A história de um dos maiores estadistas que o mundo já conheceu!
A. L. era um jovem
simples, filho de lavradores. Não teve privilégios sociais, raramente ganhava
presentes. Mas tinha uma característica dos vencedores: reclamava pouco.
Nada melhor para fracassar na vida do que reclamar muito. Não sobra energia
para criar oportunidades. Desde a juventude A. L. conheceu as dificuldades da
existência. Perdeu a mãe aos 9 anos. Nosso jovem poderia ser controlado pela
perda, mas sobreviveu. Havia algo nele digno de elogiar: sua capacidade enorme
de viajar. Viajava muito — pelo mundo dos livros. Assim, construiu
secretamente um tesouro enterrado no seu intelecto. Era comum por fora, mas um
sonhador por dentro. Certa vez ele resolveu montar um negócio. Sonhava em
ganhar dinheiro, ter prestígio social e uma vida tranquila. Sentiu-se inspirado
e destemido. Nos sonhos tudo parece fácil, não há acidentes. Mas todo sonho
traz pesadelos. O resultado do negócio? FALÊNCIA. O jovem enfrentou o drama
da derrota muito cedo. Alguns, ante um fracasso, bloqueiam a inteligência. Eles
registram o fracasso intensamente nos solos do inconsciente, através do registro
automático da memória (fenômeno RAM).
O mecanismo é o seguinte:
o fracasso é lido continuamente, gerando reações emocionais dolorosas e Ideias
negativas que obstruem a liberdade de pensar, de fazer novos planos, de
acreditar no próprio potencial. A derrota não superada esmaga os sonhos e
dilacera a coragem, aprendendo a não ser controlado pelos fracassos. Você já
enfrentou a dor de uma derrota? A. L. viveu-a e ficou abalado, mas não se
submeteu ao controle dela. Assumiu-a, enfrentou-a, levantou a cabeça e voltou a
sonhar, Saltou do mundo dos negócios para o mundo da política. Candidatou-se a
um cargo. Sentia que poderia ser um grande homem. O resultado das urnas? FOI
DERROTADO! “Não é possível!”, exclamava. “O que fiz de errado?” Muitas
perguntas, muitas respostas, mas nenhuma apaziguava a sua emoção. À razão
tenta se preparar para as derrotas, mas a emoção nunca se submete a elas. Um mecanismo súbito de ansiedade
desenhava-se em sua mente. Apesar de desanimado, A. L. não se deixou vencer. Todos
os sonhadores são inimigos da rotina. Quando eles pensam em desistir de
tudo, os sonhos surgem no teatro da mente e voltam a instigá-los. Assim
ocorreu com nosso jovem. Ele retornou ao mundo dos negócios, dessa vez apostou
que ia dar certo. Tomou certas precauções. Conversou mais, refletiu mais. Fez
uma pequena análise dos erros que deveria evitar e de quanto ganharia. Foi
tomado por intensa euforia. A emoção é bela e crédula, bastam alguns respingos
de esperança para que o humor se restabeleça e a garra retorne. Nunca
devemos retirar a esperança de um ser humano, mesmo de um paciente portador
de câncer em fase terminal. À esperança é o fôlego da vida, o nutriente
essencial da emoção.
A. L. acreditava
na vida. Então, depois de despender energia para organizar sua pequena empresa
e trabalhar muito, FALIU NOVAMENTE. Os pensamentos derrotistas de A. L. não
apenas alimentavam sua insegurança, seu sentimento de incapacidade e ansiedade,
como, pior, eram acumulados como entulho no delicado solo de sua memória. Os
que não sabem cuidar desse solo não veem dias felizes. O fenômeno RAM registrou
sua falência de maneira privilegiada. Por isso, A. L. não gostava de tocar no
assunto, pois, quando falava nisso, o gatilho da memória abria imediatamente as
janelas que libertavam a tristeza. Muitas vezes não gostamos de tocar em nossas
feridas. Elas não são sanadas, apenas escondidas. Mas A. L. não as escondeu.
