Holmes foi um dos poucos
personagens cujo seu nome se funde e chegada suplantar o nome de seu criador
Conan Doyle. Sir Arthur Conan Doyle ficou a sombra de seu personagem ao ponto
de citar em sua última estória de Holmes em 1917, que foi por culpa do
personagem que suas obras sérias como o mesmo cita ficaram desconhecidas. Mas longe
disso denotar uma revolta, mas sim uma competição com sua própria criação, uma
competição que diante da genialidade Conan Doyle prosperou tanto com seu grande
personagem como com suas próprias obras, pois o autor recebeu o título de Sir
por sua obra publicada sobre a Guerra dos Bôeres, baseada em sua participação
da mesma, aonde atuou como médico cirurgião. Mas suas ultimas estórias do
detetive da Baker Street, Conan Doyle resolve inovar e escrever algumas estórias
com base em Holmes, pois segundo a estória, Watson cobrava que Holmes
escrevesse suas próprias aventuras e no caso “Um Epilogo de Sherlock Holmes”,
vemos o grande detetive atuar disfarçado de um espião em meados do inicio da
Primeira Guerra Mundial. Podemos concluir que o universo de Sherlock Holmes
sempre terá espaço para analises e estudos de tão fantástica e envolvente ser
as aventuras da dupla Holmes e Watson.
PESQUISE AQUI!
segunda-feira, 21 de novembro de 2016
Sobre Sherlock Holmes
Marcadores:
LITERATURA,
PESSOAL
sexta-feira, 18 de novembro de 2016
Sobre o Positivismo
O
Positivismo teve sua origem nos pensamentos de Augusto Comte que por meio de
suas reflexões objetivou elaborar uma filosofia que respondesse a necessidade
de uma sociologia física que se afastasse de qualquer influência metafisica. E diante
dessas questões, o Mestre de Montpellier elaborou o que viria a ser chamada de
Religião da Humanidade. Comte não começou da estaca zero em seus trabalhos, mas
teve como base as ideias do Marquês de Condorcet, um filósofo da Enciclopédia
que segundo nos fala Comte não conseguiu entender a profundidade da Sociologia
devido aos seus pré-conceitos estabelecidos. O Mestre de Montpellier acreditava
que o Positivismo se espalharia pelo mundo rapidamente, mas nunca imaginou que
seria no Brasil que ele teria seu maior desenvolvimento, vindo a ser responsável
pela ascensão da República e queda da monarquia. Bem como foi uma verdadeira
engrenagem da difusão da cultura e conhecimento entre os principais pensadores
do século XIX e inicio do XX. Sua
influência não se restringiu a filosofia, mas atingiu desde as ciências exatas à humanas, chegando a política nacional e seus principais expoentes da época.
Nomes estes que estão até hoje registrados na História de nosso país.
Marcadores:
PESSOAL,
POSITIVISMO
sexta-feira, 21 de outubro de 2016
O PORTFÓLIO NA PRÁTICA PEDAGÓGICA UNIVERSITÁRIA: REFLEXÕES DE UM GRUPO DE DOUTORANDOS EM EDUCAÇÃO
Maiza
Taques Margraf Althaus - UEPG
Resumo: O artigo analisa a avaliação dos processos de
ensino e aprendizagem por meio de portfólios na docência universitária. A pesquisa, de natureza qualitativa, é
resultado de uma intervenção realizada com seis alunos do programa de Doutorado
em Educação da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, durante o segundo
semestre de 2011, mediados por duas professoras coordenadoras do grupo de
pesquisa Paradigmas educacionais e formação de professores – PEFOP. A temática
volta-se para a formação pedagógica do professor universitário, tendo como
principal objetivo analisar, do ponto de vista didático-pedagógico, as
contribuições do trabalho por meio de portfólios aos processos de ensino e
aprendizagem na pedagogia universitária, a partir dos textos produzidos por
seis doutorandos em Educação, disponibilizados na Plataforma virtual Eureka. A
problemática levantada buscou identificar quais as possibilidades e os limites
da utilização de portfólios na prática pedagógica universitária, quando se
concebem os processos de ensino e aprendizagem integrados à avaliação.
Palavras-chave: Formação de professores. Avaliação.
Docência universitária.
Introdução
Os portfólios constituem peças
únicas, cuja singularidade traduz-se no caráter particular das vivências nele
descritas e refletidas, no quadro de referências pessoais que balizaram a
reflexão e as interpretações feitas. (DESPREBITERIS; TAVARES, 2009, p.150).
Estudos desenvolvidos sobre os paradigmas na
docência universitária têm revelado que o redimensionamento da prática
pedagógica implica uma mudança epistemológica, e não somente metodológica.
Frente às incertezas do mundo contemporâneo, as responsabilidades atribuídas às
Universidades têm exigido dos professores uma capacidade de aprendizado
permanente, que perpassa as tensões presentes no dia a dia , que envolvem desde
a avaliação externa dos cursos oferecidos (da graduação até a pós-graduação),
até a avaliação da aprendizagem dos estudantes universitários, foco de
interesse neste artigo (VASCONCELLOS, 2009, p.131).
Com esse pensar, a prática
pedagógica no ensino de graduação indica a necessidade de um processo formativo
que tenha sentido e relevância, tanto para os professores quanto para os
estudantes, profissionais que tão logo estarão à frente dos problemas por nós
enfrentados.
Mais do que capacitar seu quadro docente,
compreendemos que a formação pedagógica dos professores universitários precisa
ser trabalhada para além do aperfeiçoamento didático, sobretudo para o
fortalecimento e a constituição de uma identidade profissional, que envolva a
compreensão da docência universitária numa visão complexa, porque é tecida
conjuntamente, porque integra sujeitos que ensinam e que aprendem, articulando
e contextualizando singularidades e coletividades. Segundo Cunha (2009, p.217),
“o arcabouço histórico conceitual do entendimento
da docência e da mudança paradigmática, que vem afetando a concepção de
conhecimento e incluindo novas racionalidades, tem tido importante influência
no campo da formação de professores.”
