PESQUISE AQUI!

quarta-feira, 31 de julho de 2024

A colonização portuguesa na América

A ocupação das terras americanas só se tornou possível na medida em que a cana-de-açúcar mostrou-se adaptável ao clima e ao solo da região tropical. Mas, sobretudo, quando se percebeu que o açúcar era um produto rentável, de grande aceitação no mercado europeu e capaz de gerar bons lucros. A exploração da colônia portuguesa, com o cultivo da cana-de-açúcar, assumiu três características básicas: grande propriedade, monocultura e trabalho escravo.  A disponibilidade quase ilimitada de terras ajudou na formação de grandes fazendas produtoras. Os custos de produção, desbravar o terreno, plantar, colher, transportar a cana e fabricar o açúcar, exigiam grandes plantações para se obter retornos lucrativos. A monocultura também era essencial, pois facilitava a especialização e a concentração de recursos e esforços em uma única atividade. 

A opção pela monocultura da cana-de-açúcar em grandes propriedades era decorrência natural da política mercantilista. Os esforços coloniais deveriam estar voltados para a aquisição de produtos que pudessem ser comercializados com as nações europeias. Essa condição era preenchida pela lavoura de gêneros agrícolas tropicais, como a cana-de-açúcar. O chamado pacto colonial, segundo o qual as colônias só poderiam comerciar com suas metrópoles, complementava os propósitos dessa política econômica.  Quanto à mão-de-obra, tentou-se a princípio o uso do trabalho indígena. Os índios tinham colaborado na extração do pau-brasil e o colonizador julgava que isso poderia se repetir com o trabalho agrícola. Entretanto, os índios não se submeteram facilmente às condições exigidas pela nova atividade. A extração do pau-brasil podia ser realizada de forma esporádica e livre; a atividade agrícola exigia trabalho sistemático, disciplina, organização e vida sedentária.

Para estabelecer essas condições de trabalho, foi necessário aumentar a vigilância sobre os índios. Em pouco tempo, generalizou-se a escravização dos nativos. A antiga relação pacífica se tornou conflituosa. A escravização dos povos indígenas foi um problema que percorreu todo o período colonial e opôs colonos, governo e Igreja. Pressionado pela Igreja, o governo português proibiu o apresamento de índios. Em 1570, uma Carta Régia autorizava a escravização apenas dos indígenas presos em guerra justa, isto é, em conflitos iniciados pelos próprios índios ou promovidos pelos colonos contra povos hostis. Essa autorização permitiu que o apresamento indígena continuasse. Por uma série de circunstâncias, a escravidão africana acabou se impondo como solução para o problema da mão-de-obra. 

O engenho 

Desde 1526, livros da Alfândega de Lisboa acusavam a entrada de açúcar vindo da ilha de Itamaracá, no atual estado de Pernambuco. Mas a grande produção só começou de fato em 1533, com o engenho de Martim Afonso de Sousa em São Vicente, que nesse mesmo ano foi comprado pelo capitalista holandês Erasmo Schetz.

As capitanias hereditárias 

Em 1534, El-rei dom João II dividiu a colônia americana em quinze faixas de terra com largura entre 200 e 650 quilômetros, indo do litoral à linha do Tratado de Tordesilhas. Eram as capitanias hereditárias, mesmo sistema utilizado nas ilhas do Atlântico. Elas foram entregues a senhores chamados de capitães donatários. Hereditárias, as capitanias deveriam passar de pai para filho. Aos donatários foi atribuída grande soma de poder: podiam distribuir terras a colonos, nomear autoridades administrativas e judiciárias, escravizar e vender índios, fundar vilas, cobrar tributos pela navegação dos rios, etc. Os donatários só não tinham poder sobre os impostos reais e deviam arcar com todas as despesas da colonização. A constituição político-administrativa das capitanias tinha por base jurídica a Carta de Doação e o Foral. Pela primeira, o rei confiava à administração perpetua e hereditária ao donatário. No Foral, estavam fixados os direitos, foros e tributos que a população pagaria ao rei e ao donatário. Apesar do fracasso, o sistema de capitanias perdurou até 1759 e conviveu com outras estruturas administrativas criadas pelo governo português, como os governos-gerais. Diante do insucesso, muitas acabaram compradas pelo governo, outras incorporadas por abandono.

O Governo-Geral 

Um dos grandes problemas enfrentados pelos donatários das capitanias foi o isolamento, que dificultava, por exemplo, a defesa contra os índios, em luta por suas terras e contra a escravização. Diante dos problemas, a Coroa portuguesa criou o cargo de governador-geral em 1548. O objetivo da medida era centralizar a defesa do território e a administração da colônia.  Para sede do Governo-Geral foi escolhida a capitania da Bahia de Todos os Santos, comprada ao donatário. O primeiro governador-geral a ser nomeado foi Tomé de Sousa. Em 1549, para instalar seu governo, Tomé de Sousa fundou Salvador, que se transformou na primeira cidade da colônia.

As Câmaras Municipais 

Com o surgimento das primeiras vilas e cidades, organizou-se a administração municipal, que foi entregue às Câmaras Municipais, compostas de três ou quatro vereadores. Estes eram escolhidos pelos homens bons, como eram chamados os proprietários de terras, a elite do lugar. Um juiz, eleito da mesma forma, presidia a Câmara.

Você quer saber mais?

ARRUDA, José Jobson de A; PILETTI, Nelson. Toda a História: História Geral e História do Brasil-9º edição. São Paulo: Ed. Ática, 1999.

AZEVEDO, Gislane Campos; SERIACOPI, Reinaldo. História: Volume Único. São Paulo: Ed. Ática, 2011. 

VAINFAS, Ronaldo; FERREIRA, Jorge; FARIA, Sheila de Castro; CALAINHO, Daniela Buono. História.doc. São Paulo: Ed.Saraiva, 2015.

JÚNIOR, Alfredo Boulos. Coleção História: Sociedade & Cidadania. São Paulo: FTD, 2004.

COTRIM, Gilberto. História Global: Brasil e Geral-8º edição. São Paulo: Editora Saraiva, 2005.

COTRIM, Gilberto; RODRIGUES, Jaime. Historiar- 2º ediçaõ. São Paulo: Editora Saraiva,  2015.

VICENTINO, Cláudio; DORIGO, Gianpaolo. História para Ensino Médio: História Geral e do Brasil. São Paulo: Editora Scipione, 2005.

REZZUTTI, Paulo. D.Pedro I:  A história não contada. O homem revelado por cartas e documentos inéditos. São Paulo: Leya, 2020.




O massacre de povos pelos nazistas na Segunda Guerra Mundial

 “Entre 20 e 26 milhões de soviéticos morreram durante a Segunda Guerra Mundial, 13,5 milhões de chineses e 6 milhões de judeus. Foram os povos que mais perderam vidas durante o conflito, e nenhuma dessas vidas é mais valiosa que a outra.”

Apesar de ainda haver discussão sobre o uso e abrangência do termo "Holocausto", o genocídio nazista contra os judeus foi parte de um conjunto mais amplo de atos de opressão e de assassinatos em massa agregados cometidos pelo governo nazista contra vários grupos étnicos, políticos e sociais na Europa. Entre as principais vítimas não judias do genocídio estão ciganos, eslavos (tchecos, os russos e bielo-russos, os polacos, os croatas, os búlgaros, os ucranianos, os macedônios, os eslovenos e eslovacos, e os lusácios), comunistas, homossexuais, prisioneiros de guerra soviéticos, Testemunhas de Jeová e deficientes físicos e mentais. Segundo estimativas recentes baseadas em números obtidos desde a queda da União Soviética em 1991, um total de cerca de onze milhões de civis (principalmente eslavos) e prisioneiros de guerra foram intencionalmente mortos pelo regime nazista.

Com as derrotas se acumulando, era previsível que Hitler se concentrasse nas frentes militares, talvez abandonando certas características do regime, como a perseguição aos Judeus, ciganos é homossexuais. Mas o Führer tinha muito pouco de previsível. A derrota à vista acentuou as perseguições, afinal, os seres inferiores não eram à “doença” que contaminava o “corpo mo” da Alemanha? Os nazistas tornavam se prisioneiros dos preconceitos que haviam ajudado o movimento a chegar ao poder.

A partir de 1942, numa conferência realizada em Wansee, na periferia de Berlim, os nazistas adotaram a “solução final”, uma diretriz de massacre “científico”, principalmente dos judeus, Já funcionavam, na Alemanha e em outros países, campos de concentração nazistas, onde inimigos políticos, judeus e doentes mentais eram mantidos, e muitos, mortos. Passou-se então à construção de campos de extermínio. Para lá deveriam ser levados prisioneiros eslavos, ciganos, religiosos, pacifistas e, principalmente, judeus.

Viviam na Europa cerca de 8 milhões de judeus. A maior comunidade na área ocupada 3 milhões de pessoas estava na Polônia, seguida pela Romênia (800 mil) e pela Hungria (400 mil). Por isso, a maioria dos campos de extermínio, como Auschwitz-Birkenau, Treblinka e Sobibor, foi construída na Polônia. 

Para os campos de concentração eram deportados prisioneiros de toda a Europa ocupada pelos alemães. Os deportados imaginavam que apenas trabalhariam para os nazistas. De fato, os que podiam trabalhar, enquanto pudessem, eram empregados como mão-de-obra escrava, Várias empresas alemãs, como Bayer, BMW e Telefunken, ganharam muito dinheiro com o trabalho escravo dos prisioneiros.

Logo na entrada dos campos, médicos separavam as pessoas em duas filas, velhos, doentes e crianças iam imediatamente para a morte nas câmaras de gás. Os Corpos seguiam para fornos crematórios. Um desses médicos, Josef Mengele, morreu em 1986 no Brasil, onde morou escondido por muitos anos. Quase sempre às vítimas não sabiam de nada, porque as placas nas câmaras de gás indicavam “chuveiros” e “desinfecção”. O oficial nazista K. Pritzsch apresentou assim o campo de Auschwitz à um grupo de prisioneiros:

“Eu lhes digo que vocês não estão num hospital e sim num campo alemão, do qual não há outra saída senão a chaminé. Se isso não agradar a algum de vocês, pode imediatamente atirar-se à cerca eletrificada. Se há judeus nesse comboio, eles não têm o direito de viver mais que 15 dias. Se houver padres, eles podem viver um mês, e todos os outros, três meses.“

No auge de sua “produção”, Auschwitz-Birkenau exterminava seis mil pessoas por dia nas câmaras de gás ou apenas pela fome. Centenas de prisioneiros também foram utilizados em horrorosas “experiências” com novos remédios. O laboratório Bayer enviou certa vez ao comando de Auschwitz a seguinte carta: 

“Solicitamos que seja posto à disposição um certo número de mulheres, para testes que pretendemos realizar com um novo narcótico. Não oferecemos mais que 170 marcos por cabeça. Depois que as experiências forem feitas, todas as pessoas serão mortas.”

