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sábado, 14 de setembro de 2024

Império Bizantino: a glória do Oriente.

 O Império Bizantino, também conhecido como Império Romano do Oriente, nasceu oficialmente com a divisão do Império Romano em 395 d.C. Após a morte do imperador Teodósio I, o império foi dividido entre seus dois filhos, e o império oriental, com sua capital em Constantinopla (atualmente Istambul), começou a trilhar seu próprio caminho. A cidade, renomeada por Constantino, tornou-se um dos centros políticos e culturais mais importantes do mundo antigo.

Durante os primeiros séculos, o Império Bizantino se consolidou e manteve um papel dominante na região mediterrânea. No século VI, sob o governo do imperador Justiniano I (527-565 d.C.), o império alcançou seu auge territorial e cultural. Justiniano tentou reverter a queda do Império Romano do Ocidente, realizando campanhas militares para recuperar terras perdidas na África do Norte e na Itália. Além disso, o código legal de Justiniano, conhecido como Corpus Juris Civilis, tornou-se uma base fundamental para o direito europeu.

A religião também desempenhou um papel crucial na história bizantina. A Igreja Ortodoxa, com seu centro em Constantinopla, tornou-se uma das principais instituições do império, desenvolvendo uma forma de cristianismo distinta da Igreja Católica Romana. A separação entre as duas igrejas foi formalizada em 1054 d.C., com o Grande Cisma. As diferenças teológicas e políticas, além de disputas sobre a autoridade papal e as práticas litúrgicas, contribuíram para essa divisão, resultando em duas tradições cristãs separadas: o Catolicismo Ocidental e a Ortodoxia Oriental.

No entanto, o Império Bizantino enfrentou uma série de desafios ao longo dos séculos. As invasões de povos germânicos, as disputas internas e a crescente ameaça dos árabes e turcos começaram a minar a estabilidade bizantina. A expansão árabe no século VII resultou na perda de grandes partes do território bizantino no Oriente Médio e na África do Norte. As guerras constantes e as dificuldades econômicas, agravadas por crises internas e disputas dinásticas, enfraqueceram o império.

A partir do século XI, a situação do Império Bizantino tornou-se ainda mais precária. As derrotas militares, como a Batalha de Manzikert em 1071 contra os turcos seljúcidas, resultaram na perda de grande parte da Anatólia, uma região vital para o império. A pressão externa continuou a enfraquecer o império, que sofreu novos ataques dos turcos otomanos. Finalmente, em 1453, Constantinopla caiu nas mãos dos otomanos sob o comando do sultão Mehmed II, marcando o fim do Império Bizantino. A queda de Constantinopla significou a extinção do império que, por mais de mil anos, fora um bastião da cultura e da política na região mediterrânea.

Você quer saber mais?

SMITH, J. M. H. O Império Bizantino. Lisboa: Edições 70, 2004.

NORWICH, John Julius. História do Império Bizantino. São Paulo: Planeta, 2013. (Original em inglês, 2011.)

SIQUEIRA, José Carlos. O Grande Cisma: A Separação da Igreja Cristã em 1054. Petrópolis: Vozes, 2012.

LOSSKY, Vladimir. A Igreja Ortodoxa e o Império Bizantino. São Paulo: Paulus, 2011.

Islamismo: ascensão e expansão.

 O islamismo surgiu no século VII, na região da Arábia, com a pregação de Maomé (Muhammad), considerado pelos muçulmanos como o último profeta de Deus, ou Alá, em árabe. Maomé nasceu em 570 d.C., em Meca, uma importante cidade comercial, e começou a receber revelações divinas em 610 d.C., aos 40 anos. Essas revelações foram posteriormente reunidas no Alcorão, o livro sagrado do Islã.

No início, as mensagens de Maomé, que pregavam a crença em um Deus único e a justiça social, não foram bem aceitas pelos líderes de Meca, que se beneficiavam do comércio relacionado à adoração de vários deuses na Caaba, o principal santuário da cidade. Em 622 d.C., Maomé e seus seguidores foram obrigados a deixar Meca e se mudaram para Medina, no evento conhecido como Hégira, que marca o início do calendário islâmico. Em Medina, o Islã começou a se fortalecer, tanto religiosa quanto politicamente.

