A alma humana! Para os Católicos tende ao pecado desde o nascimento, e para os pelagianos pura desde o nascimento e pode assim permanecer durante toda a vida do fiel pelagiano! Imagem. Getty Imagens.
Pelágio era um homem que se aborrecia com os
escritos dos bispos católicos que ensinavam o nascimento em pecado e a
necessidade do batismo para arrependimento e salvação. Entrou em choque com
bispos por várias vezes, como Paulino de Nola, numa discussão subsequente a uma
leitura das ternas passagens do Livro X, das Confissões de Agostinho de Hipona;
“Ordenai
o que quiserdes, doai o que ordenardes.”
Essa frase
parecia toldar, por intermédio de atos pessoais de favoritismo, a majestade
incorruptível de Deus como Legislador. O sentimento de que a onda da opinião
pública estava-se voltando rapidamente contra ele, em favor de uma tolerância
do pecado como “extremamente humano”, arrancou-lhe um panfleto enraivecido e
sem meias palavras, Sobre a natureza.
Tempos, depois esse mesmo texto foi usado como uma valiosíssima
prova em sua argumentação contra Pelágio, pelos bispos católicos.
Em 412 d.C, o britânico Pelágio tornou a partir,
desta vez para a Terra Santa; ficaria conhecido apenas por seus livros: Sobre a
Natureza, e, Carta, que evidentemente os impressionou. Trata-se de uma
intrigante imagem dupla: em uma ele era o teólogo
otimista de Sobre a natureza; para outros, era o asceta ardoroso que
escrevera uma admoestação para as
famílias.
Mas foi Celéstio quem provocou a crise na África,
não Pelágio. Tão logo chegou a Cartago, ele interveio confiantemente nos
debates em curso, que pareciam tocar no mistério perene da origem da alma, e
passou aos problemas afins da solidariedade da raça humana no pecado de Adão,
pois, por exemplo, como poderia a alma “nova em folha” de um indivíduo ser
considerada culpada do ato distante de uma outra pessoa? Essas discussões
tocaram na necessidade do batismo infantil. E foi aí que os argumentos
pelagianos depararam com seu primeiro obstáculo sério.
Os bispos
que haviam passado anos defendendo a necessidade absoluta e a singularidade do
batismo conferido por eles na Igreja Católica, e que, na biblioteca dos bispos de Cartago, podiam
consultar uma carta de São Cipriano que insistia no batismo dos bebês
recém-nascidos, não estavam dispostos a tolerar tais especulações.
Celéstio foi denunciado quando se candidatou ao
sacerdócio. As seis proposições
condenadas que ele se recusou a retirar viriam a constituir, ao lado de
Sobre a Natureza, de Pelágio,
a base da argumentação católica contra Pelágio. Para a Igreja, esses eram os capitula capitalia, pois tais
proposições bastariam para “enforcar” Pelágio, caso se admitisse que o
radicalismo de Celéstio, o discípulo, era apenas a extensão lógica das opiniões
secretas de seu mestre.
Para os bispos católicos da África o Pelagianismo
sempre foi um conjunto de ideias, de disputationes,
“argumentos”. Mas, em Roma no entanto, tais ideias haviam desencadeado um “movimento”.
Pelágio tinha um corpo de adeptos tenazes e bem situados. Estes se certificavam
de que suas cartas circulassem com surpreendente rapidez e de que ele se
mostrasse decidido a buscar um lugar para suas ideias dentro da Igreja Católica.
Suprimiam-no de entusiastas que compunham “células” pelagianas em locais tão
distantes quanto a Sicília, a Grã-Bretanha e Rodes. Hoje podemos apreciar as
motivações desses homens e, portanto, podemos avaliar o papel desempenhado pelo
pelagianismo numa das crises mais dramáticas da Igreja Cristã no Ocidente.
O pelagianismo havia apelado para um tema universal:
a necessidade de o indivíduo se definir e sentir-se à vontade para criar seus
próprios valores, em meio a uma vida societária convencional e de segunda
classe.
Em Roma, o peso das convenções era particularmente
opressivo. As famílias a cujos membros
Pelágio se dirigia tinham resvalado aos poucos para o cristianismo, por
intermédio de casamentos mistos e do conformismo político. Isso significava que
o “homem honrado” convencional da Roma pagã havia-se
transformado, irrefletidamente, no “bom cristão” convencional do século
V. As formas exageradas de cortesia da etiqueta romana no baixo-império
podiam passar por “humildade cristã”, e generosidade
tradicionalmente esperada dos aristocratas, por “caridade cristã”. “É melhor dar do que receber”.
Continua...
Leandro Claudir
COPYRIGHT ATRIBUIÇÃO - NÃO COMERCIAL ©
Copyright
Atribuição –Não Comercial©
construindohistoriahoje.blogspot.com. Este texto está sob a licença de Creative Commons Atribuição-Não
Comercial. Com sua atribuição, Não Comercial — Este
trabalho não pode ser usado para fins comerciais. Você pode republicar
este artigo ou partes dele sem solicitar permissão, contanto que o conteúdo não
seja alterado e seja claramente atribuído a “Construindo História Hoje”. Qualquer
site que publique textos completos ou grandes partes de artigos de Construindo História Hoje tem
a obrigação adicional de incluir um link ativo para http:/www.construindohistoriahoje.blogspot.com.br. O link não é exigido para citações. A republicação de
artigos de Construindo História Hoje que são originários de outras fontes está
sujeita às condições dessas fontes e seus atributos de direitos autorais.
Você quer saber mais?
ANATALINO, João .Conhecendo a Arte Real: a
maçonaria e suas influências históricas e filosoficas. São Paulo: Editora
Madras. 2007.
BROWN, Peter. Santo Agostinho: uma biografia.
Rio de Janeiro: Editora Record, 2011.
ALTANER, B; STUIBER, A. Patrologia – Vida e
Doutrina dos Padres da Igreja. 2ª ed. São Paulo: Editora Paulinas, 1972.
CÂMARA, J.B. Apontamentos de História Eclesiástica.
3ª ed. Petrópolis: Editora Vozes, 1957.
CRISTIANI, M. Breve História das Heresias. São
Paulo: Editora Flamboyant, 1962.
GOMES, C.J. Antropologia dos Santos Padres. 3ª
ed. São Paulo: Editora Paulinas, 1985.
GRESHAKE, F. Geschenkte Freiheit Einfuhrung
in die Gnadenlehre. Heder: Freiburg
Basel-Wien, 1981.
JEDIN, H. Nanual de História de 1ª Iglesia. Tomo
II. Barcelona: Editora Herder, 1980.
DICIONÁRIO DE FILOSOFIA. Pecado. São Paulo:
Editora Mestre Jou, 1982.
GRAM ENCICLOPÉDIA RIALP. Pelágio y Pelagianismo.
Tomo XVIII. Madrid: Ediciones
Ralp, 1989.
REALE, G; ANTISERI, O. História da
Filosofia Antiguidade e Idade Média. vol. 1. Coleção História da
Filosofia. São Paulo: Editora Paulinas, 1990.
Nenhum comentário:
Postar um comentário