Eram retirados das vitimas todos os valores, dentes de ouro, óculos e malas. Até os cabelos eram usados na fabricação de sacos. Quando a guerra acabou, descobriu-se que cerca de 6 milhões de judeus, pelo menos 300 mil ciganos, multidões de prisioneiros soviéticos, comunistas, socialdemocratas e pacifistas religiosos haviam sido exterminados. 

Embora os judeus fossem seus alvos principais, os nazistas e seus colaboradores também perseguiram outros grupos por razões raciais ou ideológicas. Entre as primeiras vítimas da discriminação nazista na Alemanha estavam os oponentes políticos, principalmente os comunistas, os socialistas, os social-democratas e os líderes sindicais. Os nazistas também perseguiram autores e artistas cujas obras consideravam subversivas, ou apenas por serem judeus, sujeitando-os a prisões, restrições econômicas e outras formas de discriminação. Os nazistas perseguiram os ciganos por razões raciais, e membros daquele grupo estiveram entre as primeiras vítimas a serem mortas em caminhões de gás móveis no centro de extermínio de Chelmno, na Polônia. Os nazistas também deportaram mais de 20.000 ciganos para o campo de Auschwitz-Birkenau, onde a maioria deles foi assassinada nas câmaras de gás. Os nazistas viam os poloneses e outros povos eslavos como inferiores. Os poloneses que fossem considerados ideologicamente perigosos (tais como intelectuais e padres católicos) foram mortos [os nazistas decidiram que os demais eslavos seriam escravos da "raça superior"]. Entre 1939 e 1945, pelo menos 1.5 milhão de cidadãos poloneses foram deportados para o território alemão para executar trabalho escravo. Centenas de milhares também foram presos em campos de concentração nazistas. Estima-se que os alemães assassinaram pelo menos 1.9 milhão de civis poloneses (cristãos) durante a Segunda Guerra Mundial.

Durante o outono e primavera europeus de 1941 e 1942, na União Soviética ocupada, as autoridades alemãs conduziram sua política racista de assassinato em massa contra prisioneiros de guerra soviéticos. Os judeus, as pessoas com "traços asiáticos" e os principais líderes políticos e militares eram imediatamente separados e abatidos a tiros. Outras três milhões de pessoas foram aprisionadas propositadamente em campos provisórios ao relento, sem alimentação ou medicamentos adequados, para que morressem à míngua. Na Alemanha, os nazistas prenderam líderes das igrejas cristãs que se opuseram ao nazismo, bem como milhares de Testemunhas de Jeová que se recusavam a saudar Adolf Hitler ou a servir no exército alemão. O "Programa de Eutanásia" nazista assassinou cerca de 200.000 pessoas com deficiências físicas ou mentais. Os nazistas também perseguiram os homossexuais do sexo masculino, cujo comportamento era considerado um obstáculo para a preservação da [pureza da] nação germânica.

Os ciganos, também conhecidos como Romanis, estavam entre os grupos perseguidos pelo regime nazista por motivos raciais. Os ciganos foram submetidos à internações forçadas, deportações e trabalho escravo, além de serem enviados para os campos de extermínio. As Einsatzgruppen, Unidades Móveis de Extermínio, também assassinaram dezenas de milhares de romanis nas áreas do leste europeu ocupadas pelos alemães. O destino dos ciganos foi o mesmo dos judeus. É difícil determinar o número de ciganos mortos durante o Holocausto. Estima-se que um milhão de ciganos viviam na Europa antes da Guerra, e que entre 200.000 e 500.000 deles foram mortos pelos alemães.

Na terminologia nazista, "eutanásia" referia-se ao extermínio sistemático dos alemães que os nazistas consideravam "sem direito à vida" devido a supostas doenças genéticas e/ou defeitos físicos ou mentais. No outono de 1939, foram criadas instalações para iniciar o processo de eliminação em massa daquelas pessoas utilizando o método de envenenamento por gás. Os prédios para tal ação estavam localizados em Bernburg, Brandenburg, Grafeneck, Hadamar, Hartheim e Sonnenstein. Os pacientes eram selecionados pelos médicos [que deveriam tratá-los] e transferidos das clínicas onde estavam internados para uma daquelas instalações centralizadas de assassinato. Depois que a indignação pública forçou o fim daquelas matanças, os médicos passaram a aplicar injeções letais em pessoas selecionados para "eutanásia" em clínicas e hospitais espalhados por toda a Alemanha. Desta forma, o programa de "eutanásia" continuou a funcionar e a expandir-se até o final da Guerra.

Você quer saber mais?

ARRUDA, José Jobson de A; PILETTI, Nelson. Toda História- História geral e História do Brasil. São Paulo: Editora Ática, 1999.

Adaptado de: Jayme Brener. A Segunda Guerra Mundial, O planeta em chamas. São Paulo, Ática, 1998. p. 43-4.

Enciclopédia do Holocausto


domingo, 28 de julho de 2024

Grécia: período Pré-homérico e Arcaico

Nas proximidades do monte Olimpo, na região próxima ao mar Mediterrâneo, por volta de quarenta séculos atrás, começou a se formar a Grécia, berço das sociedades européias contemporâneas. A região, na época chamada Hélade, passou a abrigar diversas cidades independentes, como Atenas, Esparta, Delos e Corinto. O relevo, extremamente acidentado, seria fator decisivo para que não constituíssem um Estado unificado. Mesmo assim, costumes comuns, como idioma e religião, deram ao conjunto das cidades uma única identidade cultural. Com base no espaço geográfico, a Hélade pôde ser dividida em três partes distintas: a continental, formada por montanhas e planícies férteis isoladas; a peninsular, com litoral recortado por golfos e baías que facilitavam a navegação; e a insular, com numerosas ilhas que permitiam navegar com terra sempre à vista — característica importante numa época de técnica naval precária. As características físicas dificultavam a ocupação de grande parte do território — apenas 20% de sua área era propícia à atividade humana. Poucas chuvas e a ausência de grandes rios, por sua vez, dificultavam a prática da agricultura. A navegação costeira era a única atividade facilitada pelas condições geográficas.

Nenhuma dessas circunstâncias, no entanto, acabou se transformando em obstáculo para o desenvolvimento de uma cultura extremamente significativa, tanto para o mundo antigo quanto para as sociedades contemporâneas. Para dimensionar essa importância, basta lembrar que na Grécia Antiga surgiram a filosofia, a democracia, os jogos olímpicos, além de conhecimentos fundamentais para o desenvolvimento da matemática, da justiça e das ciências da cura. A Grécia Antiga é o tema desta Unidade. Sua história estende-se do século XX ao século IV a.C. E, normalmente, é dividida em quatro períodos: 

    • Pré-Homérico (séculos XX-XII a.C.);

    • Homérico (séculos XII-VIII a.C.);

    • Arcaico (séculos VIII-VI a.C.);

    • Clássico (séculos V-IV a.C.). 

A partir da segunda metade do século IV a.C., as cidades gregas foram conquistadas pela Macedônia. Esse período é conhecido como helenístico. A ele se sucederiam as conquistas romanas, que desagregariam definitivamente a sociedade grega.


O mundo grego

Os primeiros habitantes da Grécia foram os pelágios ou pelasgos. À origem desse povo é pouco conhecida, mas deve estar relacionada às culturas nativas da própria região mediterrânea. Por volta de 2000 a.C., grupos de arianos de origem indo-europeia começaram a se fixar na região. A princípio, estabeleceram relações pacíficas com os pelágios, até a chegada dos dórios. Os dórios eram um povo guerreiro e deram início a um novo período da história grega, no qual passaram a predominar os genos! O período de formação do povo grego é conhecido como Pré-Homérico; o que se inicia com a invasão dórica denomina-se Homérico. A desagregação dos genos, a partir do século VIll a.C., inaugura o período Arcaico, de consolidação das pólis. 


Período Pré-Homérico: “as invasões arianas

O primeiro grupo de arianos a ocupar a Hélade, por volta de 2000 a.C, foi o dos aqueus. Os aqueus eram nômades e se deslocavam em busca de melhores pastagens para seus rebanhos. Quando chegaram à Grécia, ocuparam as terras mais férteis e assimilaram os grupos nativos. A sedentarização provocou a formação dos primeiros núcleos urbanos na Hélade, como Tirinto, Argos e Micenas. Com o tempo, Micenas transformou-se no principal centro político, econômico e cultural dos aqueus. 

Por volta de 1700 a.C., outros dois povos arianos chegaram à Grécia: os jônios e os eólios. Pacíficos, acabaram integrados às sociedades locais sem conflito. Nessa mesma época, a cidade de Micenas mantinha intenso intercâmbio com Creta, dando origem à cultura creto-micênica. O contato com os cretenses, que dominavam todo o mar Egeu, possibilitou aos aqueus o desenvolvimento de novas técnicas agrícolas e navais. Por fim, acabaram superando seus mestres: por volta de 1400 a.C., conquistaram Cnossos e destruíram parte da sociedade cretense.

A conquista permitiu aos aqueus expandirem suas atividades comerciais e de pirataria por todo o Mediterrâneo oriental. Por volta de 1150 a.C., dominaram a cidade de Tróia, na estratégica passagem entre o mar Egeu e o mar de Mármara. Com isso, Micenas passou a controlar o tráfico marítimo na região, ampliando ainda mais suas atividades na Ásia Menor. Enquanto a sociedade micênica se expandia pela Ásia, chegavam à Hélade os dórios, último grupo de arianos a ocupar a região. Nômades, aguerridos e conhecedores de armas de ferro, os dórios arrasaram as cidades da Hélade e provocaram a dispersão da população local em direção ao interior do continente, à Ásia Menor e a outras regiões do Mediterrâneo. O fato acabou favorecendo a formação de inúmeras colônias gregas. Esse processo de dispersão e colonização ficou conhecido como Primeira Diáspora Grega. A chegada dos dórios marca o início de outro período da história da Grécia Antiga, o Homérico, que se estendeu até o século VIII a.C. No decorrer desse período, a vida urbana na Hélade diminuiu, dando lugar a pequenas comunidades formadas por grandes famílias: os genos. Esse período recebe o nome de Homérico porque as fontes para seu estudo são duas obras atribuídas ao poeta Homero: a Ilíada, que narra a tomada de Tróia, e a Odisséia, que conta o retorno de Ulisses ao reino de Ítaca.

Com a diminuição da vida urbana, desapareceram - em grande parte os traços culturais mantidos até então pelos povos da Hélade. A escrita, por exemplo, deixou de existir. Três séculos depois, surgiria uma nova forma de registro escrito, baseado no alfabeto fenício. Só então os versos cantados por Homero ganhariam forma definitiva.