Em 630 d.C., Maomé e seus seguidores conseguiram conquistar Meca, e o Islã se tornou a principal religião da região. Após a morte de Maomé, em 632 d.C., a expansão islâmica continuou rapidamente sob a liderança dos califas, os sucessores do profeta. Em menos de um século, o Islã se espalhou por vastas áreas do Oriente Médio, Norte da África, Península Ibérica e até partes da Ásia Central.

A rápida expansão do Islã foi facilitada por fatores como a fraqueza dos impérios Bizantino e Sassânida (Persa), que dominavam a região, além da unificação política e religiosa oferecida pelo Islã, que atraía muitos povos. O comércio e as redes de caravanas também ajudaram a disseminar a nova religião. Entre 711 e 718 d.C., os exércitos islâmicos conquistaram boa parte da Península Ibérica. Ao longo do tempo, o islamismo influenciou profundamente a cultura, ciência e política das regiões por onde se espalhou. Hoje, o Islã é uma das maiores religiões do mundo, com mais de um bilhão de seguidores.

Você quer saber mais?

ARMSTRONG, Karen. O Islã. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.

CHEBEL, Malek. História do Islã. Porto Alegre: L&PM Pocket, 2002.

GRUNEBAUM, Gustave E. von. A Civilização do Islã Clássico. São Paulo: Perspectiva, 2014.

GRIN, Monica. O que é o Islã?. São Paulo: Brasiliense, 1996. (Coleção Primeiros Passos)

quinta-feira, 12 de setembro de 2024

Segundo Reinado no Brasil: principais características

O Segundo Reinado no Brasil, sob o governo de Dom Pedro II (1840-1889), representa um dos períodos mais notáveis da história do país, marcado por progresso, estabilidade e respeito internacional. Dom Pedro II, um monarca ilustrado, liderou o Brasil por quase meio século, guiando a nação através de profundas transformações econômicas, sociais e culturais.

Estabilidade e unidade nacional

Dom Pedro II ascendeu ao trono com apenas 14 anos, e seu reinado trouxe uma notável estabilidade política a um país que, até então, havia enfrentado revoltas regionais e tensões internas. Durante sua liderança, ele conseguiu unificar o Brasil e manter a integridade territorial do Império, evitando as fragmentações que ocorreram em outros países latino-americanos após suas independências.

Desenvolvimento econômico

O Segundo Reinado também foi um período de grande avanço econômico. O Brasil passou por um processo de modernização e industrialização, com a introdução de ferrovias, telégrafos e a expansão dos portos. O café, principal produto de exportação, consolidou o Brasil como uma potência agrícola, enriquecendo a economia e integrando o país ao comércio global. Sob Dom Pedro II, o país se abriu para novas tecnologias e inovação, contribuindo para a crescente urbanização e diversificação econômica.

Cultura e educação

Dom Pedro II era um patrono da cultura e das artes, reconhecido por seu intelecto refinado e amor ao conhecimento. Ele promoveu a educação e fundou importantes instituições culturais, como a Academia Brasileira de Letras e o Museu Nacional. Seu governo investiu em ciência e tecnologia, valorizando o progresso do saber como alicerce de um país forte e próspero. O imperador, que dominava várias línguas e era um estudioso de diferentes áreas, via a educação como um meio de libertação e desenvolvimento social.

A questão social e a abolição da escravidão

Embora a escravidão tenha sido uma dura realidade no Brasil durante grande parte do Segundo Reinado, Dom Pedro II era um abolicionista como todos os Braganças desde D. João VI, mas devido as conjunturas econômicas e políticas diante do poder dos grandes cafeicultores e para evitar conflitos internos que levassem a um grande derramamento de sangue de brasileiros, como ocorreu na Guerra da Secessão dos Estados Unidos. Pautou-se então em uma emancipação gradual dos escravos. Sua influência foi fundamental na promulgação de leis que pavimentaram o caminho para a abolição, como a Lei do Ventre Livre (1871) e a Lei dos Sexagenários (1885). A abolição definitiva da escravatura veio em 1888, com a assinatura da Lei Áurea pela Princesa Isabel, sua filha, encerrando um dos capítulos mais dolorosos da história do país.

