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sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Sem espaço, direita brasileira busca identidade.

Um nacionalista jamais esquece de seus heróis

Karla Correia

Os vinte anos de ditadura militar e os reflexos do período na sociedade brasileira, somados a uma seqüência de governos auto-intitulados "de esquerda" - em especial os dois mandatos consecutivos de Luiz Inácio Lula da Silva, marcados pela alta popularidade do chefe de governo e pela bandeira dos programas sociais - provocaram um radical encolhimento no espaço ocupado pela direita no espectro partidário do País.

Nos Estados Unidos pós-11 de setembro e na União Européia o conservadorismo voltou ao poder, duas décadas depois do emblemático ano de 1968, auge da resistência ao regime militar, em nível nacional, e dos protestos ligados a movimentos de esquerda, em todo o mundo. No Brasil, esse mesmo pensamento murchou. E empobreceu o debate político. Ao menos no que diz respeito à representação partidária, à sua presença dentro do Congresso. "De repente, ninguém é de direita, todo mundo é centro, ironiza o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), um dos raros baluartes da chamada extrema-direita no Parlamento.

A carga pejorativa sobre a direita em comparação à celebração da esquerda seria, em parte, reflexo da ditadura militar, acredita o deputado. Direita era quem estava a favor do regime autoritário e anti-democrático. Já a esquerda ficou identificada com quem se opôs ao comando implementado pelo golpe de 1964, defendeu os direitos humanos e filosofou sobre programas sociais. Muito embora esse bloco tenha pegado em armas para lutar pela ditadura do proletariado, observa Bolsonaro.

"Esse pormenor, entretanto, é esquecido e a idéia que se passa é que os esquerdistas, na época, defendiam a democracia. Nada mais incorreto", reclama o deputado.

A mudança de nome do Partido da Frente Liberal (PFL) que, no ano passado, mudou para Democratas (DEM), ilustra a resistência que políticos brasileiros têm, hoje, em assumir uma orientação mais inclinada à direita do espectro ideológico. Mesmo mantendo intactos a estrutura partidária, ideário e principais líderes, a legenda antes conhecida como PFL mudou para se livrar da imagem ligada à direita - mais particularmente com a Arena, partido que serviu de sustentáculo do regime militar, nos anos de chumbo - e com o liberalismo. Expurgado do nome da legenda, mas ainda defendido por ela.

Para Dom Bertrand de Orleans e Bragança, membro da Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Prosperidade (TFP) e coordenador do movimento Paz no Campo, contraponto ruralista ao Movimento dos Sem-Terra (MST), a transformação do PFL em DEM dá a medida do vácuo que existe na representação política do pensamento conservador. "Não há no Congresso, hoje, nenhum parlamentar que possa ser considerado como um expoente do pensamento de direita."

Segundo ele, muito dessa ausência do pensamento conservador é reflexo do que seria uma tática da esquerda de colar na direita a identificação com movimentos como o nazismo e o fascismo. "O que é uma total inverdade." "O nazismo sempre foi uma expressão do socialismo, do comunismo, um regime que matou milhões de pessoas em todo o mundo. O resultado dessa contra-propaganda de esquerda foi o gradual esvaziamento da direita na representação partidária. Os políticos hoje podem até defender a livre iniciativa, a propriedade privada e o Estado mínimo. Mas têm vergonha em assumir essas bandeiras como pensamento conservador".

Rachaduras

Se a representação política anda esvaziada, a movimentação de grupos de direita na chamada sociedade civil organizada anda bem viva, embora desunida. Rachada por uma briga entre dois grupos pelo controle da organização desde a morte de seu fundador, Plínio Corrêa de Oliveira, a TFP, tem entre suas principais bandeiras a defesa da propriedade. O que coloca a organização em posição diametralmente oposta a movimentos em defesa da reforma agrária, tópico tratado com zelo nos programas de governo do presidente Lula e também de seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso.

A reforma agrária, contudo, é defendida pelos membros do novo movimento integralista, que ressuscitou parte do ideário do partido fundado em 1932 por Plínio Salgado, identificado com a extrema-direita durante o primeiro governo de Getúlio Vargas. Na corrente inversa da TFP, pregam a desapropriação de terras improdutivas em um ritmo muito mais intenso do que o praticado nos governos Lula e FHC, e conduzido pelos trabalhadores rurais.

