A Questão do Paleoíndio
Pedro
Ignácio Schmitz
As
periodizações locais e regionais no Brasil apresentam algumas controvérsias por
se basearem em diferentes pressupostos, métodos ou dados.
Para
que possamos nos localizar no tempo e no espaço faremos abaixo uma tabela de
comparação entre os nomes das periodizações usadas de uma forma geral e os
nomes americanos aproximadamente correspondentes:
Periodização
Geral
|
Periodização Americana
|
Paleolítico
(Inferior, Médio e
Superior)
|
Período Lítico
(Pré-Pontas e Paleolíndio)
|
Mesolítico
|
Período Arcaico
|
Neolítico
|
Período Formativo
|
Conceitua-se
Paleoíndio a cultura que possui os seguintes elementos: populações que teriam
vivido predominantemente da caça de megafauna, sítios principalmente de
matança, artefatos identificadores usados como facas, raspadores e raspadeiras,
ambiente frio e seco, populações pouco
numerosas, dispersa e nômade. O Período Arcaico por sua vez caracteriza-se por
uma cultura de adaptação ao clima pós-glacial e que buscava novos recursos
alimentares de forma geral e diversificada.
O
nome Tradição Itapirica criado pelo PRONAPA, a partir de material da Bahia,
designa um complexo tecnológico que data cerca de 9.000 à 6.500 anos a.C, sendo
que em alguns lugares teria alcançado datas mais recentes, predominantemente
dentro do Holoceno mas com elementos paleoíticos que ultrapassavam o período e
talvez o ambiente característico do Pleistoceno, daí a ideia de chama-lo de
Paleoíndio Defasado.
Nesses
sítios a alimentação era baseada na caça generalizada e no consumo de produtos
vegetais, sua localização se dava em
abrigos rochosos, grutas e cavernas. Esta cultura arqueológica também se
estende em Goiás de 9.000 a 6.000 a.C.
A
fase Paranaíba, de Goiás caracteriza-se por uma cultura arqueológica em que as
pontas de projétil estão ausentes, não podendo assim ser chamadas de Pré-pontas.
Atualmente pesquisas ainda nos revelam
que as culturas arqueológicas dos caçadores das savanas tropicais têm como
identidade a unifacialidade de seus artefatos.
A
dúvida que resta é que esses materiais não contêm elementos paleolíticos
suficientes para adequar- se ao conceito de Paleoíndio no Brasil Central.
Pré-história
da Região do Parque Nacional Serra da Capivara
Anne-Marie
Pessis
O
Parque Nacional Serra da Capivara localiza-se no sudeste do Estado do Piauí. O
clima da região hoje é semi-árido mas em épocas pré-históricas predominava um
clima tropical úmido que se estendeu até cerca de 12.000 anos atrás, permitindo
o desenvolvimento de uma grande vegetação.
Existem
evidências de que a presença humana nesta região remota 50.000 anos dado que autora nos mostra
seguir a mesma linha de raciocínio da arqueóloga Niède Guidon. Por outro lado
há também evidências da presença humana no sítio arqueológico Monte Verde que
datam 33 mil anos. Ainda não é possível precisar as vias de penetração do
continente nesse período, nem construir teorias que expliquem o processo do
povoamento americano.
Comprova-se
através de vestígios que durante milênios essa região teria uma única cultura
material . Possuíam como habitação lugares abertos próximos a fontes de água
independentemente do grau de nomadismo ou sedentarismo. Foram encontradas nas
paredes do Parque Nacional uma grande quantidade de pinturas rupestres com
representações de animais muito diversificadas.
A
partir de 10.000 anos as transformações climáticas afetaram a sobrevivência dos
grupos humanos, as populações ali instaladas desde o Pleistoceno iniciaram um
novo período cultural que perdurou de 12 mil á 3.500 anos AP ( Tradição
Nordeste e Agreste).
