Fábrica de Tecelagem (Imagem: Enciclopédia Larousse).
Abordando o desenvolvimento da burguesia gaúcha ao longo da
República Velha temos por premissa o fato que o país não reproduz, ao industrializarem-se,
os padrões europeus, o empresariado que decorre desse processo é o agente de
uma nova ordem, mas não o seu introdutor; não cabe a ele o nascer do
capitalismo no Brasil. Porque a mesma já nasce subordinada a um contexto
agrário predominante.
À herança colonial/escravista e à dependência do capital
estrangeiro, a burguesia somaria mais um condicionante no seu processo
formativo: a ambivalência da mescla de uma tradição senhorial, dos longos anos
de predomínio da ordem agrária na sociedade.
Por meio da afirmação classista procuram sua identidade por
meio da dominação do capital sobre o trabalho e da viabilização dos interesses
do empresariado no interior da sociedade civil. Definindo os pontos de vista e
interesses específicos do setor e da sua organização classista. A burguesia
industrial busca firmar-se em um contexto agropastoril dentro do qual se
desenvolve um setor industrial.
No Rio Grande do Sul as primeiras fábricas ligadas ao meio
de acumulação de capital comercial na área do chamado complexo colonial
imigrante. A liderança empresarial, com origens sociais marcadas pela
influência imigrante e do capital mercantil, constitui-se basicamente de grupos
familiares ligados pelo casamento.
Em relação aos aspectos sociais e políticos buscavam a
dominação do capital sobre o trabalho, obtendo o domínio e disciplina do
operário na empresa e expropriando o trabalhador do seu “saber” particular.
Quando o Rio Grande do Sul começou a industrializar-se a
Europa já exportava máquinas para a América Latina. Este processo de
mecanização altera a planta industrial obrigando a criação de métodos de
fiscalização do trabalho, a imposição de normas reguladoras das tarefas fabris
e o treinamento dos operários para a nova situação.
A maquinaria além de aumentar a produtividade destitui o
trabalhador de seu controle sobre o próprio trabalho. Com a mecanização
aplicasse técnicas como o taylorismo que difundia-se entre a burguesia gaúcha,
que visa racionalizar a produção, aumentar a produtividade, economizar tempo,
suprimindo gastos desnecessários e comportamentos supérfluos, aperfeiçoar a
divisão social do trabalho e o controle do tempo do trabalhador pela classe dominante.
Mesmo diante dessa pratica desumana os burgueses procuravam
fazer propaganda positiva sobre o trabalhador do novo modelo criando no
proletariado um “relógio moral interno” que orientaria seu comportamento pelos
padrões fabris.
Mas isso não significou que no Rio Grande do Sul o
trabalhador abandonou de imediato suas características artesanais, as quais
permaneceram por muito tempo antes de progressivamente irem se combinando com o
uso das máquinas.
O pensamento fordista veio completa o taylorista no Rio
Grande do Sul com as idéias de que os operários devem ser os seus melhores
consumidores.
Periódicos do inicio do século XX divulgam os interesses
empresariais, mostrando as fábricas como modernas e higiênicas e o trabalho era
harmônico e cordial e os operários referidos como sadios e ordeiros, mas não
era o retrato completo da verdade.
Surge a necessidade de pessoal técnico para operar e montar
as máquinas que cada vez mais estão atuantes na industria gaúcha. Desencadeando
o processo qualificação/desqualificação do operariado. A lógica técnica faz com
que ocorra uma divisão entre o trabalho manual e o intelectual, acentuando o
controle hierárquico do processo de trabalho.
A industria busca no exterior mão de obra qualificada para
os novos maquinários. Esta categoria de
empregados atuava como um representante da do chefe da fábrica, investido de
uma parcela de autoridade enquanto o operário só executava e produzia
mercadorias. Em suma o trabalhador era despojado de seu saber técnico
característico do ofício artesanal, fase ao enquadramento ás novas condições.
Tornando sua mão de obra mais barata e considerada desqualificada e isso também
permitiu a inserção da mão de obra de crianças e mulheres.
O empresariado tenta passar uma visão de ordem reinante nas
fábricas, mas o processo de industrialização gaúcho é repleto de greves,
tumultos, reivindicações operárias, contradizendo a aparência de tranqüilidade
na fábrica.
O discurso nos jornais burgueses sobre as fabricas diverge
muito dos boletins divulgados pelos operários onde é descrito um ambiente
desumano de vigilância, repressão, salários baixos, acidentes de trabalho e
longas horas de trabalho.
Os empresários procuram então um meio de projetar a
industria para a vida do operário, reorganizando as estruturas e as relações
reais entre os homens e o mundo econômico ou da produção. Buscando estender a
ação burguesa além dos muros das fábricas, mascarando ideologicamente a coerção
econômica, fazendo com que a empresa e o empregador assumam um papel de conotação
paternalista na medida em que as atividades ligadas á educação, assistência
social, habitação e lazer são mediados pela figura do “bom patrão” que como
pai, decide, orienta e ampara seus subordinados, regulando as relações
capital-trabalho.
Trata-se, de estender a dominação na vida operária,
subtraindo-a as influências do mundo “de fora” da fábrica. Surge à preocupação
em manter o operário sob a influência de seus camaradas de fábrica e de
educá-los segundo os interesses da fábrica para evitar que sua agitação venha
atrapalhar ou modificar a ordem social, o mais seguro era educá-lo e
moralizá-los por intermédio da escola, particularmente a profissionalizante. A
escola revela-se um importante instrumento de socialização, treinamento e
CONTROLE da força de trabalho.
Outra pratica para estabelecer o domínio do capital sobre o
trabalho foi a das práticas de assistência social, efetivadas pela empresa,
envolvendo a criação de sociedades beneficentes, seguros contra acidentes,
caixas de socorros, assistência médica, creches, casas para alugar ou comprar
diretamente com o empregador dentre outros “benefícios”. Vale lembrar que eram
iniciativas individuais da industria e de cada empresário em sua fábrica e não
estava vinculada a nenhuma legislação trabalhista na época. É necessário,
contudo verificar que nada era absolutamente gratuito, ou seja sempre havia
retenção de parcela do ordenado do trabalhador para alguns ou todos os
benefícios.
Deste modo a burguesia industrial criou no emprego o
“seguro” para o empregado e a sua garantia de domínio sobre o mesmo. Porque
perde o emprego significava perder a habitação, assim como todos os outros
benefícios sociais.
Com o propósito de manter o funcionário ligado à empresa a
nova elite burguesa vinda da industrialização, procurava fortificar os laços
que unem seus funcionários e a empresa por meio do auxilio aos funcionários,
para que os mesmo tenham conforto material e da assistência espiritual e
cultural, abdicando mesmo que inconscientemente de maiores realizações pessoais
e profissionais.
Leandro Claudir
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Você quer saber mais?
PESAVENTO, Sandra Jatahy. A Burguesia Gaúcha.
Porto Alegre: Ed. Mercado Aberto, 1988.
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