"A reestruturação do modelo de produção rural é essencial para manter a paz no campo e garantir a ocupação do território nacional, preservando a soberania territorial", observa Sérgio de Vasconcellos, membro do movimento, que tem conquistado mais membros abaixo dos 30 anos. Corrente política ultra-nacionalista, o integralismo também atraiu os skinheads, que aos poucos abandonaram os emblemas nazistas para abraçar uma ideologia que consideram 100% nacional.

"Os jovens estão sem muitas referências e à cata de um rumo para seguir. Além disso, a esquerda já cumpriu seu papel histórico. As ideologias costumam obedecer a um movimento pendular e, agora, é o conservadorismo que está em ascensão. A juventude sabe interpretar esse movimento e o segue", diz Dom Bertrand. Uma pesquisa realizada pela Fundação Perseu Abramo (ligada ao PT) em 2004 parece confirmar a interpretação. O Perfil da Juventude Brasileira, divulgado um ano depois da chegada do PT ao poder, mostrou 21% dos jovens entre 15 e 24 anos declarando-se como de direita e 16%, de esquerda. Nada menos que 80% se declararam contra o aborto, 75% favoráveis à redução da idade penal para 16 anos, 81% contra a liberação do uso de maconha. E 45% disseram desconhecer o significado da palavra socialismo.

Você quer saber mais?

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quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

O CONTROLE DO FOGO.

Diante do fogo os homens paravam para refletir

Alguns acreditam que a civilização humana começou quando o homem conseguiu produzir e controlar o fogo para seu benefício. Antes disso, o fogo era visto como algo terrível e destruidor. Eventualmente, humanos, em diversas partes do planeta, descobriram que pequenos fogos controlados, ou fogueiras, podiam trazer conforto quando fazia frio e ajudar a enxergar no escuro. Passaram a reunir-se ao redor de fogueira. Logo descobriram que alimentos preparados no fogo tinham melhor gosto e duravam mais, e também que o fogo ajudava durante a caça e servia como defesa contra predadores. Por volta de 500.000 a.C., métodos pra se criar fogo foram descobertos quase ao mesmo tempo em várias partes do mundo. Os métodos mais antigos incluem diversas técnicas de fricção, como esfregando dois gravetos. Na América do Norte, as tribos iroquois e inuit (esquimós) desenvolveram instrumentos bastante eficientes que criavam fogo com facilidade.

Com o controle do fogo, o homem pôde amenizar as duras condições de vida impostas por uma natureza muitas vezes hostil e dar um passo decisivo na luta pela sobrevivência. Os alimentos passaram a ser cozinhados. A iluminação e o aquecimento dos locais frios e escuros tornaram mais fácil a permanência nas cavernas. A defesa contra os animais ferozes tornou-se mais eficaz. O fabrico de instrumentos aperfeiçoou-se. A utilização do fogo provocou ainda alterações físicas, demográficas e sociais na vida das primeiras comunidades.

Nossos ancestrais levaram milhares e milhares de anos para conseguir o domínio do fogo. Não foi tarefa fácil. O ato “ridiculamente simples” de acender um fósforo representa a luta e o esforço de milhares de indivíduos ao longo de milhares de anos. Não é possível precisar as circunstâncias exatas em que se deu esse grande passo da humanidade. É provável que não tenha sido um evento isolado. É mais plausível supor que o domínio do fogo tenha sido conquistado e perdido várias vezes ao longo das gerações e em lugares e circunstâncias diferentes.

Da fogueira ao paínel solar

Isso não importa num sentido mais amplo, podemos perfeitamente retratar essa grande conquista pela história de Uga, “o deus dos macacos”. A luta do homem com a natureza hostil e contra seus próprios temores do desconhecido de ter sido fenomenal. Não fosse a coragem ou curiosidade de um Uga ou, quem sabe, um raio fortuito (;)) é que quase certo que você não estaria hoje lendo essa página. É provável inclusive que você sequer existisse ou fosse, ainda, apenas um outro Uga, ou talvez nem isso.