Diplomacia respeitada

Internacionalmente, o Brasil ganhou respeito sob o governo de Dom Pedro II. Ele manteve uma diplomacia pacífica e eficiente, evitando conflitos desnecessários e projetando o Brasil como um ator equilibrado nas relações internacionais. Sua figura era admirada por governantes de todo o mundo, sendo o imperador recebido com honras em diversas nações.

Modernização e legado

Dom Pedro II não foi apenas um monarca, mas um estadista visionário, que buscava incessantemente o progresso e o bem-estar de seu povo. Ele acreditava no desenvolvimento científico, na liberdade de imprensa e na importância de uma nação educada. Seu governo deixou um legado de modernização e transformações que impactaram profundamente o futuro do Brasil.

O Segundo Reinado, portanto, é lembrado como uma era de glória e avanço, conduzida por um imperador que, com sabedoria e dedicação, guiou o Brasil por tempos de crescimento econômico, enriquecimento cultural e justiça social. Dom Pedro II foi, sem dúvida, um dos grandes líderes que moldaram a história do país. 

Principais características do Segundo Reinado:

  1. Estabilidade política: Durante seu reinado, o Brasil passou por um longo período de estabilidade política, apesar de algumas revoltas regionais. Ele conseguiu evitar guerras civis maiores e manteve a integridade territorial do país.

  2. Abolição da escravidão: Dom Pedro II foi um defensor da abolição da escravatura. Embora a escravidão tenha sido abolida somente no fim de seu reinado, em 1888, com a Lei Áurea, ele apoiou a causa abolicionista e a transição gradual.

  3. Desenvolvimento cultural e educacional: Dom Pedro II era um grande incentivador da educação, ciência e cultura. Ele fundou diversas instituições educacionais e científicas, como o Imperial Instituto dos Meninos Cegos (atual Instituto Benjamin Constant) e o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Além disso, era um patrono das artes e da literatura.

  4. Modernização: Sob seu governo, o Brasil avançou em infraestrutura e tecnologia. Houve expansão da rede ferroviária, do telégrafo e de serviços públicos, como iluminação a gás.

  5. Diplomacia eficiente: Dom Pedro II tinha uma política externa respeitada, mantendo relações pacíficas e estáveis com outras nações, como os EUA e as potências europeias. Ele também evitou conflitos externos, apesar de a Guerra do Paraguai (1864-1870) ter ocorrido em seu reinado.

Esses fatores contribuíram para o desenvolvimento do Brasil como um país mais estável e moderno.

Você quer saber mais?

REZZUTTI, Paulo. D. Pedro II: A História Não Contada – O Último Imperador do Novo Mundo e a Longa Noite de uma Nação. Leya, 2019.

BARMAN, Roderick J. Dom Pedro II: Imperador Cidadão. Editora Unesp, 2012.

GÓES, Marcus. Dom João: O Trópico Coroado. Biblioteca do Exército, 2008.


terça-feira, 10 de setembro de 2024

Ouro e Diamantes: Impactos Econômicos e Sociais da Mineração no Brasil Colonial

 A descoberta de ouro e diamantes no Brasil teve um impacto significativo na história econômica e social do país. A exploração de ouro começou em 1693, em Minas Gerais, quando foram encontrados depósitos na região de Vila Rica (hoje Ouro Preto). Posteriormente, a descoberta de diamantes na mesma região, em 1729, acentuou ainda mais o impacto econômico da mineração. Essas descobertas atraíram uma grande quantidade de colonos, escravizados e aventureiros para a área, resultando em uma rápida urbanização e crescimento das cidades mineradoras.

A exploração mineral trouxe grandes benefícios econômicos para a Coroa Portuguesa, com a cobrança de impostos e o aumento da riqueza colonial. No entanto, também gerou profundas consequências negativas. A mineração intensificou a exploração de mão de obra escravizada, com condições de trabalho extremamente duras e a formação de um mercado de escravos em expansão. 

