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segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Concepção do Estado Integral. Capitulo III. Summario: Estado Liberal, Estado Sovietico, Estado Integral.

* A Grafia original foi mantida.

Podemos definir o Estado como o apparelhamento político-administrativo da Nação. Modernamente, á luz da realidade, projectam-se dentro do Direito Publico três unicas formas de Estado que são: o Liberal, o Socialista (soviético) e o Totalitario (typo fascista italiano). Continuemos a linha que traçamos a este estudo. Encaremos agora estas diversas formas estataes.

1.° -Estado Liberal. – Si retrocedermos ao capitulo 1.°, paragrapho 3.° deste trabalho, lá encotraremos dito que o liberalismo político e que informa a contextura geral do Estado Liberal, nasceu de um erro sociológico de Rousseau, quando plasmou elle na mentalidade revolucionaria dos precursores, dos realizadores, dos continuadores do pensamento da Revolução Franceza, - que a Sociedade é uma situação dos homens no espaço contraria á Natureza. Nascendo deste postulado sociologista a forma de governo baseada na representação política, modelo suffragio universal, por cer4to que desta doutrina, mais cedo ou mais tarde, resultaria a hupertrophia de qualquer uma das forças que, como já vimos, rythmizam a vida sócio-economica dos diversos povos. E surgida, e aggravada pelo augmento em annos esta hypertrophia – estariam as diversas sociedades políticas, as Nações , dentro de certo lapso de tempo, em desequilíbrio orgânico, ás voltas com o depauperamento de certas classes e o fausto econômico-financeiro de outras. Aquellas na situação de exploradas; estas na de exploradoras. A’miseria e á fome seguiriam, como corollarios lógicos, as greves, os motins, as revoluções, as guerras...

Negando uma philosophia política que para trás de 1789 (data do período insurrecional da Revolução Franceza) – dera nascimento á hupertrophia social e política de duas classes na sociedade feudal ( a nobreza e o clero) – a principio o povo de Paris e, depois, os demais, com a marcha do pensamento revolucionario encyclopedista, numa derrocada século a dentro, foi tombando thronos aqui, fundando republicas alli ou acolá restringindo o poder dos reis, com cartas constitucionaes votadas pelas assembléas politicas eleitas, sob o critério da soberania popular. Assim firmaram-se, como poderes estataes, o parlamentarismo da 3.° Republica Franceza, o parlamentarismo monárquico inglez, sob o sygno político de Disraeli e Gladstone e o presidencialismo federativo, republicano estadunidense, com Hamilton. No jogo dos partidos viveram as Nações até 1914 – estructuradas, todas quase, no liberalismo democrata. Abolido de começos e meados do século passado o poder despótico da aristocracia feudal- parecia que a Humanidade, de vez, iria encontrar um ambiente de paz, no qual, por muitos annos, pudesse se projectar, futuro a dentro, á linha do Progresso. Tal não se daria, porém.

Porque, a falsidade dos princípios que nortearam o apparecimento da liberal-democracia – haveria de, dentro em pouco, preparar o advento de uma nova exploração da massa popular, mil vezes mais damnosa que todas as que marchetavam a historia até então.

Dentro de algumas décadas de annos, para os postos privilegiados, donde se tinha há pouco arrancado violentamente a realeza, subiriam, não mais nobres, não mais os afortunados de sempre, nem tão pouco representantes lídimos da sonhada soberania popular, mas nova fila de expropriadores, nascidos espuriamente do ventre tumescente da mesma apregoada soberania.

A’ sombra do liberalismo democrata, da sua economia deshumanizada, do seu direito vesgo, da sua cultura agnóstica e individualista – lentamente formou-se , graças ao experimentalismo scientifico do grande século da analyse, criador do technicalismo e do esplendor do Capital – três novas castas de exploradores do povo em cada paiz: os detentores da moeda Metallica, de todos os meios de producção e circulação da riquezas e os seus propostos, os seus agentes nas rédeas dos dfferentes governos – os profissionaes da política; os advogados administrativos dos grandes partidos políticos organizados, mantidos e controlados pela alta burguezia. Accrece aqui, ainda, a imprensa, que, devido ao rythmo de intensidade industrial que se imprimiu a todas as actividades humanas – mantida, paga ou subornada pelo capital, poz-se a serviço dos seus possuidores contra os interreses das Nações.