A frágil compreensão de que, para ser professor,
basta conhecer o conteúdo do que se ensina caminha na contramão do que Zabalza
(2004, p. 111) afirma “[...] a capacidade intelectual do docente e a forma como
abordará os conteúdos são muito distintas de como o especialista faz”.
Precisamos romper com o pensamento disjuntivo, como destacou Morin:
[...] nosso pensamento é
disjuntivo e, além disso, redutor: buscamos a explicação de um todo através da
constituição de suas partes. Queremos eliminar o problema da complexidade. Este
é um obstáculo profundo, pois estabelece a fixação a uma forma de pensamento
que se impõe em nossa mente desde a infância, que se desenvolve na escola, na
universidade e se incrusta na especialização; é o mundo dos experts e dos especialistas maneja cada
vez mais nossas sociedades (1996, p.275).
No tocante à prática pedagógica universitária, o
pensamento redutor muitas vezes se volta aos processos de ensinar, aprender e
avaliar, considerando-se que, não raras vezes, são tomados como momentos
estanques e unilaterais. A retórica de que a avaliação é processo nem sempre é
vivenciada na prática. Se for processo, a avaliação não ocorre alheia aos
processos de ensino e de aprendizagem.
Reforçando essa ideia, Both (2005, p.55) sugere que
“a aprendizagem ocorre tanto mais significativamente quanto maior for a
interação de ações entre o ato de ensinar e o de avaliar.” Segundo o autor, “avaliar
a aprendizagem do aluno significa, concomitantemente, avaliar o ensino
oferecido. Não havendo a aprendizagem esperada, o ensino não cumpriu sua
finalidade de fazer aprender.”
Frente ao exposto, o objetivo principal da presente
pesquisa é analisar, do ponto de vista didático-pedagógico, as contribuições do
trabalho por meio de portfólios aos processos de ensino e aprendizagem na
pedagogia universitária, a partir dos textos produzidos por seis doutorandos em
Educação. Para isso, foram utilizados, na coleta de informações, os textos
disponibilizados na Plataforma Eureka, em que buscávamos informações sobre
conceitos teóricos e práticas de avaliação por meio de portfólios na docência
universitária. Trata-se de
uma abordagem metodológica qualitativa, por meio da pesquisa-ação,
desenvolvida no segundo semestre de 2011 com os interlocutores da pesquisa,
alunos da disciplina de Seminário de aprofundamento: teoria e prática
pedagógica na formação de professores.
O estudo em tela buscou respostas ao problema
expresso na questão: quais as possibilidades e os limites da utilização de
portfólios na prática pedagógica universitária, quando se concebem os processos
de ensino e aprendizagem integrados à avaliação?
A avaliação com portfólios na prática pedagógica universitária: diálogo
com autores
Avaliar é atividade didática de fundamental
importância no contexto da prática pedagógica universitária: é preciso estudar
a avaliação para compreender e aperfeiçoar esta tarefa didática tão presente em
nosso cotidiano.
O bom ensino, parafraseando Zabalza (2004, p.203),
não é linear, mas ocorre em círculos progressivos, como se avançasse e se
retrocedesse para continuar avançando. Na avaliação, a dinâmica do trabalho
pedagógico igualmente requer movimentos contínuos, visando sempre à
aprendizagem do estudante.
Para Tescarolo (2005), a
avaliação não pode ser analisada de forma autônoma, mas antes, constitui uma
das dimensões da problemática geral das aprendizagens, assumindo a parte mais
importante de sua função reguladora. Nesse sentido, precisa estar articulada ao
planejamento institucional, contribuindo para a gestão dos processos e
instrumentos pedagógicos, tendo por função primordial a orientação e
facilitação dos processos de aprendizagem.
A verdadeira avaliação é mais do que simples
mensuração, pois envolve também julgamento de valor, o que excede a pura coleta
de dados e aferição de medidas. A busca da excelência exige a avaliação
(JULIATTO, 2005, p.192). Compreendida desta forma, cabe perguntar: o que
pretendemos quando ensinamos e avaliamos nossos alunos nas universidades? Esse
questionamento permite-nos refletir que, nas universidades, professores vêm se
dedicando cada vez mais no preparo sobre o que será feito no cotidiano com os
alunos, na formação dos novos profissionais. Parece ser mais fácil, para alguns
professores, apresentar atividades interessantes aos estudantes do que refletir
a respeito das finalidades e dos objetivos que devem estar por trás dessas atividades.
Segundo
Masetto (2010, p.163),
[...]
para que a avaliação do desempenho do aluno colabore com sua aprendizagem, há
que se planejar seu processo e suas técnicas [...] quando formos realizar o
planejamento do semestre, no mesmo tempo em que definimos
objetivos de aprendizagem, conteúdos e técnicas pedagógicas, precisaremos
planejar o processo de avaliação, suas técnicas, seus critérios e seu
cronograma.
O bom uso da avaliação (SORDI, 2000, p.246) deve
ser levado a sério pelos educadores, “[...] sob pena de perpetuarmos um modelo
de ensino que desconsidera os desafios de uma sociedade que se transforma e se
desenvolve de modo acelerado”.
Compartilhamos com a autora a tese de que a alteração substantiva das
práticas de avaliação pode contribuir para que a aprendizagem ganhe significado
e, por se tornar significativa para os sujeitos envolvidos, consiga
efetivamente gerar efeitos educativos para os egressos das universidades, os
novos profissionais por quem somos responsáveis.
Como nos explica Roldão (2010, p. 30), é necessário
ao exercício da função de ensinar saber
analisar e avaliar como se ensinou, ou seja, ter um conhecimento reflexivo
que permita ao professor reanalisar
reflexivamente a sua ação, reorientando sua prática em função da análise feita.
