O trabalho que se segue é uma exposição clara da falta de
respeito e responsabilidade das autoridades envolvidas em testes com armamentos
nucleares tanto no passado, quanto no presente. E nós como historiadores não
podemos deixar eventos como o ocorrido com o navio pesqueiro Fukuryu Maru (Dragão Feliz) serem esquecidos. O perigo nuclear está presente
hoje tão vivo quanto estava na década de 1950, do século passado, a diferença é
a aparente estabilidade das grandes nações nucleares, mas elas mesmas são
cientes de quão tênue é está paz, que negam-se a desfazerem-se de seus
arsenais. Sendo os Estados Unidos o líder com 13 mil ogivas (ICBM’s - intercontinental
ballistic missile) em mísseis, seguido da Rússia com 10 mil ogivas em mísseis
(ICBM’s). Compete agora a cada leitor do Construindo História Hoje, tirar suas próprias
conclusões a respeito do perigo nuclear.
“A comovente história de um
pequeno barco de pesca japonês e seus 23 tripulantes, vítimas de uma catástrofe
inesperada (...) com efeitos de significação para todo o mundo em toda parte.”
Pouco antes do alvorecer do dia 1° de março de 1954, o barco
japonês de pesca de arrasto Fukuryu Maru
(Dragão Feliz) vagava com os motores parados pelas águas clamas do Pacífico
Central. Tinha lançado suas linhas de pesca de atum pela última vez e não
tardaria a rumar para seu porto de Yaizu, 200 quilômetros ao sul de
Tóquio.
De repente os céus se incendiaram a oeste e um grande clarão
de luz amarelo-esbranquiçada se esparramou de encontro às nuvens. Foi como se a
transição gradual da noite para a aurora tivesse sido afastada bruscamente para
que se inundasse de luz o oceano. A cor mudou para um vermelho-amarelo e
finalmente para uma bola de chama vermelho-alaranjada no horizonte. O
vistoso espetáculo parecia um sol poente, sendo, porém várias vezes mais
brilhante, embora não o fosse bastante para magoar a vista.
Na ponte, o mestre-de-pesca Yoshio Misaki fitou sem
acreditar o estranho espetáculo. A tripulação subiu para o tombadilho, falando
excitadamente.
__O Sol está nascendo no ocidente! __ exclamou um dos
homens.
Disse outro:
__Não será um pika-don?
O termo é novo na
língua japonesa. Nascido no terror em
Hiroshima compõe-se das palavras “trovão” e
“clarão”.
O comandante Hisakichi Tsutsui, que dormia no seu
beliche, reagiu devagar. Quando se reuniu a Misaki, na ponte, a cor a oeste mal
se distinguia. A escuridão voltara. Reinava completo silêncio.
Alguns minutos depois o barco estremeceu como se tivesse sido sacudido por baixo e um grande ruído o
envolveu, parecendo vir ao mesmo tempo de cima e de baixo. Aterrorizados,
alguns homens se atiraram ao chão e cobriram a cabeça.
Os oficiais tiveram uma rápida conferência. Em seguida
Misaki deu a ordem:
__Ligar os motores e recolher as linhas.
Os homens trabalhavam depressa ansiosos por deixar
aquelas águas.
O radiotelegrafista Aikichi Kuboyama de 39 anos era um
dos mais velhos dos 23 homens da tripulação. Tinha também fama de ser o mais
inteligente. Provou isso calculando a velocidade do som. Haviam transcorrido
quase sete minutos desde que viram o clarão até que ouviram o estrondo. A
multiplicação desse tempo pela velocidade do som daria a distancia entre o
navio e a explosão.
O resultado aproximado foram 140 quilômetros ---- e os
cálculos de Misaki com o sextante indicaram que o navio se encontrava a 137
quilômetros a lés-nordeste do Atol de Biquíni, nas Ilhas Marshall. Não podia
haver: dúvida: o clarão brilhante viera de Biquíni.
Umas duas horas
depois o céu começou a mudar de aspecto, como se um grande nevoeiro estivesse
se formando. Os homens que estavam trabalhando no
tombadilho ficaram espantados a principio quando começaram a cair minúsculas partículas de uma cinza arenosa.
__Parece o começo de uma tempestade de neve --- disse um
deles.