Além disso, a corrida do ouro e dos diamantes contribuiu para o aumento da desigualdade social, com a concentração de riqueza nas mãos de poucos e a marginalização de muitos trabalhadores e indígenas. A economia baseada na mineração também causou uma dependência econômica que influenciou o desenvolvimento econômico do Brasil por muitos anos. Em resumo, a descoberta de ouro e diamantes foi um marco na história do Brasil, trazendo prosperidade econômica a curto prazo, mas também gerando problemas sociais e ambientais duradouros.

As descobertas de ouro e diamantes no Brasil impulsionaram o desenvolvimento econômico da colônia, gerando riqueza. Estimulou a urbanização e o crescimento das cidades mineradoras, como Ouro Preto. Além disso, incentivou a infraestrutura, com a construção de estradas e obras públicas. A mineração também trouxe um fluxo de novas ideias e técnicas, contribuindo para a evolução tecnológica da época.

Você quer saber mais?

Schwarcz, Lilia Moritz. O Espetáculo das Raças: Cientistas, Instituições e Questões Raciais no Brasil. Companhia das Letras, 1993.

Souza, Carlos Fico de. A Economia do Ouro e a Formação da Sociedade Brasileira: A Experiência Mineira no Século XVIII. Editora Record, 2004.

Caldas, João. A Mineração no Brasil Colonial: História e Consequências. Editora FGV, 2002.

Oliveira, José Murilo de. O Ouro e a Revolução: O Impacto da Mineração na Formação do Brasil. Editora Universidade Federal de Minas Gerais, 1999.

Três raízes, uma nação: o papel dos índios, negros e brancos na formação do Brasil

A formação do povo brasileiro é resultado de uma rica mistura de três principais grupos: indígenas, africanos e europeus. Os povos indígenas foram os primeiros habitantes do Brasil, trazendo suas culturas, línguas e conhecimentos sobre o território. 

Com a colonização, os europeus, principalmente portugueses, introduziram suas tradições, valores e modelos econômicos, além de trazerem africanos escravizados. Os africanos, forçados a trabalhar no Brasil, tiveram um papel fundamental na economia colonial, além de contribuírem de forma significativa com sua cultura.

A interação entre esses três grupos gerou uma identidade brasileira única, marcada pela diversidade étnica e cultural. Essa miscigenação moldou as características sociais, culturais e linguísticas que definem o Brasil contemporâneo.

Você quer saber mais?

Castro, Edna. Cultura e Identidade no Brasil: O Papel dos Índios, Negros e Brancos. Editora Zahar, 2012.

Kabengele, Munanga. Rediscutindo a mestiçagem no Brasil: Identidade e Política. Editora Cortez, 2004.

Schwarcz, Lilia Moritz. O Espetáculo das Raças: Cientistas, Instituições e Questões Racial no Brasil. Companhia das Letras, 1993.

Revolução comunista cubana

 Foi um movimento liderado por Fidel Castro que derrubou o regime ditatorial de Fulgencio Batista e instaurou um governo socialista em Cuba. A revolução começou em 1953 com o ataque fracassado ao quartel de Moncada, liderado por Castro e outros revolucionários, incluindo seu irmão Raúl Castro e Che Guevara. Após esse fracasso, Fidel foi preso e exilado no México, onde reorganizou suas forças e planejou um novo ataque.

Em 1956, Castro e seus seguidores desembarcaram em Cuba no iate Granma e iniciaram uma guerrilha nas montanhas da Sierra Maestra. Ao longo dos anos, o movimento ganhou apoio popular, principalmente entre os camponeses, insatisfeitos com a desigualdade social e a repressão do governo de Batista. Em 1959, após uma série de vitórias militares, o regime de Batista colapsou, e Fidel Castro assumiu o poder.

A revolução transformou Cuba em um Estado socialista, com uma economia planificada e forte alinhamento com a União Soviética. Houve nacionalizações de propriedades e empresas estrangeiras, além de grandes reformas na saúde e educação. No entanto, o governo de Castro também trouxe repressão política, censura, e a fuga de muitos cubanos para o exílio. A revolução cubana teve repercussões globais, sobretudo na Guerra Fria, com a Crise dos Mísseis de 1962 sendo um dos pontos mais tensos da época. Cuba se tornou um símbolo de resistência ao imperialismo, mas também enfrentou desafios econômicos e isolamento internacional devido ao embargo dos EUA.