Segundo
Méndez (2005, p.98),
[...] mais que o instrumento, importa o tipo de
conhecimento que põe à prova o tipo de perguntas que se formula, o tipo de
qualidade (mental ou prática) que se exige e as respostas que se espera obter
conforme o conteúdo das perguntas ou problemas que são formulados.
Na perspectiva formativa de avaliação, segundo
Perrenoud (1999), a avaliação é tão integrada aos processos de
ensino-aprendizagem que não se separa deles. Para o autor, a observação
formativa possibilita guiar e otimizar aprendizagens em andamento, que estão em
processo.
Reafirmando a perspectiva da avaliação no sentido
contínuo, formativo, Villas Boas (2004) nos oferece uma reflexão sobre a
relação entre o portfólio, a avaliação e o trabalho pedagógico. Toma por
referência o entendimento de que o portfólio compreende uma coleção intencional
de trabalhos do aluno, com o objetivo de contar a história dos esforços,
progressos e desempenho em uma determinada área. Segundo a autora, é necessário
o entendimento de três ideias básicas: “a avaliação como um processo de
desenvolvimento; o papel ativo dos alunos no processo por aprenderem a
identificar e revelar o que sabem e o que não sabem; e a reflexão do aluno
sobre o processo de sua aprendizagem” (VILLAS BOAS, 2004, p. 37-38).
Quanto à
origem da palavra portfólio, Depresbiteris e Tavares (2009, p.149) afirmam:
A palavra porta-fólio vem do latim portáre, que quer dizer portar, trazer,
transportar, e folíum, que significa
folha [...] O conceito de portfólio nasceu com as artes, denominando o conjunto
de trabalhos de um artista [...] ou de fotos de ator ou
modelo usado para divulgação das produções entre os
clientes [...] Em educação, o portfólio é o conjunto de vários trabalhos
realizados pelo aluno, com orientação do professor, que corresponde a um
período curto, médio ou longo, de sua vida escolar: ano, semestre, curso ou
unidade de um curso.
Ao discutir sobre a utilização de portfólios na educação superior, Alves
(2006, p.106) afirmou que esta prática permite aos professores considerarem o
trabalho de forma processual,
“[...]
superando a visão pontual das provas e testes, integrando-o no contexto do
ensino como uma atividade complexa baseada em elementos de aprendizagem
significativa e relacional”.
Nesse
particular, Condemarín e Medina (2005, p.23) partem do princípio de que:
O estabelecimento de acordos
sobre os propósitos atribuídos ao portfólio permite dar confiabilidade e
consistência à sua utilização como meio de avaliação. Assim, a partir dessa
definição surgirão múltiplas possibilidades de formato [...] Deste modo,
poderão ter um portfólio para trabalhos completos, para rascunhos ou trabalhos
parciais, para instrumentos ou ferramentas de síntese, etc.
Com respeito à definição dos
propósitos do portfólio, como pudemos observar acima, diferentes formatos ou
modalidades podem ser definidos com os estudantes, conforme as necessidades
avaliativas. A rigor, o maior propósito da organização dos portfólios é o de
que
“[...] o aluno se auto-avalie, visualize
e tome consciência do progresso de suas aprendizagens”
(Condemarín; Medina, 2005, p.88), o que permite que
cada portfólio seja uma peça única de criação, não devendo ser comparado com os
portfólios dos demais alunos.
OS SURDOS, A MÚSICA E A EDUCAÇÃO
RESUMO
Este texto
procura mostrar a importância de se considerar o olhar do próprio surdo no
ensino de música para surdos. Alerta a que muitas abordagens na Educação
Musical desconsideram as marcas culturais surdas, dão a impressão de que se
está forçando o surdo a participar de algo que não leva em conta suas
características biológicas, que atenta contra sua identidade, que não considera
a cultura surda. Defende que o objetivo de ajudar o surdo a conhecer a
importância da música há que demandar um trabalho diferente daquele que se
realiza com os ouvintes. Defende ainda que os surdos têm o direito de passar
por experiências educacionais em grupos de surdos, constituindo estratégias de
identificação num processo sócio-histórico autêntico, não comandado. Conclui
que “conhecer música”
é um direito que os surdos
têm, mas que compete aos profissionais da área convencê-los, encantá-los,
atraí-los para a importância deste artefato cultural das comunidades ouvintes.
Palavras-Chave: educação musical, música, surdos.
OS SURDOS, A MÚSICA E A
EDUCAÇÃO
BA-BOO-MA-RANG-RANG-RANG.
BA-BOO-MA-RANG-RANG-RANG. É com uma tabuleta com estes dizeres que o professor
John Leeds (William Hurt) começa a tentar ensinar música para sua aluna surda
no filme Filhos do Silêncio, baseado na peça de Mark Medoff, que conta a
história de amor de Leeds, um professor de surdos, e a surda Sarah (Marlee
Maltin, que, por sinal, ganhou o Oscar de Melhor Atriz por este trabalho).
Leeds consegue um bom resultado, porque sai do mero “ensino de música” e
mistura música com dança e com percepção das vibrações. É emocionante a
tentativa que ele faz ao tentar explicar, por gestos, o que é a música, para sua
amada, que nunca ouviu.
1
Professora da Universidade Federal do Amazonas – Faculdade de Educação –
Departamento de Teoria e Fundamentos. E-mail para contato: pranidia@gmail.com
1
Outros tipos de
vivências com música para surdos são apresentados no filme “Adorável Professor”
(Mr. Hollan´s Opus - 1995), quando, o professor Glen
Holland (Richard Deyfruss –
também indicado para o Oscar de Melhor Ator neste trabalho) tenta fazer o seu
filho surdo vivenciar a música sentando em cima de uma caixa de som ou quando
ele tenta cantar a música "Beautiful Boy", de John Lennon, na
formatura de seu filho, numa escola de surdos, colocando recursos tecnológicos
de jogos de luzes para acompanhar a orquestra. Esta música escolhida, quando
diz
"life is what happens while you’re busy making other plans", ou seja, “a vida é o que acontece quando você está ocupado
fazendo outros planos”, serve para ilustrar a disparidade de sentimentos
envolvidos entre o sonho de ser um famoso músico e a realidade de haver sido um
“simples” professor de música e pai de um filho surdo.
