Joseph Stalin testando um
fuzil de franco atirador Mosin-Nagant. Imagem: http://www.gazeta.ru/column/latynina/3360598.shtml
Chegamos
a Terceira Parte de nosso estudo sobre Joseph Stalin e sua ideologia desumana,
mas que foi alimentada pelo governo dos Estados Unidos durante toda a Segunda
Grande Guerra Mundial. Fato este que os levou a criar a alcunha de “Tio Joe”
para tornar o Homem de Aço Soviético um pouco mais amistoso aos olhos do povo
estadunidense. Nesta parte de nosso estudo veremos a situação da população
diante da estatização das fazendas e das indústrias, o antissemitismo de
Stalin, os expurgos e os milhões de russos mortos devido à personalidade paranóide
de Stalin ou será “Tio Joe”?
Gulags do inferno
A
frase “inferno na terra” poderia muito bem ter sido cunhada para descrever a
situação das fábricas estatais da Rússia Pós-revolução, quanto aos gulags (abreviatura de Glávnoie
Upravliênie Láguerei, ou Administração Geral dos Campos), nenhuma descrição
desta terra poderia traduzir a miséria que geravam. Em geral ficavam nas
regiões mais áridas da União Soviética, como a Sibéria, onde a temperatura caía
frequentemente abaixo de zero; mesmo assim, os prisioneiros tinham de viver em
cabanas sem nenhum tipo de aquecimento e eram obrigados a construir estradas,
canais e fábricas. Tinham de sobreviver com a mais magra das dietas, e o menor
erro poderia custar-lhes a vida ou espancamento até a morte.
Para
piorar as coisas, só uma parte mínima dos internos era realmente de criminosos
no sentido antigo da palavra – os outros eram presos políticos. Milhares de
médicos, professores, cientistas e artistas foram mandados para os campos de
trabalhos forçados por se “oporem” ao regime e, se um membro de uma família
fosse encarcerado, e eram prováveis que
outros parentes também fossem detidos e condenados.
Stalin o antissemita
Stalin
também alimentava ideias antissemitas e, quando subiu ao poder, a pressão sobre
os judeus aumentou. Eliminados dos postos de comando do regime, os judeus eram
vítimas de uma vigilância implacável da polícia secreta. “É verdade”, escreveu
Trótski a Bukhárin no dia 4 de março de 1926, “é possível que em nosso partido,
em Moscou, nas células operárias, haja agitação antissemita sem impunidade?”
Mas
Stalin não se importava com judeus ou até mesmo com seu próprio povo. Longe
disso. Quanto mais mortes e destruição, tanto melhor, era o que parecia. “O
maior de todos os prazeres”, disse ele certa vez a uma de suas vítimas, “é
marcar o inimigo, preparar tudo, vingar-se inteiramente e depois dormir”. Para
ele, o fim justificava os meios, e o que ele tinha em mente era submeter um
povo inteiro à sua vontade apenas.
Os grandes expurgos
Entre
1933-1939, Stalin começou a expurgar o partido de todos os que haviam se oposto
a ele nos últimos anos. Alguns eram inimigos de verdade, mas ele também começou
a perseguir inimigos imaginários, deixando somente homens subservientes a seu
redor, aqueles apavorados demais para levantar a voz ou dizer o que pensavam.
Corpos de várias pessoas mortas nos expurgos de Stalin e enterrados em grandes covas comuns. Imagem:
http://www.mdig.com.br/index.php?itemid=9975
Foi
também durante esse período que Stalin começou a criar uma tropa de elite da política
secreta, chamada NKVD ( Naródni
Kommissariat Vnutriênnikh Diel, ou Comissariado do Povo do Interior). Em troca
dos serviços prestados por esses capangas, ele dava apartamentos, casas de
campo, carros e choferes, mas para que nenhum deles traísse sua confiança e para mantê-los na linha Stalin
assassinava um punhado deles todo ano.
Em
1934, no décimo sétimo congresso do partido, mais de trezentos delegados
estavam tão descontentes com Stalin que votaram contra ele para o cargo de
líder do partido, apoiando Serguei Kirov (Líder do Partido Comunista de
Leningrado). Stalin ficou arrasado, enfurecido
com o que considerava uma traição em massa, e, menos de um ano depois,
Kirov foi assassinado em circunstâncias misteriosas, provavelmente por ordem de
Stalin, embora não houvesse nenhuma prova que o ligasse a essa morte. Stalin
assumiu o controle da investigação que se seguiu e imediatamente transformou
dissensão no congresso do partido numa grande conspiração contra o Estado,
conseguindo assim o pretexto de que necessitava para se livrar de mais
oponentes.