As consequências negativas da Revolução Cubana incluem a repressão política, com prisões e perseguições a opositores do regime, e a censura à liberdade de expressão e imprensa. A economia foi fortemente afetada pelas nacionalizações, levando à fuga de capital e à escassez de bens. O embargo econômico imposto pelos Estados Unidos a partir de 1962 agravou a situação, causando dificuldades econômicas prolongadas, como falta de alimentos e produtos básicos. Além disso, muitos cubanos fugiram para o exílio, principalmente para os EUA, em busca de melhores condições de vida. O regime autoritário também limitou as liberdades civis, instaurando um sistema de partido único que endureceu o controle sobre a população.

Você quer saber mais?

Fontova, Humberto. Fidel: O Tirano Mais Amado do Mundo. É Realizações, 2010.

Montaner, Carlos Alberto. Viagem ao Coração da Cuba: Uma História Crítica da Revolução Cubana. Editora Record, 2007.

Oppenheimer, Andrés. A Hora Final de Castro. Editora BestSeller, 1993.

Revolução comunista chinesa

 A Revolução Comunista Chinesa foi um processo histórico que culminou com a criação da República Popular da China em 1949, liderada pelo Partido Comunista Chinês (PCC) sob o comando de Mao Tsé-Tung. Ela teve suas raízes na insatisfação popular com a dinastia Qing e, posteriormente, com o governo do Kuomintang (Partido Nacionalista), liderado por Chiang Kai-shek, que assumiu o poder após a Revolução Xinhai de 1911. Durante as décadas de 1920 e 1930, o PCC e o Kuomintang se aliaram e se confrontaram várias vezes. A Longa Marcha, de 1934 a 1935, foi um momento crucial para o fortalecimento do Partido Comunista, que fugia da perseguição nacionalista, mas conseguiu sobreviver e consolidar sua base no campo.

Com o agravamento das condições socioeconômicas no país, a Segunda Guerra Sino-Japonesa (1937-1945) e a Guerra Civil Chinesa (1946-1949) criaram o cenário para a ascensão comunista. O PCC ganhou apoio principalmente entre os camponeses, prometendo reforma agrária e melhorias nas condições de vida. Em 1949, após derrotar as forças do Kuomintang, que fugiram para Taiwan, Mao Tsé-Tung proclamou a República Popular da China, marcando o início de um regime comunista que buscava reconstruir o país sob a ideologia marxista-leninista e transformar radicalmente a sociedade chinesa. A revolução teve grande impacto na política global e na configuração geopolítica do século XX.

A Revolução Comunista Chinesa trouxe várias consequências negativas, especialmente nas décadas seguintes. O regime de Mao Tsé-Tung implementou políticas radicais, como o Grande Salto Adiante (1958-1962), que causou uma grave crise agrícola e a morte de milhões de pessoas por fome. Além disso, a Revolução Cultural (1966-1976) resultou em perseguições, prisões e mortes de intelectuais e opositores políticos, além da destruição de patrimônio cultural e científico. A centralização do poder e a repressão política limitaram liberdades individuais e causaram instabilidade social, deixando cicatrizes profundas na sociedade chinesa.

Você quer saber mais?

Fenby, Jonathan. A ascensão da China: de Mao à mercadoria. Editora Globo, 2009.

Short, Philip. Mao: a história desconhecida. Companhia das Letras, 2005.

Dikotter, Frank. A grande fome de Mao: a história da catástrofe mais devastadora da China (1958-1962). Editora Record, 2017.

sexta-feira, 6 de setembro de 2024

Rebeliões do Período Regencial

Um período conturbado 

O período regencial foi marcado por diversas revoltas. Em geral, elas foram provocadas pelo conflito de ideias entre grupos da camada dominante, dividida entre liberais e conservadores. Essas revoltas, contudo, serviram como estímulo permanente para movimentos de origem social, que chegaram inclusive a ameaçar, em algumas regiões do país, a ordem escravocrata. Por meio desses conflitos, os trabalhadores livres pobres e os escravos integravam-se à luta pelo poder político. Mas, com frequência, serviram apenas de massa de manobra nas disputas entre as correntes oriundas das elites; e pouco conseguiram no que se refere a romper os privilégios da aristocracia rural e melhorar as próprias condições de vida. 