Tenho assistido
muitas manifestações de insatisfação por parte de surdos adultos que, ao
analisarem a maneira como a inclusão da música é feita na
Educação de Surdos,
sentem-se agredidos pelo fato de que muitas abordagens dão a impressão de que
se está forçando o surdo a participar de algo que desconsideram as marcas
culturais surdas, dão a impressão de que se está forçando o surdo a participar
de algo que não leva em conta suas características biológicas, que atenta
contra sua identidade, que não considera a cultura surda e que é uma imposição
dos ouvintes. Estamos tratando de um território
contestado, logo, é necessário que alguns pressupostos sejam definidos,
para que se possa pensar em conseguir sucesso na relação do surdo com a música,
ou no objetivo pedagógico de utilizar a Educação Musical para auxiliar o surdo
a desenvolver-se como pessoa que reflete sobre todo o seu contexto social.
É muito
importante que sejam questionados os objetivos pedagógicos a serem perseguidos
com as atividades musicais para surdos: o que se pretende é oferecer aos surdos
o direito de conhecer este elemento cultural humano tão importante, ou, o que
se pretende é obrigar os surdos a participarem de algo que não faz sentido para
eles? Estamos tratando de uma oferta
ou de uma obrigatoriedade? De uma
troca ou de um pacote depositado?
Entendo que os
surdos podem ter acesso à música: de sua forma, de seu jeito próprio. Segundo
Helena Coelho,
o canto é uma forma de comunicação pelo toque. A energia enviada pelo
cantor por intermédio das vibrações sonoras de sua voz “toca” de forma
fisicamente mecânica o tímpano
do ouvinte. Mas não só o tímpano. Todo o
2
corpo do cantor é uma fonte
sonora esférica e todo o corpo do ouvinte é um receptor sonoro imerso
no campo dessas vibrações. Assim sendo, falar/cantar e escutar é uma espécie de
“toque absoluto” (Coelho, 1991).
Olhando por
este ângulo, é possível dizer que os surdos podem curtir este “toque”
proporcionado pela música. A experiência da surdez potencializa não apenas a
visão, mas todo o corpo do surdo, levando-o a experimentar as vibrações de
forma até mais intensa que os ouvintes.
Os surdos têm
opiniões sobre a música e suas expressões. Noutro trabalho, entrevistei um
surdo que disse:
Surdo nenhum ouve música ou gosta de corais... No coral de surdos tem
que prevalecer a expressividade do surdo na arte, não se trata de acompanhar o
som. Toda a cadência, toda a sequência não tem que ser conforme o som (Sá,
2002, p. 169).
Ora, os surdos não
estão alheios às expressões culturais características dos ouvintes: sabem que
elas existem e emitem opiniões sobre as mesmas. As dissonâncias que surgem
quando comunidades ouvintes e surdas se encontram é que, muitas vezes, os
ouvintes pensam que os surdos “devem” apreciar a música como eles apreciam e os
surdos pensam que os ouvintes estão encontrando mais uma forma de ressaltar sua
“falta” ou de fazer com que os surdos sejam como eles
(como se os ouvintes fossem o padrão).
É necessário,
então, entender que ser surdo é muito mais que não ouvir, que não falar, que
não cantar, que não tocar instrumento: esta perspectiva da “negatividade”
embaça a perspectiva da potencialidade. Ser surdo é experimentar uma forma
diferenciada de ser, a qual se baseia primordialmente nas experiências visuais
para a leitura do mundo. Em verdade, surdez é muito mais que privação
sensorial, muito mais que a experiência de uma falta.
Os surdos não
têm como única característica a surdez, por isto não podemos falar dos
surdos como uma totalidade, entretanto, podemos falar deles como um grupo sócio-cultural,
comunitário e plural. Logo, não podemos falar em
Educação Musical para
surdos pensando num surdo idealizado, pois os
surdos diferem muito entre si e os
diferentes graus de surdez, aliados às diferentes experiências familiares,
sociais e culturais, certamente diferenciarão os graus de interesse pela
música, ou pela Educação Musical, ou pelos instrumentos musicais.
3
Há surdos que
odeiam música, mas há surdos que amam a música. Há surdos que entendem a
música, há surdos que nem querem entender a música. Há surdos que se emocionam
com a música, há surdos que se sentem indiferentes com a música. Há surdos que
têm maiores condições de deliciar-se com a música. Há surdos que jamais
passarão por uma experiência de sentir prazer na presença de alguma peça
musical. Tudo isto porque existem diferentes graus de surdez e diferentes
experiências sociais com a música: isto faz uma enorme diferença quanto aos
objetivos educacionais.
No entanto,
independentemente das diferenças que existem entre os surdos, a surdez impõe-se
como uma característica que ultrapassa as determinações de classe, de gênero,
de raça, fazendo com que se possa falar dos surdos como um grupo que
compartilha modos de existir e que, por causa desta característica ressaltante,
tendem a formar comunidades que compartilham experiências, interpretações,
significados e representações. Isto faz com que seja possível dizer que os surdos, de modo geral, não têm muito
interesse pela música, sabendo-se
que esta afirmação não envolve todos os surdos. Da mesma forma, se pode afirmar que os
surdos, de modo geral, têm muito interesse pela dança, sabendo-se, também, que esta afirmação não envolve todos os
surdos.
A possibilidade
de se pensar no “grupo dos surdos” leva-nos a verificar que “os surdos” têm que ser chamados a opinarem
sobre o tema, pois, muita contribuição se pode extrair das visões deles
próprios sobre a Educação Musical.
