Como no cristianismo e no
islamismo, o judaísmo possuí várias vertentes de pensamentos e doutrinas
distintas, ainda que em sua maioria das ideias convirjam ao mesmo ponto. Estas variáveis
geram linhas de pensamentos dentro das grandes religiões monoteístas e não
seria diferente no judaísmo. Aqui trago um tema delicado, mas que existe uma
grande unicidade do judaísmo sobre ele. O fato de Satã ser um anjo de Deus e
como tal estar a serviço das ordens do Criador. O texto que segue, pode ser
avaliado tanto pelo ponto de vista cético, com o objetivo de entender as
crenças. Como do ponto de vista religioso para aqueles que assim desejam
entender melhor a religião matriz do monoteísmo, mas aqui é expressar
unicamente a visão base sobre Satán (שטן)
segundo as crenças judaicas!
********Saliento
que este texto não é ocultista e muito mesmo visa criar uma interpretação errônea,
ou desabonar qualquer crença, mas sim expor a luz da inteligência o
conhecimento e as crenças de outras culturas. Deste modo entendendo melhor a
origem de nossa própria cultura.
Não é algo muito bem aceito
no judaísmo a ideia de que um anjo de Deus tentou e seduziu outros anjos a
desobedecer ao próprio Deus (mas não estou dizendo que não exista ramos do
judaísmo místico e outras vertentes que aceitam algo semelhante sobre uma
identidade do mal). Considerando essa ideia completamente contrária a tudo o
que o Judaísmo ensina! Os estudiosos das Escrituras Hebraicas rejeitam esta
teoria ou a aceitam de forma mágica/oculta/espiritualista.
O
que é que, então, o Judaísmo explica com relação ao Satã?
***Traduzido
do texto em Inglês por Alberto Bentzion. Escrito por Mordechai Housman
Para começar, a palavra
hebraica שטן
“Satán” significa literalmente “Inibidor/
Evitador/ Impossibilitador”. Inibir quer dizer, tentar impedir
alguém de realizar algo. Disso aprendemos que Deus foi quem criou as diversas
dificuldades, obstáculos da vida; os quais temos que enfrentar neste mundo,
exatamente para nos conduzir a auto superação, e para nos levar ao progresso.
Satán (escrito como transliterado do hebraico) é o responsável por tornar as
coisas difíceis, por desafiar e assim colaborar para que tenhamos a chance de
vencer a nós mesmos; para passarmos no teste. Satán é um Malách (por hora,
entenderemos como Anjo) cujo propósito é especificado por Deus.
Existem dentro nós, por
intermédio dos dois instintos que Deus mesmo criou no homem, tanto o inclinando
ao bem como ao mal. O mais importante, é que somente esta habilidade de
escolha absoluta torna possível
que façamos o bem e o mal, com total e absoluta decisão pessoal. Temos a plena
capacidade de recusar fazer o mal. Esta é a noção exata de que temos o direito
que escolher tanto o bem como o mal.
A habilidade de escolher
entre o bem e o mal é o que nos garante a noção de livre arbítrio. Portanto,
para nos induzir a escolher o bem é que HaShem (HaShem (do hebraico השם), significando O Nome.
É uma forma para designar Deus dentro do judaísmo, fora do contexto da reza ou
da leitura pública do texto bíblico) nos oferece o bem no mundo vindouro, e
para que mereçamos isso, é preciso que algo nos iniba, algo que tente nos
impedir e que tenhamos que superar. Satán (שטן), portanto é nossa inclinação ao mal (Ietzer
Hará). E a inclinação ao mal tenta nos impedir de fazer o bem, pois HaShem tem
ordenado a ela fazer exatamente isso. Porquê? Para nos garantir livre arbítrio. Para que nossa escolha pelo bem
seja sempre voluntária. Cada um de nós, todos os dias lutam contra seu mau
instinto.
Para o judaísmo Satán
(שטן) não é um anjo rebelde. Segundo
os judeus, tal coisa é simplesmente impossível. Pois segundo ensinam, os anjos
são seres de matéria elevada e sagrada porque foram criados desta forma, assim
como os animais são animais porque foram criados desta maneira; os anjos estão
constantemente contemplando a irradiação de HaShem (É uma forma para designar Deus dentro do judaísmo, fora do contexto da
reza) por toda parte. Do mesmo modo um anjo não pode evitar a Divina
Presença e por isso, não consegue deixar de ser sagrado. A santidade de toda
criação, de todo o universo é contemplada de foram elevada pelos seres que são
neste sentido, elevados; e por isso eles não podem parar de servir ao ETERNO. Os anjos não podem
escolher não servir a Deus. Eles não possuem o livre arbítrio. Não
podem contemplar outra coisa senão o ETERNO diante de si.
Então
salientando que segundo o judaísmo a verdade é que Satán tem uma missão a cumprir como todo e
qualquer “anjo”. E “anjos” não possuem livre arbítrio para
escolher suas missões. Eles são apenas reflexos da vontade de Deus, no
sistema em que foram criados para propósitos específicos.