Procurou superá-las resgatando sua vocação política. Candidatou-se novamente.
Depois de muita labuta, enfim veio a bonança. Conseguiu ser eleito deputado.
Parecia que os ventos mudavam. Sua emoção encontrou à primavera.
Golpes
inevitáveis
Mas a alegria de A. L. logo se dissipou no
calor das suas perdas. No ano seguinte sofreu uma perda irreparável. Sua noiva
morreu. Sua mãe havia morrido cedo, e agora nunca mais veria o rosto da mulher
que amava. A perda roubou-lhe não apenas
a alegria, mas produziu algumas janelas killers na sua memória. Killer quer
dizer “assassino”. Janelas killers são zonas de conflitos intensos
cravadas no inconsciente que bloqueiam o prazer e a inteligência. Quando
entramos nessas janelas, reagimos como animais, sem pensar. Elas são
construídas por meio de perdas dramáticas, frustrações intensas, angústias
indecifráveis que não são superadas. Quando uma pessoa possui síndrome do
pânico, ao entrar em sua janela killer, ela tem a sensação súbita de que vai
morrer ou desmaiar, mesmo estando na plenitude da saúde. Quando crianças fazem birra e adolescentes
entram em crise diante de um não, estão sob o controle dessas janelas. Todas as
vezes que perdemos o controle de nossas reações somos vítimas dessas janelas.
Quando A. L. entrava nas janelas que aprisionavam sua inteligência, ele
produzia uma avalanche de ideias negativas que financiavam sua angústia. O
resultado? No ano seguinte teve uma crise depressiva. Alguns, por perdas
menores, se deprimem por anos. A. L. estava deprimido, mas se distinguia da
maioria das pessoas. Sabia que tinha dois caminhos a seguir. Ou suas perdas
o construíam ou o destruíam.
Que escolha você faria? É fácil dizer que
seria a primeira, mas frequentemente escolhemos a segunda opção às perdas nos destroem
e nos abatem. A. L. treinou sua emoção e escolheu a primeira alternativa. Em
vez de se colocar como vítima do mundo, resgatou a liderança do “eu”. Saiu
da própria miséria. Agradeceu a Deus pela vida e pelas perdas. Fez
delas uma oportunidade para compreender as limitações da existência e crescer.
Todos nós construímos cárceres usando como
grades invisíveis a cobrança excessiva, a autopunição, o desespero. Muitos
pensam que seu cárcere é um chefe insensato, um concurso competitivo, as
doenças físicas, as crises financeiras. Mas nossos reais cárceres estão
alojados na psique. Se formos livres por dentro, nada nos aprisionará por fora.
Ergueu-se das
cinzas
A. L., aos poucos, voltou a ter encanto pela
existência. Desejou ser útil à sua sociedade, porque não via outro sentido para
a vida. Sob a chama desse ímpeto, candidatou-se a deputado federal. Preparou-se
para uma grande vitória. Então, veio o resultado. FOI DERROTADO. Sentia-se
sufocado. Olhava para os lados, achando que as pessoas comentavam seu fracasso.
Cuidado! Se você depender muito dos outros para executar seus sonhos, corre o
risco de ser um frustrado na vida. Os jovens precisam estar alertas. Eles são
exigentes para consumir, mas não sabem construir seu futuro, são frágeis e
dependentes. Alguns achavam que o sonho
de A. L. era mero entusiasmo. Mas ele se reergueu. Seus sonhos eram
sólidos demais para fazê-lo ficar submerso nos escombros dos seus fracassos.
Alguns anos depois o sonho de ser um grande político renasceu. Candidatou-se
mais uma vez, fez uma campanha com segurança e ousadia. Gastou saliva e sola
dos sapatos como ninguém. Estava animadíssimo. Após uma extenuante campanha,
veio o resultado. PERDEU DE NOVO. Foi um desastre emocional. Ao vê-lo, as
pessoas meneavam a cabeça. Os mais próximos diziam: “Pare de sofrer! Faça outra
coisa!” Muitos jamais entrariam numa outra disputa. Mas quem controla o
sonho de um idealista?
