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domingo, 28 de julho de 2024

Grécia: período Pré-homérico e Arcaico

Nas proximidades do monte Olimpo, na região próxima ao mar Mediterrâneo, por volta de quarenta séculos atrás, começou a se formar a Grécia, berço das sociedades européias contemporâneas. A região, na época chamada Hélade, passou a abrigar diversas cidades independentes, como Atenas, Esparta, Delos e Corinto. O relevo, extremamente acidentado, seria fator decisivo para que não constituíssem um Estado unificado. Mesmo assim, costumes comuns, como idioma e religião, deram ao conjunto das cidades uma única identidade cultural. Com base no espaço geográfico, a Hélade pôde ser dividida em três partes distintas: a continental, formada por montanhas e planícies férteis isoladas; a peninsular, com litoral recortado por golfos e baías que facilitavam a navegação; e a insular, com numerosas ilhas que permitiam navegar com terra sempre à vista — característica importante numa época de técnica naval precária. As características físicas dificultavam a ocupação de grande parte do território — apenas 20% de sua área era propícia à atividade humana. Poucas chuvas e a ausência de grandes rios, por sua vez, dificultavam a prática da agricultura. A navegação costeira era a única atividade facilitada pelas condições geográficas.

Nenhuma dessas circunstâncias, no entanto, acabou se transformando em obstáculo para o desenvolvimento de uma cultura extremamente significativa, tanto para o mundo antigo quanto para as sociedades contemporâneas. Para dimensionar essa importância, basta lembrar que na Grécia Antiga surgiram a filosofia, a democracia, os jogos olímpicos, além de conhecimentos fundamentais para o desenvolvimento da matemática, da justiça e das ciências da cura. A Grécia Antiga é o tema desta Unidade. Sua história estende-se do século XX ao século IV a.C. E, normalmente, é dividida em quatro períodos: 

    • Pré-Homérico (séculos XX-XII a.C.);

    • Homérico (séculos XII-VIII a.C.);

    • Arcaico (séculos VIII-VI a.C.);

    • Clássico (séculos V-IV a.C.). 

A partir da segunda metade do século IV a.C., as cidades gregas foram conquistadas pela Macedônia. Esse período é conhecido como helenístico. A ele se sucederiam as conquistas romanas, que desagregariam definitivamente a sociedade grega.


O mundo grego

Os primeiros habitantes da Grécia foram os pelágios ou pelasgos. À origem desse povo é pouco conhecida, mas deve estar relacionada às culturas nativas da própria região mediterrânea. Por volta de 2000 a.C., grupos de arianos de origem indo-europeia começaram a se fixar na região. A princípio, estabeleceram relações pacíficas com os pelágios, até a chegada dos dórios. Os dórios eram um povo guerreiro e deram início a um novo período da história grega, no qual passaram a predominar os genos! O período de formação do povo grego é conhecido como Pré-Homérico; o que se inicia com a invasão dórica denomina-se Homérico. A desagregação dos genos, a partir do século VIll a.C., inaugura o período Arcaico, de consolidação das pólis. 


Período Pré-Homérico: “as invasões arianas

O primeiro grupo de arianos a ocupar a Hélade, por volta de 2000 a.C, foi o dos aqueus. Os aqueus eram nômades e se deslocavam em busca de melhores pastagens para seus rebanhos. Quando chegaram à Grécia, ocuparam as terras mais férteis e assimilaram os grupos nativos. A sedentarização provocou a formação dos primeiros núcleos urbanos na Hélade, como Tirinto, Argos e Micenas. Com o tempo, Micenas transformou-se no principal centro político, econômico e cultural dos aqueus. 

Por volta de 1700 a.C., outros dois povos arianos chegaram à Grécia: os jônios e os eólios. Pacíficos, acabaram integrados às sociedades locais sem conflito. Nessa mesma época, a cidade de Micenas mantinha intenso intercâmbio com Creta, dando origem à cultura creto-micênica. O contato com os cretenses, que dominavam todo o mar Egeu, possibilitou aos aqueus o desenvolvimento de novas técnicas agrícolas e navais. Por fim, acabaram superando seus mestres: por volta de 1400 a.C., conquistaram Cnossos e destruíram parte da sociedade cretense.

