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sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Questões acerca do Pelagianismo. Parte III: o Estado Romano, a Igreja Católica e os Pelagianos!



Pelagianismo. Imagem: Ministério Bereia.

Dando continuidade ao nosso estudo sobre as “Questões acerca do Pelagianismo”, avaliaremos nesta postagem sua compreensão da desobediência no pecado original e a hereditariedade da culpa trazida a todos os humanos, que como tais são descendentes de nossos primeiros pais Adão e Eva. E como consequência a compreensão dos pelagianos dos escritos canônicos ante os Católicos.

Quando analisamos a vida dos cristãos abastados do baixo Império Romano vemos que como tais continuavam a fazer parte de uma classe dominante comprometida com a manutenção das leis do império, mediante a imposição de castigos brutais. Estavam dispostos a lutar com unhas e dentes para proteger suas vastas propriedades e, à mesa de jantar, eram capazes de discutir tanto a mais recente opinião teológica, pela qual se orgulhavam como especialistas, quanto o tipo de punição judicial que houvesse acabado de infligir a algum assassino/estuprador.

Nessa confusão, a mensagem dura e firme de Pelágio surgia como uma libertação. Ele oferecia ao indivíduo a certeza absoluta, pela obediência absoluta. Podemos perceber isso na carta de um homem que se viu subitamente sob a influência de uma dama da nobreza, figura dominante de um grupo de entusiastas pelagianos na Sicília.

“Quando morava em minha terra, eu pensava ser um adorador de Deus. (...) Agora, pela primeira vez, comecei a saber como posso ser um verdadeiro cristão.(...) É fácil dizer que conheço Deus, creio em Deus, temo a Deus e sirvo a Deus. Mas não se conhece Deus quando não se acredita n’Ele; e não se acredita n’Ele a menos que se o ame; e não se ode dizer que se O ama, quando não se O teme quando não se O serve; e não se pode dizer que se serve a Deus quando se desobedece a Ele em qualquer aspecto. (...) Quem crê em Deus obedece a Suas ordens. Isto é amar a Deus: fazer o que Ele ordena.”

Era uma época séria. Os imperadores, ao insistirem no cumprimento de suas leis, usavam a mesma linguagem desesperada que Pelágio empregava ao falar das leis de Deus. Os homens que liam os textos pelagianos haviam acabado de assistir a uma série de acontecimentos que tinham abalado a confiança de toda uma classe: expurgos brutais, a ruína de famílias inteiras, assombrosos assassinatos políticos e, mais tarde, os horrores de uma invasão bárbara. Mas, enquanto alguns eram impelidos para o retraimento por essas catástrofes, os pelagianos pareciam determinados a se voltar para fora, a reformar toda a Igreja Cristã. Este foi o aspecto mais notável de seu movimento: o estreito fluxo de perfeccionismo que empurrara os nobres seguidores de Jerônimo para Belém, levara Paulino de Nola e Agostinho, de Milão, para uma vida de pobreza na África de repente voltou-se para fora nos escritos pelagianos, de modo a abarcar toda a Igreja Cristã:

“Decerto não é verdade que a Lei da conduta cristã não foi formulada para todos aqueles que se chamam cristãos. (...) Porventura credes que as fogueiras do Inferno arderão com menos calor para os homens que têm permissão (como governadores) de dar vazão a seu sadismo, e que só ficarão mais quentes para aqueles cujo dever profissional é serem devotos? (...) Não pode haver dois padrões num único e mesmo povo.“

Em toda a literatura do baixo Império Romano, esse é o protesto mais pungente contra a pressão sutil, experimentada pelos bispos católicos, para que se deixassem a vida cristã para os santos reconhecidos e se continuasse a levar a vida de homens comuns, como pagãos. Pelágio  queria que todos os cristãos fossem monges..

É que os pelagianos ainda pensavam na Igreja cristã como um pequeno grupo num mundo pagão. Estavam preocupados em dar um bom exemplo: o “sacrifício do louvo”, matéria tão íntima para os bispos católicos, significava, para os pelagianos, o louvor da opinião pública pagã, que seria conquistada pela Igreja como instituição composta por homens perfeitos. Foi nisso, é claro, que o movimento pelagiano afetou a Igreja Católica intimamente. Para a Igreja cristã, era como se as novas afirmações dos pelagianos de que poderiam chegar a uma Igreja “sem mácula nem imperfeição” meramente dessem continuidade à asserção dos donatistas de que só eles pertenciam justamente a essa Igreja.