A
campanha de terror que se seguiu culminou em julgamentos espetaculosos que
duraram de 1936 a 1938, em que mais de mil delegados foram executados ou
mandados para os gulags e quase todos os membros do Comitê Central forma
fuzilados. Entre eles estavam líderes como Bukhárin e kámeniev, que foram
torturados para confessar crimes ridículos antes de serem julgados e fuzilados.
Além disso, entre 1934 e 1938, estima-se que pelo menos sete milhões de pessoas
“desapareceram”, entre as quais os oficiais de escalão superior do Exército
Vermelho (Stalin matou três dos cinco marechais, quinze dos dezesseis
comandantes, sessenta dos sessenta e sete comandantes de corpos do exército e
todos os dezesseis comissários), para não falar dos oficiais da Marinha
Vermelha. Caminhões que ostentavam letreiros como “carne” ou “legumes e
verduras” saíam carregados de vítimas, que eram despejadas em buracos cavados
nas florestas próximas. As vítimas eram alinhadas ao lado dos buracos e
fuziladas para que os corpos caíssem nos “túmulos”.
Ficava
cada vez mais claro que Stalin gostava de saber exatamente como seus oponentes
tinham morrido, e vários de seus homens de confiança faziam encenações para
mostrar como as vítimas haviam implorado pela vida antes de serem fuziladas.
Com
o passar dos anos Stalin foi se tornando cada vez mais cruel e cada vez mais paranoico,
e até alguns daqueles homens e mulheres
com os quais tinha tido, se não um contato pessoal íntimo, ao menos um grande
companheirismo político, acabaram mortos. Ele não confiava sequer nos membros
da própria família. Um grande número de membros de sua família foram executados
por “traição” a ele ou ao Estado. A família dos companheiros políticos mais
próximos também não estava a salvo.
Em
1939, o grosso dos expurgos políticos de Stalin já tinha sido feito, mas isso
não significou o fim da morte e da destruição na Rússia. Apesar de ter assinado
um tratado de não agressão com Hitler, que, na verdade, aprovava a invasão da
Polônia pelos alemães.
A invasão nazista
No
dia 22 de junho de 1941 o Führer lançou a Operação
Barbarrossa e invadiu a União Soviética. Stalin foi pego de surpresa e, em virtude
dos expurgos no Exército Vermelho e na Marinha Vermelha durante a década de
1930, suas forças armadas não tinham a liderança necessária para enfrentar
aquele ataque. Por causa disso, o Exército Vermelho foi praticamente aniquilado
pelos nazistas, que estavam mais bem treinados, mais bem equipados e mais bem
dirigidos. Em menos de seis meses, quase
4 milhões de soldados russos tinham sido capturados, um número enorme se
pensarmos o que só foram necessários 3 milhões de soldados alemães para isso.
Stalin
foi implacável, atormentando seu próprio povo. Ordenando às unidades especiais
da NKVD que seguissem a esteira das
tropas russas, todo soldado surpreendido na tentativa de desertar era fuzilado
pela polícia secreta. Stalin também fez saber que se algum membro das forças
armadas decidisse se render ao inimigo, a família dele perderia as pensões do
Estado, ou seria presa e executada.
Ascensão do
Exército Vermelho
Em
1945, o Exército Vermelho estava em ascensão e fez as forças de Hitler recuarem
tanto que, em maio, as tropas russas entraram em Berlim. Foi um grande momento, que seria estragado por
Stalin, que, temeroso de que suas tropas se deixassem seduzir por ideias
ocidentais, ordenou a todos os que estivessem voltando da Alemanha que fossem enviados aos gulags para reeducação.
Além
disso, os cidadãos soviéticos
repatriados para a Rússia que haviam sido detidos em prisões e campos de
trabalhos forçados estrangeiros foram considerados traidores por Stalin e,
assim que desembarcavam dos navios e trens, eram levados para grandes pátios
onde eram executados, ou enviados
para gulags. Família após família foi varrida da face da Terra, geração após
geração.
Dividindo o mundo
O
ocidente também não foi poupado do sofrimento, pois assim que a Segunda Guerra
Mundial terminou teve início a Guerra
Fria, que duraria quarenta anos,
com a “Cortina de Ferro” descendo
sobre a Europa Oriental. Todos os
países ocupados pelos russos transformaram-se em “Estados-satélites”, governados
por fantoches que prestavam contas diretamente a Stalin por cada
decisão tomada. Stalin quis isolar a Rússia e os outros países do bloco
oriental daquilo que ele considerava contaminação ocidental; seu sonho tinha se
transformado em realidade. O destino da Rússia estava selado.