A conquista permitiu aos aqueus expandirem suas atividades comerciais e de pirataria por todo o Mediterrâneo oriental. Por volta de 1150 a.C., dominaram a cidade de Tróia, na estratégica passagem entre o mar Egeu e o mar de Mármara. Com isso, Micenas passou a controlar o tráfico marítimo na região, ampliando ainda mais suas atividades na Ásia Menor. Enquanto a sociedade micênica se expandia pela Ásia, chegavam à Hélade os dórios, último grupo de arianos a ocupar a região. Nômades, aguerridos e conhecedores de armas de ferro, os dórios arrasaram as cidades da Hélade e provocaram a dispersão da população local em direção ao interior do continente, à Ásia Menor e a outras regiões do Mediterrâneo. O fato acabou favorecendo a formação de inúmeras colônias gregas. Esse processo de dispersão e colonização ficou conhecido como Primeira Diáspora Grega. A chegada dos dórios marca o início de outro período da história da Grécia Antiga, o Homérico, que se estendeu até o século VIII a.C. No decorrer desse período, a vida urbana na Hélade diminuiu, dando lugar a pequenas comunidades formadas por grandes famílias: os genos. Esse período recebe o nome de Homérico porque as fontes para seu estudo são duas obras atribuídas ao poeta Homero: a Ilíada, que narra a tomada de Tróia, e a Odisséia, que conta o retorno de Ulisses ao reino de Ítaca.

Com a diminuição da vida urbana, desapareceram - em grande parte os traços culturais mantidos até então pelos povos da Hélade. A escrita, por exemplo, deixou de existir. Três séculos depois, surgiria uma nova forma de registro escrito, baseado no alfabeto fenício. Só então os versos cantados por Homero ganhariam forma definitiva.


Período Homérico: os genos

A base social da Grécia após o século XII a.C. passou a ser O genos, ou seja, a reunião em um mesmo lar de todos os descendentes de um único antepassado, normalmente um herói ou semideus. O genos, muitas vezes constituído por centenas de pessoas, era comandado por um único chefe. O poder era transmitido do pai para o filho mais velho. Mantinha-se um culto aos antepassados e uma justiça própria, baseada nos costumes. Cada membro, chamado de gens, dependia da unidade familiar, e o grupo, como um todo, gozava de grande autonomia política. Essa autonomia política era sustentada por uma certa independência econômica. Nessa época, a economia grega se resumia à arte de administrar os bens da casa. A família era auto-suficiente, espécie de organização fechada que pouco necessitava de contatos exteriores. À propriedade dos bens de produção era centralizada na figura do chefe do genos. O trabalho era coletivo; quem se recusasse a trabalhar era expulso da família. Todas as tarefas eram, por isso, valorizadas e nenhuma considerada humilhante. A produção era distribuída igualitariamente, o que impedia a diferenciação econômica dos membros do genos. Só se recorria ao trabalho de escravos ou de artesãos em casos excepcionais: quando a família era pouco numerosa ou não dominava determinada técnica de produção.

A economia do genos era basicamente agropastoril. Família rica era família com terra fértil, pois garantia o sustento cotidiano e ainda conseguia armazenar produtos para tempos difíceis. O excedente possibilitava ainda contratar artesãos, comprar escravos e mercadorias de Valor, que eram acrescidas ao tesouro da família. Uma forma de aumentar as riquezas era dedicar-se às guerras, à pirataria e aos saques. Geralmente, eram os mais jovens que se dedicavam a essas atividades. Apesar de uma distribuição igualitária dos bens produzidos, a organização social do genos perpetuava certa diferenciação, determinada pelo grau de parentesco com o chefe do genos: quanto mais distante o grau de parentesco, menor a importância social. No plano político, o poder do chefe do genos estava fundamentado no monopólio de fórmulas secretas, que permitiam contato com os ancestrais e os deuses protetores da família. 