Deve-se, por exemplo,
perguntar: qual a visão dos surdos em geral, sobre a obediência aos comandos
dos ouvintes nas apresentações musicais de grupos de surdos que meramente
copiam o ouvinte-modelo que se põe a fazer sinais, acompanhando a música que os
ouvintes estão apreciando, e, muitas vezes, tendo que repetir refrões diversas
vezes? Quem são os surdos que se propõem a seguir estas sugestões dos ouvintes?
Ora, as imposições educacionais, políticas e clínico-patológicas sobre os
surdos os fazem distanciar-se daquilo que caracteriza as comunidades surdas politicamente
organizadas (em verdade, poucos sabem o que caracteriza as marcas culturais
surdas de existir e de conviver).
Questionando as estratégias
4
Existem surdos
e surdos, mas, algumas características são comuns à maioria dos surdos:
utilizam prioritariamente a visão para captar as informações do meio; têm a
potencialidade natural para usar uma língua gesto-visual; estão constituindo
sua história na luta contra a opressão e a discriminação, dentre outras
características.
Estas
características reafirmam a necessidade
de estratégias educacionais
completamente diferentes das que são utilizadas para os ouvintes, não só na
Educação Musical, mas em todas as propostas educacionais.
Ajudar o surdo a apreciar a música e a conhecer a importância da música
nas sociedades humanas há que demandar um trabalho completamente diferente
daquele que se realiza com os ouvintes. Os objetivos e as estratégias pedagógicas serão outros, pois o
público é diferenciado.
Geralmente o
corriqueiro é se ver surdos incluídos em classes regulares, sendo convidados a
participar de aulas/atividades musicais junto aos demais alunos ouvintes,
conduzidos por professores ouvintes. Nestas atividades se trabalha o ritmo, mas
também a melodia, o timbre, a harmonia, é claro. Ora, o surdo não tem acesso
natural a estas dimensões da música, então, as estratégias para que eles venham
a entender a música devem ser muito bem planejadas.
Uma questão
importante é: acaso se pode resolver as questões que envolvem uma aula de
Educação Musical para surdos apenas com a presença de intérpretes de Língua de
Sinais (LIBRAS) nas salas de aula? Certamente que não.
O uso da Língua
de Sinais em sala de aula é algo conquistado recentemente no Brasil. A despeito
da luta pelo direito de ter um intérprete em sala de aula, deve-se saber que a
presença de um intérprete de LIBRAS não resolve todas as questões que envolvem
a educação deste grupo diferenciado cultural e lingüisticamente. As atividades de Educação Musical são um
exemplo de que a presença de
intérprete não é a única providência a ser tomada para que se alcance o êxito
escolar e o desenvolvimento de todas as potencialidades do aluno surdo.
Em verdade,
infelizmente, há ainda uma grande resistência em se usar educacionalmente a
língua natural dos surdos. Assim, é imprescindível que inicialmente se
questione se as propostas de Educação Musical para os surdos têm garantida a
presença da Língua de Sinais Brasileira ou se, além da dificuldade de
5
acessar os conhecimentos
musicais o surdo ainda tem que vencer a dificuldade de acesso à língua do
professor ouvinte. A discussão passa pelo questionamento do uso de uma língua
anti-natural quando há uma língua natural disponível.
No entanto, é
necessário ampliar a discussão lingüística, pois ela sozinha não dá conta da
complexidade da questão. Outras questões surgem: com tais atividades se está
pretendo oferecer aos surdos um conhecimento a mais ou se está impondo modelos
ouvintes? O surdo “normalizado” é o
surdo que canta, é o surdo que toca,
é o surdo que fala? As propostas de Educação Musical acaso estão baseadas numa visão quase que “terapêutica”,
segundo a qual a música poderia funcionar como uma terapia para pessoas
deficientes, patológicas?
Quem é o
professor de Educação Musical para surdos? É o professor ouvinte monolíngüe que
tem como objetivo transformar o surdo em um “ouvinte de segunda categoria”? Ou
é um professor que está prevenido contra a supremacia da língua oficial na
escola, que conhece adequadas estratégias de ensino-aprendizagem, que enfatiza
as potencialidades dos surdos, que tem qualificação técnica para este trabalho
específico? A área da Educação Musical é pontual para se discutir estas
questões.
Por que querem
que o surdo aprenda música? Por que a Educação Musical faz parte de um
currículo para surdos?
Se as razões para este aprendizado não ficarem
muito claras para os professores, para os pais, e, principalmente, para os
surdos, continuaremos assistindo a uma resistência dos surdos para com tudo o
que diz respeito à música, o que poderá ser uma pena, pois o conhecimento
musical pode ser utilizado em prol do desenvolvimento dos surdos em inúmeras
áreas.
Apontando a necessidade de
mudanças
O que se tem a fazer é discutir as assimetrias
de poderes e saberes
(entre surdos e ouvintes,
entre surdos e surdos, entre ouvintes e ouvintes, entre grupos e grupos, entre
grupos e indivíduos) e discutir os efeitos sociais das representações,
imposições e expectativas que os professores, os pais e a sociedade têm sobre
os surdos e os efeitos individuais das imposições que lhes fazem. Estamos
falando de surdos aceitáveis para a sociedade dos que ouvem?
6
Estamos vivendo
um tempo em que, infelizmente, é quase um paradigma a idéia de que os surdos
têm que ser incluídos em escolas regulares (a despeito da resistência que esta
idéia traz em alguns fóruns de discussão acadêmica e política).
Ora, por que não podemos pensar numa proposta para a Educação Musical de
surdos feita em espaços exclusivos, ou seja, tendo como alvo apenas os surdos –
seja na escola, seja na associação, seja em cursos, seja em oficinas? O que nos
impede de pensar em estratégias exclusivas para eles, estratégias que atendam
às suas necessidades de um trabalho eminentemente visual?
