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segunda-feira, 4 de março de 2013

A vida urbana nas cidades romanas: Pompéia.



Vista geral, das muralhas do norte, em direção ao sul e ao Fórum. Imagem: Roma Legado de um império, volume I.

Quando falamos em um grande império, pensamos de igual modo em suas grandes cidades e capitais. E não foi diferente no Império Romano, aonde suas cidades eram de extrema importância provincial para economia, política e localizadas estrategicamente de modo a preencher requisitos militares de segurança e mobilidade. Este é o primeiro de uma sequência de textos sobre as principais cidades romanas. Veremos um pouco de sua origem, história e mitologia. Tenham uma boa leitura amigos Construtores!

Pompéia, originariamente uma cidade etrusca, foi ocupada pelos Samnitas no século V a.C. Depois disso, continuou a ser uma comunidade de língua osca, até que, no ano 80 a.C., Sila ali estabeleceu uma colônia. A seguir à sua destruição pela erupção do Vesúvio em 79 a.C., Pompéia permaneceu sepultada sob uma camada de cinzas e de lava até ao século XVIII.


Natureza-morta com ovos e tordos. As naturezas-mortas foram muito populares no período do Quarto Estilo (c. 55-79 d.C). Imagem: Roma Legado de um império, volume I.

A economia de Pompéia baseava-se sobretudo nos produtos do seu fértil território, em especial o vinho e o azeite, sendo também um próspero centro industrial e comercial, sendo as principais indústrias as da manufatura e acabamento de tecidos. Existem também muitos vestígios de produção artesanal em pequena escala, de comércio retalhista e de outras atividades comerciais.

Como todas as cidades romanas, Pompéia tinha um governo local inspirado no de Roma. A instituição governante era o conselho da cidade (ordo), composto por 80-100 homens (decuriões) procedentes da classe dos proprietários, que ocupavam o cargo por toda a vida. Os magistrados executivos eram dois duoviri (o equivalente aos cônsules romanos) eleitos anualmente, assistidos por edis, que administravam as obras públicas. Encontram-se graffiti que demonstra que as eleições despertavam grande interesse.

sexta-feira, 1 de março de 2013

O Período Interbíblico: os acontecimentos entre Malaquias e Mateus.



As Alianças de Deus com os Homens. Imagem: Adv. na Mira da Verdade.

Ao ler as Escrituras Sagradas notei que havia uma falta de informações sobre o Período Interbíblico que vai de Malaquias a Mateus, encontramos um silêncio divino de quatro séculos. Nesse período, chamado “Interbíblico”, por se localizar entre os dois Testamentos, Deus esteve preparando o mundo para o nascimento do Seu filho, para o advento do Cristianismo. Então creio que este tema será esclarecedor para os meus amigos leitores.
Deus preparou o mundo em vários aspectos para a vinda de Jesus; cada povo, no seu tempo, pela providência divina, criou as condições da sociedade em que o cristianismo apareceu realizando as suas primeiras conquistas.

Os babilônicos [1], [2] levaram o povo de Deus para o cativeiro e deram-lhe lições jamais esquecidas. Os persas [1], [2] fizeram-lhe retornar à Jerusalém, edificando o templo e restaurando o ensino da lei. Os gregos [1], [2] influenciaram intelectualmente o mundo, contribuindo ainda com um idioma universal, o “Koinê”. Os romanos [1], [2] contribuíram com a paz universal e o intercâmbio entre os povos unificados sob seu domínio.  Os judeus  [1], [2] contribuíram com a preservação do Antigo Testamento e a esperança messiânica que inocularam nos países por onde andaram, principalmente depois do cativeiro.

Deus, nesses 400 anos não falou por meio de profetas nem pela palavra escrita (nenhum livro inspirado apareceu nesse período), mas podemos dizer que com Sua mão poderosa, dirigiu os povos preparando o mundo para o nascimento de Jesus Cristo [1] [2].

Relato - Descrito profeticamente em Daniel 11 à 12.2.

Duração - De 430 a 5 aC (425 anos) --- De Malaquias ao advento.

Local - Palestina.

Fatos importantes:

Para facilitar o estudo, dividiremos o período interbíblico nos seguintes assuntos:

1- O período Medo-Persa

2- O período Greco macedônio

3- O período Romano

4- A literatura apócrifa

1- O período Medo-Persa

Após Neemias e Malaquias, a Palestina continuou sob os persas por mais quase 100 anos, até 330, quando a Grécia venceu a Pérsia. O centro do império Persa ficava onde hoje é o Irã. Suas capitais foram Babilônia e depois Susa, construída por Cambises ( Neemias 1.1; Ester 1.1; Daniel 8.2). Embora em cativeiro, o povo de Deus obteve os seguintes sucessos [1]:

1- Influência espiritual dobre Nabucodonosor e os  babilônios.

2- Idolatria destruída.

3- A lei de Moises respeitada.

4- Inauguração do culto público.

5- Reverdecimento da esperança messiânica.

