Vinte anos depois de sua criação, a rede mundial de computadores, world wide web, criada por um cientista como uma forma simples de dividir informações com colegas, já percorreu um longo caminho.
Foi um milagre acidental que cresceu sem muita orientação de comitês, governos ou corporações.
Mas agora a rede está à beira de outra transformação. Rory Cellan-Jones, jornalista especializado em tecnologia da BBC, conversou com cientistas que estão tentando prever e até guiar o futuro da web.
Veja abaixo algumas dessas previsões.
Rede mais inteligente
Quer chamemos de rede semântica ou rede de dados interligados, os cientistas acreditam que agora estão construindo uma rede muito mais inteligente.
Ao colocar mais dados online e depois “ensinando” a rede a entendê-los e questioná-los de novas maneiras, eles esperam oferecer aos usuários um recurso muito mais inteligente.
“Pense na rede como um grande banco de dados descentralizado contendo de tudo, desde o horário de trens e lugares para comer a sites que informam onde encontrar a melhor oferta. O que a rede vai oferecer é um sistema de buscas muito mais refinado, será uma rede com ‘grãos mais finos’”, disse o pesquisador Nigel Shadbolt, da Universidade de Southampton.
A ideia é que quando alguém fizer uma busca como “próximo trem para Manchester”, em vez de aparecerem várias páginas com informações referentes a trens para Manchester, a rede traga ao usuário uma resposta real. Mas, claro, só se os dados estiverem disponíveis na web.
Shadbolt faz parte de uma campanha liderada pelo criador da rede, Tim Berners-Lee, para convencer o público e órgãos privados a disponibilizar a maior quantidade possível de dados online.
A rede ‘onipresente’
Nós pensamos na rede como algo que acessamos por meio de um browser, usando um teclado.
Mas, de acordo com outra cientista da Universidade de Southampton, Wendy Hall, isto está prestes a mudar: “Vamos conseguir acessar a internet onde quer que estejamos, fazendo o que for, quase sem precisar de nenhum aparelho. Poderemos vê-la por nossos óculos, ou por meio de algum visor que passaríamos a usar”, por exemplo.
A cientista acredita que o browser vai desaparecer e que vamos interagir com a rede por meio de aplicativos, como muita gente já faz com os chamados smartphones.
Objetos nas nuvens
E não apenas as pessoas estarão online.
Mais e mais objetos - como carros, monitores cardíacos e sensores em nossas casas - estarão conectados à internet, contribuindo para um crescente fluxo de dados.
Onde serão armazenados todos esses dados? Na “nuvem”, claro, ou, em outras palavras, nos enormes bancos de dados sendo construídos pelos super poderes da web, como a Google e a Microsoft.
“Em certo sentido, a rede está se tornando um grande computador”, disse Andrew Herbert, à frente do laboratório da Microsoft em Cambridge.
A rede de celulares
Está claro que o futuro da rede está nos celulares – e para a maioria dos bilhões de pessoas que se juntarem a ela nos próximos anos, sua primeira experiência de acesso à web será por telefone celular.
Um dos grandes pensadores da indústria de celulares, Benoit Schillings, da empresa Myriad Software, afirma que isso vai nos tornar ainda mais dependentes da rede.
“Nós partimos do princípio de que é algo que temos conosco o tempo todo. Então quando você perde o seu telefone, se torna um desastre – é agora uma parte essencial de como seres humanos funcionam.”
Mas Schillings afirma que as limitações de uma rede de celulares, em comparação com os dados sendo baixados por uma linha fixa, significa que pesquisas em áreas como compressão de informação se tornam ainda mais vitais.
Uma rede sustentável?
Então, como podemos garantir que esta rede inteligente, móvel e penetrante possa continuar crescendo sem engolir o planeta?
O pesquisador Andy Hopper, da Universidade de Cambridge, lidera um programa chamado Computação pelo Futuro do Planeta.
Ele está otimista com o que a rede pode fazer.
“É um marca-passo para o planeta, uma parte indispensável para a nossa civilização”, diz ele.
Mas ele agora está procurando meios para que tecnologias de computação possam ser usadas para controlar ou reduzir suas pegadas de carbono.
Um de seus alunos, por exemplo, está tentando criar um monitor pessoal de energia que use a nova “rede de objetos” para juntar todos os tipos de informação de sensores online que monitoram o uso de energia.
Mas, quanto mais a rede crescer, maiores serão as ameaças a sua estabilidade, ou não?
“A piada corrente entre a comunidade de engenheiros é que a internet está sempre à beira do colapso”, afirma Craig Labowitz da Arbor Networks, que monitora o desempenho da rede.
Ele é otimista e acredita que a rede vai continuar “se consertando”, mas afirma que, cada vez mais, isso vai depender das grandes corporações que agora controlam o tráfego.
Nos últimos três anos, afirma Labowitz, a participação da Google no tráfego global da internet aumentou de 1% para 10%.
Quem controla?
O que nos traz à questão crucial: quem controla o futuro da rede? Até agora ela vem crescendo de acordo com os princípios de abertura e parâmetros acertados mutuamente – mas alguns temem o surgimento de uma rede corporativa onde a inovação e a liberdade de expressão serão prejudicados.
“Não há garantias de que ela continuará evoluindo da maneira como é hoje – aberta, gratuita e com parâmetros universais”, afirma Wendy Hall.
“Se você perder isso, ou se os parâmetros forem superados por preocupações corporativas, então a rede vai mudar dramaticamente”, conclui.
Você quer saber mais?
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2010/03/100309_superpowerhawking.shtml
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2010/03/100311_superpower_tailandia_np.shtml
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