Na minha
opinião, o tema da inclusão escolar deve continuar debaixo de suspeitas, à luz
dos recursos lingüísticos, cognitivos, e sócio-culturais de que o surdo
necessita em seu período de escolarização. Penso que questionar a inclusão nas
aulas de Educação Musical é necessário, para que seja pensada e viabilizada uma
proposta de Educação Musical pautada em processos de aprendizagem
significativos, prazerosos e eficazes para este grupo específico, e não para
que consiga performances de canto ou de execução de instrumentos musicais, como
que para atestar o “heroísmo” de quem “venceu a deficiência” após um
treinamento exaustivo.
No meu
entender, as propostas de trabalho educacional específico para surdos facilitam
a formação da identidade surda e o aprimoramento cognitivo. Todo espaço onde
suas características distintas possam ser consideradas são espaços de vida
cultural. Ora, os surdos têm o direito
de passar por experiências educacionais
em grupos de surdos, caso assim o desejem, constituindo estratégias de
identificação num processo sócio-histórico autêntico, livre, particular, não
comandado; isto é plenamente possível (talvez não unicamente, mas primordialmente) em espaços que
respeitem sua condição sócio-lingüística e cultural.
Na realidade, a
questão central não é “em que espaço os surdos estão sendo educados”, mas,
quais são as reais oportunidades de aprendizado e quais as políticas de
significação e as oportunidades de participação que lhes estão disponíveis.
Defendo espaços
privilegiados pelo uso prioritário da Língua de Sinais na educação de surdos,
sim, mas não nego que, se a discussão se detiver apenas na luta pelo uso da
Língua de Sinais, outros determinantes fundamentais serão
Marcadores:
BRASIL,
EDUCAÇÃO,
Educação Inclusiva,
PEDAGOGIA
O BRINCAR COMO ATIVIDADE PRINCIPAL E ORGANIZATIVA DO TRABALHO PEDAGÓGICO
Maria Irene Bora Barbosa1
O brincar é
elemento fundamental no binômio educar e cuidar, compreendido como forma
organizativa do trabalho pedagógico, visto que, é uma das formas principais que
a criança dispõe nesta fase de sua vida para aprender sobre os objetos que
estão a sua volta, sobre as pessoas, sobre si própria, sobre os elementos
culturais, sociais e naturais.
A brincadeira
como atividade principal no processo de ensinar contribui para que a criança
aprenda a se relacionar; aprenda regras, limites; se comunicar se expressar,
conhecer seus limites e possibilidades e se apropriar dos conteúdos da
Linguagem Oral Leitura e Escrita, Linguagem Matemática, Linguagem da Expressão
Corporal, Linguagem do Mundo Físico, Social e Natural e Linguagens da Arte:
Artes Visuais, Teatro, Música e Dança.
A brincadeira é
uma atividade caracteristicamente humana, pois a criança não nasce sabendo
brincar, tem como referência sua percepção de mundo, dos objetos e símbolos
humanos significados pela mediação do outro.
Não há uma
brincadeira natural, pois ela se constrói nas relações interpessoais e supõe
uma aprendizagem social. A brincadeira não é inata.
As duas fontes
da brincadeira na criança são o adulto que cuida dela e vai introduzindo
comportamentos lúdicos nessa relação e as descobertas das próprias crianças.
A forma e a
intensidade de apropriar-se da brincadeira estão diretamente associadas ao meio
e às relações vivenciadas pela criança. Segundo Arce e Duarte (2006),
A qualidade dessa vivência social não se garante pelo simples fato de a
criança brincar. A brincadeira, tanto quanto qualquer outra experiência social
requer a mediação do adulto, que assume um papel organizativo na trajetória de
apropriações e objetivações realizadas pela criança. É por meio desta mediação
que ela, ao brincar, integra física, emocional e cognitivamente a complexa
1
Texto Elaborado pela pedagoga e professora Maria Irene Bora Machado da Rede
Municipal de Araucária como parte integrante da Proposta Pedagógica do CMEI ao
qual trabalha. Organizado e corrigido pela professora Sônia de Fátima
Radvanskei - UNINTER
atividade social. Portanto, ao brincar a criança
reproduz as relações sociais e as atividades dos adultos num processo de
exteriorização determinante de mudanças qualitativas em sua personalidade.
Brinca não apenas porque é divertido, embora também o seja, mas o faz, acima de
tudo, para atender a um dos mais fortes apelos humanos: o sentido de pertença
social. (ARCE e DUARTE, 2006, p.40).
É preciso
ensinar às crianças brincadeiras diversas: cantigas de roda, jogos infantis,
músicas, como forma também de preservar a cultura local e ensinar brincadeiras
de outros tempos, de diferentes povos e culturas.
A brincadeira
na Educação Infantil não compreendida como processo natural, contribui
significativamente para a superação das funções elementares, desempenhando
função essencial para todo o processo de aprendizagem e desenvolvimento da
criança.
A brincadeira
precisa estar presente no cotidiano das crianças. Segundo Arce e Duarte (2006):
A brincadeira de papéis influencia decisivamente o desenvolvimento
global da criança. Ao brincar, ela aprende a ser e agir diante das coisas e das
pessoas, pois é a partir das ações práticas realizadas que os processos
internos se estruturam, orientando outras ações práticas, mais autônomas e
complexas, que enriquecerão os processos internos e assim sucessivamente.
Portanto, as brincadeiras infantis destacam-se no vasto campo social que
circunscreve a vida da criança e que representa a base do desenvolvimento de
todos os atributos e propriedades humanas (ARCE E DUARTE, 2006, p.39).
É também
através do jogo e da brincadeira que ela vai aprender quais são as regras que
organizam as relações entre as pessoas do seu grupo e o papel que cada uma
desempenha. Ela lança mão de sua imaginação através dos jogos de faz-de-conta.