Transformações nos genos

Com o tempo, 0 genos começou a encontrar dificuldades para manter sua organização econômica e social. Por causa de técnicas rudimentares, a produção passou a crescer em ritmo menor que o da população. A utilização de terras menos férteis, a especialização das áreas de produção, o uso de mão-de-obra suplementar e a busca de produtos específicos foram alternativas para o problema, mas não conseguiram evitar por muito tempo a diminuição da renda familiar e q surgimento de manifestações de descontentamento. 

Outro problema que surgiu foi a tendência do genos em dividir-se em núcleos menores. Ao romper os laços familiares, o genos tornava-se mais frágil. A divisão acontecia em virtude da pressão dos parentes mais distantes por melhores condições de vida e também do descontentamento de alguns com a rotina do genos.  Essas condições somadas levaram à desagregação do genos. Nesse processo, os parentes mais próximos do chefe do genos foram beneficiados e os mais afastados acabaram preteridos. Primeiro foram desmembrados os bens móveis, como gado, escravos, metais, vasos e armas. Depois, o local de moradia: a casa, antes espaçosa para abrigar toda a família, começou a dar lugar a habitações menores. Por fim, começou a ser dividido o bem principal: a terra. A passagem para uma nova organização esbarrava, no entanto, em alguns limites. Em certas regiões, a terra não podia ser dividida ou repassada para quem não tivesse pertencido ao antigo genos; em diversas propriedades, os membros do genos preservavam o sistema de rodízio da terra.


As consequências das mudanças

A desintegração do genos teve consequências radicais. Aumentaram, por exemplo, as diferenças sociais. Surgiram grandes proprietários de terras férteis ao lado de pequenos proprietários de terras pouco férteis; e formou-se um grande grupo de indivíduos que perderam a propriedade ou tinham lotes insignificantes, por causa de sucessivas divisões por motivo de herança. O grupo dos que pouco ou nada possuíam formou uma camada marginal, errante, que vivia de míseros salários e esmolas. A melhor alternativa era dedicar-se a outras atividades que não a agrícola, como a artesanal, o comércio e a pirataria.

No plano político, a desintegração do genos fez o poder do chefe diluir-se entre os parentes mais próximos, os eupátridas (filhos do pai ou os bem-nascidos). Essa elite passou à monopolizar os equipamentos de guerra, a justiça, a religião, enfim, todos os instrumentos de poder. Consolidava-se assim a aristocracia grega, cujo poder seria sustentado pela posse da terra, principal fonte de riqueza daquela época.


Período Arcaico: surge a pólis

Os genos, conforme suas afinidades culturais, agrupavam-se em irmandades denominadas fratrias. O objetivo principal das fratrias era aumentar a segurança das famílias. As fratrias, por sua vez, agrupavam-se em tribos. Enquanto o poder esteve centralizado nos genos, nas fratrias ou nas tribos, as cidades gregas não passaram de associações políticas temporárias. A desagregação da estrutura tradicional e a diluição do poder entre os eupátridas provocaram o surgimento de instâncias de poder superiores às dos antigos organismos — surgia a pólis ou cidade-estado, organização típica da Grécia Antiga. Com a centralização do poder nos organismos administrativos da pólis, as cidades passaram a ser O centro da sociedade grega, lugar para onde a população confluía e reforçava seus laços de identidade. Ao mesmo tempo que as pólis se consolidavam, ocorria a passagem da economia gentílica para a urbana. No começo, as atividades estavam ainda impregnadas de características da antiga estrutura gentílica, mas já traziam embriões da poderosa economia grega dos séculos seguintes.


Segunda Diáspora Grega

Por volta de 750 a.C., os gregos começaram a estender seus domínios por diversas regiões do Mediterrâneo. Essa expansão territorial se prolongou por quase dois séculos e ficou conhecida como Segunda Diáspora Grega. Os fenômenos sociais que a provocaram estão também relacionados ao processo de transformação social e econômica dos genos. Com a desintegração das grandes famílias, os parentes mais novos ou desfavorecidos começaram a deixar o lugar de nascimento para ocupar novas áreas, ou mesmo tentar a conquista de poder em sociedades distantes da Hélade.  Com o crescimento da população, a expansão passou a ser uma importante alternativa, pois aliviava a pressão demográfica. Em terras distantes, os gregos podiam produzir gêneros alimentícios que faltavam nas comunidades da Hélade; assim como consumir os excedentes produzidos — vinho e azeite, por exemplo. O progresso técnico foi importante para a conquista de novas terras. Nessa época, ocorreram melhorias consideráveis nas condições de navegação, como o aperfeiçoamento dos barcos e o uso da âncora. No final do século VIII a.C. foi desenvolvido o trirreme, embarcação com capacidade para duzentos homens. Ao mesmo tempo, a travessia dos mares ficou facilitada pelo declínio do poderio fenício na Ásia. 