“Diante desse raciocínio os humanos e
seu propósito é viver para vencer sua má natureza?! Foi para isso que você foi
criado, com base no judaísmo! HaShem
(É uma forma para designar Deus dentro
do judaísmo, fora do contexto da reza) já tem bastantes anjos nos céus! Ele não precisa de
mais. Ele te criou humano, para que você progrida na senda da justiça. Seres humanos podem melhorar a si mesmos, e
este é seu propósito no mundo. Os “anjos”, não podem melhorar nem
progredir, assim como os animais não progridem moralmente. Este não é, sequer,
o propósito da sua existência.”
O que podemos observar até agora é que Satán
para os judeus (não esquecendo que existem variantes esotérico-mágicas e
espiritualistas dentro do judaísmo como no cristianismo e islamismo) não é, e
nem poderia ser um anjo caído.
►►►Podemos entender então que Satán para os
sábios rabinos se define nesses itens: ◄◄◄
₳ Para os judeus, Satán
é apenas um anjo com um trabalho que para nós é desafiador.
₳ Satán não tem um
reino paralelo.
₳ Satán não está
competindo com Deus nem está atrapalhando a criação.
₳ Ele sequer se
satisfaz quando a pessoa se deixa vencer pela má inclinação.
₳ Ele sequer decide
suas próprias missões.
₳ Satán é um anjo que
nos impõe desafios, ao mando de Deus;
₳ Um anjo que não
permite que enganemos a nós mesmos com falsa modéstia ou hipocrisia moral;
₳ Um anjo que traz a punição divina ao homem;
₳ Que executa a
correção do Criador.
₳ O Satan executa
sua missão de se opor a nós, por meio das coisas que nós mesmos valorizamos no
mundo.
₳ Satán não tem
aparência maquiavélica, nem chifres, nem pele vermelha, nem rabo, nem mora em
chamas, nem mesmo se veste de terno e gravata!
Com certeza
essa análise sobre Satán para o judaísmo soa um tanto estranha para o
cristianismo, pois segundo o judaísmo nenhum de nós é capaz de destruir o
Satán. O que nós devemos fazer é usar a oportunidade do desafio para vencer a
nós mesmos, procurando compreender onde o Satán foi enviado a servir-nos de
opositor, sabendo então que é exatamente nesta determinada qualidade que
devemos agora nos superar.
Agora
é que vemos algo bem distinto do cristianismo e islamismo na crença judaica
sobre anjos, pois os mesmo ensinam que após o fim dos tempos, a função do Satán estará cumprida
neste mundo. Ele não mais precisará guiar as pessoas rumo ao
progresso por intermédio das dificuldades que impõe, pois atingiremos o nível
desejado por HaShem para este mundo. Uma vez terminado o julgamento, não
precisaremos mais da expiação da morte, e consequentemente o Satán não mais
será o agente da morte biológica, nem um opositor frente à escolha humana. Satán terá então a
sua existência anulada, pois atingirá o propósito para o qual foi criado. E
isso segundo o judaismo não será uma injustiça com o Satan. Será como desligar uma máquina por não mais precisar usá-la. Acaso
alguém choraria por desligar sua TV por não querer mais assisti-la? Do mesmo
modo que máquinas, “anjos” não são seres conscientes, como nós humanos somos;
não possuem nem emoções nem desejos. Eles apenas existem para seguir as
instruções de HaShem e é exatamente isso que fazem.
Outro conceito
importante no judaismo é que somente o ser humano pode ser mau. Portanto, o Ietzer hará é a natureza
humana voltada - pela própria pessoa - para o mal. Talvez agora ficará claro
para o leitor entender as seguintes passagens das Escrituras Hebraicas, em que
diz que o Altíssimo colocou no mundo tanto o bem como o mal, como está escrito
em Devarim (Deuteronômio) 30:15.
“Vê
que pus diante de ti hoje a vida e o bem, a morte; e o mal.”
E em
Ieshaiáhu (Isaías) 45:7, o profeta descreve o plano da criação de D-us
expressando assim:
“Eu
formo a luz e crio a escuridão; Eu faço a paz e Sou Eu quem cria o mal; EU SOU
o ETERNO que tudo faz.”
Agora
sim está claro o texto, pois se Deus criou essas forças dentro de nós que lutam
entre si para que nós possamos fazer as devidas escolhas, está evidente que se
praticamos o mal, estamos criando o mal, e como somos criaturas de Deus, o
profeta judeu está afirmando que Deus criou o mal. Mas se escolhemos de forma
correta as nossas ações e elas são boas para nós e aos que vivem a nossa volta
teremos o bem, e isso o profeta judeu também atribui a Deus...pois Deus criou o
bem e o mal dentro de nós...de cada ser humano. Segundo a Tanah ninguém nasce mal...mas se torna mal ao longo de sua
vida por uma opção pessoal, eis a grande mensagem da Torá para as pessoas que
buscam se aprimorar.