E asssim, - de posse de todos os meios de producção, senhor dos grandes bancos, elegendo e influindo na escolha dos dirigentes dos diversos governos, opiando as mulidões, graças ás suas rotativas, com um falso jornalismo, com um falso nacionalismo, com falsos preconceitos soiaes; com palavras ocas de sentido, mas pejadas de rhetorica acadêmica, má fé e insinceridade – o Capital, por seus senhores, assenhorous-se do mundo. Plantou a bel-prazer, por toda a parte, a sua dictadura econômica, a sua dictadura financeira e a sua dictadura econômica, a sua dictadura financeira e a sua dictadura policial, Armou exércitos. E armou conflictos internacionaes. Escravizou o trabalho, deshumnizando a vida. Voltou as costas a Deus e aos altares e elegeu como guia supremo de tanta miséria moral, como symbolo de um philosophia de vida : o dollar ou libra esterlina.

Como, porém, se operou, se desenhou tal situação? Penetremos mais profundamente por esta questão a dentro. Alli por volta de 1800 desconbriu-se o tear mechanico. Um dia o homem pensou que poderia pôr as forças da natureza a seu serviço. Seguindo alinha do menor esforço vinha elle desde que appareceu na Terra. Pensou em dominal-a. As sciencias naturaes já tinham, pela analyse, esmiuçado todos os escaninhos da Natureza. E não tendo mais nada para analysar chegou, num desafio ao Creador de todas as cousas, a tentar a explicação da origem da vida por certas e determinadas manifestações de qualquer massa alguminoide. O biologismo se arvorou em vade-mecum daquelles que queriam saber da origem e do fim do Homem. Darwin e Husley ensinavam que os racionaes nasceram de um longo processo de adaptação de certa espécie animal atravéz a longa noite dos tempos. Haeckel inventara mesm o seu Antrotopitecus erectus como o tio-avô da Humanidade e entre o mundo inorgânico e eo orgânico intercalara já a sua monera. Descia-se do rpimado do espírito para o primado da matéria. De permeio as grandes descobertas: - a electricidade, o avião, o sem fio, a televisão... E a mechanica a se aperfeiçoar, a se requintar não mais para o conforto do Homem, mas para promover, em breve, sua escravização ao Capital que de inicio della se apoderou pondo-a a seu serviço. Com Ella nasceu a subdivisão do trabalho. Com isto o operário foi cosido á fabrica pelo seu senhor, como uma simples peça de todo o conjuncto. Parafuso de carne e sangue e aço da própria machina – eis a que se transformou, em começos do século XX, o invento do homem para o homem. Dono do capital,senhor da machina, ainda foi o próprio homem que, esquecido de Deus, se lançou á grande industria na anciã de produzir muito. Tendo conseguido mais esta etapa quis mais ainda.

Sem fronteiras, porque o Capital não tem pátria, os seus donos perceberam que, desta anciã de enriquecimento sem limites, surgiria o choque de sommas - moeda contra moeda – sommas. E deram-se as mãos por cima das fronteiras e dos mares, nasceram os cartels, os trusts. Enquanto isso operava-se a proletização da massa. Dentro de certo tempo, atravéz de uma legislação toda unilateral favorável aos interesses do Capital, - chegar-se ia a este paradoxo – o homem como unidade-trabalho não poderia mais adquirir os productos necessários á vida, e por elle mesmo fabricados, porque o Capital não poderia mais livremente circular. Tornara-se presa de meia dúzia de privilegiados. Dar-se –ia a carência do ouro, padrão monetário, e já então regularizador da troca das mercadoreias, para que as massas proletarizadas, em amioria, não pudessem mais se supprir convenientemente de pão e vestuário.

Começou aqui, então, a crise do Capitalismo. E numa ultima tentativa de salvação de todo o falso systema social por elle engedrado como mechanismo de exploração – garroteou os governos e exigiu de cada qual a guerra tarifaria... Consequentemente, de erro em erro, a retenção dos stocks. A mentira da super-producção. A fome e o frio a castigar as multidões sofredoras. E ainda como conseqüências: a grande guerra de 1914-1918, as revoluções, as crises periódicas dos governos, a subversão completa da vida das nações...

Por volta de 1850 Karl Marx pragnatiza o socialismo utópico de Campanella, de Saint-Simon, de Owen, de Founier, etc, e traça a sua concepção da historia baseada na luta de classes. Affirma, diante do industrialismo nascente na Inglaterra, que a sociedade nada mais era que uma tessitura formada de cima para baixo por três classes distintctas, inimigas entre si, no terreno, econômico. Alta Burguesia, Pequena Burguesia e Proletariado.