Quarto Plano
Quinquenal
Em
1946, Stalin iniciou seu quarto plano quinquenal, que, como antes, exigia uma
produtividade cada vez maior dos cidadãos da Rússia. Ninguém conseguia atingir
as metas e, a despeito de suas circunstâncias desesperadoras, apesar das
ameaças feitas contra eles, os russos não se insurgiram contra seu líder; pelo
contrário, cultuavam-no como se fosse um
deus. Quanto pior Stalin tratava
o povo, tanto mais este parecia respeitá-lo. Era como se Stalin fosse um
deus e o stalinismo, um novo tipo de religião.
Stalin o Paranóico
Embora
tudo parecesse estar de acordo com o gosto de Stalin, embora tenha conseguido
vencer os alemães, embora tivesse
livrado de todos os oponentes, ele estava cada vez mais infeliz e mais paranoico.
Via inimigos onde eles não existiam e, a certa altura, empregou quinze
pessoas para provar sua comida, pois tinha medo de ser envenenado. Suas
aparições em públicos se tornaram cada vez mais raras.
Em
1949, outra onda de expurgos stalinistas varreu a nação e todos os suspeitos das menores transgressões foram executados.
Stalin e a
paranóia antissemita II
As
tendências antissemitas de Stalin também vieram à tona durante o ano de 1949,
tanto em sua vida pessoal quanto no país como um todo. Em fevereiro de 1953, Stalin começou a construção de quatro enormes
campos de prisioneiros no Casaquistão, nas regiões árticas e na Sibéria. A
maioria dos pesquisadores acha que, fazendo um eco medonho à Solução Final de
Hitler, esses campos provavelmente indicavam uma nova onda de terror, dessa vez
dirigida exclusivamente contra os judeus, pois desde 1948, Stalin tinha
avançado em sua campanha antissemita,
fechando teatros, sinagogas, editoras e jornais
judeus. Sua campanha também tinha como alvo médicos judeus, acusados de tentar envenenar os pacientes não-judeus
ou de matá-los na mesa de operação. Era paranoia levada ao extremo,
especialmente quando, depois de fazer um check-up com seu próprio médico, o
professor Vinogradov, e não gostando dos resultados, mandou prender o professor
por ser um “agente do sionismo internacional”. Isso levou indiretamente à
morte de Stalin, pois, quando ele teve de fato um derrame em sua casa de campo,
os médicos que foram chamados a seu leito não conheciam seu histórico médico
e não puderam fazer muita coisa para salvá-lo.
Corpo de Stalin .Imagem: http://www.globalpost.com/photo-galleries/planet-pic/5776756/hugo-chavez-joining-group-famous-embalmed-world-leaders
No
dia 5 de março de 1953, às 21h50, Joseph Stalin o “Tio Joe” para os
estadunidenses morreu, segundo alguns, por causa de uma hemorragia cerebral, e
segundo outros, de envenenamento. Alguns choraram e lamentaram publicamente a
perda do “Tio Joe”, como se ele tivesse sido o mais benevolente dos patriarcas;
outros saudaram a morte dele como um milagre, pois durante seu governo
aproximadamente 20 milhões de cidadãos perderam a vida, dos quais cerca de 14
milhões de fome; 1 milhão foi executado por crimes políticos e pelo menos 9
milhões, exilados ou encarcerados nos gulags.
Agora
que chegamos ao fim de nosso estudo sobre Stalin, cabe a você leitor
interpretar o lugar que Joseph Stalin vulgo “Tio Joe” merece ser lembrado no
rol da história: como herói, ou como vilão? Fica um conselho aos meus leitores
para que analise Stalin pelo seu tempo, pela realidade em que vivia, como e
onde nasceu, como cresceu, qual sua formação, quais os métodos usados por ele
para ascensão política e desse modo possam vocês por vocês mesmos realmente
saberem quem foi Stalin pelo legado que ele deixou para seu povo.
Para entender
melhor o assunto tratado não deixe de ler os textos anteriores:
04/05/2013
Leandro Claudir é
Acadêmico de História pela Universidade Luterana do Brasil, Técnico em
Informática pela QI Escolas e Faculdades. Habilitado em Liderança de Círculos
de Controle de Qualidade Empresarial pelo Senai. Criador e Administrador do
Projeto Construindo História Hoje. IBSN- 7837-12-38-10.
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Você quer saber mais?
KLEIN, Shelley. Os ditadores mais perversos da História. São
Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2004.
ResponderExcluirOlá Leandro. Sempre que posso estou aqui lendo suas publicações, gosto mesmo !!!
Muito bom aumentar nossos conhecimentos e repartir com quem precisa.
Se quiser retornar ao meu Blog de Informática Educativa, estou tentando fazer melhorias...
Venha conferir, estou de endereço novo, agora com domínio próprio:
www.marciacarioni.info
Abraços mil !