Período Homérico: os genos

A base social da Grécia após o século XII a.C. passou a ser O genos, ou seja, a reunião em um mesmo lar de todos os descendentes de um único antepassado, normalmente um herói ou semideus. O genos, muitas vezes constituído por centenas de pessoas, era comandado por um único chefe. O poder era transmitido do pai para o filho mais velho. Mantinha-se um culto aos antepassados e uma justiça própria, baseada nos costumes. Cada membro, chamado de gens, dependia da unidade familiar, e o grupo, como um todo, gozava de grande autonomia política. Essa autonomia política era sustentada por uma certa independência econômica. Nessa época, a economia grega se resumia à arte de administrar os bens da casa. A família era auto-suficiente, espécie de organização fechada que pouco necessitava de contatos exteriores. À propriedade dos bens de produção era centralizada na figura do chefe do genos. O trabalho era coletivo; quem se recusasse a trabalhar era expulso da família. Todas as tarefas eram, por isso, valorizadas e nenhuma considerada humilhante. A produção era distribuída igualitariamente, o que impedia a diferenciação econômica dos membros do genos. Só se recorria ao trabalho de escravos ou de artesãos em casos excepcionais: quando a família era pouco numerosa ou não dominava determinada técnica de produção.

A economia do genos era basicamente agropastoril. Família rica era família com terra fértil, pois garantia o sustento cotidiano e ainda conseguia armazenar produtos para tempos difíceis. O excedente possibilitava ainda contratar artesãos, comprar escravos e mercadorias de Valor, que eram acrescidas ao tesouro da família. Uma forma de aumentar as riquezas era dedicar-se às guerras, à pirataria e aos saques. Geralmente, eram os mais jovens que se dedicavam a essas atividades. Apesar de uma distribuição igualitária dos bens produzidos, a organização social do genos perpetuava certa diferenciação, determinada pelo grau de parentesco com o chefe do genos: quanto mais distante o grau de parentesco, menor a importância social. No plano político, o poder do chefe do genos estava fundamentado no monopólio de fórmulas secretas, que permitiam contato com os ancestrais e os deuses protetores da família. 


Transformações nos genos

Com o tempo, 0 genos começou a encontrar dificuldades para manter sua organização econômica e social. Por causa de técnicas rudimentares, a produção passou a crescer em ritmo menor que o da população. A utilização de terras menos férteis, a especialização das áreas de produção, o uso de mão-de-obra suplementar e a busca de produtos específicos foram alternativas para o problema, mas não conseguiram evitar por muito tempo a diminuição da renda familiar e q surgimento de manifestações de descontentamento. 

Outro problema que surgiu foi a tendência do genos em dividir-se em núcleos menores. Ao romper os laços familiares, o genos tornava-se mais frágil. A divisão acontecia em virtude da pressão dos parentes mais distantes por melhores condições de vida e também do descontentamento de alguns com a rotina do genos.  Essas condições somadas levaram à desagregação do genos. Nesse processo, os parentes mais próximos do chefe do genos foram beneficiados e os mais afastados acabaram preteridos. Primeiro foram desmembrados os bens móveis, como gado, escravos, metais, vasos e armas. Depois, o local de moradia: a casa, antes espaçosa para abrigar toda a família, começou a dar lugar a habitações menores. Por fim, começou a ser dividido o bem principal: a terra. A passagem para uma nova organização esbarrava, no entanto, em alguns limites. Em certas regiões, a terra não podia ser dividida ou repassada para quem não tivesse pertencido ao antigo genos; em diversas propriedades, os membros do genos preservavam o sistema de rodízio da terra.


As consequências das mudanças

A desintegração do genos teve consequências radicais. Aumentaram, por exemplo, as diferenças sociais. Surgiram grandes proprietários de terras férteis ao lado de pequenos proprietários de terras pouco férteis; e formou-se um grande grupo de indivíduos que perderam a propriedade ou tinham lotes insignificantes, por causa de sucessivas divisões por motivo de herança. O grupo dos que pouco ou nada possuíam formou uma camada marginal, errante, que vivia de míseros salários e esmolas. A melhor alternativa era dedicar-se a outras atividades que não a agrícola, como a artesanal, o comércio e a pirataria.

No plano político, a desintegração do genos fez o poder do chefe diluir-se entre os parentes mais próximos, os eupátridas (filhos do pai ou os bem-nascidos). Essa elite passou à monopolizar os equipamentos de guerra, a justiça, a religião, enfim, todos os instrumentos de poder. Consolidava-se assim a aristocracia grega, cujo poder seria sustentado pela posse da terra, principal fonte de riqueza daquela época.


Período Arcaico: surge a pólis

Os genos, conforme suas afinidades culturais, agrupavam-se em irmandades denominadas fratrias. O objetivo principal das fratrias era aumentar a segurança das famílias. As fratrias, por sua vez, agrupavam-se em tribos. Enquanto o poder esteve centralizado nos genos, nas fratrias ou nas tribos, as cidades gregas não passaram de associações políticas temporárias. A desagregação da estrutura tradicional e a diluição do poder entre os eupátridas provocaram o surgimento de instâncias de poder superiores às dos antigos organismos — surgia a pólis ou cidade-estado, organização típica da Grécia Antiga. Com a centralização do poder nos organismos administrativos da pólis, as cidades passaram a ser O centro da sociedade grega, lugar para onde a população confluía e reforçava seus laços de identidade. Ao mesmo tempo que as pólis se consolidavam, ocorria a passagem da economia gentílica para a urbana. No começo, as atividades estavam ainda impregnadas de características da antiga estrutura gentílica, mas já traziam embriões da poderosa economia grega dos séculos seguintes.


Segunda Diáspora Grega

Por volta de 750 a.C., os gregos começaram a estender seus domínios por diversas regiões do Mediterrâneo. Essa expansão territorial se prolongou por quase dois séculos e ficou conhecida como Segunda Diáspora Grega. Os fenômenos sociais que a provocaram estão também relacionados ao processo de transformação social e econômica dos genos. Com a desintegração das grandes famílias, os parentes mais novos ou desfavorecidos começaram a deixar o lugar de nascimento para ocupar novas áreas, ou mesmo tentar a conquista de poder em sociedades distantes da Hélade.  Com o crescimento da população, a expansão passou a ser uma importante alternativa, pois aliviava a pressão demográfica. Em terras distantes, os gregos podiam produzir gêneros alimentícios que faltavam nas comunidades da Hélade; assim como consumir os excedentes produzidos — vinho e azeite, por exemplo. O progresso técnico foi importante para a conquista de novas terras. Nessa época, ocorreram melhorias consideráveis nas condições de navegação, como o aperfeiçoamento dos barcos e o uso da âncora. No final do século VIII a.C. foi desenvolvido o trirreme, embarcação com capacidade para duzentos homens. Ao mesmo tempo, a travessia dos mares ficou facilitada pelo declínio do poderio fenício na Ásia. 


As áreas colonizadas

O primeiro movimento de expansão das cidades gregas aconteceu em direção ao Oriente. A Trácia, ao norte do mar Egeu, foi uma das primeiras áreas a ser ocupada, por causa de seus campos com cereais e vinhas e de suas montanhas com florestas e minas de ouro e prata. Em seguida, a colonização estendeu-se à rota dos estreitos que conduzem ao mar Negro. Abidos, no atual estreito de Dardanelos, e Bizâncio, hoje Istambul, logo se tornaram cidades mercantis.

A colonização do mar Negro representou para os gregos uma nova experiência. Habituados aos limites do mar Egeu, viram-se na grande aventura de ocupar uma região sem ilhas e açoitada por violentas tempestades. Logo surgiram na região diversas colônias, como Odessa, Tânais e Quersoneso. Elas protegiam a rota do Oriente e enviavam às cidades da Hélade cereais, madeira, peixes, frutas, etc. A expansão para o sul do Mediterrâneo, por sua vez, foi dificultada pela existência de impérios poderosos. Mesmo assim, os gregos estabeleceram-se na ilha de Chipre e fundaram no delta do rio Nilo, no Egito, a cidade de Náucratis, com o consentimento dos faraós. A oeste do Egito, surgiu Cirene. Em direção ao Ocidente, a partir de 750 a.C,, os gregos fundaram diversas cidades na península Itálica. Essa área de colonização ficou conhecida como Magna Grécia; e seus núcleos mais importantes foram Síbaris, Crotona e Tarento, no golfo de Tarento; Messina e Siracusa, na Sicília; Possidônia, Nápoles e Cumas, na costa do mar Tirreno.

Pouco mais a oeste, os gregos ocuparam o sul da Gália, onde fundaram Marselha, Nice, Antibes e Mônaco. A colonização da península Ibérica foi dificultada pela presença dos fenícios em Cartago. A expansão grega foi iniciativa de grupos sociais insatisfeitos com as condições de vida nas comunidades gregas. No início, o planejamento era mínimo e as ocupações realizavam-se quase que ao acaso. Com o tempo, entretanto, as pólis passaram a se interessar por essas ações; e a expansão tornou-se um empreendimento do Estado, com regulamentação específica. Os colonos partiam então sob o comando de um chefe, o oikiste, acompanhado de sacerdotes e adivinhos. As áreas escolhidas deviam ser favoráveis à navegação e à defesa, como baías profundas e penínsulas recortadas. Para se fixar, os colonizadores muitas vezes tinham de enfrentar habitantes nativos. Nesses casos, a prática dos gregos variou conforme o poderio de suas expedições, a resistência e o grau de desenvolvimento das populações locais. Quase sempre, quer pelo emprego da força quer por sua persuasão, os colonizadores gregos conseguiam se estabelecer.

A colonização era iniciada pela ocupação da área costeira. Ao desembarcar, os gregos realizavam um ritual religioso e delimitavam a área de ocupação; a terra era dividida em lotes e distribuída entre os participantes da expedição. Cumprida essa etapa, iniciava-se a ocupação do interior. Com as pólis de origem, os colonos gregos mantinham mais laços culturais do que políticos. Os vínculos eram completados pelo intercâmbio econômico. As áreas de colonização mantinham perfil agrário, mas em alguns locais desenvolveram-se atividades artesanais e comerciais, que tornaram mais dinâmica a economia grega.

Você quer saber mais?

ARRUDA, José Jobson de A; PILETTI, Nelson. Toda a História: História Geral e História do Brasil-9º edição. São Paulo: Ed. Ática, 1999.

AZEVEDO, Gislane Campos; SERIACOPI, Reinaldo. História: Volume Único. São Paulo: Ed. Ática, 2011. 