Foi o fogo que deu ao homem pré-histórico o poder de realmente dominar outros animais. Foi graças ao fogo que o homem pôde sair de seu ninho seguro para desbravar o planeta. Foi o fogo que permitiu ao homem sobreviver aos rigores do tempo. Foi o fogo que permitiu ao homem desenvolver uma tecnologia, fundir metais, vidros e cozer alimentos. Sem o fogo, continuaríamos eternamente na pré-história ou, quem sabe, teríamos sido simplesmente extintos por animais mais fortes e adaptados ao meio.

Parece estranho, quase um absurdo, que uma simples tocha de madeira tenha feito tamanha diferença. Mas é exatamente esse o ponto. São as pequenas diferenças que fazem o grande mistério do Universo.

Você quer saber mais?

Biehl, Luciano Volcanoglo. A Ciência Ontem, Hoje e Sempre, Canoas: Editora da Ulbra, 2008.

Popper, Karl. A Miséria do Historicismo. São Paulo: Cultrix, 1980.

Capra, Fritjof. A Teia da Vida. São Paulo: Cultrix, 1997.

Capra, Fritjof. O Ponto de Mutação. São Paulo: Cultrix, 1986.

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quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

A REDESCOBERTA DO EGITO

A Pedra de Rosetta encontra-se no Museu Britânico.

A redescoberta do Egito faraônico inicia-se com duas datas precisas: 1789 e 1824. Antes disso não se sabia absolutamente nada a respeito desse periodo.

Napoleão no Egito

A primeira das duas datas (1798) corresponde à extraordinária expedição do general Napoleão Bonaparte no Egito. Com surpreendente visão de longo alcance, além de um corajoso exército, levou consigo um excelente grupo de técnico e de homens entendidos no assunto, munidos de livros, duzentas caixas de instrumentos científicos e duas tipografias completas, visto que em todo o Egito não existia nada disso. Ao todo cento e sessenta e sete “cientistas civis”, compreedendo naturalistas, botânicos, cartógrafos, engenheiros, astrônomos geólogos, historiadores e, pelo que consta, desenhistas e arqueologos. Esse douto esquadrão recebeu o apelido de “Asnos”.

Champollion e os hieróglifos

Jean-François Champollion (1790 – 1832)

Entre os objetos recolhidos durante a expedição napoleônica havia uma estela fendida, com aparência totalmente insignificante, Deu-a casualmente a um oficial do Gênio, um tal Bouchard, que a passou a um dos “Asnos”.

Na estela três inscrições, a primeira em hieróglifo; a segunda em demótico; a terceira em grego – que indicava tratar-se de uma oferta sacerdotal feita por Ptolomeu V Epifane – constituía a chave para decifrar as duas primeiras.

Constatou-se logo que o documento era de excepcional interesse e por ordem pessoal de Napoleão a estela foi imediatamente reproduzida e litografada, sendo que depois de várias cópias foram enviadas a vários especialistas de línguas mortas.

Gastaram-se quinze anos para a interpretação de pelo menos a parte em demótico. O mérito disso cabe ao suceco J. D. Akerblad (1814). Mas os hieróglifos resistiam, inflexíveis. Como para a história, existiam apenas duas fontes de referência: a primeira eram os Hieroglyfhica, obra de Orapolo Nilótico que parece ter vivido no século IV d. C. Parecia antigo, dizia ser egípcio e portanto não havia motivo de se contestar quanto à autoria de sua obra que, no entanto, infelizmente se tornou inaceitável, embora tivesse algumas intuições certas.

Surgiu, posteriormente, a segunda fonte com a obra de P. Athanasius Kircher, este de indiscutível e vasta cultura; mas a sua Lingua Aegyptiaca restituta, publicada em Roma (1643), era de tal modo estranha que levou seus alunos a proclamar, e sem hesitação, que num obelisco em Roma está inciso um hino à Santíssima Trindade.

Infelizmente, as dispensões destes dois ilustres estudiosos desencadearam todos aqueles que as tinham como boas. Somente a dois não atribuíram nenhum valor, desde o início. O primeiro foi o inglês Thomas Young, o qual seguiu pelo caminho certo, mas que, não encontrando, afinal, uma confirmação para o seu trabalho apenas por motivo de um erro banal de transcrição, deu-se por derrotado.