A. L. teve de enfrentar a humilhação das derrotas, os deboches dos
amigos, o sentimento de incapacidade. Tudo isso feriu sua psique, mas educou a
emoção para suportar crises e perdas.
Nosso sonhador emergiu do caos. Ninguém acreditava, mas A. L. decidiu
enfrentar mais uma campanha para o Congresso. Nunca se viu tanta garra. Às injustiças
sociais e a discordância das desigualdades humanas geravam nele uma fonte
inexplicável de energia para correr riscos. Agora havia mais fé e mais
experiência. Corrigiu os erros de outras campanhas e tornou-se mais sociável.
Finalmente, veio o resultado. PERDEU MAIS UMA VEZ. Nos dias que se seguiram, A.
L. afundou no pântano do seu pessimismo. Não se concentrava no mundo concreto.
Havia momentos em que queria fugir do mundo. Entretanto, quem pode fugir de
si mesmo? Havia amargado diversas
derrotas eleitorais, falências e perdas. Sua coleção de fracassos era mais do
que suficiente para fazê-lo vítima do medo. Por muito menos, pessoas ilustres
escondem a cabeça debaixo do travesseiro. Todos entenderiam se ele desistisse
das suas metas. Era o mais recomendável. Vencer parecia um fenômeno inalcançável.
Entretanto, quando todos esperavam que ele não se erguesse mais, A. L. se
levantou das cinzas. Não era propenso a aceitar ideias sem passá-las pelo
filtro da sua crítica.
Ele apareceu na roda dos políticos e, para
espanto da platéia, se candidatou para o Senado. Às derrotas, em vez de
destruir sua autoestima, realçavam seu projeto. A campanha foi diferente. Sua voz estava
vibrante. Deixou de ser refém de algo que facilmente nos aprisiona: nosso
passado. Acreditou que romperia a corrente de fracassos e que o sucesso
beijaria os solos da sua história. Mas
não queria o sucesso pelo sucesso. Não era um político dominado pela coroa da
vaidade. Os que amam a vaidade são indignos da vitória. Os que amam o poder
são indignos dele. Ter sucesso para estar acima dos outros é mais insano
do que as alucinações de um psicótico. A.
L. tinha uma ambição legítima. Ele queria o sucesso para ajudar o ser
humano. Queria fazer justiça para os que viviam no vale das misérias físicas e
emocionais. Sonhava com o dia em que todos fossem tratados com dignidade na sua
sociedade. Após extenuante campanha, em que expôs inflamado suas ideias,
aguardou impacientemente o resultado. Não podia perder dessa vez. Então, veio o
resultado. PERDEU OUTRA VEZ.
Uma coragem
incomum
Não dava para exigir grandes atitudes de um
colecionador de perdas. As opiniões se dividiam em relação a ele. Algumas
pessoas supersticiosas acreditavam que ele estava programado para ser um
derrotado. Outras, fatalistas, acreditavam que seus fracassos eram decorrentes
de seu destino previamente traçado. Para elas, uns nasceram para o sucesso,
outros, para o fracasso. Todas concordavam que ele deveria se conformar com
seus fracassos, mudar de cidade, de país, de emprego. O conformismo, em psicologia,
chama-se psicoadaptação. O fenômeno da psicoadaptação é a incapacidade da
emoção humana de reagir com a mesma intensidade
diante da exposição ao mesmo estímulo. Quando nos expomos repetidamente
a estímulos que nos excitam negativa ou positivamente, com o tempo perdemos a
intensidade da reação emocional: nos psicoadaptamos a eles. No aspecto
positivo, a psicoadaptação gera uma revolução criativa. Estimula-nos a procurar
o novo, amar o desconhecido. Ela é um dos grandes fenômenos psicológicos
inconscientes responsáveis pelas mudanças nos movimentos literários, na
pintura, na arquitetura e até na ciência. Todavia, quando a psicoadaptação é
exagerada, ela gera insatisfação crônica e consumismo. Nada agrada por muito
tempo. Às conquistas geram um prazer rápido e fugaz. Aqui está uma das maiores
armadilhas da emoção. Por isso, não é saudável que os pais deem muitos
presentes para os filhos. Eles se psicoadaptam ao excesso de brinquedos. O
resultado é maléfico! Consomem cada vez mais coisas, mas obtêm cada vez menos
prazer. A. L. tinha tudo para se psicoadaptar aos seus fracassos. Poderia se
colocar como um supersticioso, achar que era um desafortunado, sem sorte. Mas
ele considerava que a verdadeira sorte não é gratuita, mas a que se constrói
com labuta.
