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segunda-feira, 9 de junho de 2014

Arqueologia do Paraná


Ponta. Altamirado Paraná.
                     
Arqueóloga Dra. Claudia Inês Parellada
Museu Paranaense

A atual exposição do Museu Paranaense podem ser observados vestígios relacionados a diferentes ocupações humanas, a partir de 12.000 anos atrás,  no atual território paranaense. Na visita faz-se uma grande viagem no tempo e no espaço por cerca de mil peças arqueológicas dispersas em vitrines, dioramas e contextualizadas com painéis e maquetes.

São peças provenientes de diversas regiões do Paraná, e que procuram iluminar ainda mais o passado. Trata-se de uma exposição resultante de um grande quebra-cabeças científico, no qual as pesquisas possibilitam a incorporação de novos materiais, e que o visitante pode percorrer e viajar pelo tempo...

Os primeiros povos, os paleoíndios, chegaram ao Paraná há mais de doze mil anos, vindas das terras altas do centro e oeste sul-americano: áreas andinas e amazônicas, encontrando aqui um clima diferente do atual, mais frio e seco, com a vegetação predominante de campos e cerrados.

Estes povos conviveram com animais da megafauna, como a preguiça gigante, o mastodonte e o tigre dente-de-sabre, fazendo grandes pontas de projéteis, e caçando também aves, pequenos mamíferos e roedores, além de praticarem a pesca.

Há dez mil anos, com  o clima tornando-se cada vez mais quente e úmido, outros grupos caçadores e coletores migram para o Paraná, ocupando em momentos diversos tanto o vale de grandes rios, tais como o Iguaçu, o Ivaí, o Tibagi e o Paraná, como topos de morros e montanhas, inclusive abrigos rochosos, e o litoral. São povos relacionados ao período arcaico, e no sul do Brasil denominados Umbu, Humaitá e Sambaquieiros.

Os sambaquis são aterros elaborados por diferentes populações pré-coloniais, principalmente de conchas de moluscos e gastrópodos, e em menor escala de ossos de animais, alguns  menores compostos por restos alimentares e outros, os maiores com altura de até 25 metros, planejados e construídos como grandes centros cerimoniais, com muitos sepultamentos associados. Deve ser destacado que parte dos sambaquis é formada por diversas camadas arqueológicas, originadas por ocupações de culturas muitas vezes distintas.


Abrigo Pontão. 

Ao lado está um sepultamento fletido, semelhante à posição fetal,  evidenciado a 3,20m de profundidade junto ao sambaqui do Poruquara, no litoral norte paranaense. A conservação de ossos humanos, mesmo que possam ter mais de dois mil anos, acontece em ambientes específicos, como os ricos em cálcio, devido à grande quantidade de valvas de moluscos e gastrópodos.

No planalto, como no vale do Ribeira, existem também os chamados sambaquis fluviais, onde ocorrem vestígios associados a gastrópodos terrestres nas proximidades de grandes rios.

Os povos Umbu e Humaitá eram nômades que permaneciam tempos curtos em cada acampamento, caçando animais, coletando frutos e raízes, e muitas vezes deixando representações simbólicas de seus mitos e histórias através de gravuras, pinturas e esculturas nas rochas. As pinturas, geralmente vermelhas ou pretas, são figuras de animais associadas a seres geométricos, seres humanos e plantas.
                
A maior parte das pinturas rupestres no Paraná está concentrada em abrigos e cavernas nos Campos Gerais, apesar da arte rupestre se distribuir por todo o território paranaense.


Esqueleto encontrado no Sambaqui de Poruquara.

Para caçar usavam armadilhas, arpões e flechas com pontas de osso, madeira e pedra, e preparavam os alimentos com auxílio de talhadores, raspadores e facas lascadas em rochas ou minerais.  Testemunhos desse período recuado foram encontrados em um dos sítios arqueológicos mais antigos do Paraná: Ouro Verde, situado no sudoeste paranaense, no vale do rio Iguaçu, e onde foram identificados vestígios de caçadores-coletores Umbu com mais de nove mil anos.