Cabanagem (1835-1840) 

Calcula-se que as lutas desencadeadas pela mais violenta rebelião da Regência, a Cabanagem, provocaram a morte de 30 mil pessoas no Pará (a província tinha 80 mil habitantes em 1819). Dois fatos associaram-se para dar início aos cinco anos de conflitos: o inconformismo de fazendeiros e comerciantes contra o presidente nomeado pelo poder central e a miséria da população. A maioria dos paraenses vivia em cabanas perto dos rios, daí o nome de cabanos dado aos revoltosos. Na verdade, os cabanos foram além do que pretendiam alguns de seus líderes, pois transformaram a rebeldia das elites contra o poder central numa luta sem tréguas por melhores condições de vida. Em 1835, os cabanos depuseram o presidente da província e ocuparam Belém. Três presidentes rebeldes se sucederam no poder. O primeiro foi o fazendeiro e comerciante Félix Malcher. Acusado de traição e de jurar fidelidade ao imperador, Malcher foi deposto pelo chefe militar dos cabanos, Pedro Vinagre, que assumiu o poder. Pouco tempo depois, Vinagre abandonou o posto ante os ataques das forças do governo central, apoiadas pelo mercenário inglês John Taylor. Eduardo Angelim tornou-se o terceiro presidente rebelde. Entretanto, pouco mais de um ano depois de tomar Belém, os cabanos tiveram de se retirar para o interior. Os últimos rebeldes, mais de 1.000, só se entregaram no início de 1840, o ano da maioridade. A guerra civil no Pará deu lugar a incríveis atrocidades. Arthur Reis, citado por Sérgio Buarque de Holanda em História geral da civilização brasileira, relata que mesmo os suspeitos de rebeldia eram caçados como animais ferozes e sofriam suplícios bárbaros, que às vezes provocavam a morte.

A Guerra dos Farrapos (1835-1845) 

Causas econômicas, políticas e ideológicas levaram os gaúchos a pegar em armas para tentar separar-se do Império, naquela que ficou conhecida como Guerra dos Farrapos por causa dos precários trajes dos rebeldes. Pesados impostos oneravam os produtos gaúchos vendidos em outras províncias: charque, couro, muares (tropas de burros). Tais impostos diminuíam a capacidade de concorrência com mercadorias uruguaias, argentinas e paraguaias. Além disso, às vezes, os impostos eram cobrados no lugar de venda, ou seja, beneficiavam outras províncias. O cenário político na província estava dividido entre os farroupilhas, que queriam mudanças e autonomia, e os chimangos, favoráveis à situação. Na região havia também forte influência das ideias republicanas, já que os gaúchos eram vizinhos das jovens repúblicas do Prata: Uruguai, Argentina e Paraguai. A revolta começou quando um grupo liderado pelo farroupilha Bento Gonçalves exigiu a renúncia do presidente da província. A cidade de Porto Alegre foi ocupada e a Assembléia teve de nomear novo presidente. Em 1836, os revoltosos proclamaram a República Rio-Grandense, com sede em Piratini. Três anos depois, em 1839, conquistaram Laguna, em Santa Catarina, onde proclamaram a República Juliana (era mês de julho). Para a conquista de Santa Catarina, os gaúchos contaram com a decisiva colaboração do italiano Giuseppe Garibaldi, que se destacaria mais tarde na luta pela unificação da Itália. Por terra, sobre carretas, Garibaldi conduziu duas embarcações da lagoa dos Patos até Tramandaí, a 60 quilômetros de distância, atacando de surpresa as forças imperiais. Somente em 1845, já no reinado de dom Pedro II, a paz voltaria a reinar na região. O movimento foi sufocado por Luís Alves de Lima e Silva, futuro duque de Caxias, que já havia atuado em outros conflitos regionais. Lima e Silva foi nomeado presidente da província em 1842 e fez ofertas irrecusáveis aos farroupilhas: anistia para todos, incorporação dos oficiais revoltosos ao Exército imperial no mesmo posto, devolução de toda propriedade ocupada ou confiscada durante a guerra, libertação dos escravos que haviam lutado ao lado dos rebeldes. Com uma duração de dez anos, a Guerra dos Farrapos, ou Rebelião Farroupilha, foi a mais longa guerra civil da nossa história.

