Armênios deportados em marcha.
O
Genocídio Armênio, 1915-1923.
Em 1913 os Jovens Turcos
ficam irritados com o fato de as grandes potências novamente se ocuparem da reforma
e da Questão Armênia, ainda mais por esta estar sendo tratada de acordo com os
interesses dos armênios, em consequência do entendimento entre Alemanha e
Rússia. “Se vocês armênios não esquecerem estas reformas, algo acontecerá que
fará os massacres de Abdul Hamid parecerem brincadeira de criança”.
Em novembro de 1914 o Império otomano entrou na I Guerra Mundial ao lado dos Poderes centrais (Tríplice Aliança). O ministro de
guerra Enver Pasha desenvolveu um plano para cercar e destruir o exército russo do Cáucaso e Sarıkamış, para recuperar
territórios perdidos para a Rússia após a guerra Turco-Russa de 1877-1878. As
forças de Enver Pasha foram encaminhadas para a Batalha de Sarikamish e quase completamente destruídas.
Retornando à Constantinopla, Enver culpou publicamente sua derrota devido aos armênios que
viviam na região ao lado dos russos.
Jovem armênia morta no deserto de Alepo.
O início do plano do genocídio começou com o desarmamento da
população armênia. A dificuldade de se chegar a
informações precisas do que estava acontecendo em terras vizinhas favoreceu um
cenário em que o governo mentia um acordo com o governo armênio, e que as armas
deveriam ser entregues nas igrejas para que fossem recolhidas. Algumas pessoas
influentes faziam esse pedido ao povo, sobre o pretexto de que a Turquia
entraria em paz com a Armênia se seus habitantes se desarmassem. Logo em seguida
começou a completa censura aos serviços postais estrangeiros, estava cessada a comunicação no campo
de batalha e na Turquia todas as cartas enviadas deveriam passar pela aprovação
de um órgão do governo. No início a única forma de comunicar ao resto do mundo
o que acontecia na Ásia Menor era por meio dos cônsules de outros países
instalados na Turquia e Armênia, o que poucos anos depois também foi censurado
pelo governo turco.
Soldados do Império Turco otomano enforcam cristãos armênios.
O
Batalhão Trabalhista, 25 de fevereiro.
No dia 25 de fevereiro de
1915 o ministro de guerra Enver Pasha enviou uma ordem a todas as unidades militares dizendo que os armênios nas forças ativas otomanas
deveriam ser desmobilizados e inscritos no desarmado Batalhão Trabalhista (em
turco: amele taburlari). Enver Pasha explicou essa decisão como um “medo de que
eles colaborassem com os russos”. Como de costume, o exército otomano descartou
homens não-muçulmanos só entre 20 e 45 anos no exército. Os mais novos (15-20)
e mais velhos (45-60) não-muçulmanos sempre foram usados como suporte logístico
nos batalhões trabalhistas. Antes de fevereiro alguns dos recrutas armênios
foram utilizados como trabalhadores (hamals), embora esses também acabariam
assassinados.
Crianças nas marchas forçadas para fora da Turquia.
Transferindo recrutas armênios de campo ativo (armado) para passivo,
o setor de logística desarmada foi um aspecto importante do subsequente
genocídio. Muitos desses
recrutas armênios foram executados pelas gangues turcas locais.
Eventos
em Van, Abril de 1915.
Em 19 de abril de 1915,
Jevdet Bey exigiu que a cidade de Van imediatamente entregasse-lhe 4.000
soldados sob o pretexto de conscrição. No entanto, era claro para a população
armênia que seu objetivo era massacrar os homens aptos à guerra de Van para que
não houvesse defesa. Jevdet Bey já havia usado seu decreto em vilarejos
próximos, aparentemente para procurar por armas, o que se tornou um grande
massacre. Os armênios ofereceram quinhentos soldados para e dinheiro para pagar
a isenção para os outros em busca de ganhar tempo, entretanto, Jevdet acusou os
armênios de uma “rebelião” e falou em sua determinação em “aniquilar” a
qualquer custo. “Se os rebeldes atirarem um único tiro”,
disse ele, “vou matar todo homem cristão, mulheres e [apontando para o joelho]
toda criança até essa altura”.
Abril de 1915. armênios escoltados por soldados turcos marchando da cidade de Mamüret-Ul Aziz (Kharberd - Kharpert para os armênios, atual Elazığ) para um campo de prisioneiros.
Em 20 de Abril de 1915 o
conflito armado da Resistência de Van começou quando uma mulher armênia foi
assediada e dois homens armênios que vieram socorrê-la foram mortos por
soldados turcos. Os defensores armênios protegiam 30.000 residentes e 15.000
refugiados em uma área de cerca de um quilometro quadrado com 1.500 homens
armados que eram abastecidos com 300 rifles, 1.000 pistolas e armas antigas. O
conflito durou até que o General Yudenich (comandante do exército russo) fosse
socorrê-los.
