culturais de fundo de nossa civilização.
Nossa civilização está fundada sobre uma concepção judeu-cristã do homem, quer se trate de cristão, judeu ou mussulmano. Este paradigma – o homem, um ser desejado e criado por Deus –, está na base do nosso Direito.

Desde quando se compreende que a concepção do homem no Universo está fundamentalmente sendo questionada – “o homem, este ser nefasto e poluidor” –, tem-se igualmente compreendido que a ecologia pretende finalmente nada menos que uma inversão desta concepção, para pôr, em seu lugar, a coletividade. O homem entra, aí, em segundo lugar. Passa-se do homem, enquanto indivíduo, ao homem como membro da coletividade. O totalitarismo não está morto.

Notas de Olavo de Carvalho

(1) No mesmíssimo sentido, e talvez mais fundo ainda, vai o esboço de “código penal cultural” da Unesco, que comentei em O Futuro do Pensamento Brasileiro (2a. ed., Rio, Faculdade da Cidade Editora, 1998). -- O. de C.

(2) Uma análise extensiva desse documento encontra-se em The Grening. Plot for Environmental Control, de Larry H. Abraham, cujo texto integral será em breve reproduzido neste site. -- O. de C.

(1) Não há de ser coincidência que um dos principais instrumentos teóricos concebidos para essa manipulação – o “princípio de precaução” – tenha sido criado logo por um cérebro como o do prof. Hans Jonas, o mais famoso historiador da gnose. Isto não só vem confirmar a tece célebre de Eric Voegelin sobre a origem gnóstica dos totalitarismos modernos, mas enfatizar a necessidade urgente de uma compreensão mais clara do fenômeno gnóstico, compreensão à qual nada contribui o alarmismo delirante de certos católicos ultraconservadores que, numa verdadeira “lógica dos gatos pardos”, como diria Ortega y Gasset, distribuem o rótulo de gnose (no sentido estrito de Hans Jonas) a tudo quanto lhes pareça estranho, temível ou heterodoxo, incluindo as manifestações mais ortodoxas da mística islâmica e judaica. Voltarei a este assunto. -- O. de C.

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