O outro foi o grande Jean-François Champollion (1790 – 1832). Champollion foi um verdadeiro gênio da linguagem, iniciou o estudo das línguas orientais com onze anos, já conhecendo paralelamente todas as européias, e aos dezenove anos se tornara professor de história em Grenoble.

Está claro que a estela encontrada, a qual se chamou “Estela de Rosetta”, se tornasse a sua obsessão. E entregou-se a ela de corpo e alma, intensamente em concorrências com os mais ilustres peritos e jamais abandou a terrível empresa que aos poucos tinha desencorajado os outros. Procedeu por etapas: na sua Lettre à M. Dacier, lida na Academia Real ao 27 de setembro de 1822, anunciava a primeira descoberta sobre o uso do alfabeto fonético do qual os egípcios se serviam para escrever os nomes dos reis gregos e dos imperadores romanos.

Dito nestes termos, não parece muito : mas derrubava o conceito difundido por Orapollo, de que a escrita hieroglífica seria apenas ideográfica. E finalmente, em 1824 (esta foi a data mais importante para a redescoberta do Egito) vinha a lume o seu Précis du système hièroglyphique des anciens Egyptiens.

Embora ainda rudimentar, a chave era finalmente encontrada. Todavia, continuava ainda sem solução o problema mais importante; seria necessário entender aquilo que agora se podia ler, isto é, renascer uma língua morta a pelo menos dezoito séculos.

Também isso se dedicou Champollion até a morte, que lhe ocorreu por enfarte quando contava apenas quarenta e dois anos. A sua Gramática egípcia e o seu Dicionário, publicados postumamente (1834-1845 lançaram as bases para este cansativo renascimento que durará mais ou menos por um século.

Você quer saber mais?

A. Arborio Mella, Federico. O Egito dos Faraós (L’Egitto Dei Faraoni), Editora Hemus, São Paulo, 1981.

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terça-feira, 25 de janeiro de 2011

A Identidade Social.

A Psicologia Social estuda o comportamento social , os comportamentos que individualizam, o ser humano é estudar o comportamento de indivíduos no que ele é influenciado socialmente como à família. Esta influência histórica-social se faz sentir primordialmente, pela aquisição da linguagem. As palavras através dos significados atribuídos por um grupo social por uma cultura, determinam uma visão de mundo, um sistema de valores e consequentemente, ações, sentimentos e emoções decorrente que se apreende quando reforçado.

“O doce ou o dinheiro o sorriso ou a expressão de desagrado podem ou não contribuir para um processo de aprendizagem, dependendo do que eles significam em uma dada sociedade. Assim também, aquilo que deve ser apreendido é determinado socialmente.”

É muito difícil encontrar comportamentos humanos que não englobam comportamentos sociais; Estudar a relação essencial entre o indivíduo e a sociedade, esta entendida historicamente, desde como seus membros se organizam para garantir sua sobrevivência até seus costumes, valores e instituições necessárias para à continuidade da sociedade.

História não é estática, pois gera transformações fundamentalmente qualitativas. Como o homem se torna agente da história, ou seja, como ele pode transformar a sociedade em que vive. Através do grupo ou grupos a que pertencemos e como nos, nesta convivência vamos definindo a nossa identidade social.

Assim desde o primeiro momento de vida, o individuo está inserido num contexto histórico, pois as relações entre o adulto e a criança recém-nascida seguem um, modelo ou padrão que cada sociedade veio desenvolvendo e que considera correta.

E quando se fala em “dar o direito” significa que a sociedade tem normas e ou leis que institucionalizam aqueles comportamentos que historicamente vêm garantindo a manutenção desse grupo social.

Algumas regras são consideradas de “bom-tom” , outras são rígidas, consideradas imperdoáveis se desobedecidas passíveis de punição por autoridades institucionalizadas.

“O que expõe o homem ao perigo de perder a liberdade é o abuso ou o mau uso que dela se faz. Sempre existem riscos na liberdade. Na servidão, o único risco é se libertar”.

Estas normas são o que basicamente, caracteriza os papeis sociais, e que caracteriza os papeis sociais, e que determina as relações sociais!