De repente vários tripulantes começaram a sentir dor nos olhos. O guincheiro Sanjiro passou a mão pelo cabelo e
esfregou os olhos ardidos. Alguns dos homens provaram os flocos
cinzentos-esbranquiçados. Uns disseram que era sal, outros que era areia. Todos
concordaram em que era uma coisa muito desagradável.
Pouco depois do meio-dia, todas as linhas tinham sido
recolhidas. A estranha poeira branca havia, afinal, parado de cair, e Misaki
ordenou ao timoneiro que rumasse para o norte. Os tripulantes que estavam
limpando o convés principal verificaram que havia algo de esquisito naquelas
areias brancas: não era fácil removê-las com água. A hora do almoço vários dos tripulantes
manifestaram pouco apetite --- coisa rara, porque eles estavam
sempre famintos depois de trabalhar tantas horas.
Queimaduras, efeitos da Bomba de Hidrogênio nos marinheiros.
Após o almoço os tripulantes foram limpar o equipamento
de pesca. Os
quilômetros de corda molhada pareciam absorver especialmente bem a poeira
branca. A corda foi guardada em
caixas de madeira e estas empilhadas na popa, logo atrás da cozinha.
Na manhã seguinte a tripulação acordou estranhamente
indolente. O
guincheiro Masuda verificou, consternado, que não podia abrir os olhos, pois
tinha as pálpebras grudadas por um grosso corrimento amarelo. O
chefe de máquinas Todashi Yamamoto teve dificuldade em enxergar, quando quis
verificar os manômetros na casa de máquinas. Vários homens tinham enjoado
durante a noite, mas apenas um, cujo beliche ficava na cabina de ré, passara
tão mal que não aguentara o quarto de serviço da meia-noite. Os homens que
tinham pegado nas cordas se queixavam de coceira e ardor na palma das mãos.
Um dos marinheiros deu um pouco daquela cinza branca,
embrulhada num papel, a Kuboyama. O radiotelegrafista, tencionando examiná-la
depois, colocou a cinza debaixo do travesseiro em sua cabina. Ali ficou ela
durante os 14 dias que o Dragão Feliz
levou para chegar ao porto. Outros tripulantes também recolheram um pouco da
estranha cinza; um deles pensou que poderia ser um símbolo de sorte.
No dia 1° de março foi divulgada a seguinte comunicação,
em Washington: “Lewis L. Strauss, Presidente da Comissão de Energia Atômica dos
Estados Unidos comunicou hoje que a Sétima Força Mista Especial detonou um
dispositivo atômico no Campo de Provas da C.E.A. , nas Ilhas Marshall. Esta
detonação foi a primeira de uma série de experiências”.
Perda de cabelo e queimaduras, resultantes da exposição a radiação.
Não fora noticiado antes que a C.E.A. levaria a efeito uma
experiência nuclear na data em questão. A
Junta Japonesa de Segurança Marítima havia recebido uma comunicação no dia 10
de outubro de 1953, aumentando a área interditada em torno do Atol de Eniwetok,
que fora isolada para a experiência da primeira bomba de hidrogênio no dia 1°
de novembro de 1952. Essa área acrescida incluía o
Atol de Biquíni, mas nem o Comandante Tsutsui nem o mestre-de-pesca Misaki
sabiam que Biquíni ia ser o local dessas novas experiências. Na
realidade, o Dragão Feliz, no ponto em que mais se aproximara da zona perigosa,
ainda ficara mais de 30 quilômetros para além de seu limite oriental. Ao que tudo indica,
ventos de grande altitude arrastaram a nuvem da bomba na direção oposta à que
esperavam os técnicos das provas.
Aconteceram coisas curiosas durante a viagem de volta
daquele pequeno barco de pesca ao seu porto. A tripulação da casa de máquinas
subia constantemente ao tombadilho, queixando-se de estar passando mal. Todos os homens
ficaram com um aspecto terroso, como se estivessem seriamente queimados de sol.
O guincheiro Masuda disse aos companheiros de cabina que seu
sentia febril. Quando o contramestre Masayoshi Kawashima coçava a cabeça, seu
cabelo caía. Espantado,
puxou o cabelo e um punhado dele ficou-lhe na mão.
Marinheiro Sangiro Masuda, do Fukuryu Maru.