As áreas colonizadas

O primeiro movimento de expansão das cidades gregas aconteceu em direção ao Oriente. A Trácia, ao norte do mar Egeu, foi uma das primeiras áreas a ser ocupada, por causa de seus campos com cereais e vinhas e de suas montanhas com florestas e minas de ouro e prata. Em seguida, a colonização estendeu-se à rota dos estreitos que conduzem ao mar Negro. Abidos, no atual estreito de Dardanelos, e Bizâncio, hoje Istambul, logo se tornaram cidades mercantis.

A colonização do mar Negro representou para os gregos uma nova experiência. Habituados aos limites do mar Egeu, viram-se na grande aventura de ocupar uma região sem ilhas e açoitada por violentas tempestades. Logo surgiram na região diversas colônias, como Odessa, Tânais e Quersoneso. Elas protegiam a rota do Oriente e enviavam às cidades da Hélade cereais, madeira, peixes, frutas, etc. A expansão para o sul do Mediterrâneo, por sua vez, foi dificultada pela existência de impérios poderosos. Mesmo assim, os gregos estabeleceram-se na ilha de Chipre e fundaram no delta do rio Nilo, no Egito, a cidade de Náucratis, com o consentimento dos faraós. A oeste do Egito, surgiu Cirene. Em direção ao Ocidente, a partir de 750 a.C,, os gregos fundaram diversas cidades na península Itálica. Essa área de colonização ficou conhecida como Magna Grécia; e seus núcleos mais importantes foram Síbaris, Crotona e Tarento, no golfo de Tarento; Messina e Siracusa, na Sicília; Possidônia, Nápoles e Cumas, na costa do mar Tirreno.

Pouco mais a oeste, os gregos ocuparam o sul da Gália, onde fundaram Marselha, Nice, Antibes e Mônaco. A colonização da península Ibérica foi dificultada pela presença dos fenícios em Cartago. A expansão grega foi iniciativa de grupos sociais insatisfeitos com as condições de vida nas comunidades gregas. No início, o planejamento era mínimo e as ocupações realizavam-se quase que ao acaso. Com o tempo, entretanto, as pólis passaram a se interessar por essas ações; e a expansão tornou-se um empreendimento do Estado, com regulamentação específica. Os colonos partiam então sob o comando de um chefe, o oikiste, acompanhado de sacerdotes e adivinhos. As áreas escolhidas deviam ser favoráveis à navegação e à defesa, como baías profundas e penínsulas recortadas. Para se fixar, os colonizadores muitas vezes tinham de enfrentar habitantes nativos. Nesses casos, a prática dos gregos variou conforme o poderio de suas expedições, a resistência e o grau de desenvolvimento das populações locais. Quase sempre, quer pelo emprego da força quer por sua persuasão, os colonizadores gregos conseguiam se estabelecer.

A colonização era iniciada pela ocupação da área costeira. Ao desembarcar, os gregos realizavam um ritual religioso e delimitavam a área de ocupação; a terra era dividida em lotes e distribuída entre os participantes da expedição. Cumprida essa etapa, iniciava-se a ocupação do interior. Com as pólis de origem, os colonos gregos mantinham mais laços culturais do que políticos. Os vínculos eram completados pelo intercâmbio econômico. As áreas de colonização mantinham perfil agrário, mas em alguns locais desenvolveram-se atividades artesanais e comerciais, que tornaram mais dinâmica a economia grega.

Você quer saber mais?

ARRUDA, José Jobson de A; PILETTI, Nelson. Toda a História: História Geral e História do Brasil-9º edição. São Paulo: Ed. Ática, 1999.

AZEVEDO, Gislane Campos; SERIACOPI, Reinaldo. História: Volume Único. São Paulo: Ed. Ática, 2011. 