Para existir um chefe tem que ter outros que ajam como chefiados. Em relação a todas as relações humanas existem expectativas de comportamentos mais ou menos definidos e quanto mais a relação social for fundamental para a manutenção do grupo e da sociedade, MAIS PRECISAS E RÍGIDAS SÃO AS NORMAS QUE A DEFINEM.

Afinal, se nós apenas desempenhamos papéis, e tudo que se faz tem uma determinação social, onde ficam as características que individualizam cada um de nós?

Podemos fazer todas as variações que quisermos, desde que as relações sejam mantidas, isto é, aquelas características do papel que são essenciais para que a sociedade se mantenha tal e qual.

Você quer saber mais?

Lane, T. Maurer. O que é Psicologia Social, Editora Brasiliense, São Paulo, 1981.

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segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Islândia a terra dos Vikings.

Museu Viking, Hella, Islândia

A imagem mais popular a respeito dos Vikings é a de imensos guerreiros saqueadores, matando e pilhando nas costas européias com seus capacetes de chifres (esta última, uma fantasia criada no séc. XIX1). Uma avassaladora quantidade de estudos e publicações vem revisando essa imagem nas últimas décadas, concedendo uma outra faceta à antiga cultura nórdica. Em especial, o livro Viking Age Iceland é um dos mais promissores representantes dessa tendência. Escrito por Jesse L. Byock, professor de Escandinávia Medieval na Universidade da Califórnia, que já publicou dezenas de estudos em revistas especializadas, além de consultoria para enciclopédias, documentários de televisão e reportagens jornalísticas sobre o tema.

A obra em questão é um verdadeiro compêndio dos estudos de Byock desde a década de 1970, inseridos dentro da mais atualizada historiografia. O autor consegue congregar diversas áreas do conhecimento, como Arqueologia, Antropologia, História, Literatura e Geografia Física. O livro é fartamente ilustrado com muitos recursos gráficos, como mapas e croquis, que além de facilitarem na identificação dos pontos tratados no texto, acabam proporcionando uma interessante comunhão entre a perspectiva geográfica e histórica.
A principal problemática do livro é tentar solucionar a contradição levantadapor James Bryce em 1901: como a sociedade islandesa conseguiu tornar-se criativa e independente politicamente, sob condições totalmente desfavoráveis? Para esse intento, foi utilizado como principal elemento teórico a noção de cultura do antropólogo Melville Herskovits. Para Byock, o foco cultural da Islândia teria sido a lei, a sua estrutura jurídica e suas dependências para soluções legais. Graças à lei coletiva, os Vikings conseguiram vencer seus obstáculos, criar uma sociedade original e um Estado independente.

O capítulo inicial concede uma visão conceitual da História Viking, principalmente a origem das migrações partindo da Escandinávia do século IX d.C., que não obedeciam a nenhuma política organizada. Uma das mais importantes contribuições do autor nesse momento, é a respeito da palavra Viking. Através de farta documentação, Byock consegue esclarecer definitivamente a sua origem etimológica: não era um termo que designava toda as etnias escandinavas (como se pensava desde o Setecentos), mas somente aplicado aos aventureiros, piratas e colonizadores que saíam além mar. Mas o que unificava culturalmente os nórdicos? A religião e a língua (Old Norse), e no caso dos imigrantes instalados na Islândia, as futuras Sagas. Escritas como uma espécie de “socorro” aos recentes moradores do inóspito, com formas coerentes de senso, definindo quem eles eram, seus valores tradicionais – importantes para a auto-imagem dos migrantes que vinham de terras diferentes e distantes. Segundo Jesse Byock, as Sagas constituem verdadeiras aberturas na História para observar a vida privada, social, os valores e a cultura material dos primeiros Vikings no Atlântico Norte. Sem serem contos folclóricos ou puramente romances, as Sagas são descrições realistas sobre os confrontos entre os fazendeiros e seus chefes.