Isso fez soar uma campainha na mente de Kuboyama. Sua tia
estava em Hiroshima quando a bomba atômica foi lançada, e ele se lembrava de
que a queda de cabelo era um efeito ulterior da “doença da bomba atômica”. Kuboyama
e Misaki conversaram sobre a possiblidade de uma relação entre a doença da
tripulação e a estranha cinza que tombara do céu.
Logo que o “Dragão
Feliz” atracou em Yaizu, no dia 14 de março, seu proprietário notou que a
tripulação estava escura. E, quando o mestre-de-pesca lhe falou na doença dos
homens, concordou que deviam ir imediatamente para o Hospital.
O Dr. T. Ooi, médico do hospital não conseguiu explicar o
aspecto dos homens. Masuda, o mais gravemente afetado, apresentava queimaduras
no rosto e nas mãos, mas todos estavam com boa disposição. Um dos pescadores
opinou que haviam sido atingidos pelo que lhes pareceu uma explosão de uma
bomba atômica. Mas como a luz não fora ofuscante, o médico concluiu que deviam
estar a uma distância segura; se assim não fosse, alguns dos homens já teriam
morrido. Alarmado, e com razão, concordou, não obstante, em mandar dois dos
tripulantes para Tóquio a fim de serem examinados por um especialista em
doenças provocadas por emanações radioativas. Foram escolhidos Masuda, por
causa de suas graves queimaduras, e o maquinista Yamamoto, que apresentava a
contagem de glóbulos brancos mais baixa.
Na manhã de 16 de março, terça-feira, o Yomiuri Shimbun,
um dos maiores jornais do Japão, dava este furo, em manchete, de
um lado a outro de sua primeira página:
TESTE
DE BOMBA ATÔMICA EM BIQUÍNI ATINGE PESCADORES JAPONÊSES.
23
Homens Sofrendo de Doença Atômica
BOMBA
DE HIDROGÊNIO?
Alertada pela notícia do jornal (cujo ponto de partida
fora a indicação de um estudante de 17 anos que tinha parentes em Yaizu), a
Divisão Sanitária da Prefeitura de Yaizu pediu ao Dr. Takanobu Hiokawa que
fosse ao hospital e ao cais da cidade e verificasse se havia radioatividade. No hospital, o Dr. Shiokawa colocou o contador Geiger perto da cabeça de um dos
tripulantes. O homem estava radioativo! Como não devia estar então o
barco de pesca?
O Dr. Shiokawa correu para o cais. Estava ainda a 30 metros do Dragão Feliz e já o
contador Geiger começara a tiquetaquear aceleradamente. Nunca o Dr. Shiokawa encontrara radioatividade tão
forte. O navio se encontrava superlotado de jornalistas, e, quando o Dr.
Shiokaw abriu caminho através do tumulto, ficou evidenciado que a principal
fonte de radioatividade estava localizada em algum ponto acima do compartimento
de ré da tripulação. Era ali que os rolos de corda se achavam empilhados.
Estavam intensamente radioativos. Durante toda a longa viagem de volta os
homens da cabina de ré tinham dormido debaixo de uma poderosa fonte de
irradiação.
Atum contaminado com radiação.
Yaizu não foi à
única cidade japonêsa a ser presa de nervosismo por causa da radioatividade. Em
Osaka, o Dr. Yasushi Nishiwaki, professor de Biofísica na universidade local,
foi chamado ao mercado central para ver se tinham sido mandados peixes de Yaizu
para lá. Encontrou um atum que fez seu contador Geiger chocalhar com uma
contagem alta. Os presentes murmuraram, com espanto: “Os peixes estão
chorando!” --- e dali por diante o peixe radioativo passou a ser chamado “peixe
chorão”. As autoridades descobriram que umas cem pessoas haviam comido peixes contaminados. O medo invadiu a cidade
e todos deixaram imediatamente de comprar peixe. Ao saber-se que o peixe fora
eliminado do regime alimentar do Imperador, a história espalhou-se por todo o
Japão. Alguns industriais do pescado foram levados à falência.