Os primeiros povos ceramistas e agricultores chegaram ao Paraná há quatro mil anos, vindos do planalto central brasileiro. Eram os Itararé-Taquara, ancestrais de índios da família linguística Jê como os Kaingang e Xokleng, que vivem até hoje no sul do Brasil, e que tiveram intensa miscigenação com os antigos caçadores-coletores aqui estabelecidos.
                   
Os agricultores Itararé-Taquara moravam em aldeias, com 200 a 300 pessoas, divididas em 4 a 6 casas comunitárias. Em áreas próximas plantavam roças de milho, amendoim, feijões e abóboras. No período em que aguardavam  o crescimento das plantações dividiam-se em pequenos grupos, para a coleta de mel, pinhão e diversos frutos. Assim, contribuíram bastante para a expansão de áreas com pinheiro araucária, pitanga, jaboticaba, araçá, jerivá e palmito, realizando o manejo dessas espécies.
  
Os Itararé-Taquara usavam flechas, algumas com ponta-virote, que serviam para caçar animais e derrubar pinhas, além de grandes pilões de pedra, lâminas de machado polidas petalóides e semi-lunares.


Enterravam os mortos construindo aterrros, algumas vezes na forma de grandes estruturas circulares, com pedras ou não, ou cremavam os mortos. Alguns cemitérios, com sepultamentos estendidos e fletidos, ficavam junto a abrigos rochosos, em áreas consideradas sagradas, onde eram feitas pinturas e gravuras, geométricas ou figurativas.

A cerâmica Itararé-Taquara possui geralmente forma cilíndrica e espessura fina, algumas vezes recoberta por engobo negro ou vermelho. A decoração externa da cerâmica era feita com impressão de carimbos ou malha grossa, e também incisões, antes da queima dos vasilhames. As técnicas de manufatura eram o acordelado, o paleteado e o modelado.
     
Há dois mil anos chegaram ao Paraná populações da família linguística Tupi-Guarani, os Tupiguarani, ancestrais de índios Tupi e Guarani, cujos descendentes vivem até hoje no Brasil e em países vizinhos. Vieram provavelmente da Amazônia, ocupando primeiro o norte e oeste paranaense, para depois fundarem aldeias no planalto curitibano e litoral.

Agricultores, plantavam especialmente mandioca, milho, batata-doce e feijão, e moravam em aldeias com 300 a 400 pessoas em grandes casas comunitárias. A cerâmica é diagnóstica para compreender aspectos do cotidiano dos índios Tupi e Guarani, a pintura em linhas vermelhas e pretas sobre engobo branco é muito comum e revela parte da cosmologia desses povos. A forma carenada, assemelhada a quilha de um navio, de algumas panelas cerâmicas é característica de povos Tupi e guarani.


Maquete de Villa Rica. 

Vasilhame GuaraniOs Tupiguarani costumavam sepultar os mortos acondicionados em grandes vasilhames cerâmicos, no interior das habitações, que em seguida eram queimadas e reconstruídas. O recipiente usado para enterrar geralmente pertencia ao morto, e tinha como funções básicas anteriores armazenar grãos, fermentar bebidas e preparar alimentos.
      
Os principais artefatos em pedra encontrados em sítios arqueológicos Tupiguarani  são lâminas de machado polidas ou lascadas, adornos labiais em forma de "T" (tembetás), raspadores, talhadores, polidores em canaleta e adornos polidos perfurados.

Nesta exposição ainda são mostrados materiais relativos a ocupação espanhola no Paraná, afinal o Tratado de Tordesilhas, celebrado entre Portugal e Espanha em 1494, colocava o atual território paranaense, a oeste de Paranaguá, como sendo espanhol.

Nesta área, denominada Província del Guairá, povoada por grupos indígenas das famílias linguísticas Tupi-Guarani e  Jê, a Coroa espanhola fundou, a partir de 1554, cidades, inicialmente Ontiveros, depois entre 1556 e 1557,  Ciudad Real del Guairá, cujas ruínas atualmente estão localizadas no município paranaense de Terra Roxa.