Tratando dos conflitos e situações de crise, as Sagas narram tanto virtudes quanto defeitos, assim como banalidades ou humores da vida cotidiana. A partir do segundo capítulo, “Resources and Subsistence”, o historiador inicia sua meticulosa reconstituição do cotidiano dos primeiros islandeses. Mais do que em outras regiões, os Vikings da Islândia tiveram que adaptar-se às severas condições do ambiente geográfico encontrado. Isso pode ser constatado nas técnicas de construção das habitações, os tipos de materiais e o modo de vida dentro das moradias ao longo do ano. Byock concede especial atenção ao mais famoso sítio arqueológico da Islândia – Stöng – cujas casas originais foram reconstituídas em 1974. As habitações de Stöng foram feitas com revestimento de tepe, originando grande aquecimento interno, fator primordial de sobrevivência naquelas paragens. Este sítio foi muito bem preservado devido à erupção do vulcão Hekla em 1104, constituindo-se numa espécie de Pompéia Viking. Além da cultura material, o autor também percebeu a relação entre fatores sociais e impacto ambiental, uma tendência muito atual
na arqueologia mundial, à exemplo das pesquisas nos sítios da Ilha da Páscoa (Pacífico) e Meso-América (especialmente os Maias). No terceiro capítulo, “Curdled Milk and Calamities”, Byock examina as dificuldades da vida no Atlântico Norte. Os problemas mais comuns eram a fome e o surgimento de doenças contagiosas. Uma das alternativas que os migrantes encontraram para escapar dessas crises foi as Hreppar, associações de comunidades visando a cooperação mutua das famílias de fazendeiros. A coleta de produtos alternativos do mar, como algas marinhas (söl) e peixes garantiam a sobrevivência da comunidade. A discussão da estrutura da sociedade escandinava é um do pontos fortes da análise de Byock, examinada nos capítulos 4 a 15. Quem ocupava uma posição estratégica na sociedade islandesa eram os goðar, os chefes. Estes eram encarregados de facilitar a redistribuição da riqueza, a transferência de propriedades e terras, alianças, organizar festas e banquetes, presidir a cultos religiosos, recolher taxas e tributos.

Ocasionalmente ocorriam disputas entre os goðar pelo controle de uma região, encerradas muitas vezes pelo Althing (assembléias), fóruns para encontros dos homens livres e aristocratas. Essas assembléias extinguiram os chefes com poderes supremos ou coercitivos – os reis, típicos da Escandinávia medieval - resolvendo todos os interesses dos fazendeiros. Com a presença do Althing, até o goðar atuava como igual dentro dessa sociedade. Mesmo assim, as situações de conflito existiam. As comunidades nórdicas da Islândia conservaram culturalmente os valores militares da terra de origem, somadas às realidades da nova paisagem, e quando envolvidos em disputas mantinham a postura dos guerreiros Vikings. Os tipos de conflitos mais comuns eram os combates (warfares), ocorridos em pequena escala, a nível individual ou familiar, e que só desapareceram da Islândia no fim do Estado livre (século XIII). O motivo para o surgimento dos combates era a vingança de sangue - parentes ou amigos tentando vingar alguma morte. Essas animosidades chegavam a durar várias gerações, mas algumas vezes consistiam apenas em trocas de insultos contra a honra e acabavam em indenizações para a família da vítima. Quando o confronto era resolvido pelo Althing, as punições variavam entre o banimento da ilha até a morte. Um famoso banido por assassinato foi Erik, o vermelho, que acabou colonizando posteriormente a Groelândia. Também quem não seguia as regras da sociedade podia ser banido
pela assembléia.

Outro aspecto muito original da sociedade islandesa tratado por Byock foi o casamento. Quando a mulher casava, não abandonava sua linhagem familiar. Ela continuava ligada ao parentesco original, assim como seus filhos (ambos submissos ao pai da família). Para beneficiar a política do clã, muitos casamentos eram arranjados para favorecerem alianças. Mas se a união não produzia filhos ela estava encerrada. Muitas mulheres islandesas casavam diversas vezes, e nem a idade ou a perda da virgindade era um empecilho. Apesar de citar pesquisas especializadas como as de Nanna Damsholt, o autor não chegou a aprofundar o papel da mulher na sociedade Viking.