A
Tradição Nordeste (12 mil a 6 mil anos AP) desenvolveu uma cultura material
mais aperfeiçoada se comparada com seus antecessores. Aparece o uso de
instrumentos feitos de sílex que eram mais duráveis, surge o polimento do material lítico, introduzindo
o uso da queima da argila para fabricação de cerâmica. Sua característica mais
importante é a arte rupestre marcada por três estilos baseados na organização
social dos grupos da Tradição Nordeste:
1
Estilo Serra Capivara: pinturas homogenias relacionadas com a vida, caça e
mitos.
2
Estilo De Transição Serra Talhada: o aumento da população gerou variedades de
grupos e rivalidade entre eles fato testemunhado pelos temas violentos nas
pinturas.
3
Estilo Serra Branca: os grupos da Tradição Nordeste já tinham suas
características étnicas bem diferenciadas e procuravam expressar essa diferença
pintando ornamentos próprios de sua etnia.
A Tradição Agreste (10.500
a 3.500 anos AP) esse povo surge na
região do Parque Nacional com uma cultura diferente, sua técnica de arte
rupestre era grosseiramente pintada.
Em 3.500 anos aparecem os
primeiros agricultores ceramistas na região.
Os
mais Antigos Caçadores-Coletores do Sul Do Brasil
Pedro
Augusto Mentz Ribeiro
Os
mais antigos caçadores-coletores da região sul do Brasil, seriam os componentes
da Tradição Umbu e Humaitá. Devido as paisagens abertas e fechadas encontradas
no sul brasileiro, afirma-se que a Tradição Umbu e Tradição Humaitá apresentam
traços característicos peculiares a cada uma delas, o que lhes diferencia.
Permanecem
discussões sobre qual das duas tradições teria sido a primeira a penetrar na
América e no sul do Brasil. Mas através das datações obtidas, acredita-se que a
primeira teria sido a Tradição Umbu na qual encontrava-se nesta área em torno
de 12.000 a 7.000 anos AP, sendo que a Tradição Humaitá só chegaria ao sudeste
do Paraná e ao nordeste do Rio Grande do Sul a partir de 7.000 anos AP. Entretanto,
não dispõem-se de dados, que poderiam referir-se aos caminhos percorridos por
ambas tradições antes de chegar ao sul do Brasil.
Tradição Umbu
Os
habitantes que formaram essa tradição conviveram com uma fauna extinta composta
por tatu- gigante, tigre-dentes-de-sabre, mastodontes e etc.
A cultura material desta
tradição, está dividida em :
I
Período – O mais antigo, que vai de 6.000 à 11.500
anos AP, ocorreu no sudoeste e na encosta do planalto sul do Rio Grande do Sul.
II
Período – Datado de 6.000 AP, a cultura material irá
surgir na encosta do planalto, centro e leste do Rio Grade do Sul.
III
Período – Datado de 6.000 AP até mais ou menos a época
da conquista, 575, já será possível encontrar em toda a região a indústria
pré-cerâmica Umbu.
O
que vai indicar um aumento populacional e uma melhor adaptação ao meio
ambiente, será a sofisticação na tipologia de pontas, os aterros nas áreas
alagadiças, a adoção de cerâmica e o aumento de sítios arqueológicos com grande
quantidade de material.
Foram
os únicos a ocuparem áreas alagadiças, que no verão propiciaram melhor coleta
de moluscos e caça de rãs, cuícas e etc.
Utilizavam
a técnica de lascamento e polimento para obter seus instrumentos líticos,
dominavam o lascamento por percussão direta
e indireta (bipolar) e pressão.
A
Tradição Umbu possui como material característico a pedra lascada (furadores,
raspadores, pré-formas bifaciais, facas bifaces), pedra utilizada (bigorna,
polidores), pedra matéria corante (fragmentação de laterita com e sem sinais de
utilização), ossos (furadores, agulhas, anzóis), dente (canídeo, tubarão) e as
conchas que eram utilizadas na fabricação de discos de colar.
A
arte rupestre encontrada no sul do Brasil, são atribuídas aos portadores desta
tradição, quase todas estas manifestações são encontradas na encosta dos
planaltos, foram produzidas utilizando a técnica de alisamento e picoteamento.
Usam motivos geométricos, bimorfos (pegadas) e puntiformes.