A terceira cidade espanhola  fundada  foi Villa Rica del Espiritu Santo, em 1570, nas proximidades do rio Cantu. Em 1589, depois de epidemias de varíola e gripe no local da primeira fundação, Villa Rica foi transferida para as proximidades da foz do rio Corumbataí no Ivaí. Lá, no atual município paranaense de Fênix, existe o Parque Estadual de Vila Rica do Espírito Santo, com um museu arqueológico aberto a visitantes.


Pinturas rupestres. Abrigo Floriano no Parque Guartela.

A partir de 1610, numa tentativa de conquistar o Guairá com menor número de conflitos com os grupos indígenas Guarani e Jê, foram criadas quinze missões jesuíticas, que tiveram apoio da Coroa espanhola.

As datas das fundações, algumas controversas, e os nomes das missões coordenadas por padres jesuítas  no Guairá foram:           

- 1610: Nuestra Señora de Loreto e San Ignacio Mini
- 1624: San Francisco Xavier
- 1625: San Joseph, Nuestra Señora de Encarnación
- 1626: Santa Maria
- 1627: San Pablo del Iniaí, Santo Antonio, Los Angeles, San Miguel, San Pedro, Concepción de Nuestra Señora de Guañaños
- 1628: San Thomas, Ermida de Nuestra Señora de Copacabana
- 1630: Jesus-Maria
                              
Os ataques dos bandeirantes paulistas, para capturar indígenas para trabalhar em áreas agrícolas de São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia,  eram contínuos desde o final do século XVI, e assim até 1631 todas as missões foram destruídas  ou simplesmente abandonadas.


sábado, 7 de junho de 2014

Contragolpe cristão dentro do Terceiro Reich.


Um exemplar de Fundamentos do nacional-socialismo, de Alois Hudal, entregue a Hitler em novembro de 1936 como parte de uma conspiração pra dividir o movimento nazista. Imagem: Arquivo Pessoal CHH.

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Esse trabalho é baseado no livro “A Biblioteca esquecida de Hitler: os livros que moldaram a vida do Führer”, do autor Timothy W. Rybach. 
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Em 1936 o bispo Católico Alois Hudal, com então 49 anos escreveu o livro Fundamentos do nacional-socialismo.  A primeira vista poderia parecer mais um livro dentre tantos que apoiavam e instruíam os cidadãos dentro das políticas do nacional-socialismo. O livro era apresentado com uma capa marrom estridente que lembra os uniformes das Tropas de Assalto, com seu título e autor escritos em um tom dourado atenuado em uma capa de linho. A principio parece um tratado conspiratório, assim como a fotografia brilhante em página inteira de seu autor, mal parece a imagem do artífice de uma trama do Vaticano para dividir o movimento nazista de dentro, purificá-lo das toxinas antissemitas, infundi-lo de caridade cristã e despertar em seus seguidores o catolicismo romano latente que os conspiradores tinham certeza de que jazia dormente dentro de suas almas.

O herege livro “O Mito do Século XX”.

Um plano que parecia tão ingênuo quanto ambicioso, mas por algumas horas em novembro de 1936, quando Hitler recebeu o livro, aquele plano pareceu cambalear à beira do sucesso, uma conspiração de um homem só (bispo franciscano Alois Hudal) iniciado dois anos e meio antes, na tarde de 7 de fevereiro de 1934, por um estudioso do Antigo Testamento.


Exemplar do livro O Mito do século XX de Alfred Rosenberg. Hitler certa vez descreveu o livro como algo impenetrável. Esta edição de 1940 contém o Ex-Libris de Hitler, mas não mostra sinais de ter sido lida. Imagem: Arquivo Pessoal CHH.