6- Nacionalismo pronunciado.

No período interbíblico, os persas só dominaram no mundo por cerca de 100 anos. Em 330, Dario Condomano (Dario III) foi derrotado por Alexandre “O Grande” da Grécia na famosa batalha de Arbela. Não confundir esse Dario com o Dario II ( Nothus) de Neemias 12.22. O “Jadua” aí, também não é o mesmo sumo-sacerdote que recebeu Alexandre em Jerusalém, conforme descrição de Josefo em “Antiguidades”.

2- O período Greco macedônio

Busto de Alexandre o Grande Imperador da Macedônia (356-323 a.C.).

Alexandre “O Grande”, 336 a.C, com a idade de 20 anos assumiu o comando do exército grego e, à maneira de meteoro, investiu para o oriente, sobre as terras que estiveram sob o domínio do Egito, Assíria, Babilônia e Pérsia. Em 331 a.C, o mundo inteiro jazia aos seus pés. Invadindo a Palestina em 332 a.C, mostrou muita consideração pelos judeus, poupando Jerusalém e oferecendo-lhes imunidades para se estabelecerem em Alexandria. Esse período durou de 331 a 167 a.C [2].

Em 323 Alexandre “O Grande” morre na Babilônia aos 33 anos de idade. Após sua morte, seu império foi dividido entre quatro dos seus famosos generais, da seguinte maneira:

Seleuco I, Nicator - Ficou com a Síria, Ásia Menor e Babilônia. Capital, Antioquia da Síria.

Ptolomeu I, Sóter I, Ptolomeu Lagos - Aparece na História com esses nomes. Ficou com o Egito, capital Alexandria.

Cassandro - Ficou com a Macedônia e Grécia. Capitais Pella e Atenas.

Lisímaco - Ficou com a Trácia, atual Romênia.

Durante a época dos Ptolomeus e Selêucidas, a língua grega foi implantada na Palestina. O poder civil passou a ser exercido pelo sumo-sacerdote, que exercia também o religioso. A divisão política da Palestina contava com 5 províncias ou distritos: Judéia, Samaria, Galileia, Traconites e Peréia. Nessa fase surgiram as seguintes seitas religiosas:

Os fariseus: (heb. “separados”). Inicialmente primavam pela pureza religiosa, depois tornaram se secos, ritualistas e hipócritas. Eram nacionalistas [1].

Os saduceus: (heb. “justos”). Eram os aristocratas da época. Eram adeptos do que chamamos hoje racionalismo. Confira Atos 5.17; 23.8. Eram Helenistas (partidários dos gregos) [1].

Os essênios: Uma ordem monástica que praticava o ascetismo. A raiz que deriva a palavra “essênio significa “piedoso” [2].

Antioco Epifânio

Antíoco, o Grande, reconquistou a Palestina em 198 aC, que voltou para os reis da Síria, chamados “Selêucidas”. De 175-163 aC, foi violentamente rancoroso com os judeus; fez um esforço titânico e decidiu por exterminá-los e à sua religião. Devastou Jerusalém, em 168 aC; profanou o templo, em cujo altar ofereceu um porco; erigiu um alta à Júpiter; proibiu o culto no templo; impediu circuncisão sob pena de morte; destruiu todas as cópias das Escrituras que foram encontradas, matando a todos quantos foram achados de posse das mesmas; vendeu milhares de famílias judias para o cativeiro e recorreu a toda espécie imaginável de tortura para forçar os judeus a renunciar sua religião. Isso deu ocasião à revolta dos Macabeus, uma das mais heróicas façanhas da história [2].

O Perído Macabeu ou Hasmoneano. 

Matatias, sacerdote, de intenso patriotismo e imensa coragem, furioso com a tentativa de Antíoco Epifânio, reuniu um bando de leais compatriotas e desfraldou a bandeira da revolta. Tinha cinco filhos heróis e guerreiros: Judas, Jônatas ,Simão, João e Eleazar. Matatias faleceu em 166 aC. Seu manto caiu sobre seu filho Judas, guerreiro de admirável gênio militar. Ganhou batalha após batalha em condições de inferioridade incríveis e impossíveis. Reconquistou Jerusalém em 165 aC, purificou e reedificou o Templo. Foi esta a origem da Festa da Dedicação (João 10.22-23). Judas uniu em si a autoridade sacerdotal e civil e assim estabeleceu a linguagem dos sacerdotes-governadores Hasmoneanos, que pelos seguintes 100 anos governaram uma Judéia independente [2]. Foram eles:

Matatias – 167-166 aC.

Judas – 166- 161 aC.

Jônatas – 161- 143 aC.

Simão – 143- 135 aC.

João Hircano I – 135-104 (filho de Jônatas).

Aristóbulo e filhos – 104-63 (indignos do nome do Macabeus).

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Redescobrindo o Antigo Egito.



Bonaparte Diante da Esfinge. Imagem: Jean-Léon Gérôme, Óleo sobre tela (1868).

