Democracia Corporativa. Imagem: Comunidade da Frente Integralista Brasileira no Facebook. Adaptação: CHH.
O
que distingue a liberal-democracia
como aspecto de civilização é a coexistência de dois pensamentos filosóficos, ambos
materialistas, ambos presos aos dias remotos da antiga Grécia.
A
liberal-democracia é , ao mesmo tempo, “estoica”
e “epicurista”.
Em
última análise, toda a obra dos pensadores e filósofos anteriores à Revolução Francesa, está
impregnada dessas duas orientações do naturalismo helênico. Ambas negadoras do Espírito, ambas
ateístas.
A
subordinação ás chamadas leis naturais informa toda a cultura política
moderna. Desde o otimismo de Locke e da apologia do “homem natural” de J.J. Rousseau, até às mais
recentes doutrinas sociais, a ausência de um “fim moral” teve como consequência a generalização de
um epicurismo baseado nos apetites do indivíduo e na liberdade licenciosa.
A filosofia do êxito,
traduzida no pragmatismo inspirador da pedagogia e das realizações pessoais, não passa, examinada a fundo, de uma
tradução atualizada da filosofia do prazer, ensinada pelo velho Epicuro.
Ora,
uma sociedade epicurista,
materialista, gozadora individualista, libertária, como poderia conceber o governo?
Evidentemente
que, pesando a concha da balança para o lado da sociedade, eleva-se a outra,
que está do lado do poder público. À áreas de excessivas liberdades facultadas
ao individualismo
correspondem restrições de âmbitos de ação para os governos.
Daí
o motivo por que, em matéria de Economia, o estudioso encontra, nítidas e
paralelas, as duas orientações: ao Estado
estóico corresponde uma Sociedade epicurista.
Quanto
Turgot destrói as corporações
e com elas a estrutura moral e social das monarquias, esboça em matéria
econômica, o ressurgimento das velhas filosofias gregas. São os fisiocratas que
focalizam o organismo nacional segundo o mesmo critério experimentalista com
que apreciavam o funcionamento dos órgãos do corpo humano.
A
frase “laissez-faire, laisserz-passer”
define a atitude de indiferença do Estado diante das lutas sociais. O edifício
da Economia Clássica repousa sobre os princípios que enclausuram o Estado,
tornando-se impotente e inerme.
Quem
aprecia a nossa civilização burguesa,
verifica que ela nos oferece um panorama de materialismo grosseiro, em que o
prazer se torna a única finalidade.
A escandalosa ostentação dos ricos, o
luxo das classes abastadas, o esbanjamento dos milionários, o rumor das
roletas e das taças de champanha tilintastes, o esplendor pagão que caracteriza todas as manifestações sociais, mostram-nos
que, apesar de uma protocolar exterioridade cristã, o que predomina, no fundo
das famílias, é o epicurismo, a
filosofia do prazer que Epicuro
ensinou há tantos séculos na Grécia naturalista.
A
esse desbragamento, os governos assistem de braços cruzados, por que os
governos adotam a filosofia da indiferença, a doutrina pregada pelo velho Zenão, e que tanto sucesso fez
na época da decadência de Roma.
O estoicismo é realmente a
filosofia da decadência. Quando o Império Latino se esboroa,
a cidade dos Césares está cheia de estoicos. Um dia os bárbaros passarão a
cavalo pelas ruas de Roma, obrigando os senadores a assistir ao desfile dos
seus carros de vitória. Hirtos, sentados em suas cadeiras, com suas longas
togas impecáveis, os varões ilustres contemplarão a apoteose da marcha inimiga.
Não terão um ríctus de dor, porque aprenderam a resistir, marmóreos e gelados,
a todos os sofrimentos.
Hoje,
os governos conservam-se na mesma atitude do senado romano no crepúsculo do
Império. Incapazes de agir, arma-se dessa indiferença de cadáveres diante da
tremenda luta social.
Essa
luta está aberta em todos os países.
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SALGADO, Plínio. Madrugada
do Espírito. São Paulo: Editora das Américas, 1957.
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