Naquela tarde especial de 1934, Hitler recebeu o cardeal Karl Joseph Schulte, , bispo de Colônia, em seu escritório na Chancelaria do Reich. O cardeal viera a Berlim para expressar sua preocupação com a agitação anticristã crescente entre os nazistas locais e, em particular, com a recente nomeação de Alfred Rosenberg como o “Ideólogo principal.” de Hitler, responsável pelo bem-estar “espiritual” do povo alemão. Agora o cardeal Karl Joseph Schulte vinha levantando a questão com o próprio Hitler. Este foi lembrado de que Shulte era responsável pelo bem-estar espiritual de 7 milhões de católicos, que inicialmente apoiaram a tomada do poder pelos nazistas e o acordo firmado com o Vaticano. Schulte disse que havia observado um aumento preocupante da retórica anticristã e anticlerical entre os líderes nazistas, tendências agravadas ainda mais pela nomeação de Rosenberg como “representante” do ensino “ideológico e espiritual”. Não apenas monitoramento do ensino Religioso violava os termos do acordo com o Vaticano, como Rosenberg era um conhecido militante crítico da Igreja, fato que ficava bem claro em seu livro o Mito do século XX.

Rosenberg estava entre os nazistas anticristãos mais militantes, seu livro O mito do século XX constituindo um compêndio de heresias, incluindo a defesa da poligamia, a esterilização forçada e a propagação do “quinto Evangelho”, que revelaria a verdadeira natureza de Jesus Cristo. De acordo com aquele “Evangelho perdido”, Jesus era revoltado contra seu próprio povo, era um profeta irado propenso a destruição. Em seu livro Rosenberg alegou que “São Pedro, agindo como um agente judeu, mudou seu nome para de Saulo para Paulo e ocultou o quinto Evangelho como meio de escravizar os povos da Europa” (A mais pura paranoia antissemita).

Rosenberg falou de uma ética cristã “judaizada” e imaginou o surgimento de uma nova religião. Com símbolos de culto voltados a soldados tombados em batalha, como símbolos do mito eterno do sangue e vontade, deram a vida pela honra do nome alemão.

E novembro de 1933, o Vaticano havia feito um protesto formal contra a inclusão do Mito de Rosenberg nos currículos escolares, mas em vão. Em janeiro o ministro da Educação prussiano incluiu o livro numa lista de títulos “recomendados” a bibliotecas escolares. Os bispos fizeram soar o alarme.

“Recentemente, soube que o livro O mito do século XX deveria ser incluído nas bibliotecas escolares das escolas de nível médio. Esse livro de Rosenberg não condiz com tal biblioteca no mínimo caberia no Index [o Index Librorum Probitorum do Vaticano, a famosa lista de livros proibidos].”

Cardeal Karl Joseph Schulte

À menção do livro de Rosenberg fez Hitler interromper Shulte.
“Não quero aquele livro, Rosenberg sabe disso! Eu mesmo lhe disse que não quero nenhuma relação com aquelas coisas pagã”.
Adolf Hitler

O cardeal Schulte respondeu que Hitler não podia mais falar assim sobre Rosenberg e seu livro, Herr chanceler do Reich, porque, há poucos dias o senhor nomeou oficialmente esse mesmo Herr Rosenberg como instrutor ideológico do Partido Nazista e, portanto como instrutor de grande parte do povo alemão e portanto quer goste ou não o senhor será identificado com Herr Rosenberg! Hitler respondeu que se identificava com Herr Rosenberg, mas com o autor do livro O Mito. Hitler Repetiu que sua convicção de que sua convicção de nomear Rosenberg nada tinha a ver com seu livro o Mito. O livro repetiu Hitler era assunto particular. E destacou que se alguém devia ser responsabilizado pelo livro, era a Igreja Católica, pois foram os bispos que tornaram o livro de Rosenberg tão conhecido. Sem eles, ninguém ele teria dado a menor atenção. Quando Schulte disse que Hitler estava “distorcendo” os fatos, este mudou de assunto. O encontro chegou a um final nervoso.

O Contragolpe Cristão com o livro “Fundamentos do Nacional-socialismo”.

            Em 1933, Hitler foi nomeado por Paul Von Hindenburg com o 16º chanceler da República de Weimar. Na noite de 30 de junho de 1934, numa operação conhecida como “Noite dos Longos Punhais”, Hitler mandou eliminar líderes do Partido Nazista que discordavam de suas opiniões, muitos foram presos e executados. Hitler agora detinha a autoridade absoluta, e a natureza implacável do seu regime era evidente a todos.