A criança imagina e se coloca no papel do outro, imita a mãe, o pai, os
colegas, etc. Fazer de conta é o grande recurso que a criança tem para lidar
também com os objetos, as coisas que compõem o seu mundo e como as pessoas se
relacionam com estes objetos físicos.
Imitar não é
mera cópia de um modelo, mas reconstrução individual daquilo que é observado
nos outros. Essa reconstrução é para a criança, a criação de algo novo a partir
do que ela observa no outro. Portanto, a atividade imitativa não é processo
mecânico, mas sim uma oportunidade da criança realizar ações que estão além de
suas próprias capacidades, o que contribui para sua aprendizagem e
desenvolvimento. Só é possível a imitação de ações que estão dentro da zona de
desenvolvimento proximal da criança. Conforme
Oliveira (1993, p. 63). “Um
bebê, por exemplo, de dez meses pode imitar expressões faciais ou gestos, mas
seu nível de desenvolvimento não lhe permite imitar o papel de um „médico‟ ou
de „bailarina‟, ou própria do adulto”.
A imitação é
uma forma de ensino-aprendizagem que permite a elaboração de uma função
psicológica no nível interpsíquico (isto é, em atividades coletivas, sociais)
para que mais tarde essa função possa ser internalizada como atividade
intrapsicológica (isto é, interna ao próprio indivíduo).
Conforme
Oliveira (1993), a brincadeira de faz de conta, a criança é levada a agir num
mundo imaginário (o ônibus que ela está dirigindo na brincadeira através de
cadeiras enfileiradas, por exemplo) onde a situação é definida pelo significado
estabelecido pela brincadeira (o ônibus, o motorista, os personagens, etc) e
não pelos elementos reais concretamente presentes. As cadeiras, as bonecas,
etc, servem como representação de uma realidade ausente e ajuda a criança a
separar objeto e significado. Isso se constitui num passo importante no
percurso que a levará a ser capaz de, como no pensamento adulto, desvincular-se
totalmente das situações concretas.
O brinquedo
provê assim, uma situação de transição entre a criança com objetos concretos e
suas ações com significados. Portanto, a organização de práticas que favoreçam
o envolvimento das crianças em brincadeiras, principalmente aquelas que
possibilitem a criação de situações imaginárias, tem nítida função pedagógica.
Metodologia para a Educação
Infantil
A metodologia
fundamentada na concepção da Psicologia Histórico Cultural e na Pedagogia
Histórico Crítica, pressupõe uma prática pedagógica intencional e planejada,
decorrente das relações estabelecidas entre conteúdo e as formas adequadas para
o ensino e aprendizagem, na perspectiva emancipatória de todos os sujeitos.
Conforme aponta
Saviani (2005), para existir a escola não basta a existência do saber
sistematizado. É necessário viabilizar as condições de sua transmissão e
assimilação. Isso implica dosá-lo e sequenciá-lo de modo que a criança passe
gradativamente do seu não domínio ao seu domínio,
trata-se da organização dos meios (conteúdos,
espaço, tempo e procedimentos) através dos quais, progressivamente, cada
indivíduo singular, realize, na forma de segunda natureza, a humanidade
produzida historicamente. ( SAVIANI, 2005, p. 14,18)
Nesta perspectiva compreende-se que:
. Aprendizagem promove avanços no desenvolvimento;
. Ensinar é essencial.
. Professor e Educador Infantil como mediadores do processo para a apropriação do conhecimento, aprendizagem e desenvolvimento.
. Aprendizagem se dá pela mediação do adulto, da criança mais experiente, sendo o conhecimento elemento essencial para o processo de
aprendizagem, e a organização do espaço ocorre de acordo com o que se pretende
ensinar;
. O desenvolvimento ocorre em função da aprendizagem, portanto, o ensino planejado intencional, é essencial. Ensinar e aprender são
processos interdependentes. O desenvolvimento não é linear, nem ocorre em
fases, mas sim em níveis de desenvolvimento;
. Não desconsidera o biológico, pois este é um substrato, dá sustentação, porém, o social prepondera sobre o biológico;
. Conhecimento é científico, uma organização da cultura historicamente acumulada em conhecimentos escolares.
. Brincar como atividade principal, o lúdico planejado intencionalmente, como forma de apreender o real;
. A linguagem é mediadora do pensamento e ações (organiza o pensamento e produz consciência). Por meio da linguagem, a criança não
apenas assimila signos, mas, sobretudo elabora as significações socialmente
construídas e o que representa.
Nesse contexto,
considera-se que as crianças ouvem sons variados, músicas infantis, clássicas,
sons de instrumentos diversos, cantam, constroem objetos, brinquedos, comparam,
classificam, juntam, separam, dividem, empilham, contam, pintam, desenham,
modelam, vocalizam poemas, quadrinhas, parlendas, manuseiam livros, revistas,
ouvem, relatam e contam histórias, dramatizam, imitam pessoas e animais e
encenam situações do cotidiano, de histórias ouvidas, brincam com tintas,
cores, sons, imagens, instrumentos e técnicas diversificadas, explorando e
aprendendo sobre o mundo físico, natural, social e cultural à sua volta, sobre
as pessoas, si mesmo
Essas
atividades planejadas intencionalmente com os conteúdos organizados nas
Linguagens que são: Linguagem Oral, Leitura e Escrita; Linguagem Matemática;
Linguagem da Expressão Corporal, Linguagem do Mundo Físico, Social e Natural;
Linguagens da Arte (dança, música, teatro e artes visuais) são essenciais para
a formação de conceitos, o desenvolvimento das funções psicológicas superiores
e o processo de aprendizagem e desenvolvimento das crianças em sua totalidade.
Nessa concepção
destaca-se o método apontado por Saviani para a exploração dos conteúdos, sendo
eles: prática social inicial, problematização, instrumentalização, catarse e
prática social final.