VAINFAS, Ronaldo; FERREIRA, Jorge; FARIA, Sheila de Castro; CALAINHO, Daniela Buono. História.doc. São Paulo: Ed.Saraiva, 2015.

JÚNIOR, Alfredo Boulos. Coleção História: Sociedade & Cidadania. São Paulo: FTD, 2004.

COTRIM, Gilberto. História Global: Brasil e Geral-8º edição. São Paulo: Editora Saraiva, 2005, pg.71.

COTRIM, Gilberto; RODRIGUES, Jaime. Historiar- 2º ediçaõ. São Paulo: Editora Saraiva,  2015, pg.206-209.

VICENTINO, Cláudio; DORIGO, Gianpaolo. História para Ensino Médio: História Geral e do Brasil. São Paulo: Editora Scipione, 2005.
REZZUTTI, Paulo. D.Pedro I:  A história não contada. O homem revelado por cartas e documentos inéditos. São Paulo: Leya, 2020.



Primeiro Reinado

A proclamação da independência

As medidas de D. Pedro desagradaram as Cortes portuguesas, que reagiram reduzindo a autoridade do príncipe regente. Informado do fato, no dia 7 de setembro de 1822, em passagem por São Paulo , D. Pedro formalizou a independência do Brasil. O príncipe recebeu o apoio das camadas médias urbanas e da aristocracia rural, que pretendiam garantir privilégios e manter as camadas populares longe do processo de independência. Em outubro,ele foi aclamado imperador do Brasil, tornando-se D. Pedro I. 

A independência, contudo, não foi imediatamente aceita em todas as regiões do Brasil. Nas províncias do Maranhão, Grão-Pará, Piauí e Pernambuco, em parte da Bahia e na Província Cisplatina, havia uma grande concentração de militares, grandes comerciantes e altos funcionários portugueses, que se recusaram a aceitar a ruptura com Portugal e decidiram resistir. 

No Piauí, por exemplo, ocorreu a Batalha do Jenipapo. Em um único dia, 13 de março de 1823, às margens do Rio Jenipapo, onde hoje se situa o município de Campo Maior, a população sertaneja piauiense, armada com instrumentos agrícolas, enfrentou as forças portuguesas, que se enfraqueceram e se retiraram da região após os sertanejos invadirem o acampamento militar português e se apoderarem de armas, munições, dinheiro e bagagens. Para lutar contra os aliados das Cortes, as tropas do Brasil também tiveram de intervir. Além disso, D. Pedro I contou com a colaboração de mercenários britânicos, que foram contratados para combater as províncias rebeldes, como foi o caso da Bahia. Somente um ano após a independência, a unidade territorial do Brasil foi concluída. O primeiro país a reconhecer a independência do Estado brasileiro foram os Estados Unidos, seguidos da Grã-Bretanha. Portugal só reconheceu a emancipação do Brasil em 1825, em troca de uma indenização no valor de 2 milhões de libras esterlinas.

A organização do Estado brasileiro

Como você deve saber, a atual organização do Estado brasileiro foi definida pela Constituição Federal, promulgada em 5 de outubro de 1988. De acordo com ela, o Brasil é uma república federativa presidencialista formada por estados, municípios e um Distrito Federal.

 O Estado brasileiro está organizado em três poderes: o Executivo, Legislativo e o Judiciário. O Poder Executivo é exercido pelo presidente da república, que é, ao mesmo tempo, chefe de governo e chefe de Estado, o Poder Legislativo é representado pela Câmara dos Deputados e pelo Senado, que formam o Congresso Nacional. O Poder Judiciário é exercido por tribunais e por outros órgãos da justiça, como o Supremo Tribunal Federal (STF). 

O Estado brasileiro, porém, nem sempre teve essa organização. Além disso, comparado à França e ao Reino Unido, por exemplo, o Brasil é um Estado nacional criado muito recentemente. Isso porque, antes de 1822. Não existia um Estado brasileiro, mas sim um território português em terras americanas, regido pelas instituições de Portugal. 

A declaração de independência instituiu um novo Estado que precisava de um governo organizado, da criação de símbolos nacionais (bandeira, hino, brasão, selo nacional), do desenvolvimento de um sistema administrativo e tributário, de um conjunto de leis etc. Assim, a principal tarefa das lideranças políticas do Brasil após a independência era criar instituições para o seu funcionamento. 

Dessa forma, em 1823 ocorreram eleições para a Assembléia Constituinte, que deveria elaborar a primeira Constituição do Brasil. As eleições, por meio do voto censitário e indireto, deram a vitória a 88 constituintes, entre eles padres, advogados, proprietários de terras, militares e comerciantes. 

Os interesses políticos em jogo

As discussões entre os deputados constituintes foram marcadas por divergências políticas entre dois principais grupos: o dos partidários e o dos adversários do imperador. Os partidários de D. Pedro I defendiam a implantação de uma monarquia forte, com o poder centralizado no imperador. Já deputados adversários propunham a limitação da autoridade do imperador pelo Parlamento, proposta que recebeu o apoio de alguns poucos republicanos. Em setembro de 1823, ficou pronto o projeto da Constituição, que tinha um conteúdo liberal e impedia o imperador de dissolver a Câmara dos Deputados. Descontente com a redução de seus poderes e preocupado com as pressões liberais que vinham das ruas e dos jornais, em novembro do mesmo ano D. Pedro I ordenou o cerco da assembléia pela tropa imperial e decretou a dissolução da Constituinte, o que gerou uma disputa entre ele e a elite que o apoiou no processo de independência. Esse acontecimento ficou conhecido como Noite da Agonia. 

A Constituição de 1824

Dissolvida a Constituinte, D. Pedro I reuniu um Conselho de Estado para redigir a primeira Constituição do Brasil, outorgada em março de 1824. A primeira Carta Magna brasileira conciliava os interesses das elites com o autoritarismo do imperador, como é possível observar abaixo. 

    • Sistema e forma de governo: Estabeleceu a monarquia como forma de governo e criou quatro poderes: Executivo, Legislativo, Judicial e Moderador. Este último, exclusivo do imperador, permitia nomear senadores e dissolver a Câmara dos Deputados. 

    • Eleições: Determinou a eleição dos deputados e senadores pelo voto indireto, censitário e permitido apenas aos homens livres maiores de 25 anos de idade. 

    • Educação e religião: Estabeleceu o ensino primário gratuito a todos os cidadãos e definiu o catolicismo como religião oficial do Estado.  

    • Direitos e garantias individuais: Estabeleceu a tolerância religiosa, a liberdade de expressão, a proteção à propriedade e a igualdade dos cidadãos perante a lei. 

A Constituição ainda baniu os crimes mais cruéis, bem como dividiu território em Províncias, ainda administradas por  presidentes nomeados pelo imperador que não tinham um tempo fixo de mandato, podendo ser afastados ou pedir afastamento a qualquer momento.

Você quer saber mais?

ARRUDA, José Jobson de A; PILETTI, Nelson. Toda a História: História Geral e História do Brasil-9º edição. São Paulo: Ed. Ática, 1999.

AZEVEDO, Gislane Campos; SERIACOPI, Reinaldo. História: Volume Único. São Paulo: Ed. Ática, 2011. 

VAINFAS, Ronaldo; FERREIRA, Jorge; FARIA, Sheila de Castro; CALAINHO, Daniela Buono. História.doc. São Paulo: Ed.Saraiva, 2015.

JÚNIOR, Alfredo Boulos. Coleção História: Sociedade & Cidadania. São Paulo: FTD, 2004.

COTRIM, Gilberto. História Global: Brasil e Geral-8º edição. São Paulo: Editora Saraiva, 2005, pg.71.

COTRIM, Gilberto; RODRIGUES, Jaime. Historiar- 2º ediçaõ. São Paulo: Editora Saraiva,  2015, pg.206-209.

VICENTINO, Cláudio; DORIGO, Gianpaolo. História para Ensino Médio: História Geral e do Brasil. São Paulo: Editora Scipione, 2005.

REZZUTTI, Paulo. D.Pedro I:  A história não contada. O homem revelado por cartas e documentos inéditos. São Paulo: Leya, 2020.




sexta-feira, 12 de julho de 2024

O Engenho de açúcar no Brasil colônia

O engenho de açúcar designa o local onde era produzido o açúcar durante o período colonial. Estes engenhos surgem no século XVI, quando se inicia o plantio da cana de açúcar no Brasil. Possuíam um edificações para a moagem de cana de açúcar, locais para transformar o caldo em melado e rapadura, capela, casa para os proprietários e a senzala para os escravizados. As primeiras mudas de cana de açúcar chegaram de Portugal em meados do século XVI. Os portugueses já possuíam técnicas de plantio, pois a cultivavam e fabricavam o produto na ilha da Madeira e nos Açores.

Estrutura dos engenhos coloniais

O engenho colonial era um grande complexo dividido em diversas partes:

Canavial: onde a cana de açúcar era cultivada;

Moenda: local para moer a planta e extrair o caldo. A moenda funcionava movida por tração animal, água (moinho) ou ainda a força humana dos próprios escravizados.

Casa das Caldeiras: espaço usado para ferver o caldo da cana de açúcar em buracos cavados no solo. O resultado, um líquido espeço, eram então fervido em tachos de cobre.

Casa das Fornalhas: uma espécie de cozinha que abrigava grandes fornos que aqueciam o produto e o transformavam em melaço de cana.

Casa de Purgar: ali ficavam as formas com o caldo cristalizado, chamados pão de açúcar. Após seis a oito dias eram retirados dos moldes, refinados e prontos para serem comercializados.

Plantações: Além dos canaviais, havia as plantações de subsistência (hortas), em que eram cultivados frutas, verduras e legumes destinados à alimentação dos moradores do engenho.

Casa Grande: representava o centro do poder dos engenhos, sendo o local onde habitava o proprietário da terra e sua família. Apesar do nome imponente, nem todas as casas eram grandes.

Senzala: locais que abrigavam as pessoas escravizadas e onde não havia nenhum tipo de conforto e dormiam no chão de terra batida. Durante a noite eram acorrentados para evitar fugas

Capela: construção feita para celebrar os ritos religiosos dos habitantes do engenho, sobretudo, dos portugueses. Ali ocorriam as missas e as principais manifestações católicas como o batismo, casamentos, novenas, etc. Vale lembrar que os escravizados muitas vezes eram obrigados a participarem dos cultos.

Casas de Trabalhadores Livres: pequenas e simples habitações onde viviam os trabalhadores livres do engenho. Geralmente eram empregados especializados como carpinteiros, mestre de açúcar, etc.

Curral: abrigava os animais usados nos engenhos, seja para o transporte (produtos e pessoas), nas moendas de tração animal ou para alimentação da população.