Ele estava ferido, mas não vencido. Estava abatido, mas não destruído. Estava
mutilado, mas almejava correr a maratona. Sua coragem era quase surreal,
beirava o inacreditável, mas trazia-lhe saúde psíquica. Suas flagrantes
derrotas, em vez de se tornarem um pesadelo, tornaram-se um romance pela vida.
Ás suas crises de ansiedade tornaram-se como ondas que se debruçavam sobre a
praia da sua história e produziam marcas de maturidade. Tornou-se um ser humano
de raríssimo valor. Encontrou grandeza na sua pequenez, você tem
encontrado grandeza na sua pequenez?
Alguns amigos recomendavam que ele se
aquietasse, tivesse pena de si, não corresse mais riscos. “Tudo tem limite”,
diziam. Mas ele tinha algumas das cinco características dos grandes gênios:
1. Era persistente na busca de seus interesses;
2. Animava-se diante dos desafios;
3. Tinha facilidade para propor ideias;
4. Tinha enorme capacidade de influenciar pessoas;
5. Não dependia do retorno dos outros para seguir seu caminho.
A. L. entrou numa nova campanha: a
vice-presidência da República. Já que não estava na linha de frente, estaria
mais protegido, faria uma campanha mais segura, menos tensa. Mas teria que
propor seu nome na convenção. No dia da
votação, sua ansiedade aumentou. Começaram a contar os votos da convenção. Não
demorou muito para sair o resultado. RECEBEU UMA FLAGRANTE DERROTA. Muitos
pensaram que ele contagiaria com seu derrotismo o candidato à presidência. À
verdade a respeito daquele homem era que ele se tornara um dos maiores
colecionadores de fracassos da história. Raramente alguém tentara tanto e
perdera tanto. Os amigos se afastaram.
Às pessoas não esperavam mais nada dele. As janelas killers produziam o cárcere
da emoção. Sua autoestima estava quase zerada, seu encanto pela vida,
combalido. O pessimismo o envolveu. Começou a crer que uns nasceram para a
vitória e, outros, para o fracasso, uns, para o palco e, outros, para a
platéia. O que você faria depois de tantos fracassos? O que você faria se fosse
abandonado pelas pessoas mais próximas? Que atitude tomaria se fosse despedido
do emprego em que colocou todo o seu futuro? Que reações teria se atravessasse
uma crise financeira tão grave que não tivesse nem dinheiro para pagar o
aluguel da casa? Qual seria sua postura se fosse criticado publicamente e as
pessoas ao seu redor desacreditassem completamente de você?
Muitos simplesmente desistiriam dos seus
sonhos. Um escultor de ideias, um artista da vida A. L. tornou-se o “Senhor
Fracasso”. À maioria das pessoas acreditava que ele não apareceria mais em
público, muito menos na roda de políticos e partidários. De repente, ele entrou na sede do partido. As
pessoas avistaram-no, mas não acreditaram no que viram. Esfregaram os olhos
para enxergar melhor. Para surpresa de
todos, ele iria candidatar-se novamente para o Senado. Apesar do péssimo
currículo das suas derrotas, nosso sonhador fez uma campanha primorosa para o
Senado, estava determinado a vencer. Para A. L., cada disputa era um
momento mágico, estar na disputa era mais importante do que o pódio, os que
valorizam o pódio mais do que a disputa não são dignos de subir nele. Finalmente chegou o dia da votação. Aguardou
com expectativa incomum o resultado das urnas. Dessa vez tinha de ser
diferente. FOI NOVAMENTE DERROTADO, as lágrimas deixaram o anonimato e
escorreram pelas vielas do seu rosto. Escondia a face, mas chorou muito. Era um
ser humano apaixonado pela sua sociedade, mas não tinha uma oportunidade de
ajudá-la. Parecia que dessa vez A. L. se
entregaria, chegara ao limite. Faria qualquer coisa, menos se candidatar a
qualquer cargo — nem para o clube dos fracassados. Seria controlado pelo
fantasma do medo e pelo monstro da derrota.