            Mas enquanto Hitler eliminava a dissidência em seu país e no próprio partido, a trama do bispo católico Alois Hudal para solapar a movimento nazista já estava em andamento. Na mesma tarde em que Hitler discutiu com o cardeal Schulte sobre o livro o Mito de Rosenberg, uma assembleia de cardeais conhecida como Santo Ofício se reunia em Roma para tomar uma decisão que pôs em marcha os projetos ambiciosos do bispo Hudal.

Nas negociações com o Partido Nazista que culminaram no acordo da primavera e verão de 1933, o bispo Hudal havia identificado duas facções dentro do movimento nazista: os “conservadores” como Goering e Goebbels, preocupados principalmente com o poder político, e os “radicais” do partido, como Rosenberg, que promoviam uma ideologia ariana fanática e estranha. Completando a inclusão do livro o Mito de Rosenberg no Index, o bispo Hudal recomendou uma campanha de relações públicas para expor essas divisões e forçar Hitler a tomar partido.

            Para o bispo Hudal, a expectativa pública poderia obrigar Hitler e Von Papen a se distanciarem dos radicais e adotar plenamente os termos do acordo como parte de seu “dever com a felicidade” do povo alemão. Desse modo disse o bispo Hudal, a posição do Vaticano e de todos os jornais católicos possíveis no exterior deve ser a exigência idêntica no espírito idêntico: Von Papen e Hitler, Hitler e Von Papen! Só assim segundo Hudal um clima potencialmente benéfico pode ser criado.

            Segundo o bispo Hudal, uma vez que o movimento nazista tivesse sido polarizado, os “radicais” apartados na extrema esquerda e os “conservadores” atraídos para a ala cristã, Hudal pretendia propor um projeto teológico combinado à crença católica romana com a doutrina nacional-socialista. Hudal via grande potencial nisso.

            Se os nazistas pudessem ser persuadidos a abandonar o “antissemitismo” a favor do “antijudaismo”, ou seja, incomodar-se com a comunidade religiosa, em vez da racial, o bispo Hudal acreditava que os alemães pudessem criar uma forma catequizada de fascismo que representaria a força política e social mais poderosa da Europa: a disseminação do bolchevismo. Hudal se referiu a certa “Wermacht do espírito” e notou que o ministro do Exterior soviético, Viatcheslav Mólotov, declarara que a maior ameaça ao comunismo seria a fusão do fascismo com o catolicismo romano.

            Quando o bispo Hudal delineou sua estratégia durante uma audiência privada com Pio XI, o papa ouviu pacientemente e depois disse ao bispo austríaco que este julgara mal Hitler e seu movimento ao achar que o nacional-socialismo representava um sistema de crenças.

“Ai você cometeu seu primeiro erro bispo Hudal. Você não pode falar de nada espiritual nesse movimento. É um materialismo total.”
Papa Pio XI

Para o Papa Pio XI, não havia desejo por parte dos nazistas de entrar em acordo com o cristianismo, e nunca haveria. O movimento envia táticas e poder, não fé ou crença. No final da audiência, Pio XI informou Hudal que não acreditava na “possibilidade de uma compreensão” entre nazistas e católicos, mas desejava a Hudal “boa sorte” em sua iniciativa. Hudal ignorou o conselho papal, pois acreditava que existia dentro de Hitler ainda aquele menino que um dia recebeu lições de canto no coro paroquial de Lambach e que via na posição de pároco de aldeia o ideal de vida e que deseja no mais  a situação de abade uma grande aspiração (Estas palavras o bispo Hudal extraiu lendo Mein Kampf).

            Na primavera de 1935, quando Hudal se aproximou de Von Papen com sua proposta de uma fusão católico-fascista, ele instintivamente viu o potencial e acreditou que aquilo fosse agradar Hitler, não apenas por razões táticas, mas também devido às ressonâncias mais profundas com sua formação austríaco-católica.