Funcionamento dos engenhos coloniais

Primeiro, as canas eram cultivadas em grandes extensões de terra (latifúndios), depois colhidas e levadas para a moenda, local em que era produzido caldo de cana. Após esse processo, o produto era levado para as caldeiras e, em seguida, para a fornalha. Por conseguinte, o melaço da cana era colocado em formas e uma vez cristalizado era conhecido como pão de açúcar. Finalmente, era refinado na casa de purgar e ensacado para ser transportado. Parte dele, e sobretudo do açúcar mascavo (que não passava pelo processo de refino) era destinado ao comércio interno. No entanto, a maior parte da produção era enviada para abastecer o mercado europeu. Devido a sua estrutura e a grande quantidade de mão de obra, os engenhos eram considerados “pequenas cidades”. No final do século XVII, já existiam cerca de 500 engenhos no Brasil, sobretudo na região nordeste. A partir do século XVIII, o açúcar entrou em decadência, com a concorrência realizada por britânicos, holandeses e franceses nas suas colônicas do Caribe.

Além disso, foram descobertas jazidas de ouro, que deram início ao Ciclo do Ouro no Brasil e, aos poucos, vários engenhos de açúcar foram desativados.

O trabalho dos escravizados nos engenhos

As pessoas escravizadas representavam a principal mão de obra nos engenhos açucareiros (cerca de 80%) e não recebiam salários. Embora a maior parte fosses oriundos da África, muitos escravizados indígenas atuaram nos engenhos coloniais. Além de trabalharem longas jornadas, viviam em péssimas condições, vestiam trapos, eram açoitados pelos capatazes e se alimentavam muito mal. Trabalhavam tanto na produção da cana, como nas casas senhoriais, ocupando-se da cozinha, faxina, criação dos filhos do senhor, etc.

Você quer saber mais?

CASTRO, Eduardo Batalha Viveiros de. Pontos e linhas: teoria e tupinologia. In: Araweté: os deuses canibais. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1986, p. 81-127.

CUNHA, Manuela Carneiro da. Introdução a uma história indígena. In: Idem (org.). História dos Índios no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras: FAPESP: SMC, 1992, p. 9-24.

DEAN, Warren. A primeira leva de invasores humanos. In: Idem, A ferro e a fogo: a história e a devastação da Mata Atlântica brasileira. São Paulo: Companhia das Letras, 1996, p. 38-58.

FAUSTO, Carlos. Fragmentos da história e cultura tupinambá: da etnologia como instrumento crítico de conhecimento etno-histórico. In: CUNHA, Manuela Carneiro da (Org.). História dos Índios no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras: FAPESP: SMC, 1992, p. 381-396.

FAUSTO, Carlos. Os índios antes do Brasil. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2000.

FERNANDES, Florestan. Antecedentes indígenas: organização social das tribos tupis. In: HOLANDA, Sérgio Buarque de (Org.). História Geral da Civilização Brasileira. 7 ed. São Paulo: DIFEL,1985, Tomo 1, Vol. 1, p. 72-86.

FUNARI, Pedro Paulo e NOELLI, Francisco Silva. Pré-História do Brasil: as origens do homem brasileiro. O Brasil Antes de Cabral. Descobertas arqueológicas recentes. São Paulo: Contexto: 2002.

GUIDON, Niéde. As ocupações pré-históricas do Brasil (excetuando a Amazônia). In: CUNHA, Manuela Carneiro da (org.). História dos Índios no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras: FAPESP: SMC, 1992, p. 37-52.





quarta-feira, 10 de julho de 2024

Início da colonização do Brasil: colonizar é preciso!

         A ocupação da América colocou o governo português diante de um novo desafio: tornar rentável um território ocupado por uma população que não produzia qualquer excedente que pudesse ser comercializado. Na África e no Oriente, os portugueses encontraram povos com economias complexas e variadas, de comércio intenso e diversificado. Nessas regiões, pela força ou pela persuasão, foi possível explorar as riquezas produzidas pela população local, como metais preciosos, produtos agrícolas e especiarias. O meio mais eficaz para consolidar a posse das terras era promover a colonização. Mas para isso era necessário criar na colônia uma economia em condições de gerar produtos que pudessem ser comercializados, com bons lucros, na Europa. Nesse processo, Portugal foi novamente pioneiro. Tornou-se o primeiro país europeu a transferir para terras distantes recursos econômicos capazes de gerar grandes lucros, como mão-de-obra, capital e maquinário. Em 1530, uma grande expedição comandada por Martim Afonso de Sousa acabou se tornando marco nesse processo de colonização, seus principais objetivos eram:

Percorrer o litoral e, quando julgasse necessário, explorar o interior em busca de ouro e prata;

Expulsar os franceses que encontrasse;

Organizar núcleos de povoamento e defesa;

Expandir o domínio português até o curso de água que se tornaria conhecido como rio da Prata (estuário criado pelo deságue das águas dos rios Paraná e Uruguai e do oceano, formando sobre a costa atlântica). Localizado em terras que não pertenciam a Portugal pelo Tratado de Tordesilhas, este era considerado a porta de entrada para as ricas minas de prata do Império Inca.

Como colonizar?

A ocupação das terras americanas só se tornou possível na medida em que a cana-de-açúcar mostrou-se adaptável ao clima e ao solo da região tropical. Mas, sobretudo, quando se percebeu que o açúcar era um produto rentável, de grande aceitação no mercado europeu e capaz de gerar bons lucros. A exploração da colônia portuguesa, com o cultivo da cana-de-açúcar, assumiu três características básicas: grande propriedade, monocultura e trabalho escravo. A disponibilidade quase ilimitada de terras ajudou na formação de grandes fazendas produtoras. Os custos de produção, desbravar o terreno, plantar, colher, transportar a cana e fabricar o açúcar, exigiam grandes plantações para se obter retornos lucrativos. A monocultura também era essencial, pois facilitava a especialização e a concentração de recursos e esforços em uma única atividade.

A opção pela monocultura da cana-de-açúcar em grandes propriedades era decorrência natural da política mercantilista. Os esforços coloniais deveriam estar voltados para a aquisição de produtos que pudessem ser comercializados com as nações européias. Essa condição era preenchida pela lavoura de gêneros agrícolas tropicais, como a cana-de-açúcar. O chamado pacto colonial, segundo o qual as colônias só poderiam comerciar com suas metrópoles, complementava os propósitos dessa política econômica. Quanto à mão-de-obra, tentou-se a princípio o uso do trabalho indígena. Os índios tinham colaborado na extração do pau-brasil e o colonizador julgava que isso poderia se repetir com o trabalho agrícola. Entretanto, os índios não se submeteram facilmente às condições exigidas pela nova atividade. A extração do pau-brasil podia ser realizada de forma esporádica e livre; a atividade agrícola exigia trabalho sistemático, disciplina, organização e vida sedentária.

Para estabelecer essas condições de trabalho, foi necessário aumentar a vigilância sobre os índios. Em pouco tempo, generalizou-se a escravização dos nativos. A antiga relação pacífica se tornou conflituosa. A escravização dos povos indígenas foi um problema que percorreu todo o período colonial e opôs colonos, governo e Igreja. Pressionado pela Igreja, o governo português proibiu o apresamento de índios. Em 1570, uma Carta Régia autorizava a escravização apenas dos indígenas presos em guerra justa, isto é, em conflitos iniciados pelos próprios índios ou promovidos pelos colonos contra povos hostis. Essa autorização permitiu que o apresamento indígena continuasse. Por uma série de circunstâncias, a escravidão africana acabou se impondo como solução para o problema da mão-de-obra.

O engenho

Desde 1526, livros da Alfândega de Lisboa acusavam a entrada de açúcar vindo da ilha de Itamaracá, no atual estado de Pernambuco. Mas a grande produção só começou de fato em 1533, com o engenho de Martim Afonso de Sousa em São Vicente, que nesse mesmo ano foi comprado pelo capitalista holandês Erasmo Schetz.

As capitanias hereditárias

Em 1534, El-rei dom João II dividiu a colônia americana em quinze faixas de terra com largura entre 200 e 650 quilômetros, indo do litoral à linha do Tratado de Tordesilhas. Eram as capitanias hereditárias, mesmo sistema utilizado nas ilhas do Atlântico. Elas foram entregues a senhores chamados de capitães donatários. Hereditárias, as capitanias deveriam passar de pai para filho. Aos donatários foi atribuída grande soma de poder: podiam distribuir terras a colonos, nomear autoridades administrativas e judiciárias, escravizar e vender índios, fundar vilas, cobrar tributos pela navegação dos rios, etc. Os donatários só não tinham poder sobre os impostos reais e deviam arcar com todas as despesas da colonização. A constituição político-administrativa das capitanias tinha por base jurídica a Carta de Doação e o Foral. Pela primeira, o rei confiava à administração perpetua e hereditária ao donatário. No Foral, estavam fixados os direitos, foros e tributos que a população pagaria ao rei e ao donatário. Apesar do fracasso, o sistema de capitanias perdurou até 1759 e conviveu com outras estruturas administrativas criadas pelo governo português, como os governos-gerais. Diante do insucesso, muitas acabaram compradas pelo governo, outras incorporadas por abandono.

O Governo-Geral

Um dos grandes problemas enfrentados pelos donatários das capitanias foi o isolamento, que dificultava, por exemplo, a defesa contra os índios, em luta por suas terras e contra a escravização. Diante dos problemas, a Coroa portuguesa criou o cargo de governador-geral em 1548. O objetivo da medida era centralizar a defesa do território e a administração da colônia. Para sede do Governo-Geral foi escolhida a capitania da Bahia de Todos os Santos, comprada ao donatário. O primeiro governador-geral a ser nomeado foi Tomé de Sousa. Em 1549, para instalar seu governo, Tomé de Sousa fundou Salvador, que se transformou na primeira cidade da colônia.

As Câmaras Municipais

Com o surgimento das primeiras vilas e cidades, organizou-se a administração municipal, que foi entregue às Câmaras Municipais, compostas de três ou quatro vereadores. Estes eram escolhidos pelos homens bons, como eram chamados os proprietários de terras, a elite do lugar. Um juiz, eleito da mesma forma, presidia a Câmara.

Você quer saber mais?

CASTRO, Eduardo Batalha Viveiros de. Pontos e linhas: teoria e tupinologia. In: Araweté: os deuses canibais. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1986, p. 81-127.

CUNHA, Manuela Carneiro da. Introdução a uma história indígena. In: Idem (org.). História dos Índios no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras: FAPESP: SMC, 1992, p. 9-24.

DEAN, Warren. A primeira leva de invasores humanos. In: Idem, A ferro e a fogo: a história e a devastação da Mata Atlântica brasileira. São Paulo: Companhia das Letras, 1996, p. 38-58.