Entrementes, os
médicos que cuidavam dos marinheiros lutavam contra o tempo para descobrir o
conteúdo da cinza. Podiam recorrer a dados médicos oriundo do
estudo de milhares de sobreviventes de Hiroshima e Nagasaqui. Mas o que tornava
então confusa a situação era a presença de radioatividade residual. O cabelo do guincheiro Masuda, por exemplo,
estava ainda tão radioativo que um pouco dele colocado sobre um filme
fotográfico reproduzia no filme revelado uma imagem perfeita, como se tivesse
sido fotografado com luz comum. Mesmo depois de se terem lavado e esfregado
bem, os pescadores conservavam certa radioatividade na pele. Isso era algo sem
precedentes na Ciência Médica.
Médico verifica o nível de contaminação em marinheiro do Fukuryu Maru.
Por esse tempo foram divulgadas informações semi-oficiais
sobre a tremenda explosão. O Deputado James Van Zandt, do Comitê Misto Sobre Energia
Atômica do Congresso dos Estados Unidos, declarou que a bomba de hidrogênio que
explodira em Biquíni possuía um incrível poder de destruição. A explosão
equivalera ao rebentar de 12 a 14 milhões de toneladas de TNT --- era mil vezes
mais forte do que a bomba atômica de Hiroshima.
Aquela altura, todos os pescadores tinham sido
transferidos para dois hospitais de Tóquio. Verificou-se que estavam sofrendo
de uma redução do nível de glóbulos brancos e vermelhos do sangue e, para
combater a anemia, fizeram-se repetidas transfusões. Ministraram-lhes
antibióticos para aumentar sua resistência. Como as células sexuais são muito
sensíveis à radiação, durante os meses de abril e maio os pescadores ficaram
completamente estéreis.
Ao chegar à primavera, os doentes se sentiram mais
animados com cicatrização das lesões da pele e o renascimento dos pelos do
corpo. Isso foi um bom sinal, porque com doses quase letais de radiação pode
ocorrer perturbação permanente do crescimento do pelo. Parecia que os homens
estavam sarando. O Japão inteiro respirou mais aliviado, também, quando os
Estados Unidos comunicaram, em meados de maio, que as experiências de 1954 com
as bombas, em Biquíni, haviam terminado.
Mas o enigma persistia: que eram as “cinzas da morte”, as shi no hai que tinham caído sobre o
Dragão Feliz? Duas vezes foi feita esta pergunta por cientistas japoneses a
representantes norte-americanos, e duas vezes, por motivos de “segurança
nacional”, ela deixou de ter resposta. Na terceira vez, Merril Eisenbud,
Diretor do Laboratório de Saúde e Segurança e perito em poeira atômica, deu
esta enigmática resposta.
__Perguntem ao Dr. Kimura.
O Dr. Kenjiro
Kimura, brilhante radioquímico da Universidade de Tóquio, havia trabalhado em
1939 com o físico japonês Yoshio Nishina na desintegração do átomo de urânio e
na produção de um tipo até então desconhecido, que denominaram urânio-237. O
Dr. Kimura e uma equipe de 16 membros, juntamente com outros grupos de cientistas
japoneses, passaram a trabalhar dia e noite na análise da cinza de Biquíni. Não
tinham dúvida quanto ao fato de que o grosso da radioatividade da cinza era
causada por átomos de urânio desintegrados. Era inevitável que o Dr. Kimura e os outros cientistas descobrissem a
verdade sobre a bomba. Não se poderia esperar que o homem que descobriria o
urânio-237 deixasse de nota-lo
quando fosse posto diante dos seus olhos.
Pela primavera de 1954 os cientistas
japoneses tinham decifrado o enigma: a bomba de Biquíni era uma
superarma numa embalagem de três em um.
Primeiro estágio consistia numa espoleta comum de bomba atômica, que por sua vez fazia detonar um segundo estágio e
provocava a fusão de átomos de hidrogênio. Essa reação da bomba de
hidrogênio liberava então um dilúvio de nêutrons de
alta energia que provocava o rompimento de uma camisa de urânio. No
processo, produzia-se o urânio-237 como denunciador subproduto.
Uma vez conhecida a natureza da cinza radioativa, puderam
os cientistas japoneses avaliar a quantidade de radiação a que os pescadores
tinham estado expostos. Calcularam que os tripulantes que estavam trabalhando
no convés durante a manhã do dia 1º de março podiam ter, até ao meio-dia, recebido até 100
roentgens (medida de radiação ionizante) de radiação. (Uma dose
letal vai de 300 a 700 roentgens.) Dali
por diante a exposição devia ter diminuído de dia para dia.