VAINFAS, Ronaldo; FERREIRA, Jorge; FARIA, Sheila de Castro; CALAINHO, Daniela Buono. História.doc. São Paulo: Ed.Saraiva, 2015.

JÚNIOR, Alfredo Boulos. Coleção História: Sociedade & Cidadania. São Paulo: FTD, 2004.

COTRIM, Gilberto. História Global: Brasil e Geral-8º edição. São Paulo: Editora Saraiva, 2005, pg.71.

COTRIM, Gilberto; RODRIGUES, Jaime. Historiar- 2º ediçaõ. São Paulo: Editora Saraiva,  2015, pg.206-209.

VICENTINO, Cláudio; DORIGO, Gianpaolo. História para Ensino Médio: História Geral e do Brasil. São Paulo: Editora Scipione, 2005.
REZZUTTI, Paulo. D.Pedro I:  A história não contada. O homem revelado por cartas e documentos inéditos. São Paulo: Leya, 2020.



Primeiro Reinado

A proclamação da independência

As medidas de D. Pedro desagradaram as Cortes portuguesas, que reagiram reduzindo a autoridade do príncipe regente. Informado do fato, no dia 7 de setembro de 1822, em passagem por São Paulo , D. Pedro formalizou a independência do Brasil. O príncipe recebeu o apoio das camadas médias urbanas e da aristocracia rural, que pretendiam garantir privilégios e manter as camadas populares longe do processo de independência. Em outubro,ele foi aclamado imperador do Brasil, tornando-se D. Pedro I. 

A independência, contudo, não foi imediatamente aceita em todas as regiões do Brasil. Nas províncias do Maranhão, Grão-Pará, Piauí e Pernambuco, em parte da Bahia e na Província Cisplatina, havia uma grande concentração de militares, grandes comerciantes e altos funcionários portugueses, que se recusaram a aceitar a ruptura com Portugal e decidiram resistir. 

No Piauí, por exemplo, ocorreu a Batalha do Jenipapo. Em um único dia, 13 de março de 1823, às margens do Rio Jenipapo, onde hoje se situa o município de Campo Maior, a população sertaneja piauiense, armada com instrumentos agrícolas, enfrentou as forças portuguesas, que se enfraqueceram e se retiraram da região após os sertanejos invadirem o acampamento militar português e se apoderarem de armas, munições, dinheiro e bagagens. Para lutar contra os aliados das Cortes, as tropas do Brasil também tiveram de intervir. Além disso, D. Pedro I contou com a colaboração de mercenários britânicos, que foram contratados para combater as províncias rebeldes, como foi o caso da Bahia. Somente um ano após a independência, a unidade territorial do Brasil foi concluída. O primeiro país a reconhecer a independência do Estado brasileiro foram os Estados Unidos, seguidos da Grã-Bretanha. Portugal só reconheceu a emancipação do Brasil em 1825, em troca de uma indenização no valor de 2 milhões de libras esterlinas.

A organização do Estado brasileiro

Como você deve saber, a atual organização do Estado brasileiro foi definida pela Constituição Federal, promulgada em 5 de outubro de 1988. De acordo com ela, o Brasil é uma república federativa presidencialista formada por estados, municípios e um Distrito Federal.

 O Estado brasileiro está organizado em três poderes: o Executivo, Legislativo e o Judiciário. O Poder Executivo é exercido pelo presidente da república, que é, ao mesmo tempo, chefe de governo e chefe de Estado, o Poder Legislativo é representado pela Câmara dos Deputados e pelo Senado, que formam o Congresso Nacional. O Poder Judiciário é exercido por tribunais e por outros órgãos da justiça, como o Supremo Tribunal Federal (STF). 

O Estado brasileiro, porém, nem sempre teve essa organização. Além disso, comparado à França e ao Reino Unido, por exemplo, o Brasil é um Estado nacional criado muito recentemente. Isso porque, antes de 1822. Não existia um Estado brasileiro, mas sim um território português em terras americanas, regido pelas instituições de Portugal. 