Grande lição
As pessoas superficiais
veem os resultados positivos como parâmetros do sucesso, enquanto a
psicologia avalia o sucesso usando como critérios motivação, a criatividade a
resistência intelectual. Diferentemente da maioria das pessoas, ele lutou
pelos seus sonhos até a última gota de energia. Nesse aspecto, A. L. foi
vitorioso. Schopenhauer afirmava que jamais deveríamos fundamentar nossa
felicidade pela cabeça dos outros. A. L. seguiu esse princípio, pois se
gravitasse em torno da opinião dos que o cercavam estaria condenado ao
ostracismo, ao completo isolamento social. Diante do tumulto social, ele entrou
no único lugar protegido do mundo: dentro de seu próprio ser. Lá ele se
calou e fez a oração dos sábios: o silêncio. Nos momentos mais
tensos da sua vida, em vez de reagir, procure a voz do silêncio. Qualquer
ser humano que não ouve essa voz obstrui sua inteligência, tem atitudes
absurdas, fere quem mais merece seu carinho. Devemos gravar isto: nos primeiros
trinta segundos de tensão cometemos os maiores erros de nossas vidas. Nos focos
de tensão bloqueamos a memória e reagimos sem pensar, por instinto. Nesse caso,
o homo bios (animal) prevalece sobre o homo sapiens (pensante). Ninguém
imaginava que A. L. novamente apareceria em cena. À última derrota parecia ter
sepultado seus sonhos. Entretanto, quando todos pensaram que ele tivesse sido
derrotado por suas decepções, ele surgiu novamente no meio político e se
candidatou ao cargo mais alto da política.
Para Dostoiévski, “dar o primeiro passo,
proferir um nova palavra é o que as pessoas mais temem”. A. L. deu mais um
grande passo, tomou mais uma nova atitude, e ao vencer seus temores, deixou os
outros temerosos. À reação de A. L. fez com que o medo da derrota se dissipasse
da sua psique e passasse a ser um problema dos outros. Quando usamos as
palavras para compreender as raízes do medo e enfrentar seus tentáculos, o medo
é reeditado, pois novas experiências são acrescentadas às janelas da memória,
onde ele se encontra. O medo se torna nutriente da coragem. Candidatar-se à
presidência do seu país parecia loucura, e não sonho. Mas, quando nos deixamos
conduzir pelos sonhos, podemos reescrever nossa história e construir janelas
inconscientes que arejam nossa emoção. À alma de A. L. era controlada por
seus sonhos. Ele estava desacreditado. Mas A. L. se levantou do caos.
Estava decidido, queria mais uma chance. Parecia incansável. Sua persistência
deixava os resistentes confusos, e com seus sonhos ele contagiava seus
parceiros.
Terminada a eleição, começou a apuração. A. L. estava muito ansioso.
Ele sabia que não podia ouvir a voz do seu corpo comandada pelo cérebro. Tinha
de ouvir a voz da sua inteligência, custasse o que custasse. Para muitos, ele
estava prestes mais uma vez a acrescentar um fracasso ao seu extenso currículo.
Finalmente chegou o resultado: ELEITO O 16º PRESIDENTE DOS ESTADOS UNIDOS DA
AMÉRICA.