Que o motivo de haver exploradores e explorados residia nesta divisão. Que a alta burguezia explorava as duas outras classes – sendo que se servia sempre da egunda – collocando-a na direcção dos governos, nas assembléas publicas, na burocracia, no balcões commerciaes ou nos escriptorios das emprezas como instrumento seu de exploração da grande massa que era formada pela terceira camada: a proletariada. Que esta exploração se dava porque o Capital, cada vez mais, se hypertrophiava, devido ao principio de sobre-valia do trabalho. Essa sobre-valia originava-se do trabaho não pago ao operário, ao assalariado pelo patrão. Que quem trabalhava 8 horas por dia e percebia 8$000 diarios – em 6 horas de trabalho, produzia riqueza que equivalia ás 8 horas de salário ganho; que essas duas horas eram roubadas ao trabalhador. Donde, como solução á questão social – o proletariado de mãos dadas com a pequena burguezia, fazerem a revolução social, isto é, apropriarem –se do capital, de todos os meios de produção; declarar a propiedade um roubo – e implantar o Estado Proletario, em vez do Estado Burguez. O Estado Socialista.

Você quer saber mais?

MELLO, Olbiano de. Concepção do Estado Integralista, Rio de Janeiro: Shmidt-editor, 1935, PP.33-41

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domingo, 27 de fevereiro de 2011

Criação ou Evolução?

Se alguém lhe dissesse que o avião e sua cabine não foram planejados, mas que surgiram assim por si mesmos ou por mero acaso ou como fruto de uma grandíssima explosão! Como reagiria a equipe de engenheiros, designers e técnicos que os construíram?

Consideramos agora essas maravilhas!


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sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Rituais da Ação Integralista Brasileira: O Batismo.

A primeira cerimônia a que o integralista se submetia logo após o nascimento era o batizado integralista, que deveria ocorrer simultaneamente ao batismo cristão.

O ritual previsto para essa ocasião era o seguinte: o integralista deveria comunicar seu desejo de solenizar o batizado de seu filho com o ritual do Sigma, ao Chefe do Núcleo que prestará todo o seu concurso à solenidade. Os pais, os padrinhos e os integralistas convidados deveriam comparecer ao templo vestindo a camisa-verde.

Os “Plinianos” do Núcleo a quem pertenciam os pais deveriam comparecer ao templo, uniformizados, e deveriam colocar-se nas imediações da pia batismal, a distância conveniente.

Todos os integralistas e “Plinianos” presentes ao ato deveriam erguer o braço, em silêncio, no momento em que a criança recebesse a benção do sacerdote.

Ao final do ato religioso, a criança deveria ser envolta na bandeira integralista, e, fora do recinto da igreja, ser apresentada pelo pai ou pelo padrinho aos presentes, com as seguintes palavras:

“Companheiros! (nome da criança), recebeu o primeiro sacramento da fé cristã. Ao futuro pliniano, o primeiro Anauê. Os presentes responderão Anauê. Ao final dessa cerimônia, os plinianos formarão uma ala, de braços erguidos, por onde sairão todos os integralistas do templo.”

Dessa forma, o batizado integralista não anulava o batismo católico, ao contrário, deveria ocorrer simultaneamente ao batismo cristão.

Você quer saber mais?

Cavalari, Rosa Maria Feiteiro. Integralismo: ideologia e organização de um partido de massa no Brasil (1932-1937), Bauru, SP: Edusp, 1999.

Protocolos e Rituais, capítulo X, artigo 155. In: Enciclopédia do Integralismo, vol. XI.

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Rituais da Ação Integralista Brasileira: Casamento.

Nos casamentos existiam rituais para o ato civil e para o religioso.

O ato civil, caso as famílias desejassem, poderia ser realizado na sede do Núcleo a que pertencesse um dos noivos. Se a cerimônia fosse durante o dia, a noiva deveria apresentar-se de blusa verde e o noivo deveria vestir camisa verde e calça branca, e camisa verde e calça preta, se fosse à noite.

Todos os integralistas, homens e mulheres, deveriam comparecer ao ato civil e religiosos vestindo o uniforme do Sigma, revestindo-se de todas as insígnias a que tiverem direto, e, quando os atos fossem solenes, deveriam formar alas por onde passariam os noivos.