FAUSTO, Carlos. Fragmentos da história e cultura tupinambá: da etnologia como instrumento crítico de conhecimento etno-histórico. In: CUNHA, Manuela Carneiro da (Org.). História dos Índios no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras:

FAPESP: SMC, 1992, p. 381-396.

FAUSTO, Carlos. Os índios antes do Brasil. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2000.

FERNANDES, Florestan. Antecedentes indígenas: organização social das tribos tupis. In: HOLANDA, Sérgio Buarque de (Org.). História Geral da Civilização

Brasileira. 7 ed. São Paulo: DIFEL,1985, Tomo 1, Vol. 1, p. 72-86.

FUNARI, Pedro Paulo e NOELLI, Francisco Silva. Pré-História do Brasil: as origens do homem brasileiro. O Brasil Antes de Cabral. Descobertas arqueológicas recentes. São Paulo: Contexto: 2002.

GUIDON, Niéde. As ocupações pré-históricas do Brasil (excetuando a Amazônia). In: CUNHA, Manuela Carneiro da (org.). História dos Índios no Brasil. São Paulo:

Companhia das Letras: FAPESP: SMC, 1992, p. 37-52.


A Segunda Guerra Mundial

 A Segunda Guerra Mundial foi o conflito mais sangrento da nossa história. De 1939 a 1945, milhões de pessoas perderam suas vidas no campo de batalha. A política expansionista e militarista do nazifascismo provocou um novo conflito mundial. Aliados e Eixo disputaram durante seis anos a vitória na guerra. O Brasil também participou de forma efetiva com as tropas aliadas. O final da Segunda Guerra Mundial trouxe grandes consequências para o mundo.

Para compreender as causas da Segunda Guerra Mundial, é preciso resgatar a forma como terminou a Primeira Guerra Mundial, em 1918. O Tratado de Versalhes, assinado no ano seguinte, impôs severas sanções à Alemanha, que foi considerada a culpada pela guerra. Os alemães saíram derrotados e humilhados do conflito. Além disso, a crise econômica de 1929, originada nos Estados Unidos, rapidamente se espalhou pelo mundo, aprofundando ainda mais os países europeus, que, a muito custo, tentavam reerguer-se dos escombros da guerra.

Esse cenário catastrófico, de crise política, social e econômica, fez surgir grupos radicais que prometiam resgatar a grandeza do império alemão de séculos anteriores, vingando a humilhação que o Tratado de Versalhes promoveu ao povo alemão. Adolf Hitler, com seu Partido Nazista, ganhava espaço na política da Alemanha.

Em 1933, Hitler foi aclamado como chanceler e tinha em suas mãos todos os poderes para governar os alemães. O Führer, o “líder”, era aclamado por onde passava, e a ele o seu povo prestava juramento de lealdade. A partir desse momento, Hitler tratou de expandir o domínio alemão sobre a Europa, reivindicando territórios que pertenceram ao império alemão. Ele estava disposto a tudo para construir o Terceiro Reich.

A Itália também atravessava processo semelhante. Os italianos, assim como os alemães, saíram humilhados da Primeira Guerra Mundial e, durante a década de 1920, enfrentaram uma crise geral, com greves e desemprego. Benito Mussolini liderou o Partido Fascista e foi alçado ao poder em 1922, tornando-se o Il Duce, o grande líder do povo italiano.

Com tantas semelhanças entre alemães e italianos, não demorou para que Hitler e Mussolini se aproximassem e fizessem alianças políticas e militares. Pouco antes de começar a guerra, os dois líderes aproximaram-se do Japão, dando início ao Eixo, que lutaria contra os Aliados na Segunda Guerra Mundial.

Ao perceber o avanço de Hitler, primeiro na política interna da Alemanha e depois, externamente, ao procurar anexar países, Inglaterra e França decidiram não intervir nas decisões nazistas. Tratava-se da política de apaziguamento. Em vez de atacar o inimigo e provocar outra guerra, os líderes britânicos e franceses decidiram conversar, fazer um acordo com Hitler. Winston Churchill, que, em 1940, seria o premier britânico durante quase toda a guerra, disse uma frase que resumiu essa política:

Ao permitir que Hitler mantivesse o seu expansionismo para evitar uma nova guerra, Inglaterra e França estavam entrando em outro conflito. Hitler também fez um acordo com Josef Stalin, líder da União Soviética, o Pacto Molotov-Ribbentrop, um tratado de não agressão entre os dois países. Hitler não cumpriria esse pacto e, em 1941, invadiria a URSS.

O expansionismo nazista, as anexações de territórios e a não intervenção das grandes potências europeia acabaram levando o mundo para outro conflito mundial sem precedentes em nossa história. Em 1º de setembro de 1939, as tropas alemãs invadiram a Polônia. Apesar das inúmeras exigências para que se retirassem do território polonês, elas permaneceram. Com a recusa alemã em cumprir as exigências, Inglaterra e França declararam guerra contra a Alemanha, desencadeando a Segunda Guerra Mundial. 

Fases e acontecimentos da Segunda Guerra Mundial

Podemos dividir a Segunda Guerra Mundial em duas fases:

Primeira fase (1939-1942)

Nessa fase, as tropas do Eixo avançaram rapidamente pela Europa. Em 1940, as tropas nazistas já ocupavam grande parte da França. Hitler fez questão de que a rendição francesa fosse assinada no mesmo vagão de trem que, em 1918, os alemães renderam-se logo após a derrota na Primeira Guerra Mundial. A Inglaterra foi atacada por aviões alemães. Em 1940, Winston Churchill foi eleito primeiro-ministro e iniciou a reação inglesa contra o ataque inimigo.

Essa fase favorável ao Eixo encerrou-se em 1941, quando as tropas nazistas foram derrotadas na União Soviética, após invasão ordenada por Hitler. Em dezembro do mesmo ano, os Estados Unidos foram atacados por kamikazes japoneses em sua base aérea de Pearl Harbor, no Oceano Pacífico. Os norte-americanos, com esse ataque, entraram na guerra.

Segunda fase (1943-1945)

A segunda fase da guerra foi definitiva para o término do conflito. Com a entrada dos Estados Unidos e da União Soviética no confronto, ingleses e franceses contaram com ajudas importantes para responder aos ataques nazifascistas. As tropas aliadas iniciaram o contra-ataque e reverteram o avanço do Eixo obtido na primeira fase. Do lado oriental, as tropas soviéticas; do lado ocidental, as tropas americanas, inglesas e francesas.

Na Europa, o Eixo foi perdendo espaço e sendo encurralado pelos Aliados. Benito Mussolini foi o primeiro líder a ser derrotado. Um dos dias mais marcantes para os Aliados na Segunda Guerra Mundial foi o dia 6 de junho de 1944, que entrou para a história como o Dia D. Nessa ocasião, ocorreu o desembarque dos aliados na Normandia, norte da França, ato que foi decisivo para encaminhar o Eixo à derrota ao iniciar a libertação francesa do domínio nazista.

A Itália foi o primeiro país do Eixo a se render, em 1943. Dois anos depois, veio a derrota nazista. Percebendo que a vitória dos Aliados era uma realidade, o Führer suicidou-se. Logo em seguida, os alemães renderam-se aos aliados, em 8 de maio de 1945. Esse dia foi comemorado como o Dia da Vitória. A Segunda Guerra na Europa já tinha terminado, mas, no Pacífico, os japoneses não assinaram a rendição e continuaram o combate, principalmente contra as tropas norte-americanas.

Bombas atômicas

A recusa do Japão em render-se e a vingança ao ataque a Pearl Harbor fizeram com que os Estados Unidos lançassem duas bombas atômicas nas cidades japonesas de Hiroshima, em 6 de agosto de 1945, e Nagasaki, dois dias depois. A destruição foi enorme e o imperador Hirohito não teve alternativa senão a rendição.

Você quer saber mais?

ARENDT, Hannah. As Origens do Totalitarismo: antissemitismo, instrumento de poder. Rio de Janeiro: Ed. Documentário, 1975;

ARENDT, Hannah. As Origens do Totalitarismo: imperialismo, a expansão do poder. Rio de Janeiro: Ed. Documentário, 1976;

ARENDT, Hannah. As Origens do Totalitarismo: totalitarismo, o paroxismo do poder. Rio de Janeiro: Ed. Documentário, 1979;

BETHELL, L. Entre a Segunda Guerra Mundial e Guerra Fria. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996.

BUADES, Josep M. A Guerra Civil Espanhola: o palco que serviu de ensaio para a Segunda Guerra Mundial. São Paulo: Contexto, s/d.

FILHO, Daniel Aarão Reis; FERREIRA, Jorge; ZENHA, Celeste (org.) O século XX: o tempo das incertezas. v.2. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000.

HOBSBAWM, E. A Era dos extremos: o breve século XX. São Paulo: Cia das Letras, 1995.

MAGNOLI, Demétrio (org.). História das guerras. 3.ed. São Paulo : Contexto, 2006.

MASSON, Philippe. A segunda guerra mundial: história e estratégias. São Paulo: Contexto, 2010.

domingo, 7 de julho de 2024

A Vinda da Família Real para o Brasil

A vinda da família real portuguesa para o Brasil ocorreu em 29 de novembro de 1807 e a comitiva aportou em Salvador (BA), em 22 de janeiro de 1808. O refúgio no Brasil foi uma manobra do príncipe regente, D. João, para garantir que Portugal continuasse independente quando foi ameaçado de invasão por Napoleão Bonaparte. Para garantir o êxito da transferência, o reino de Portugal teve apoio da Inglaterra, que também auxiliou na expulsão das tropas napoleônicas.

Em 1806, Napoleão Bonaparte decretou o bloqueio continental determinando que os países europeus fechassem os portos para os navios da Inglaterra. Enquanto isso, Bonaparte negociou secretamente o Tratado de Fontainebleau (1807) com os espanhóis que permitiria os franceses atravessar a Espanha para invadir Portugal. Em troca, o reino espanhol poderia se apoderar de um pedaço do território português. Portugal não aderiu ao bloqueio continental devido à longa aliança política e comercial com os ingleses e, por este motivo, Napoleão ordenou a invasão do território português, ocorrida em novembro de 1807.

Antes disso, em 22 de outubro de 1807, o príncipe regente D. João e o rei da Inglaterra Jorge III (1738-1820) assinaram uma convenção secreta que transferia a sede monárquica de Portugal para o Brasil. Neste mesmo documento, ficava estabelecido que as tropas britânicas se instalariam na lha da Madeira temporariamente. Por sua parte, o governo português comprometeu-se em assinar um tratado comercial com a Inglaterra após fixar-se no Brasil.