            Naquela primavera, ao discutir a proposta de Hudal várias vezes com Hitler, ficou encorajado pelo “grande interesse” que este mostrou pela ideia. Von Papen aconselhou Hudal a não publicar sua obra até que tivesse oportunidade de mostrá-la pessoalmente a Hitler e assegurar sua aprovação pessoal. Hudal concordou em aguardar.

            Em 8 de junho de 1936, durante uma reunião com Hitler e Goebbels, Von Papen apresentou os originais de Hudal, louvando sua capacidade de reduzir a distância entre a teologia católica e a ideologia nazista, formando assim um anteparo contra a ameaça bolchevique. Conforme a previsão de Hudal, Hitler pareceu receptivo à ideia. Goebbels manteve-se cético. Pegou os originais e disse que iria examinar. Uma semana depois, enviou a Von Papen uma lista de dezessete pontos de que discordava. “Livro do bispo Hudal proibido, Von Papen intercedeu muito por ele”, Goebbels anotou no seu diário. Mas Von Papen não esmoreceu. Mostrou a resposta de Goebbels a Hudal e recomendou que o bispo fizesse as emendas sugeridas. Depois escreveu a Hitler insistindo que apoiasse Hudal “de modo a manter esse homem capaz de lutar por nós e não expô-lo ao grupo de cardeais que são seus superiores e podem silencia-lo para sempre se seu livro iminente for oficialmente proibido”.

            Conforme se pretendia, o manuscrito de Hudal semeou a discórdia entre a elite nazista. Claro que Von Papen pressionou pela publicação. Rosenberg ficou furioso com o fato de que um bispo pudesse “impor” condições ao partido. No início de outubro, Hitler cansado do exibicionismo e brigas em torno do original de Hudal, “endossou” o livro. Fundamentos do nacional-socialismo, de Hudal, foi publicado naquele mês pela Johannes Günther Verlag, em Viena. As fissuras na elite do Partido Nazista forma claras, as posições se acirrando, mas a balança parecia pender a favor de Hudal.

“Em setembro de 1935, Hitler já havia se distanciado publicamente dos radicais do partido. Seu discurso é uma rejeição singular de Rosenberg e Streicher. Mas Hitler também vinha se cansando de Goebbels que por quase dois anos tem orquestrado calúnias e difamações contra o clero católico”.

Timothy W. Ryback

            Em outubro, os primeiros exemplares do livro de Hubal, “Os fundamentos do nacional-socialismo” saíram da gráfica. Sentado no escritório em 3 de novembro de 1936, Hudal, com uma série de floreios elegantes escreveu uma dedicatória no primeiro exemplar para “o Führer da ressurreição alemã” e “Siegfried da esperança e grandeza alemã,” entregando-o depois a Von Papen para que fosse presenteado a Hitler. Em 14 de novembro de 1936 Von Papen se reuniu com Goebbels e Martin Bormann e entregou o livro a Hitler, este lhe disse que com certeza leria. Nessa reunião iniciaram-se debates que durariam horas e no final os “radicais” do partido acabaram prevalecendo. “No final, consegui assegurar a importância de 2 mil exemplares sob pressuposto de que seriam distribuídos aos círculos dominantes do partido”, Von Papen mais tarde lembrou. “A tentativa de uma discussão séria acabou sendo sabotada”.  “O livro de Hudal foi de novo derrubado”, Goebbels escreveu no seu diário.

            Quando Hudal soube do resultado, ficou arrasado. Com toda a sua ambição para o livro, este havia sido relegado a um círculo de indivíduos que dificilmente o leriam, e menos ainda o entenderiam. Fundamentos havia se tornado irrelevante. Mais ou menos na mesma época, o Vaticano se distanciou do livro de Hudal numa declaração final:

“Como o próprio autor declarou a uma entidade austríaca, e com base em diferentes observações solicitadas, declara-se que, ao escrever seu livro, não foi inspirado por mais ninguém e não foi oficialmente incumbido de fazê-lo”.