As Bandeiras Nacionais e do Sigma deveriam ser colocadas em lugar de destaque na sala onde se realizava a cerimônia, simbolizando o altar da Pátria. Entretanto, se o casamento fosse realizado na Pretoria, as bandeiras só poderiam ser conduzidas para lá com a permissão do juiz.

Ao término do ato civil, após a assinatura do livro competente, a maior autoridade da Província deveria dizer:

“Integralistas! Nossos Companheiros (nomes) acabam de se unir perante a Bandeira da Pátria, assumindo em face da Nação Brasileira as responsabilidades que tornam o matrimônio, não um ato egoístico do interesse de cada um, mas um ato público de interesse da Posteridade, da qual se tornaram perpétuos servidores. Pela felicidade do novo casal, ergamos a saudação ritual em nome do Chefe Nacional. Aos nossos companheiros (nomes) três Anauês. Todos os presentes repetirão três vezes o Anauê.”

No ato religioso, que deveria ser realizado na igreja ou templo, salvo motivo de força maior, a noiva deveria estar vestida conforme a tradição brasileira, isto é como o próprio vestido de noiva, grinalda e véu, trazendo o distintivo integralista do lado do coração e o noivo deveria trajar camisa verde e calça preta.

Quando a cerimônia fosse solene, deveria se realizar da seguinte maneira:

“Os integralistas formarão ala em toda a nave, até o altar-mor, ficando as Blusas-verdes à direita e os Camisas-verdes à esquerda de quem entra. Os Plinianos e Plinianas serão colocados no local mais conveniente, podendo empunhar galhardetes com as cores nacionais e do Sigma. Os membros da família e as autoridades de maior graduação, deverão colocar-se na capela-mór, onde poderão também ficar as pessoas gradas não integralistas.

Tanto no ato civil quanto no religioso, a maior autoridade presente, deverá, de braço erguido, dizer em voz baixa ao novo casal: O Chefe Nacional considera-se presente a esta cerimônia e deseja todas as felicidades ao novo casal.

Voce quer saber mais?

Cavalari, Rosa Maria Feiteiro. Integralismo: ideologia e organização de um partido de massa no Brasil (1932-1937), Bauru, SP: Edusp, 1999.

Protocolos e Rituais, capítulo X, artigo 156. In: Enciclopédia do Integralismo, vol. XI.

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Rituais da Ação Integralista Brasileira: Funeral.

Em relação aos falecimentos, é interessante destacar o caráter de perpetuidade e de imortalidade que se a imprimir à militância e ao Movimento. O integralista era eterno. Isto, é o integralista não morria, era transferido para a milícia do além.

Por ocasião do processo de transferência para a milícia do além, deveria ser obedecido o seguinte ritual:

O caixão deveria ser coberto por uma Bandeira Integralista, podendo, em alguns casos, de acordo com a situação oficial do morto, levar a ainda a Bandeira Nacional. A câmara ardente deveria ser velada por uma guarda de “Camisas-verdes”.

O integralista ao entrar na câmara onde estava sendo velado o companheiro morto, deveria perfilar-se erguer o braço durante dez segundos.

O Chefe Nacional, quando não pudesse comparecer ao sepultamento, seria representado pelo Chefe Provincial ou pelo Chefe do Núcleo a que pertencia o morto.

Segundo seu critério, o Chefe Nacional poderia decretar luto nas fileiras do Sigma por um ou mais dias. Neste período não poderia ser realizada nenhuma reunião de caráter festivo. O sinal de luto, na camisa-verde, seria uma fita de crepe negra cobrindo o Sigma do braço.

O acompanhamento do enterro deveria ser feito pelos integralistas uniformizados e, no cemitério, deveriam proceder à chamada do morto da seguinte maneira:

Os integralistas formarão, alinhados e em silêncio, junto à sepultura, onde já estará colocado o caixão, e a autoridade presente de maior graduação (...) dirá: “Integralistas. Vai baixar a sepultura o corpo do nosso companheiro (nome do falecido), transferido para a milícia do além.” Fará um rápido panegírico do morto, findo o que dirá: Vou fazer a sua chamada; antes porém, peço um minuto de concentração em homenagem ao companheiro falecido.

Ao término desse tempo, deveria dizer: “Companheiro (nome do falecido). Todos os integralistas responderão Presente. No integralismo ninguém morre. Quem entrou neste Movimento imortalizou-se no coração dos camisas-verdes. Ao companheiro (nome do falecido) três Anauês. Todos responderão: Anauê, Anauê, Anauê.”