O príncipe regente, Dom João, determinou que toda a família real seria transferida para o Brasil. Também viajariam os ministros e empregados, totalizando 15,7 mil pessoas que representavam 2% da população portuguesa. Atualmente, estes números estão sendo revistos, pois muitos historiadores consideram a cifra exagerada. Além das pessoas foram embarcados no dia 29 de novembro de 1807, móveis, documentos, dinheiro, obras de arte e a real biblioteca. Aos que ficaram, lhes foi aconselhado receber de maneira pacífica os invasores para evitar derramamento de sangue.

A viagem ocorreu em condições insalubres e durou 54 dias até Salvador (BA), onde desembarcou no dia 22 de janeiro de 1808. Na capital baiana foram recebidos com festas e ali permaneceram por mais de um mês. A chegada no Rio de Janeiro ocorreu em 8 de março de 1808. 

A transferência da Família Real e sua comitiva contribuiu para significativas mudanças no Brasil e no Rio de Janeiro. Com a abertura dos portos, todas as nações amigas de Portugal puderam comercializar com o Brasil. Num primeiro momento, isto significava o comércio com a Inglaterra. Por sua vez, o Rio de Janeiro se tornou a capital do reino de Portugal e foram realizados melhoramentos e levantados novos edifícios públicos na cidade. O mesmo ocorreu com o mobiliário e a moda. Com a abertura dos portos, o comércio foi diversificado, passando a oferecer serviços como o de cabeleireiros, chapeleiros, modistas.

D. João também abriu a Imprensa Régia, de onde surgiu a Gazeta do Rio de Janeiro. Foram criadas instituições como:

Real Academia Militar (1810),

Jardim Botânico (1808),

Real Fábrica de Pólvora (1808),

Banco do Brasil (1808),

Laboratório Químico-Prático (1812).

A principal consequência da vinda da família real para o Brasil foi a aceleração do processo de independência do país. Em 1815, com fim das guerras napoleônicas, o Brasil foi declarado parte do Reino Unido de Portugal e Algarves, deixando de ser uma colônia. Isso foi necessário, pois os dirigentes europeus reunidos no Congresso de Viena não reconheciam a autoridade de Dom João numa simples possessão ultramarina. A permanência da família real foi decisiva para manter a unificação territorial do Brasil, pois reuniu parte da elite e da população em torno à figura do soberano. As medidas político-administrativas de Dom João fizeram com que a Inglaterra acentuasse o interesse no comércio com o Brasil. Essa condição fica clara com a abertura dos portos às nações amigas. O processo fez com que Portugal perdesse o monopólio sobre o comércio com o Brasil e a elite agrária passa a sonhar com a Independência. Em contrapartida, o Brasil passa a ser para a Inglaterra um promissor mercado consumidor e fornecedor.

Quando D. João VI precisou retornar a Portugal, por causa da Revolução Liberal do Porto, o filho Dom Pedro, aproxima-se da elite agrária. Esta estava preocupada com a possibilidade de recolonização e as guerras em curso na América Espanhola.

Você quer saber mais?

REZZUTTI, Paulo. D.Pedro I:  A história não contada. O homem revelado por cartas e documentos inéditos. São Paulo: Leya, 2020.

ARRUDA, José Jobson de A; PILETTI, Nelson. Toda a História: História Geral e História do Brasil-9º edição. São Paulo: Ed. Ática, 1999.

AZEVEDO, Gislane Campos; SERIACOPI, Reinaldo. História: Volume Único. São Paulo: Ed. Ática, 2011. 

VAINFAS, Ronaldo; FERREIRA, Jorge; FARIA, Sheila de Castro; CALAINHO, Daniela Buono. História.doc. São Paulo: Ed.Saraiva, 2015.

JÚNIOR, Alfredo Boulos. Coleção História: Sociedade & Cidadania. São Paulo: FTD, 2004.

COTRIM, Gilberto. História Global: Brasil e Geral-8º edição. São Paulo: Editora Saraiva, 2005, pg.71.

COTRIM, Gilberto; RODRIGUES, Jaime. Historiar- 2º ediçaõ. São Paulo: Editora Saraiva,  2015, pg.206-209.

VICENTINO, Cláudio; DORIGO, Gianpaolo. História para Ensino Médio: História Geral e do Brasil. São Paulo: Editora Scipione, 2005.

sexta-feira, 5 de julho de 2024

Descobrimento e início da colonização do Brasil

Os portugueses chegaram ao Brasil em 22 de abril de 1500, durante a expedição de Pedro Álvares Cabral. Essa expedição tinha um objetivo duplo: verificar as possibilidades de Portugal no oeste (na América) e comprar especiarias na Índia. Essa expedição era parte do que entendemos como grandes navegações, uma série de expedições para exploração do oceano Atlântico.

Aqui no Brasil, os portugueses chegaram à região de Porto Seguro, na Bahia, permanecendo até o dia 2 de maio, quando então partiram para a Índia. Nesse acontecimento, o grande destaque vai para a carta de Pero Vaz de Caminha, escrivão que relatou detalhes da viagem e do Brasil para o rei português.

A colonização do Brasil foi o processo de chegada, invasão, ocupação e exploração do território brasileiro que foi realizado por Portugal entre os séculos XVI e XIX. Os portugueses chegaram ao Brasil em 1500, implantando as primeiras iniciativas mais consistentes de ocupação e colonização a partir da década de 1530.

Esse processo teve três grandes ciclos econômicos: pau-brasil, açúcar e ouro. O trabalho realizado era majoritariamente por trabalhadores escravos indígenas ou africanos. A escravização de indígenas foi proibida em meados do século XVIII, e a de africanos, só no fim do século XIX. Houve muita resistência à escravização durante a colonização.

Resumo sobre a colonização do Brasil

A colonização do Brasil foi realizada por Portugal.

Os portugueses chegaram ao Brasil por meio da expedição de Pedro Álvares Cabral, em abril de 1500.

A colonização do Brasil teve três importantes ciclos econômicos: pau-brasil, açúcar e ouro.

A escravização foi introduzida por volta de 1530, sendo que os escravizados eram indígenas e africanos.

Oficialmente falando, a colonização se encerrou em 1815, mas os laços com Portugal só foram rompidos com a independência, em 1822.

A chegada dos portugueses se deu em 1500, mas medidas efetivas de colonização do território foram desenvolvidas apenas a partir da década de 1530. As principais — mas não únicas — atividades econômicas aqui desenvolvidas foram a exploração do pau-brasil, a produção do açúcar e a extração de ouro.

Você quer saber mais?

ARRUDA, José Jobson de A; PILETTI, Nelson. Toda a História: História Geral e História do Brasil-9º edição. São Paulo: Ed. Ática, 1999.

AZEVEDO, Gislane Campos; SERIACOPI, Reinaldo. História: Volume Único. São Paulo: Ed. Ática, 2011. 

VAINFAS, Ronaldo; FERREIRA, Jorge; FARIA, Sheila de Castro; CALAINHO, Daniela Buono. História.doc. São Paulo: Ed.Saraiva, 2015.

JÚNIOR, Alfredo Boulos. Coleção História: Sociedade & Cidadania. São Paulo: FTD, 2004.

COTRIM, Gilberto. História Global: Brasil e Geral-8º edição. São Paulo: Editora Saraiva, 2005.

COTRIM, Gilberto; RODRIGUES, Jaime. Historiar- 2º ediçaõ. São Paulo: Editora Saraiva,  2015.

VICENTINO, Cláudio; DORIGO, Gianpaolo. História para Ensino Médio: História Geral e do Brasil. São Paulo: Editora Scipione, 2005.

segunda-feira, 1 de julho de 2024

Ideologia nazista

 "Apesar de tudo eu ainda creio na bondade humana." Anne Frank (1929-1945)

    Pouco tempo após a tomada do poder, o governo nazista iniciou a construção dos campos de concentração, então destinados aos prisioneiros políticos. Esses locais faziam parte da instalação de um Estado policial para eliminar os comunistas, os democratas e os sindicatos independentes. Para isso, foram concedidos amplos poderes à polícia secreta, a temida Gestapo. O nazismo seguia a receita do fascismo italiano: “nada fora do Estado, nada contra o Estado!” Com o prestígio em alta, os nazistas passaram a cumprir a grande meta de seu programa racial: perseguir os judeus e excluí-los da sociedade alemã. Como vimos, os judeus foram o bode expiatório da Alemanha nazista. Já em 1933, os judeus foram proibidos de exercer profissões liberais, tais como a de médico, advogado, professor, engenheiro etc. Em pouco tempo seriam impedidos de entrar nas universidades ou escolas alemãs. Os professores e cientistas judeus foram demitidos de seus empregos. Nenhum judeu seria admitido no serviço público. Foram proibidos de frequentar restaurantes, cinemas e teatros. As Leis de Nuremberg, publicadas em 1935, consolidaram a segregação racial dos judeus em toda a Alemanha. Mas este foi só o começo; o pior viria mais tarde para quase todos os judeus da Europa.

Campos de concentração

Os campos de concentração eram locais destinados ao trabalho forçado de diversos tipos de prisioneiros, principalmente políticos. Mas muitos prisioneiros foram executados nesses campos. Não confundir com os campos de extermínio que os nazistas espalharam pela Europa durante a guerra visando ao assassinato em massa, principalmente dos judeus. Mas também nos campos de extermínio, parte dos prisioneiros era obrigada ao trabalho forçado.

As Leis Raciais de Nuremberg

As Leis de Nuremberg avançaram muito na discriminação dos judeu, alemães. Deram prova completa de que o nazismo, assim como o fascismo, pretendia controlar a vida privada das pessoas.

Artigo 1º.

1- São proibidos os casamentos entre judeus e cidadãos de sangue alemão ou aparentado. Os casamentos celebrados a despeito dessa proibição são nulos e de nenhum efeito, mesmo que tenham sido contraídos no estrangeiro para iludir a aplicação desta lei.

2- Somente o Procurador Público pode iniciar os procedimentos para a anulação.

Artigo 2° As relações extramatrimoniais entre judeus e cidadãos de sangue alemão ou aparentado são proibidas.

Artigo 3º Os judeus não serão autorizados a ter em sua casa mulheres com menos de 45 anos de idade e de sangue alemão ou aparentado.

Artigo 4º.

1- Os judeus ficam proibidos de hastear a bandeira nacional do Reich e de envergar as cores nacionais.

2- Em contrapartida, são autorizados a exibir as cores judaicas. O exercício desse direito é protegido pelo Estado.

Artigo 5º.

1. Quem infringir o artigo 1º será condenado a trabalhos forçados.

2. Quem infringir o artigo 2° será condenado à prisão ou a trabalhos forçados.

3. Quem infringir os artigos 3º e 4º será condenado à prisão, que poderá ir até um ano e multa, ou a uma ou outra destas duas penas.