A declaração de independência instituiu um novo Estado que precisava de um governo organizado, da criação de símbolos nacionais (bandeira, hino, brasão, selo nacional), do desenvolvimento de um sistema administrativo e tributário, de um conjunto de leis etc. Assim, a principal tarefa das lideranças políticas do Brasil após a independência era criar instituições para o seu funcionamento. 

Dessa forma, em 1823 ocorreram eleições para a Assembléia Constituinte, que deveria elaborar a primeira Constituição do Brasil. As eleições, por meio do voto censitário e indireto, deram a vitória a 88 constituintes, entre eles padres, advogados, proprietários de terras, militares e comerciantes. 

Os interesses políticos em jogo

As discussões entre os deputados constituintes foram marcadas por divergências políticas entre dois principais grupos: o dos partidários e o dos adversários do imperador. Os partidários de D. Pedro I defendiam a implantação de uma monarquia forte, com o poder centralizado no imperador. Já deputados adversários propunham a limitação da autoridade do imperador pelo Parlamento, proposta que recebeu o apoio de alguns poucos republicanos. Em setembro de 1823, ficou pronto o projeto da Constituição, que tinha um conteúdo liberal e impedia o imperador de dissolver a Câmara dos Deputados. Descontente com a redução de seus poderes e preocupado com as pressões liberais que vinham das ruas e dos jornais, em novembro do mesmo ano D. Pedro I ordenou o cerco da assembléia pela tropa imperial e decretou a dissolução da Constituinte, o que gerou uma disputa entre ele e a elite que o apoiou no processo de independência. Esse acontecimento ficou conhecido como Noite da Agonia. 

A Constituição de 1824

Dissolvida a Constituinte, D. Pedro I reuniu um Conselho de Estado para redigir a primeira Constituição do Brasil, outorgada em março de 1824. A primeira Carta Magna brasileira conciliava os interesses das elites com o autoritarismo do imperador, como é possível observar abaixo. 

    • Sistema e forma de governo: Estabeleceu a monarquia como forma de governo e criou quatro poderes: Executivo, Legislativo, Judicial e Moderador. Este último, exclusivo do imperador, permitia nomear senadores e dissolver a Câmara dos Deputados. 

    • Eleições: Determinou a eleição dos deputados e senadores pelo voto indireto, censitário e permitido apenas aos homens livres maiores de 25 anos de idade. 

    • Educação e religião: Estabeleceu o ensino primário gratuito a todos os cidadãos e definiu o catolicismo como religião oficial do Estado.  

    • Direitos e garantias individuais: Estabeleceu a tolerância religiosa, a liberdade de expressão, a proteção à propriedade e a igualdade dos cidadãos perante a lei. 

A Constituição ainda baniu os crimes mais cruéis, bem como dividiu território em Províncias, ainda administradas por  presidentes nomeados pelo imperador que não tinham um tempo fixo de mandato, podendo ser afastados ou pedir afastamento a qualquer momento.

Você quer saber mais?

ARRUDA, José Jobson de A; PILETTI, Nelson. Toda a História: História Geral e História do Brasil-9º edição. São Paulo: Ed. Ática, 1999.

AZEVEDO, Gislane Campos; SERIACOPI, Reinaldo. História: Volume Único. São Paulo: Ed. Ática, 2011. 

VAINFAS, Ronaldo; FERREIRA, Jorge; FARIA, Sheila de Castro; CALAINHO, Daniela Buono. História.doc. São Paulo: Ed.Saraiva, 2015.

JÚNIOR, Alfredo Boulos. Coleção História: Sociedade & Cidadania. São Paulo: FTD, 2004.

COTRIM, Gilberto. História Global: Brasil e Geral-8º edição. São Paulo: Editora Saraiva, 2005, pg.71.

COTRIM, Gilberto; RODRIGUES, Jaime. Historiar- 2º ediçaõ. São Paulo: Editora Saraiva,  2015, pg.206-209.

VICENTINO, Cláudio; DORIGO, Gianpaolo. História para Ensino Médio: História Geral e do Brasil. São Paulo: Editora Scipione, 2005.

REZZUTTI, Paulo. D.Pedro I:  A história não contada. O homem revelado por cartas e documentos inéditos. São Paulo: Leya, 2020.