Permanência do Fenômeno Revolucionário. Imagem: Arquivo Pessoal CHH.
Matéria
e espírito – O critério a que subordino minha
crítica, não exclui, pois, a necessidade e permanência das Revoluções. Mas essa
necessidade não é biológica e essa permanência não obedece ao determinismo
materialista; pelo contrário: uma e outra se explicam segundo os impositivos do
Espírito Humano, mundo a parte, perpetuamente criador e modificador, agindo
paralelamente ao desenvolvimento das forças materiais das sociedades, contendo
em si mesmo a sua própria dialética, exprimindo-se segundo o seu próprio
sentido.
De um lado, perpetuando a evolução das Espécies, determinando
o crescimento social, multiplicando os fatos objetivos da história, as energias
cegas da Matéria e da Força, conjugando-se em renovados efeitos; de outro lado,
prolongando indefinidamente o rumo da Civilização no que esta tem de ético,
especulativo, artístico ou religioso, as energias poderosas do Espírito,
exprimindo-se em Afirmação e em Negação, criando as dúvidas fecundas e as
certezas triunfais.
Os
dois planos da História – A
Humanidade caminha segundo esses dois planos: o primeiro coletivo, global,
movimento de massa, rumos inconscientes de povos; o segundo, individual,
singular, atitude isolada do Homem, desferindo impulsos modificadores.
Esses impulsos, porém não podem ser anacrônicos ou
antecipados, a menos que se conferisse
um poder absoluto à faculdade criadora do Homem. Neste caso, teríamos de
aceitar, não dois mundos autônomos, e sim dois mundos isolados, gravitando
segundo centros próprios de equilíbrios originados de essências diversas. Não teríamos
uma concepção útil e bela, modificadora de uma “verdade provisória” (para
usarmos a Expressão fantasista de Vahinger), mas uma verdade opondo-se a outra
verdade.
Aceitamos a gravitação harmoniosa dos contrários. Um mundo de
fatos históricos girando em torno da ideia suscitadora de novas expressões. A ideia
marcha como o sol, em torno de outros sóis; por isso, como os planetas sem luz
própria e subordinados a um sistema, jamais os fatos históricos se repetem nas
mesmas circunstâncias.
A
comparação na História – Nada mais
inseguro do que a comparação histórica. Na matéria dos acontecimentos há apenas
a considerar a sua substância e esta é a lição sintética que nos deixou a
ciência de Maquiavel.
Porque as circunstâncias de espaço, de tempo, de volume, de
massas e de energia desenvolvida desfiguram os episódios de cada ciclo considerado.
E também a força da ideia e a capacidade e possibilidade de ação, a localização
das incidências das energias revolucionárias variam em cada momento histórico.
Essa variabilidade demonstra o valor consciente da Idéia-Força
em relação ao valor inconsciente do Fato Histórico.
Realmente. Cada Revolução, objetivando restabelecer um equilíbrio
perdido, desloca certa soma de força que:
1°) ou não chega a corresponder a um quantum matemàticamente preciso;
2°) ou leva um superávit
de energia;
3°) ou não se distribui proporcionalmente.
Revolução
e Espírito – O inconsciente não erra. Não que lhe
repugne o erro; mas pelo fato da nenhuma significação para ele, da verdade ou
do erro. Em qualquer sentido que se desenvolva, o inconsciente está certo, ou
melhor, está conforme a sua natureza, que não é certa nem errada, segundo o interesse do Homem.
A Ideia
Revolucionária – A ideia é, pois, pelo fato de poder manifestar-se errada ou
certa, o resultado das elaborações do Espírito fora dos impositivos da matéria
inconsciente. A Ideia Revolucionária, portanto, transcende ao materialismo
histórico e ao determinismo evolucionista.
A Ideia é autônoma, justamente porque