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sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Mentes do século XXI. Turbinadas e Desestabilizadas!

Vivemos em uma sociedade buscadora de novidades, aonde não é descabido dizer que a maioria das transformações das últimas décadas, principalmente na sociedade ocidental, manifesta o tom de uma busca intensa de novidades: velocidade, precocidade, abusos (de drogas inclusive), violência, ambição desmedida pela fama e pelo sucesso, narcisismo, histeria, inconsequência, pansexualidade, fanatismo religioso, inovação constante, pressa, impaciência, esportes radicais, lutas mais agressivas, competitividade, relações efêmeras e voláteis, versatilidade, expressão afetiva, mulheres cada vez mais ativas e competitivas, cirurgias plásticas estéticas e todas as formas de preservar ou recuperar a juventude. São comportamentos, atitudes ou sonhos que sempre estiveram presentes ou latentes, mas parecem se intensificar cada vez mais com a carga crescente de estímulos que as crianças recebem.

Isso pode ser muito bom para provocar mudanças na sociedade, mas traz o risco da instabilidade, da inconsequência e dos excessos. Sem uma concepção de comunidade, de ética e de bem-estar geral, esta onda de estímulos associada às fracas estruturas familiares, que não conseguem impor limites de modo claro e afetivo, pode gerar enormes problemas para todos.

Crianças são estimuladas a realizarem várias tarefas ao mesmo tempo como: jogar vídeo game, usar o computador, msn, ouvir música e ver as notícias de seus idolos da "hora". Dentre outras atividades que prejudicam a concentração e atrapalham o bom desempenho se o foco fosse um só!

É fácil perceber que uma das grandes mudanças atuais é a carga de estímulos e novidades a que estamos expostos. Comparados às crianças de 60 anos atrás ou de uma comunidade indígena ou rural, os bebês nascidos nas classes média e alta já vêm ao mundo com dezenas de roupas coloridas, um quarto todo enfeitado, móbiles pendurados no berço, chocalhos e brinquedos em tal quantidade que mal se acostumam com um e já ganham outros tantos ainda mais barulhentos, surpreendentes e coloridos. Televisão com vários canais, música o tempo todo, videoclipes (com edição frenética de imagens), tipos diferentes de comidas, computadores, internet, videogames ensandecidos e ensandecedores...Não é à toa que os brinquedos de ação estão cada vez mais comuns e ousados. Skates, patins e bicicletas não servem para andar para lá e para cá: são usadas para saltar, voar, girar, se quebrar.

Porque esperaríamos que na hora de namorar fosse diferente? Enjoou, troca! E as meninas, cada vez mais estimuladas, passam a ter um perfil mais comum ao estereótipo masculino: independente, explorador, conquistador.

Como vão ficar as relações?

Estamos cultivando uma geração de pansexuais polígamos? Além disso, a mídia reforça o modelo de que só é bom se tiver muita adrenalina! Para quê? Certamente para vender mais. Devêramos então, nos surpreender com o aumento do consumo de drogas lícitas e ilícitas, apesar da redução da propaganda direta? Será que o mercado é um bom regulador do comportamento humano? Não precisamos repensar nosso modelo de sociedade e a filosofia de vida que estamos levando?

Onde fica a discussão ética disso tudo?

Esse excesso de excitação coincide também coma redução da maternidade em nossa sociedade: mães que trabalham deixam os filhos em creches onde são mais estimuladas e tem menos vivencia do modelo de apego e cuidado materno que sabidamente aumenta a tolerância e a segurança da criança. Quando voltam para casa, podem estar cansadas demais para serem mães tolerantes. Esta combinação promove o temperamento de busca de novidades e não desenvolve a persistência, um padrão de temperamento frequente em ambientes de extremos estímulos externos.

Acredito que o ponto central é avaliar a influência destas mudanças de ambiente desde o nascimento, porque o cérebro até 10 anos é extremamente maleável e adaptável. O maior exemplo é o aprendizado de idiomas. Se mudar de país, uma criança até 10 anos aprende o idioma novo sem sotaque ou diferenças de conhecimento em comparação aos nativos. Por que para o resto seria diferente? E mais, o que promove o desenvolvimento cerebral é exatamente o estímulo, portanto não devemos nos surpreender com a crescente precocidade das crianças em todos os níveis. Quem nasceu na década de 1920, por exemplo, mal experimentou o rádio, o telefone e o automóvel na sua infância, hoje, aos sete anos de idade, se anda a 120 Km/h, se tem TV e computador no quarto e celular próprio.

Os professores sabem o que é tentar conter essa geração que não consegue ficar quieta e prestar atenção.

Claro que o modelo atual de escola também não ajuda muito. Mas como vai ser daqui a 10 ou 15 anos?

Não é, em parte, essa tormenta de informações intensas e voláteis que nos distancia cada vez mais da serenidade do índio e do camponês? Talvez seja hora de admitir a hipótese de que novidades e estímulos demais podem ser deletérios. E quem sabe possamos auxiliar as crianças no desenvolvimento da tolerância a frustrações e não estimulá-las em excesso se já tiverem um forte temperamento de busca de novidades, reduzindo a chance de virem a manifestar instabilidade ou insaciabilidade de sensações na vida adulta?

A televisão tem sido o foco central por muitos anos do encontro familiar nas noites. Desligue a sua televisão, rádio, computador e celular por um tempo. Aproveite esse tempo para sentar-se à mesa com sua família, falar sobre como foi o dia no seu trabalho e na escola de seus filhos.

Em resumo ambientes muito estimulantes gerariam crianças turbinadas, que se transformam em adultos turbinados e mais turbinadores da sociedade. A poluição de informações e estímulos tem crescido bastante, mas foi devastadora nesta última década, com a popularização de computadores, celulares e televisões no quarto com programas em alta rotação. Como se não bastasse, esses estímulos têm feito com que todos, principalmente os mais jovens, durmam cada vez mais tarde e, portanto, menos que é outro fator desestabilizador da mente. É só uma hipótese, e pode não ser a única, mas acho que deve ser considerada.

Jantares e almoços em família são verdadeiras fontes da juventude para a relação familiar.

Além disso, a presença da mídia e as informações externas ao nosso microcosmo são cada vez mais abundantes e invasivas, tendendo (por sua própria essência) ao extremo. Obviamente uma família almoçando tranquila no domingo não é notícia, exceto se um avião cai em cima da casa ou se ela ganha um prêmio maravilhoso. Com isso, torna-se mais importante ponderar nossa visão de mundo para não sermos jogados para cima e para baixo a toda hora por manchetes e pelos acontecimentos alardeados.

Não podemos esquecer da velha e boa leitura. Aproveite um momento para lêr um bom livro de seu agrado, em um ambiente sereno e calmo. Isso faz uma diferença muito grande entre aprender e acumular informações.

Você quer saber mais?

CLONINGER CR, SVRAKIC DM, PRZYBECK TR. A psychobiological model of temperament and character. Arch Gen Psychiatry. 1993; 50(12): 975-90.