Nas sedes dos Núcleos ou nos lugares de reunião, a autoridade que estivesse presidindo à sessão deveria proceder à chamada do morto, obedecendo ao mesmo ritual descrito acima.

Você quer saber mais?

Cavalari, Rosa Maria Feiteiro. Integralismo: ideologia e organização de um partido de massa no Brasil (1932-1937), Bauru, SP: Edusp, 1999.

Protocolos e Rituais, capítulo X, artigo 157-162. In: Enciclopédia do Integralismo, vol. XI.

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quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Rituais da Acão Integralista Brasileira: Noite dos Tambores Silenciosos.

Entre os rituais da Ação Integralista Brasileira, acontecia a celebração da Noite dos Tambores Silenciosos previa-se uma cerimônia bastante longa, com mais de três horas de duração, durante as quais juramentos, cantos de hinos e orações em silêncio mesclavam-se a rufar de tambores e declamações de poesia.

Essa cerimônia aconteceu pela primeira vez em 1935, em Blumenau, durante o I Congresso Meridional Integralista e contou com a presença de 40 mil participantes.

Plínio Salgado Referia-se a esse evento da seguinte maneira:

“(...)não se descreve o que foi esse instante em mais de 1600 núcleos, integralistas do Brasil, desde o Oiapoque ao Chuí, desde o litoral ao sertão do oeste. Só quem viu, ouviu e sentiu em Blumenau. Foi um abalo de alma, escutar três minutos os tambores que não rufam mais. Foi um instante de poderoso misticismo, um momento de inefável entusiasmo.”

O ritual que deveria ser seguido para essa ocasião era o seguinte:

I-Ás 21 horas, a autoridade máxima local abre a sessão, sentando-se, porém, na presidência, o integralista mais pobre, mais humilde que representará o Chefe Nacional. Canta-se o Hino Integralista. Faz-se a chamada dos mártires do integralismo e dos mortos do núcleo, respondendo todos: Presente.

II-Procede-se à renovação do juramento e do juramento à Bandeira Nacional;

III-Leitura dos capítulos do Manifesto de Outubro;

IV-Fala um orador. Quando o relógio marcar meia noite em ponto, ergue-se a autoridade que estiver dirigindo os trabalhos e diz: É meia noite. Em todas as cidades da imensa Pátria, nos navios, em alto mar, nos lares, nos quartéis, nas fazendas e estâncias, nas choupanas do sertão, nos hospitais e nos cárceres, os integralistas do Brasil vão se concentrar três minutos em profundo silêncio.

É a “Noite dos Tambores Silenciosos”.

Atenção!

(Uma ou mais caixas surdas batem, devagar, durante esses três minutos).

Os integralistas presentes fazem, mentalmente, a seguinte oração, ou será impressa e distribuída profusamente na reunião, como título de “Oração dos Tambores”:

“Senhor, escutai a prece dos três mil tambores que estão rufando neste instante em todo o mapa da Pátria. Ajudai-nos a construir a Grande Nação Cristã; inspirai-nos nas horas da dúvida e da confusão; fortalecei-nos nas horas do sofrimento, da calúnia e da injustiça; esclarecei nossos inimigos para que eles compreendam quanto desejamos a sua própria felicidade; defendei nosso Chefe e nossa Bandeira e levai-nos ao triunfo, pelo bem do Brasil”.

Decorridos os três minutos, calados os tambores, o presidente da sessão dirá: “Esta cerimônia acaba de ser realizada em todas as cidades e povoados de todas as Províncias do Brasil. O Chefe está falando neste momento na capital do país. A sua voz exprime o pensamento e o sentimento de um milhão de camisas-verdes, vigilantes que montam guarda às tradições da Pátria e cujos corações batem, como um milhão de tambores que nenhuma força poderá fazer calar, porque eles pertencem a Deus e anseiam pela grandeza da posteridade nacional”;

V-Imediatamente após essas palavras, a autoridade que preside à sessão senta-se, e, sem que seja necessário dar a palavra, o melhor declamador,ou a melhor declamadora do núcleo dirá a poesia de Jaime Castro:

A NOITE DOS TAMBORES SILENCIOSOS

Zero hora no cronômetro integral

De toda a imensa vastidão da Pátria

Nas cidades, nos mares, nos sertões,

Um trágico bater de caixas surdas...