A. L. não apenas foi eleito como se tornou um
dos políticos mais importantes da História moderna. Seu nome? ABRAHAM
LINCOLN. Foi o presidente que emancipou os escravos do seu país, foi um dos
grandes poetas da democracia moderna e dos direitos humanos. Abraham Lincoln foi um dos maiores
sonhadores de todos os tempos. Teve todos os motivos para abandonar seus
sonhos, mas, apesar de todas as crises e das incontáveis frustrações, jamais
desistiu deles. “O homem que se vinga
quando vence não é digno da sua vitória”, pensava o afiado escritor
Voltaire. Abraham Lincoln venceu, mas não se vingou dos que a ele se opunham. Ele
apenas zombou do próprio medo, transformou a insegurança em ousadia, a
humilhação em lágrimas, que lapidaram sua personalidade, as lágrimas em gemas
preciosas no território da emoção.
Sonhos que
nunca morrem
Em 1842, Abraham Lincoln se casou com Mary
Todd, uma mulher inteligente, ambiciosa e de princípios sólidos, que
influenciou muito sua vida e o apoiou nos momentos difíceis. Em 14 de abril de 1865,
no início do seu segundo mandato, uma
tragédia aconteceu. Lincoln estava no Teatro Ford, em Washington. Tranquilo
velejava pelas águas da emoção enquanto assistia ao espetáculo. Não imaginava
que nunca mais veria as cortinas de um teatro se abrirem, pois fecharia os
olhos para o espetáculo da vida. Um ex-ator, que era um escravista radical,
caminhou se sutilmente até onde estava o presidente e o atingiu com um tiro de
pistola na nuca. Uma bala penetrou-lhe o corpo, destruiu-lhe a medula, rompeu
suas artérias. No outro dia ele morreria pela manhã, antes de o orvalho da
primavera se despedir ao calor do sol. Morreu um sonhador, mas não seus sonhos.
Seus sonhos se tornaram sementes nos solos de milhões de negros e de brancos que o amavam,
influenciando todo o mundo ocidental.
Abraham Lincoln fez a diferença no mundo. Nunca
desistiu dos seus sonhos porque viveu um dos diamantes da psicologia: o destino
não está programado nem é inevitável. O destino é uma questão de escolha.
Abraham
Lincoln e a sociedade moderna
A história da vida desse mestre pode colocar combustível
na mente de todas as pessoas que sonham. O consumismo, a competição social, a paranóia
da estética, a crise do diálogo têm sufocado a vida de milhões de jovens e
adultos em todos os países do mundo. À sociedade moderna tornou-se psicótica,
uma fábrica de loucura. Infelizmente, do jeito que as coisas caminham, investir
na indústria de antidepressivos e tranquilizantes parece ser a melhor opção no
século XXI. Se você acorda cansado, tem dores de cabeça, está ansioso, sofre
por antecipação, sente dores musculares, não se concentra, tem déficit de
memória ou outros sintomas, saiba que você é normal, pois nos dias de hoje
raramente alguém não está estressado. Raramente alguém não possui algum
transtorno psíquico ou sintomas psicossomáticos. Os adultos estão se tornando máquinas de
trabalhar, e as crianças, máquinas de consumir. Estamos perdendo a singeleza,
a ingenuidade e a leveza do ser. À educação, embora esteja numa crise sem
precedente, é a nossa grande esperança.
Abraham Lincoln queria libertar os escravos
porque encontrou a liberdade em seu interior. Ele desenvolveu saúde psíquica e
expandiu a sabedoria nos acidentes da vida e nos campos das derrotas. Quem
valoriza as dificuldades e os fracassos numa sociedade que apregoa a paranóia
do sucesso? Precisamos sonhar o sonho de liberdade de Abraham Lincoln. Ele
enfrentou o mundo por causa dos seus sonhos. Desenvolveu amplas áreas da
inteligência multifocal — pensar antes de reagir, expor e não impor suas ideias
colocar-se no lugar dos outros, ter espírito empreendedor, ser um construtor de
oportunidades, ter ousadia para reeditar seus conflitos. Por tudo isso, ele se
tornou autor da sua própria história
Você quer saber mais?
CURY, Augusto. Nunca desista de seus sonhos. Rio de Janeiro: Sextante, 2013.