A prática social inicial significa
conhecer a experiência de cada criança, as vivências e experiências que já
possuem sobre o conteúdo. Geralmente é um conhecimento de senso comum, empírico,
sincrético. Todavia, esse conhecimento é sempre uma totalidade que representa
sua visão de mundo, sua concepção da realidade, ainda que, muitas vezes,
naturalizada. Essa prática é importante e se faz necessária para que o conteúdo
a ser trabalhado mostre vinculação com a realidade.
Neste momento o
trabalho pedagógico e a mediação do Professor(a) e Educador(a) Infantil ocorre
de forma dialogada e participativa, faz-se uma avaliação diagnóstica
identificando os conhecimentos das crianças sobre determinando assunto para, a
partir daí, realizar o processo de mediação de forma significativa.
A problematização representa
o momento do processo pedagógico em que a prática social é
posta em questão, analisada, interrogada, levando em consideração o conteúdo a
ser trabalhado e as exigências sociais de aplicação desse conhecimento. Surgem
as dúvidas e ocorre a discussão de questões inerentes ao conteúdo proposto. É
aqui que ocorre o ato de vislumbrar o conteúdo em diferentes dimensões sociais.
Um conteúdo problematizado deverá mostrar-se através de várias dimensões:
conceitual, histórica, social, política, estética, religiosa e outras indicando
as possibilidades de
A instrumentalização é a parte dos
encaminhamentos onde o Professor ou Educador(a) Infantil aborda o conteúdo com
fundamentação científica, organizado, sequenciado, exemplificado, e, na
educação Infantil primando pelo brincar como forma organizativa para a
exploração do(s)
conteúdo(s), ou seja, por
meio de jogos, brincadeiras, músicas, imagens, histórias, dramatizações,
diferentes formas de registro, entre outros, para a criança apropriar-se dos
instrumentos teóricos e práticos necessários, visando a superação dos
conhecimentos iniciais, ou seja, é a apropriação do conhecimento, pelo trabalho
organizado e planejado intencionalmente.
A catarse é o momento em que a criança
manifesta um entendimento do conteúdo. Ele apropria-se do conhecimento
científico. Segundo Saviani (2008) catarse é a expressão elaborada da nova
forma de entendimento da prática social a que se ascendeu. [...] Trata-se da
efetiva incorporação dos instrumentos culturais, transformados agora em
elementos ativos de transformação social.
Pode ser
considerado como o ponto culminante do processo educativo, que se realiza pela
mediação no ato de ensinar, a passagem da síncrese à síntese; em conseqüência,
manifesta-se pela capacidade das crianças expressarem uma compreensão do(s)
conteúdo(s) trabalhado(s), de forma mais elaborada.
A prática social final demonstra o que
realmente a criança aprendeu, manifestando mudanças em seu comportamento em
relação ao(s) conteúdo(s). Um exemplo pode ser em relação ao conteúdo higiene e
saúde, alimentação saudável, a mudança de comportamento da criança, que antes
não ingeria determinadas frutas, verduras, legumes, e, após o trabalho
pedagógico, passa a ingeri-los.
Articulação da Educação
Infantil com o Ensino Fundamental
Para a
articulação da Educação Infantil com o Ensino Fundamental faz-se necessário
compreender esses dois níveis da Educação Básica como um conjunto orgânico,
sequencial e articulado no que diz respeito ao processo educativo.
A Educação
Infantil e o Ensino Fundamental embora se constituam em diferentes e
insubstituíveis momentos da vida dos estudantes, inscritos em tempos e espaços
educativos próprios a cada etapa do desenvolvimento humano, inscrevem-se em
trajetória que deve ser contínua e progressiva.
Quando
defendemos a educação como processo de formação humana, significa formação para
a emancipação das crianças e dos adultos que nesses espaços atuam.
Pensar em
educação para a cidadania nessa perspectiva implica, além das condições de
acesso, a garantia da permanência na escola com sucesso, ou seja, aprendendo e
se desenvolvendo em todas as dimensões.
Sendo assim
cabe destacar o que aponta o Parecer 7/2010 do CNE-CEB em relação ao cuidar e
educar:
... é oportuno e necessário considerar as dimensões do educar e do
cuidar, em sua inseparabilidade, buscando recuperar, para a função social da
Educação Básica, a sua centralidade, que é o estudante. Cuidar e educar
iniciam-se na Educação infantil, ações destinadas a crianças a partir de zero
ano, que devem ser estendidas ao Ensino fundamental, Médio e posteriores. Em
cada criança, adolescente, jovem ou adulto, há uma criatura humana em formação
e nesse sentido, cuidar e educar são, ao mesmo tempo, princípios e atos que
orientam e dão sentido aos processos de ensino, de aprendizagem e de construção
da pessoa humana em suas múltiplas dimensões.
Nesta
perspectiva, a cidadania, a cooperação, o respeito, o cuidado consigo e com os
outros, a apropriação de conhecimentos, entre outros relacionados ao processo
de ensinar e aprender tem início na Educação Infantil, mas se estendem com a
continuidade desse trabalho no Ensino Fundamental.
Para isso, a Educação
Infantil deve organizar ações para acompanhamento do processo de ensino e
aprendizagem e para a avaliação, sem objetivo de seleção, promoção ou
classificação. Há a necessidade de realizar reuniões com os pais ou
responsáveis, bem como, a utilização de diferentes registros (relatórios,
fotografias, desenhos, álbuns, portfólios...), enfim, documentação específica
que permita às famílias e à escola para a qual a criança for no ano
subsequente, conhecer o trabalho da Educação Infantil junto às crianças e os
processos de aprendizagem e desenvolvimento da criança na Educação Infantil.
Além desses
instrumentos é importante um diálogo por meio de visitas, reuniões, convite aos
profissionais do ensino fundamental para participação em exposição dos
trabalhos pedagógicas desenvolvidos na Unidade de Educação infantil, pois essas
ações minimizam a ansiedade e a insegurança das crianças, das famílias, e
também dos profissionais que terão esses em sua sala
Assinar:
Postagens (Atom)