Do mesmo modo, quando trata da religião, Jesse Byock acaba sendo muito superficial. Em seu livro, ele explorou apenas os aspectos mais importantes, como alguns atributos de deidades. O mais importante deus do Atlântico Norte foi Thor (deus do trovão, das tempestades), muito cultuado pelos fazendeiros e navegadores. Seu nome está conectado a enorme número de pessoas e lugares. Outro deus muito popular é Freyer (deus da fertilidade e sexualidade). Já Odin é o deus dos guerreiros e aristocratas, adorado por uma elite reduzida. Os Vikings islandeses também acreditavam em espíritos guardiões chamados Landvaettir, presentes em diversas regiões da ilha. Infelizmente o autor não aprofundou o tema do paganismo na Islândia, sendo que em três páginas, somente duas são dedicadas a citar o texto original da escavação do túmulo pagão de Patreksfjord, na década de 1960 por Thórr Magnússon. A religião é explorada em maiores detalhes por Byock nos quatro últimos capítulos da publicação, que analisam o período de conversão da ilha ao cristianismo. Inicialmente, as tentativas de conversão foram frustadas, como a empreendida pelo rei norueguês Olaf Tryggvason, sendo que muitos santuários e imagens das divindades foram destruídos. Posteriormente, durante a assembléia nacional do ano 1000, foi adotado na legislação o cristianismo como religião oficial. Pela importância atual da Islândia no renascimento dos cultos pré-cristãos no século XX e pela popularidade da mitologia Viking, Byock afastou-se de uma interessante possibilidade teórica, ao deixar de refletir sobre a religião nos primeiros séculos de ocupação da ilha. Por exemplo, a mulher escandinava pagã podia divorciar-se e ter propriedades, algo impensável no mundo cristão medieval. Como a transição para o cristianismo afetou essa tradição na sociedade islandesa? De qualquer maneira, a obra Viking Age Iceland de Jesse Byock é uma ótima referência aos medievalistas, tanto pelas suas propostas metodológicas quanto pela importância que o tema dos escandinavos vem adquirindo nos últimos tempos. Mas também é uma valiosa contribuição aos sociólogos, arqueólogos e historiadores do direito. “By then the Vikin Age was long past”. Com certeza a imagem que fazemos sobre os nórdicos está cada vez mais distante do pensamento oitocentista, o que nos aproxima ainda mais da Idade Média e suas possibilidades de novos estudos.

Johnni Langer
Doutor em História - UFPR. Professor da Universidade do Contestado (SC),
e Faculdades Integradas de Palmas (PR)

Você quer saber mais?

BYOCK, Jesse L. Viking Age Iceland. London: Penguin Books, 2001. Ilustrado, 448p.

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Estudo americano revela que em apenas dez minutos as pessoas mentem três vezes. Saiba como isso pode prejudicar a sua vida !


Maíra Magro

LUBRIFICANTE SOCIAL Em geral, mentimos para tornar a interação mais fácil e agradável ou para parecermos melhores do que realmente somos

"Detesto mentira!" Qual foi a última vez que você disse essa frase ou ouviu alguém dizer? Seja como for, quem disse... mentiu. Podemos até falar que odiamos a mentira, mas lançamos mão desse recurso quase sem perceber.

O professor de psicologia Robert Feldman, da Universidade de Massachusetts, nos Estados Unidos, filmou a interação entre mais de 50 pares de pessoas que acabavam de se conhecer e constatou que elas mentiam em média três vezes numa conversa de dez minutos.

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DEU ERRADO Rogério Yamada inventou uma traição para testar o ciúme da namorada: ela terminou com ele.

Feldman, uma autoridade mundial sobre o tema e autor do livro recém-lançado no Brasil "Quem É O Mentiroso da Sua Vida? Por Que As Pessoas Mentem e Como Isso Reflete no Nosso Dia a Dia", constata que recorrer a desvios da verdade, além de ser quase uma questão cultural, é um recurso de sobrevivência social inescapável. "Em geral, mentimos para tornar as interações sociais mais fáceis e agradáveis, dizendo o que os outros querem ouvir, ou para parecermos melhores do que realmente somos", disse à ISTOÉ.