A Sabinada (1837-1838)

A Sabinada foi o momento culminante de vários movimentos rebeldes na Bahia contra a política imposta pelas regências. Um desses movimentos foi a revoltaa dos escravos malês em 1835. O principal líder da Sabinada foi o médico e jornalista Francisco Sabino Álvares da Rocha Vieira (daí o nome da revolta). A rebelião começou em novembro de 1837, com a sublevação das tropas e a fuga do governador. Os rebeldes formaram seu próprio governo e divulgaram um programa em que defendiam a proclamação da República Baiense, a separação da província até a maioridade de dom Pedro e a convocação de uma Assembléia Constituinte. Apesar desse programa moderado, a repressão das forças do governo central se abateu sobre os revoltosos com requintes de crueldade. Os soldados imperiais chegaram a incendiar as casas e a lançar prisioneiros vivos ao fogo. Houve cerca de 600 mortos entre os legalistas e pouco mais de 1.000 entre os rebeldes.

A Balaiada (1838-1841) 

No início do século XIX, quase a metade dos 200 mil maranhenses eram escravos. Grande parte do restante compunha-se de sertanejos miseráveis. Proprietários rurais e comerciantes controlavam o poder. A insatisfação social era antiga. Aumentou ainda mais quando os políticos conservadores tentaram aumentar os poderes dos prefeitos, causando protestos entre os liberais. A insatisfação popular transformou-se então em revolta e a revolta em movimento capaz de mobilizar os setores marginalizados da população. O movimento revoltoso passou a exigir a demissão dos portugueses incrustados no Exército e na administração. Recebeu o nome de Balaiada porque um de seus líderes se chamava Manuel Balaio. Vivia ele de fazer balaios, como milhares de artesãos que o seguiram. A rebelião começou em 1838, quando um grupo liderado pelo vaqueiro Raimundo Gomes, o Cara Preta, tomou de assalto uma cadeia. A esse ataque seguiram-se outras ações armadas promovidas por Manuel Balaio e seus homens. Algumas fazendas foram atacadas. Escravos aproveitaram-se da confusão para fugir e formar quilombos. Um deles chegou a reunir cerca de 3 mil escravos comandados pelo preto Cosme. Os rebeldes recebiam apoio político dos liberais, apelidados de bem-te-vis. Estes usavam o movimento popular para tentar a conquista do poder. Numa importante vitória, os balaios tomaram a vila de Caxias em 1839. No ano seguinte, o governo central nomeou presidente da província o coronel Luís Alves de Lima e Silva. A anistia decretada em agosto de 1840 provocou a rendição imediata de cerca de 2.500 balaios. Quem resistiu foi derrotado a seguir. Raimundo Gomes, o Cara Preta, entregou-se. Enviado preso para São Paulo, morreu no caminho. Cosme, chefe de um quilombo, não se entregou. Caçado sem trégua, foi preso e enforcado. Rebelião das camadas pobres, a Balaiada foi expressão da resistência popular contra as desigualdades e injustiças da sociedade escravista.