Detenção
e Deportação de Armênios notáveis, Abril de 1915.
Desde 1914 as autoridades
otomanas já haviam começado um meio de propaganda para descrever armênios que
viviam no Império Otomano como uma ameaça à segurança do império. Um oficial
naval otomano descreveu o plano:
“Para justificar
esse grande crime requisitamos material de propaganda cuidadosamente preparada
em Constantinopla. Os armênios estão conspirando com o inimigo. Eles vão
começar uma revolta em Istambul, matar os líderes do Comitê de União e
Progresso e abrirão os estreitos (de Dardanelles, ao noroeste da Turquia)”.
Na noite de 24 de Abril de
1915 o governo otomano capturou e
prendeu aproximadamente 250 intelectuais e líderes de comunidades Armênios,
este evento ficou conhecido como Domingo Vermelho.
O
Domingo Vermelho, 24 de Abril de 1915
As detenções começaram na
noite de 24 para 25 de Abril, entre 235 e 270 líderes armênios da
Constantinopla, sacerdotes, médicos, editores, jornalistas, advogados,
professores, políticos, entre outros foram presos após uma instrução do
Ministério do Interior. Em uma segunda “remessa” o número de presos subiu para
aproximadamente 550.
Oficial turco exibindo um pão, para provocar crianças armênias famintas (1915).
A maioria das deportações
era da capital. No fim de Agosto de 1915 cerca de 150 armênios com
nacionalidade russa foram deportados da Constantinopla para Ancara e Mudshur.
-
Genocídio Armênio?
“Genocídio” segundo o Webster é
a “deliberada e sistemática destruição de um grupo racial, político ou
cultural.”. O Genocídio Armênio foi o período sombrio da história da Armênia. Entre 1915 e 1923
mais de UM MILHÃO E MEIO de armênios foram brutalmente mortos pelo Governo
Turco Otomano.
"Um Genocídio
não ocorre de forma aleatória. Ele é o fruto da intencionalidade deliberada de
um governo, Estado ou instituição organizada – partidos políticos, por exemplo
– que tenha meios para infringir uma minoria étnica, nacional, racional ou
religiosa um estado físico ou mental de degradação. A definição passa
impreterivelmente pela qualificação do extermínio daquele grupo específico, e
não outro qualquer, pelas mãos dos que teriam o dever ético, moral e jurídico
de protegê-los. E ainda, o Genocídio ocorre pela inação da comunidade
internacional, que toma um papel passivo na prevenção e sanção dos crimes
contra a humanidade. Destarte, a impunidade de um ato genocida incentiva outro.
Perpetradores percebem que nada se faz aqueles que infringem minorias a
condições degradantes. Cria-se uma espécie de jurisprudência genocida
universal, onde um algoz perpetrador aprende e se legitima com e no outro. Para
Peter Balakian, a sistemática ausência de punição aos responsáveis atua na
psicologia social do grupo do qual os perpetradores pertencem, legitimando
massacres e genocídios."
Conflitos Armados, Massacres e Genocídios. LOUREIRO, Heitor
Mapa representando as deportações.
Armênia: localização geográfica.
-
Quem foi?
Os principais responsáveis
pelo Genocídio foram os integrantes do partido Comitê União e Progresso, entre
eles os Jovens Turcos. Entre os nomes mais influentes estão o ministro do
interior Talaat Pasha (1915-1918) e Enver Pasha (1920-1923).
-
Por quê?
Armênios, turcos e curdos
conviviam no território do Império Otomano na Ásia Menor. A Turquia, com o
declínio do Império Otomano, começava a perder territórios invadidos na Europa
e, com o início da 1ª Guerra Mundial, temiam perder também o território ocupado
historicamente por armênios. Além disso, o território armênio era colocado
entre a Rússia e Turquia, o que interessava a ambos pela posição estratégica de
guerra.
-
Como começou?
O Governo Jovens Turcos
implantou a política do Pan-turquismo. O objetivo era implantar no território
do Império otomano a raça puramente turco-descendente e limpar da região outros
tipos de raça, em um discurso muito parecido com o que seria utilizado no
Holocausto alguns anos depois.
-
Como aconteceu?
No dia 24 de Abril de 1915,
250 líderes e intelectuais foram presos em Constantinopla. A partir de então
tropas turcas invadiram cidades e obrigaram famílias armênias a deixarem suas
casas em caravanas com destino a desertos, principalmente aos da Anatólia e
Der-el-Zor. Centenas de milhares de armênios foram deportados de suas casas e
suas cidades foram destruídas. Milhares morreram no caminho por assassinatos
das tropas, milhares morreram executados em campos de concentração, milhares
morreram queimados, milhares morreram enforcados, milhares morreram jogados
amarrados ao rio Eufrates, mas muitos milhares morreram de inanição, a morte
por total falta de água e alimento.