O problema, ressalta, é que meros desvios dos fatos podem crescer e virar uma bola de neve, gerando relacionamentos baseados no engano. "Devemos ser mais verdadeiros e demandar a honestidade", conclama Feldman. Na maioria das vezes, a realidade é deturpada sem malícia. São as mentiras brancas, que funcionam, nas palavras do especialista, como "lubrificantes sociais". Isso não acontece apenas nas conversas entre estranhos, permeia também os relacionamentos mais íntimos.

A dermatologista carioca Jocilene Oliveira, 55 anos, admite praticar um clássico feminino: "Se comprei um vestido e meu marido me pergunta quanto custou, digo que foi uma bagatela, mesmo que não tenha sido", conta ela, para quem essa mentirinha de vez em quando serve para "evitar stress" no casamento. Há poucas chances de o marido de Jocilene descobrir a verdade. Segundo a psicóloga carioca Mônica Portella, é como se jogássemos uma moeda para cima cada vez que tentássemos descobrir se alguém está falando a verdade.

Ela estudou sinais não verbais da comunicação, como movimentos dos olhos e gestos das mãos, para ver se é possível detectar os momentos em que uma pessoa diz inverdades. "A taxa de acerto de um leigo é de 50%", revela. Outro artifício muito usado é mascarar os fatos para fazer o interlocutor sentir-se bem, como dizer que um corte de cabelo duvidoso ficou "diferente" e não horrível. A lista de situações em que exageramos ou modificamos a realidade não tem fim.

Quem nunca inventou uma desculpa esfarrapada para justificar um atraso? Segundo especialistas, as técnicas de dissimulação são aprendidas pelas crianças desde cedo - e não por meio de colegas malandros, mas com os próprios pais. "O processo educacional inibe a franqueza", aponta Teresa Creusa Negreiros, professora de psicologia social da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro.

Uma menina que ganha uma roupa será vista como mal-educada se disser, de cara, que achou o modelo feio. O paradoxo é que, embora a sociedade condene a mentira, quem falar a verdade nua e crua o tempo todo será considerado grosseiro e desagradável. "Mentir por educação é diferente de ter um mau caráter", pondera Teresa. Mas, para Feldman, mesmo as mentiras inofensivas devem ser evitadas, com jeitinho. "Nossos filhos não precisam ser rudes e dizer que detestaram um presente", afirma. "Mas podemos ensiná-los a ressaltar algum aspecto positivo dele, em vez de dizer que gostaram."

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CLÁSSICO FEMININO Jocilene Oliveira mente sobre o preço da roupa nova para evitar stress no casamento

As inverdades repetidas no cotidiano mascaram os parâmetros que temos para avaliar nossas atitudes e a dos companheiros, gerando todo tipo de desentendimento. Quando estamos diante de alguém que fala muita lorota, não sabemos com quem estamos lidando.

"É muito difícil categorizar mentiras e dizer que umas são aceitáveis e outras não", afirma Feldman. Em alguns casos, os efeitos são irreversíveis. Preocupado em saber se a ex-namorada gostava realmente dele, o estudante paulistano Rogério Yamada, 22 anos, decidiu testar o ciúme dela inventando que a havia traído.

"Ela acabou terminando comigo", lembra. "Hoje me arrependo." Quem é enganado também sofre, com mágoa e desconfiança - segundo especialistas, a dor é mais forte quando afeta os sentimentos ou o bolso.

A psicanalista Ruth Helena Cohen, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), oferece um consolo a quem se sentiu ludibriado: a mentira tem muito mais a ver com a psicologia de quem a conta do que com seu alvo - como no caso de Rogério, que no fundo queria saber se era amado. "É uma forma de defesa, que revela uma verdade sobre quem a diz", afirma Ruth.

É claro que, além das mentirinhas brancas, há aquelas contadas com dolo: são trapaças e traições para beneficiar quem conta ou prejudicar o outro, como ganhar uma confiança não merecida ou cometer uma fraude financeira. Em casos mais raros, a mania de inventar e alterar os acontecimentos pode revelar uma patologia.

É a chamada "mitomania", ou compulsão por mentir, que demanda tratamento psicológico. Uma das razões pelas quais contamos tanta mentira é que raramente nos damos mal por isso. O mentiroso tem duas vantagens: a maioria das conversas está baseada na presunção da verdade e é praticamente impossível identificar uma inverdade no ato.

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