O Dragão Feliz não foi o único navio pulverizado com
chuva atômica. Dez
navios de guerra norte-americanos encontravam-se nas imediações, a 50
quilômetros de Biquíni, para observar a detonação, numa área que se
considerava segura. Cerca de uma hora após se ter espalhado a enorme nuvem em
forma de cogumelo, os oficiais notaram que o vento estava arrastando para o
lado deles resto de nuvem. Os contadores Geiger do tombadilho começaram a
funcionar. Na mesma hora os navios foram “abotoados”, isto é, todos os
marinheiros desceram, depois de prenderem as escotilhas e vigias e cobrirem os
respiradouros de bordo. Grandes quantidades de água foram espalhadas sobre os
navios por meio de mangueiras e esguichos especiais para lavar a contaminação
radioativa. Durante metade de um dia as tripulações suaram lá embaixo. Afinal, decidiu-se
que já se podia “desabotoar” os navios sem perigo, e homens com roupas de
borracha, capuzes e máscaras foram limpar a poeira caída que a cortina
protetora de água não tinha lavado. Assim a C.E.A. e o Departamento de Defesa dos Estados Unidos
ficaram conhecendo, poucas horas depois da experiência, as dimensões e a intensidade
da chuva atômica. Mas nenhum aviso foi
irradiado para os navios que se achavam nas imediações, provavelmente porque os
lábios das pessoas participaram da experiência estavam selados por motivos de
segurança.
Aikichi Kuboyama, a vítima fatal da atrocidade com o Fukuryu Maru.
Em setembro, os tripulantes japoneses sofreram um choque
terrível; morreu o seu querido
companheiro, o radiotelegrafista Kuboyama. Com tantas transfusões de sangue
tinham aumentado as probabilidades de hepatite infecciosa. Embora os
outros não tardassem a sarar dos ataques de icterícia, a de Kuboyama persistira. Na noite de
20 de setembro ele parecia estar sofrendo muito; foi chamada a sua família. Em
dado momento gritou:
“Sinto como se meu
corpo estivesse sendo queimado com eletricidade.”
Kuboyama morreu no
dia 23.
Ao saberem de sua morte, as tripulações de inúmeros
barcos de pesca e navios, no mar, enviaram mensagens de pêsames para o
hospital. No dia seguinte o Embaixador
dos Estados Unidos enviou uma nota ao Ministro dos Negócios Estrangeiros do
Japão, com um cheque de um milhão de ienes em favor da Sr.ª Kuboyama, “como
prova de solidariedade do povo e do governo norte-americano”. (mais tarde
foi-lhe acrescentado um milhão e meio).
Familiares de Aikichi Kuboyama.
No dia 20 de maio de 1955, os 22 tripulantes tiveram
altas dos dois hospitais de Tóquio onde haviam passado mais de um ano. Tinham
pela frente um futuro incerto: já não aguentariam o pesado trabalho de um barco
de pesca. Dedicaram-se, então, a
ocupações como agricultura e comércio; apenas dois voltaram ao mar, e assim mesmo
em navios de treinamento. Pouco depois, os Estados Unidos ofereceram ao Governo Japonês dois milhões
de dólares --- ex gratia, isto é, sem
que o oferecimento importasse no reconhecimento de qualquer culpa --- dos quais
cada membro da tripulação recebeu cerca de 5.000; o restante se destinou ao
pagamento de suas despesas de hospitalização e tratamento e dos prejuízos
causados à indústria do atum pela chuva atômica.
O que aconteceu aos 23 pescadores a bordo do Dragão
Feliz, naquela fatídica manhã de março, foi
um pequeno exemplo do perigo radioativo que seria desencadeado por uma guerra
nuclear. Quando
homens que se encontram a uma distância de 160 quilômetros da explosão podem
ser mortos pelo silencioso toque de uma bomba, revela-se o terrível poder de
destruição do átomo desintegrado. A bomba que explodiu em
Biquíni foi uma arma nova e revolucionária. Mas se não fosse o acidente do
Dragão Feliz, o mundo poderia encontrar-se ainda na ignorância quanto à
natureza dessa arma e à sua significação para todos os homens.
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