É a noite dos tambores silencioso

Três minutos, o rufo no silêncio,

Traduz um grande apelo e um grande choro

E simboliza os nossos corações.

II

A alma da Pátria, inteira está em nós,

Segredando que estamos vitoriosos

Somos neste momento a própria Pátria,

E distinguimos no rumor da voz

Que vem do íntimo da alma dos tambores,

Um soluço de angústia nacional.

III

Há nessas misteriosas ressonâncias

O distante tropel dos bandeirantes

Desbravando as florestas brasileiras;

O balbuciar das tribos aturdidas,

Das feras o rugido, a voz da inúbia

-A voz do Brasil virgem dos Tupis.

IV

Enche nossos atônitos ouvidos

Todo um mundo de sons intraduzíveis

-São as vozes que foram abafadas,

Pelos pulsos de ferro da injustiça.

-As vozes dos patriotas esquecidos,

Dos grandes brasileiros ignorados.

V

Vêm-nos de envolta, qual terrível côro,

Os surdos ais dos negros sufocados,

Estrangulados ao vibrar do látego.

Uma paisagem trágica avassala

O nosso pensamento neste instante

Os campos do nordeste, ressequidos,

Fazem lembrar um panorama d’Africa...

VI

Através desses campos na savanas,

Milhões de brasileiros sofrem fome,

Vemos na dor dessa paisagem morta,

A própria dor dos homens que ali vivem,

O rufo continua. Pelo ambiente

Há um bárbaro tumulto. Os grandes filhos

Do Brasil do passado, estão conosco.

VII

Vago bater de marcha acelerada

Semelhante ao relar de uma cascata,

Ao rugir de um tufão pela floresta,

Aproxima-se. É sempre mais distinto.

Cresce, aumente, reboa, estruge, empolga,

Vem de todos os lados, e recorda,

O espetáculo do encontro do oceano

Com a enorme caudal dos grandes rios.

VIII

Escuta-se uma súbita parada...

São as legiões de farda cor de selva

Que vem se recolher da grande marcha.

Agora á voz do Chefe que escutamos.

Ante as legiões sem fim, ele anuncia

A vitória completa, e, diz que ali

É que começa a verdadeira luta.

Sacode intenso frêmito as legiões;

Fá-las vibrar num ímpeto de júbilo...

IX

E as mãos que se estorciam na angústias

De um século de doida expectativa,

Se ergueram para o céu num arremesso

De alegria, de glória e redenção.

E, entre os muitos milhões de braços

Elevaram-se os braços dos descrentes,

Dos tíbios, dos perversos, dos inúteis;

E a interjição de espanto que tiveram

Foi o grito de nossa saudação!

VI-Termina a declamação, o presidente da mesa levanta-se, procedendo-se ao juramento habitual constante dos Protocolos.

Canta-se o Hino Nacional.

O presidente da sessão exclama: Pelo Brasil, futura Potência entre as Potências, que nós construiremos com a energia do nosso Espírito, com a força do nosso coração e com a audácia do nosso braço, três Anauês.

Todos respondem: Anauê, Anauê, Anauê.

Finalmente, o presidente da mesa exclama: A Deus, o criador do universo, para que nos inspire, fortaleça e conduza.

Quatro Anauês.

Todos respondem: Anauê, Anauê, Anauê, Anauê.

Encerra-se a sessão e, enviasse um telegrama à Chefia Nacional comunicando a realização do evento e o número de participantes. Nesses telegramas, que seriam posteriormente publicados nos jornais, a expressão Tambores Silenciosos deveria ser usada.

A título de ilustração, transcrevo um telegrama do Núcleo de Rio Claro-SP, enviado ao Chefe Nacional em 1935, publicado no jornal A Offensiva:

“Rio Claro (São Paulo) – Grande reunião formidável assistência tambores rufaram meia noite, comemoração terceiro aniversário intensa vibração cívica fé inabalável nossa doutrina. O Brasil está de pé. Vibrantes Anauês." (A) Pimentel Junior.


Você quer saber mais?

Cavalari, Rosa Maria Feiteiro. Integralismo: ideologia e organização de um partido de massa no Brasil (1932-1937), Bauru, SP: EDUSP, 1999.

Plínio Salgado, A Noite dos Tambores Silenciosos, in: A Offensiva, ano II, Rio de Janeiro, 12 de outubro de 1935, n.74, p.3

Protocolos e Rituais, Capítulo XI, artigo l67.

A Offensiva, 19 de outubro de 1935, número 75, p. 12.

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