Santa Maria. Imagem: Santo Antonio Jaguara.
1.Consulta
A Comissão de Teologia e
Relações Eclesiais (CTRE) foi indagada a respeito da expressão “pura e santa
Virgem Maria”, empregada por Lutero nos Artigos de Esmalcalde. Parece que a
indagação visa obter o posicionamento das Confissões Luteranas sobre a Virgem
Maria.
2. Colocações da CTRE
2.1 – Esclarecimento
histórico: A CTRE entende que a nota 36, colocada ao pé da página 311 do Livro
de Concórdia e preparada pelo Rev. Prof. Arnaldo Schueler, oferece clara
explicação histórica do emprego da expressão “pura e santa Virgem Maria” por
Lutero. Ressalta o Prof. Schueler que, por um lado, a expressão foi usada
contra a concepção dos “antidicomarianistas (pessoas que pretendiam não haver
Maria ficado virgem após o nascimento de Jesus e ter tido outros filhos de seu
marido José).” Por outro lado, o Prof. Schueler considera que “fica aberta
(indecidida) a questão do sentido de “pura” nas Confissões Luteranas, isto é,
se significa sem relações sexuais ou livre de pecado original.”
2.3 – Referências a Maria nas Confissões Luteranas: Nas Confissões Luteranas Maria aparece em dois contextos. Por um lado, Maria é mencionada em conexão com o tema “Da Invocação dos Santos” (apologia, Art. XXI). Quanto a este ponto, porém, Melanchthon é claro:
Ainda que é digníssima das
honras mais excelsas, ela não quer, todavia, que a igualemos a Cristo. Quer
antes que consideremos e sigamos os exemplos dela. Mas a própria realidade diz
que na persuasão pública a bem-aventurada Virgem de todo sucedeu no lugar de
Cristo. Os homens a invocaram, confiaram na misericórdia dela, por ela quiseram
reconciliar a Cristo, como se esse não fosse o propiciador, senão apenas
horrendo juiz e vingador. Nós outros cremos,entretanto, não se dever confiar
que os méritos dos santos nos são aplicados, que em virtude deles Deus é
reconciliado conosco, ou nos reputa justos, ou nos salva. Pois obtemos a
remissão dos pecados somente pelos méritos de Cristo, quando nele cremos. (Livro
de Concórdia: As Confissões da Igreja Evangélica Luterana, Trad. E Notas de
Arnaldo Schueler, São Leopoldo e Porto Alegre, Sinodal e Concórdia, 1980, p.
247).
Por outro lado, as
Confissões Luteranas mencionam Maria mais frequentemente em conexão com a
doutrina “Do Filho de Deus” (Confissão de Augsburgo, Art. III; Artigos de
Esmalcalde, Primeira Parte, Item 4) e “Da Pessoa de Cristo” (Fórmula de
Concórdia, Epítome, VIII; Declaração Sólida, VIII). As expressões usadas são as
seguintes: “pura Virgem Maria,” “bem-aventurada Virgem Maria,” “pura e santa
Virgem Maria,” “Mãe de Deus,” “laudatíssima Virgem Maria,” “Maria, a Virgem
laudatíssima.” Pelo contexto de todos os lugares em que estas expressões são
usadas fica evidente que os confessores não procuram formular alguma doutrina
referente à Maria, porém a respeito do Filho de Deus, particularmente a
respeito da doutrina das duas naturezas. Portanto, em todas estas passagens, a
Virgem Maria é mencionada como sendo o instrumento humano pelo qual o “Deus Filho
se fez homem” (Livro de Concórdia, p. 30; cf. pp. 64, 312, 525, 635, 638-639).
De forma que, semelhante ao que ocorreu no Novo Testamento, as referências a
Maria nas Confissões Luteranas visam a glorificação de Cristo e não de Maria.
Porto Alegre, 26 de outubro de 1980.
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