A Revolta dos Malês (Bahia, 1835) 

Com 65.500 habitantes no começo do século XIX, Salvador era a cidade mais populosa da Bahia. Segundo a historiadora Kátia Mattoso, cerca de 90 por cento de sua população livre, estimada em 38 mil pessoas, vivia no limiar da pobreza. Essa situação se agravou ainda mais nas décadas de 1820 e 1830, quando a região foi assolada por fortes secas.  Negros e pardos livres e escravizados representavam a maior parte dessa população (cerca de 72 por cento, segundo cálculos do historiador João José Reis). Vítimas constantes do preconceito racial e da opressão social, muitos deles se rebelaram em 1835 em Salvador. Foi a Revolta dos Malês, cujo objetivo declarado era destruir a dominação branca na região e construir uma Bahia só de africanos.  Do movimento fizeram parte principalmente os malês, nome dado aos escravos seguidores do islamismo. Eles pertenciam a diferentes etnias, como a dos haussás, jejês e nagôs; muitos sabiam ler e escrever. Também participaram do movimento nagôs seguidores do candomblé.  A revolta começou no dia 24 de janeiro. A idéia dos rebeldes era ocupar de surpresa o centro de Salvador. Segundo a historiadora Magali Gouveia Engel, cerca de seiscentos negros, armados principalmente de espadas, participavam do levante. Após intensos combates, os rebeldes foram derrotados pelas forças policiais, que utilizavam armas de fogo. Centenas de participantes da revolta morreram ou ficaram feridos. Após a rebelião, desencadeou-se violenta repressão contra os africanos e afro-brasileiros. Muitos foram condenados ao açoite, à prisão ou à deportação. Três escravos e um liberto foram condenados à morte e acabaram fuzilados, pois nenhum carrasco concordou em enforcá-los.

Uma economia deficitária 

Durante o Período Regencial, o comércio exterior brasileiro foi quase o tempo todo deficitário. O Brasil importava mais do que exportava e, por isso, estava sempre devendo a credores internacionais. Essa situação começou já no Primeiro Reinado e se prolongou até 1860. Para pagar as dívidas, o país contraía empréstimos externos, solução que ia transferindo o problema para o futuro. Novos pagamentos eram acrescidos a título de juros e amortizações da dívida externa. O resultado foi o contínuo aumento do desequilíbrio nas contas com o exterior, O Brasil enfrentava também escassez de dinheiro, por causa do esvaziamento dos cofres pela família real em sua volta a Portugal em 1821, da indenização paga a Lisboa pelo reconhecimento da independência e dos gastos com a Guerra da Cisplatina e com as revoltas internas. Por falta de recursos e máquinas, as indústrias não puderam desenvolver-se. Além disso, os produtos ingleses exerciam concorrência desigual. O caso da indústria têxtil é um exemplo típico. Os ingleses, favorecidos pelas baixas taxas alfandegárias, colocavam seus tecidos no mercado brasileiro em melhores condições que o produto nacional. Como se não bastasse, existiam obstáculos para a importação de máquinas por brasileiros. Em 1840, mais da metade dos gastos com importação de manufaturados referia-se ao pagamento de produtos relacionados a vestuário. Essas condições acabaram por sufocar todas as tentativas de industrialização no Brasil. O setor de mineração alcançou alguns progressos graças à ajuda de capitais ingleses.

Você quer saber mais?

ARRUDA, José Jobson de A; PILETTI, Nelson. Toda a História: História Geral e História do Brasil-9º edição. São Paulo: Ed. Ática, 1999.

AZEVEDO, Gislane Campos; SERIACOPI, Reinaldo. História: Volume Único. São Paulo: Ed. Ática, 2011. 

VAINFAS, Ronaldo; FERREIRA, Jorge; FARIA, Sheila de Castro; CALAINHO, Daniela Buono. História.doc. São Paulo: Ed.Saraiva, 2015.

JÚNIOR, Alfredo Boulos. Coleção História: Sociedade & Cidadania. São Paulo: FTD, 2004.

COTRIM, Gilberto. História Global: Brasil e Geral-8º edição. São Paulo: Editora Saraiva, 2005, pg.71.

COTRIM, Gilberto; RODRIGUES, Jaime. Historiar- 2º ediçaõ. São Paulo: Editora Saraiva,  2015, pg.206-209.

VICENTINO, Cláudio; DORIGO, Gianpaolo. História para Ensino Médio: História Geral e do Brasil. São Paulo: Editora Scipione, 2005.

REZZUTTI, Paulo. D.Pedro I:  A história não contada. O homem revelado por cartas e documentos inéditos. São Paulo: Leya, 2020.