Artigo 6º O Ministro do Interior do Reich, com o assentimento do representante do Führer e do Ministro da Justiça, publicará as disposições jurídicas e administrativas necessárias à aplicação desta lei. [...].

Leis de Nuremberg Lei para a Proteção do Sangue e da Honra Germânicos. Reichsgesetzblatt, 1935. p. 1146-7.

Da fuga ao exílio

De acordo com as leis nazistas, bastava ter um avô ou avó judia para ser considerado judeu, mesmo que o indivíduo não praticasse a religião judaica. Alguns alemães nem sabiam de sua origem judaica, mas mesmo assim foram enquadrados pelo nazismo. Muitos judeus não tiveram outra saída senão abandonar a Alemanha, vendendo seus bens a qualquer preço. Os nazistas também limitaram as quantias que os judeus podiam levar ao deixarem o país. Alguns judeus mais ricos conseguiram asilo em países democráticos, como os Estados Unidos ou a Inglaterra. Cientistas importantes foram acolhidos no estrangeiro, a exemplo de Albert Einstein, grande físico alemão, e do austríaco Sigmund Freud, fundador da psicanálise. A maioria dos judeus, porém, perdeu seus bens e seus direitos políticos e civis. A perseguição nazista fez outras vitimas alem dos judeus. Os homossexuais foram condenados como ameaça ao fortalecimento da raça anana. Cerca de 50 mil foram presos. Eram identificados com um triângulo rosa na roupa. Os ciganos eram perseguidos e considerados indesejáveis. Estima-se que ao menos 5 mil ciganos foram presos em campos de concentração. Já os Testemunhas de Jeová eram perseguidos porque se opunham a qualquer ideologia política. Eram identificados com um triângulo roxo nas roupas.

Depuração racial

O nazismo soube apropriar-se de todo o patrimônio ideológico do antissemitismo que se havia desenvolvido desde a década de 1880, acrescentando-lhe, especialmente por obra de Goebbels e Julius Streicher, uma virulência inédita e uma conotação biológica, prelúdio de um choque extremo entre as raças. O judeu, portanto, foi considerado não somente criatura racialmente inferior, mas perene ameaça à nova ordem que se pretendia criar, além de ser apontado como bode expiatório de todas as desgraças e dificuldades da Alemanha. A violência exercida contra os judeus assumiu uma característica exemplar de intimidação diante de todos os outros: O racismo e o antissemitismo em particular se tornaram mais um instrumento de controle social. Depois das eleições de março de 1933, a violência contra os judeus continuou aumentando. No dia 1º de abril ocorreu o boicote que já havia sido, reiteradas vezes, previsto e desejado pelos componentes mais radicais do nazismo — ex-combatentes, membros das SA e militantes de base do partido. Mas os radicais nunca tiveram um poder tal para obrigar Hitler a dar passos contrários à sua vontade. O boicote foi de modo geral, acolhido friamente pela maioria da população alemã, favorável a limitar a presença dos judeus, mas decidida a continuar comprando nas lojas deles. Hitler adotou, nessa ocasião, a linha de conduta que nos anos seguintes se teria tornado típica de suas iniciativas antijudaicas: um aparente compromisso entre os pedidos dos radicais do partido e mais pragmáticas reservas dos conservadores, dando a opinião pública a impressão de que não era ele que se ocupava dos detalhes operacionais. No dia 7 de abril foi registrada a primeira lei antijudaica sobre a reclassificação dos funcionários públicos de carreira. O parágrafo 3 definido “parágrafo ariano” — estabeleceu que os empregados de origem não-ariana deviam ser aposentados. Até esse momento os nazistas tinham humilhado e boicotado os judeus com base em simples suspeita, que podiam de algum modo ser identificados como tais, mas não tinha havido ainda nenhum ato formal de privação dos direitos legais, baseado na definição discriminatória. Nos meses seguintes, com a lei sobre os funcionários públicos, os judeus foram afastados de todos os setores-chave do Estado, foi-lhes proibido exercer a profissão de médico em favor da saúde biológica da comunidade nacional, ser advogados e estudar (a lei de 25 de abril contra o excessivo número de alunos das escolas e das universidades estabeleceu que a matrícula de novos estudante judeus em todas as escolas fosse de 1,5% do total dos inscritos e de qualquer forma, em cada instituto não podiam superar 5% do total . No dia 14 de julho foi votada a lei sobre a revogação da cidadania alemã que aboliu as naturalizações ocorridas entre o fim da guerra e 30 de janeiro de 1933, e instituiu a proibição de imigração para os judeus orientais.

Doenças hereditárias e esterização

Durante a década de 1930, o regime baixou várias medidas que excluíram da comunidade nacional todos aqueles que podiam minar sua pureza. A lei de 14 de julho de 1933, sobre a esterilização dos indivíduos portadores de deficiências físicas e mentais, constituiu um momento fundamental nesse processo e uma pedra angular para a legislação eugenética e racial. Essa lei introduziu o princípio da coerção, porquanto não somente os inábeis ou seus familiares puderam requerer a esterilização, mas também os próprios médicos, sempre que julgassem oportuno. Nos casos controversos deveriam intervir os “tribunais para a saúde hereditária”, criados especialmente para isso. Além da intervenção cirúrgica, que tornava homens e mulheres incapazes de gerar, iniciou-se também a redução do nível de assistência daqueles que eram hospitalizados para causar lhes indiretamente a morte. Entre 1933 e 1945, 400 mil pessoas foram submetidas à esterilização forçada: alcoólatras, “antissociais”, portadores de deficiências e muitos outros. Em outubro de 1935, um mês após a promulgação da lei que proibia o casamento entre judeus e alemães, foi baixada a “lei para a proteção da saúde hereditária da nação alemã” que proibia a união entre alemães e aqueles que não eram desejáveis para a comunidade do povo, requeria o registro das raças estrangeiras ou dos dos grupos “racialmente inferiores” e impunha a obrigação de uma licença matrimonial que certificava que os dois eram “racialmente idôneos” para casar-se. Um decreto suplementar proibiu os alemães de contrair matrimônio ou manter relações com pessoas de sangue estrangeiro, diverso dos judeus; doze dias depois foi especificado que se tratava de ciganos, negros e “seus bastardos”. No verão de 1939, pouco antes da eclosão da guerra, teve início a chacina dos adultos inábeis, que foi mascarada como projeto de eutanásia. Tudo ocorria em segredo, e os parentes não eram informados sobre as transferências de seus familiares para os centros de matança, que foram implantados em diversas áreas da Alemanha. Antes mesmo que o conflito mundial desse início à realização da nova ordem européia e ao extermínio dos judeus, o assassínio de Estado, portanto, tinha sido legalizado e atuado em larga escala.

Os ciganos

Em 1933, os ciganos constituíam 0,05% da população na Alemanha. Tinham geralmente empregos regulares, mesmo que muitas vezes itinerantes, como o comércio a cavalo e as artes circenses. Mesmo antes de 1933 tinham sido discriminados e perseguidos pela polícia e, de início, os nazistas nada mais fizeram que continuar essa política, embora com progressiva exasperação. A propaganda criou uma imagem que mirava dois alvos: o estrangeiro com sua inaceitável cultura e o pretenso “a-social” que não estava disposto a aceitar a disciplina do trabalho e as relações estáveis e contínuas. Essa perseguição se baseou na pretensa hereditariedade biológica desse desvio e, portanto, como os judeus, também os ciganos não foram considerados “reeducáveis”; o único modo para tutelar a pureza da “comunidade do povo” foi uma progressiva exclusão do corpo social que, também nesse caso, se teria concluído no decorrer da guerra com o externo. A partir de 1935 foram abertos campos para o confinamento dos ciganos: eram caracterizados por péssimas condições higiênicas, cercados de arame farpado e a vida dentro deles foi rigidamente regulamentada. O maior campo foi instalado em Marzahn, na periferia de Berlim, e camuflado para não ser visível aos olhos daqueles que tomaram parte nas Olimpíadas. A discriminação assumiu novos aspectos com o aparecimento de publicações que continham os resultados de pretensas pesquisas de biologia das raças; um papel de relevo teve o doutor Robert Ritter que, a partir de 1936, dirigiu em Berlim o Instituto de Biologia Criminal. Em dezembro de 1938, Himmler baixou disposições para que “a regulamentação da questão cigana fosse baseada na natureza dessa raça”. Um decreto de 8 de dezembro sobre a “luta contra a praga dos ciganos” exasperou ainda mais a tradicional instrumentalização de detenção da polícia.

A Lebensborn

Associação das SS, fundada por Himmler em 1935 e financiada por doações obrigatórias das próprias SS, a Lebensborn fonte da vida) teve especificamente o objetivo de apoiar a política racista do regime. Seus membros se empenharam, com efeito, na luta contra o aborto e a favor do aumento da natalidade. Do ponto de vista administrativo, dependiam da divisão econômica das SS, mas para suas funções estavam ligados ao departamento das SS encarregado das questões raciais. No decorrer da guerra foram criadas sedes destinadas a acolher as mães não casadas e “racialmente puras” a fim de que se unissem à elite racial do regime, precisamente as SS, e procriassem filhos “sadios”; na Alemanha foram abertas onze sedes, nove nos territórios ocupados da França, Bélgica e Noruega. Nesses centros nasceram cerca de 8 mil crianças. Além de uma política racista e antissemita voltada para a expulsão de todos os elementos “indignos”' de viver na Alemanha, o regime nazista se empenhou, portanto,em promover a procriação também fora desses vínculos familiares e matrimoniais e não se cansou de divulgar como o fundamento da sociedade. Diante da necessidade de salvaguardar a raça, até a ordem constituída passou a um segundo plano.

Você quer saber mais?

ARRUDA, José Jobson de A; PILETTI, Nelson. Toda a História: História Geral e História do Brasil-9º edição. São Paulo: Ed. Ática, 1999.

AZEVEDO, Gislane Campos; SERIACOPI, Reinaldo. História: Volume Único. São Paulo: Ed. Ática, 2011. 

VAINFAS, Ronaldo; FERREIRA, Jorge; FARIA, Sheila de Castro; CALAINHO, Daniela Buono. História.doc. São Paulo: Ed.Saraiva, 2015.

JÚNIOR, Alfredo Boulos. Coleção História: Sociedade & Cidadania. São Paulo: FTD, 2004.

COTRIM, Gilberto. História Global: Brasil e Geral-8º edição. São Paulo: Editora Saraiva, 2005, pg.71.

COTRIM, Gilberto; RODRIGUES, Jaime. Historiar- 2º ediçaõ. São Paulo: Editora Saraiva,  2015, pg.206-209.

VICENTINO, Cláudio; DORIGO, Gianpaolo. História para Ensino Médio: História Geral e do Brasil. São Paulo: Editora Scipione, 2005.