-
Por que ninguém fez nada?
A estratégia do governo turco
era muito bem arquitetada. As mortes longe de casa, em locais de difícil
acesso, a inanição e atestados de “mortes por causas naturais” além da censura
aos meios de comunicação, dificultaram a exposição internacional do que estava
acontecendo. Além disso, as potências européias estavam envolvidas na I Guerra
Mundial, com a atenção desviada para este conflito, era o cenário perfeito.
-
O que diz o governo turco?
Até Hoje o governo turco
recusa-se a aceitar o acontecimento do Genocídio contra os armênios. Entre
diversas desculpas vazias o governo toma medidas autoritárias para sustentar o negacionismo, como o banimento de todos os
filmes de Arnold Schwarzenegger da Turquia por este ter declarado que
reconhecia o Genocídio Armênio e até a criação do artigo 301, que considera
criminoso quem denegrir o governo turco e suas instituições ou ofender
publicamente a identidade turca.
-
Qual a luta dos armênios?
A luta de milhões de armênios e
não-armênios ao redor do mundo hoje é pelo reconhecimento das atrocidades
cometidas pelos Jovens Turcos durante o Genocídio Armênio. Mais de 20 importantes países reconhecem que
aconteceu um genocídio entre os anos de 1915 e 1923, porém nessa lista não
figura o Brasil. Todos os anos no dia 24 de Abril e no domingo
mais próximo são feitas manifestações e rememorações às vitimas do genocídio em
São Paulo e em outras cidades brasileiras, com o objetivo de informar o
acontecido e pedir o reconhecimento brasileiro e turco. Como diria um movimento
Armênio de 2005, "Não há ódio, só mágoa".
Quem reconhece
Países
Venezuela
(2005)
Vaticano
(2000)
Uruguai
(1965 e 2004)
Suíça
(2003)
Suécia
(2000)
Rússia
(1995)
Polônia
(2004)
País
Basco (2007)
Países
Baixos (2004)
Lituânia
(2005)
Líbano
(1997)
Itália
(2000)
Grécia
(1996)
França
(1998,2000 e 01)
Eslováquia
(2004)
Curdistão
(1997)
Chipre
(1982)
Chile
(2007)
Canadá
(1996,2002 e 04)
Bélgica
(1998)
Armênia
(1995)
Argentina
(2004)
Alemanha
(2005)
42
dos 50 estados dos EUA
Organizações
Internacionais
Associação
Cristã de Moços (YMCA)
Associação
dos Acadêmicos em Genocídio
Centro
Internacional para Justiça Transicional
Congregação
para Reforma do Judaísmo
Conselho
Mundial das Igrejas
Corte
Internacional de Justiça
Liga
Antidifamação
Liga
dos Direitos Humanos
Mercosul
Parlamento
Europeu
Sub-comissão
de Proteção e Promoção dos Direitos Humanos da ONU
Tribunal
Permanente dos Povos
Cidades
e Estados da Federação brasileira
Estado
de São Paulo (1989 e 2003)
Estado
do Paraná (2013)
Estado
do Ceará (2006)
Cidade
de São Paulo - SP (2007)
Campinas
- SP (2011)
Fortaleza
- CE(2005)
São
José do Rio Preto - SP (2006)
Personalidades
Papa João Paulo II
Hillary Clinton, secretária
americana
Vladmir Putin, presidente
russo
Jacques Chirac, ex-primeiro
ministro francês
Nicholas Sarkozy, ex
presidente francês
Youri Djorkaeff, futebolista
francês
Vladimir Kramnik, campeão
mundial de xadrez
Ian Gillan, ex-vocalista do
Deep Purple
Emir Kusturica, cineastra
sérvio
Alexey Leonov, astronauta
sérvio
A banda System of a Down (Serj Tankian, Daron
Malakian, Shavo Odadjian e John Dolmayan)
Gérard Depardieu, ator
Hollywoodiano
Hasan Cemal, neto de Djemal
Pasha, perpetrador do Genocídio
Zhores Alferov, prêmio Nobel
em Física
Steve Wozniak, cofundador da
Apple
Alain Delon, ator francês
Arnold Schwarzenegger, ator
americano
Barack Obama, apenas enquanto
candidato
Kim Kardashian, pop star
americana
Aracy Balabanian, atriz
brasileira
Stepan Nercessian, ator
brasileiro
Charles Aznavour, cantor
francês
*Continua
na próxima postagem!
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