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quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

A expressão “Pura e Santa Virgem Maria” empregada nos Artigos de Esmalcalde. PARTE I.


Santa Maria. Imagem: Santo Antonio Jaguara.

1.Consulta

A Comissão de Teologia e Relações Eclesiais (CTRE) foi indagada a respeito da expressão “pura e santa Virgem Maria”, empregada por Lutero nos Artigos de Esmalcalde. Parece que a indagação visa obter o posicionamento das Confissões Luteranas sobre a Virgem Maria.

2. Colocações da CTRE

2.1 – Esclarecimento histórico: A CTRE entende que a nota 36, colocada ao pé da página 311 do Livro de Concórdia e preparada pelo Rev. Prof. Arnaldo Schueler, oferece clara explicação histórica do emprego da expressão “pura e santa Virgem Maria” por Lutero. Ressalta o Prof. Schueler que, por um lado, a expressão foi usada contra a concepção dos “antidicomarianistas (pessoas que pretendiam não haver Maria ficado virgem após o nascimento de Jesus e ter tido outros filhos de seu marido José).” Por outro lado, o Prof. Schueler considera que “fica aberta (indecidida) a questão do sentido de “pura” nas Confissões Luteranas, isto é, se significa sem relações sexuais ou livre de pecado original.” 

2.3 – Referências a Maria nas Confissões Luteranas: Nas Confissões Luteranas Maria aparece em dois contextos. Por um lado, Maria é mencionada em conexão com o tema “Da Invocação dos Santos” (apologia, Art. XXI). Quanto a este ponto, porém, Melanchthon é claro:

Ainda que é digníssima das honras mais excelsas, ela não quer, todavia, que a igualemos a Cristo. Quer antes que consideremos e sigamos os exemplos dela. Mas a própria realidade diz que na persuasão pública a bem-aventurada Virgem de todo sucedeu no lugar de Cristo. Os homens a invocaram, confiaram na misericórdia dela, por ela quiseram reconciliar a Cristo, como se esse não fosse o propiciador, senão apenas horrendo juiz e vingador. Nós outros cremos,entretanto, não se dever confiar que os méritos dos santos nos são aplicados, que em virtude deles Deus é reconciliado conosco, ou nos reputa justos, ou nos salva. Pois obtemos a remissão dos pecados somente pelos méritos de Cristo, quando nele cremos. (Livro de Concórdia: As Confissões da Igreja Evangélica Luterana, Trad. E Notas de Arnaldo Schueler, São Leopoldo e Porto Alegre, Sinodal e Concórdia, 1980, p. 247).

Por outro lado, as Confissões Luteranas mencionam Maria mais frequentemente em conexão com a doutrina “Do Filho de Deus” (Confissão de Augsburgo, Art. III; Artigos de Esmalcalde, Primeira Parte, Item 4) e “Da Pessoa de Cristo” (Fórmula de Concórdia, Epítome, VIII; Declaração Sólida, VIII). As expressões usadas são as seguintes: “pura Virgem Maria,” “bem-aventurada Virgem Maria,” “pura e santa Virgem Maria,” “Mãe de Deus,” “laudatíssima Virgem Maria,” “Maria, a Virgem laudatíssima.” Pelo contexto de todos os lugares em que estas expressões são usadas fica evidente que os confessores não procuram formular alguma doutrina referente à Maria, porém a respeito do Filho de Deus, particularmente a respeito da doutrina das duas naturezas. Portanto, em todas estas passagens, a Virgem Maria é mencionada como sendo o instrumento humano pelo qual o “Deus Filho se fez homem” (Livro de Concórdia, p. 30; cf. pp. 64, 312, 525, 635, 638-639). De forma que, semelhante ao que ocorreu no Novo Testamento, as referências a Maria nas Confissões Luteranas visam a glorificação de Cristo e não de Maria. Porto Alegre, 26 de outubro de 1980. 

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