Declaração do Vaticano sobre o livro de Hudal,
Fundamentos do nacional-socialismo.
Novembro de 1936.

O bispo Hudal sentiu-se insultado e magoado com o que ele considerou uma afronta. Ao reclamar com um cardeal sobre aquela reprimenda pública, foi informado de que poderia ter sido pior. De acordo com o cardeal, o Papa Pio XI ficara furioso com os Fundamentos do nacional-socialismo e defendera sua inclusão no Index. O que salvou Hudal de ser o primeiro bispo de todos os tempos a entrar no Index foi que pareceu “inoportuno”. Quando Hudal tentou discutir o assunto com o próprio papa, seu pedido foi recusado. Os bispos da Alemanha foram igualmente duros. Chamaram-no de “bispo nazista”.

            Hudal nunca se recuperou da derrota. Após a guerra , viu-se forçado a deixar seu posto no Vaticano, e foi transferido para um mosteiro isolado. O bispo controvertido talvez tenha se consolado com a máxima latina: habent sua fata libelli – os livros têm seu próprio destino.   

07/06/2014

Leandro Claudir é Acadêmico de História e Administrador do Projeto Construindo História Hoje.

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RYBACH, Timothy W. A Biblioteca esquecida de Hitler: os livros que moldaram a vida do Führer. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.

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segunda-feira, 2 de junho de 2014

Os enganos na História humana.


Você já percebeu que nem sempre as coisas são o que aparentam ser? Durante séculos, os cientistas acreditaram que a Terra era o centro fixo do Universo e que tudo, inclusive o Sol e as estrelas, orbitava ao redor dela. Foi um livre-pensador polonês, Copérnico, quem determinou que a Terra estivesse em movimento e girava em torno do Sol.

Ele comparou esse fenômeno à maneira como os marinheiros, quando estão dentro de um navio com o mar calmo, experimentam a ilusão de estarem perfeitamente parados enquanto tudo ao redor se move.

 “Da mesma maneira” escreveu Copérnico, “o movimento da Terra pode produzir a impressão inquestionável de que o Universo inteiro esta em rotação”.

Simplesmente porque o Sol e as estrelas aparentavam estar girando em torno da Terra não significa que isso que isso é verdade. Apenas porque outros acreditam também não. Os insetos, como se sabe, possuem seis patas. Durante séculos ninguém questionou o grande Aristóteles. As pessoas presumiam que as aranhas eram insetos e, portanto, tinham seis patas. Foi Jean-Baptiste Lamarck quem apresentou a classificação da aranha como um aracnídeo, possuidor de oito patas. Somente porque as pessoas acreditam em algo por séculos, não significa que seja verdade.

Seria possível que uma tradição como esta tenha se infiltrado em diversas áreas de estudo da vida humana? Seria possível que milhões tenham aceitado a falsidade no lugar da verdade, e poucos questionam isso? Seriam possíveis as tradições com seus fatos históricos distorcidos passar a ser aceitas como verdades?

Einstein foi considerado um dos maiores cérebros humanos. Mas teve alguns códigos da Inteligência represados? Sim. Foram tão represados que ele cometeu algumas falhas inadmissíveis na relação com um dos filhos, mas raramente se comenta esse assunto na imprensa mundial.

Einstein era um homem simples, sociável, gentil, amante da música, mas o código da Resiliência, a ser estudado, e o código da capacidade de se encantar atenta e prolongadamente com os pequenos estímulos da rotina diária estavam contraídos.



Se ele tivesse lutado contra as construções de seus vilões interiores como traços de pessimismo e pensamentos mórbidos não teria deixado de visitar seu filho de visitar por anos a fio seu filho portador de uma psicose no manicômio em que o internou. O ambiente tétrico do hospital e seu sentimento de impotência em lidar com fatos ilógicos também o angustiaram. Por não decifrar determinados fenômenos da mente humana, o gênio da física agiu em algumas áreas sem nenhuma genialidade. Einstein estudou os completou os buracos negros que são capazes de sugar e destruir estrelas e planetas inteiros como a Terra.