Detalhe
do mapa europeu de 1572 do cartógrafo Abraham Ortelius.
“On the ocean that hollows the
rocks where ye dwell,
A shadowy land has appear’d, as
they tell;
Men thought it a region of
sunshine and rest,
And they call’d it ‘O Brazil –
the Isle of the Blest’.
From year unto year, on the
ocean’s blue rim,
The beautiful spectre show’d
lovely and dlim;
The golden clouds curtain’d the
deep where it lay,
And
look’d like an Eden, away, far away.”
Trecho
de um antigo poema irlandês sobre Hy Brazil.
“Hy Brazil” — “Ilha
Afortunada”, no irlandês — aparece na mitologia gaélica irlandesa, cuja lenda
está relacionada a diversos avistamentos por marinheiros de uma porção de terra
encontrada no Atlântico Norte que desaparecia em meio à neblina. Ao longo dos
séculos, a ilha foi deslocada por diversas vezes nos mapas, inclusive chegando
onde seria a costa da América do Sul, em algumas ocasiões.
Considerada como existente
na cartografia européia medieval, Hy Brazil, portanto, nunca teve uma
localização específica.
Aparentemente os cartógrafos
da época, baseados nas lendas e relatos de avistamentos, ficaram confiantes o
suficiente de sua existência para incluírem o local mítico em mapas a partir do
século XIV; como no mapa da Catalunha (1325-1330). A inclusão de Hy Brazil na
cartografia marítima pode ter inspirado diversas viagens e aventuras malfadadas
que ocorreram até o final do século XV.
Mapa
mostrando a localização de Hy Brazil. Detalhe
do mapa catalão de 1350 mostrando a localização de Hy-Brazil. (imagem de Donald
Johnson, “Ilhas Fantasma do Atlântico” )
A ilha aparece na mitologia
irlandesa muito antes da data oficial do descobrimento de Vera Cruz (Brasil).
Assim, como é possível verificar nos trechos abaixo, algumas vertentes
históricas atribuem que o nome “Brasil” tenha sido dado em decorrência da
lendária ilha e não da árvore Pau Brasil, visto que durante os séculos
seguintes, a fantasiosa porção de terra já era conhecida na Europa.
Para Roger Casement, não
existe a menor dúvida que tanto os livros escolares, enciclopédias e
dicionários como os brasileiros indagados individualmente estavam cometendo um
engano. ‘Por mais estranho que possa parecer, o Brasil deve o seu nome não à
abundância de um certo pau-de-tinta, mas à Irlanda. “A distinção em nomear o grande
país da América do Sul, eu acredito, pertence seguramente à Irlanda e a uma
antiga crença irlandesa tão remota como a própria mente celta'”. — Geraldo
Cantarino.
“Assim, tal qual Duarte
Pacheco que, com sua etimologia selvagem havia dado à madeira ibirapitanga dos
indígenas o nome de brisilicum, frei Vicente também contribuía, à sua maneira,
para obscurecer a origem mítica do nome Brasil. De erros em enganos foi-se
sedimentando a assimilação do vocábulo brasa ao nome Brasil, perdendo seu
significado primitivo como metonímia do Outro Mundo dos celtas atlânticos.” — Ana Donnard.
Hy
Brazil em mapa de 1572
Mapa
europeu de 1572 do cartógrafo Abraham Ortelius.
Histórias sobre o lugar
vinham circulando por toda a Europa durante séculos, alegando que era a Terra
Prometida dos Santos, um paraíso terrestre onde seres puros viviam. Mas
supostamente Hy Brazil era cercada por uma névoa espessa, escondida dos olhos
dos mortais. Na mitologia celta, ela aparecia a cada 7 anos, mas não era
possível alcançá-la, pois a mesma desaparecia sempre que uma embarcação se
aproximava. Entretanto, o monge irlandês São Brandão alegou descer na ilha,
considerando-a o Éden.
As buscas pela Hy Brazil
tiveram ápice entre os anos de 1300 e 1500, sendo patrocinadas por inúmeros
monarcas. Ainda que outras ilhas míticas da época tenham sido descobertas, a
ilha fantástica nunca foi encontrada.
Tradução
do poema:
“No
oceano que esculpe as rochas onde moras,
Uma
terra enigmática apareceu, é o que contam;
Os
homens a consideraram uma região de luz e descanso,
E
a chamaram de O’Brazil, a ilha dos Bem-Aventurados.
Ano
após ano, na margem azul do oceano,
A
linda aparição se revelava encontadora e suave;
Nuvens
douradas encortinavam o mar onde ela se encontrava,
Parecia
um Éden, distante, muito distante.”
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