Quem já não imaginou como viviam os antigos egípcios? Como construíram seu império milenar? Acredito de todos pelo menos uma vez na vida, refletiram sobre esses temas, mas antes de podermos responder a essas questões temos que compreender que a civilização egípcia ficou perdida por centenas de anos. E devido a isso primeiro pensando nisso elaborei uma pequena introdução sobre a redescoberta do Egito faraônico. Ela inicia-se com duas datas precisas: 1789 e 1824. Antes disso não se sabia absolutamente nada a respeito desse período.

A primeira das duas datas (1798) corresponde à extraordinária expedição do general Napoleão Bonaparte no Egito. Com surpreendente visão de longo alcance, além de um corajoso exército, levou consigo um excelente grupo de técnico e de homens entendidos no assunto, munidos de livros, duzentas caixas de instrumentos científicos e duas tipografias completas, visto que em todo o Egito não existia nada disso. Ao todo cento e sessenta e sete “cientistas civis”, compreendendo naturalistas, botânicos, cartógrafos, engenheiros, astrônomos, geólogos, historiadores e, pelo que constam, desenhistas e arqueólogos. Esse douto esquadrão recebeu o apelido de “Asnos” [1].

Champollion e os hieróglifos

Entre os objetos recolhidos durante a expedição napoleônica havia uma estela fendida, com aparência totalmente insignificante, Deu-a casualmente a um oficial do Gênio, um tal Bouchard, que a passou a um dos “Asnos”.

Na estela três inscrições, a primeira em hieróglifo; a segunda em demótico; a terceira em grego – que indicava tratar-se de uma oferta sacerdotal feita por Ptolomeu V Epifane – constituía a chave para decifrar as duas primeiras.

Constatou-se logo que o documento era de excepcional interesse e por ordem pessoal de Napoleão a estela foi imediatamente reproduzida e litografada, sendo que depois de várias cópias foram enviadas a vários especialistas de línguas mortas.

Gastaram-se quinze anos para a interpretação de pelo menos a parte em demótico. O mérito disso cabe ao sueco J. D.Akerblad (1814). Mas os hieróglifos resistiam, inflexíveis. Como para a história, existiam apenas duas fontes de referência: a primeira eram os Hieroglyfhica, obra de Orapolo Nilótico que parece ter vivido no século IV d. C. Parecia antigo, dizia ser egípcio e portanto não havia motivo de se contestar quanto à autoria de sua obra que, no entanto, infelizmente se tornou inaceitável, embora tivesse algumas intuições certas [1].

Surgiu, posteriormente, a segunda fonte com a obra de P. Athanasius Kircher, este de indiscutível e vasta cultura; mas a sua Lingua Aegyptiaca restituta, publicada em Roma (1643), era de tal modo estranha que levou seus alunos a proclamar, e sem hesitação, que num obelisco em Roma está inciso um hino à Santíssima Trindade.


'Le Sphinx Armachis, Caire' . Imagem: Henri Béchard (1880).

Infelizmente, as dispersões destes dois ilustres estudiosos desencadearam todos aqueles que as tinham como boas. Somente a dois não atribuíram nenhum valor, desde o início. O primeiro foi oinglês Thomas Young, o qual seguiu pelo caminho certo, mas que, não encontrando, afinal, uma confirmação para o seu trabalho apenas por motivo de um erro banal de transcrição, deu-se por derrotado [1].

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

A História como veículo de construção.



Um exemplo do valor dos eventos históricos na sociedade. As primeiras ideias para construção do de um cais em Porto Alegre estruturado datam de 1833. Unindo o centro produtor regional com o maior porto marítimo do Mercosul, o Porto de Rio Grande. A conclusão geral do porto aconteceu em 1962. Imagem: Ronaldo Marcos Bastos.

O estudo da história seja ela regional nacional ou internacional é uma arma que pode ser usada para afirmar valores nas crianças e jovens ou até mesmo destruir valores e crenças em nossos futuros cidadãos.

Quando é passado para um jovem em sala de aula a história de seu país com seus heróis e seus feitos gloriosos que conduziram a sociedade a condições melhores de vida.  Esses cidadãos em construção sentirão que é parte dos acontecimentos citados, pois ele é brasileiro e se identificará com os feitos de seus compatriotas.

Ao levar questões locais da realidade de nossos cidadãos ao momento histórico que esta sendo tratado trará uma identificação pessoal com os heróis e suas lutas em suas épocas. A questão é realizarmos essa identificação com o passado por meio do presente, mas com a visão da época para os fatos. Porque não podemos olhar, por exemplo, para a década de 30 do século XX, aonde eventos como a quebra da bolsa de valores de New York levou a Grande Depressão, a revolução de 30 no Brasil encabeçada por Getúlio Vargas agitava a vida política nacional, a ascensão dos regimes fascistas na Europa que levaria a Segunda Guerra Mundial com a visão do século XXI. Agindo assim estaremos ‘pecando’ com os fatos tratados, pois agora podemos ver o todo dos eventos, mas na época tratada ninguém tinha como saber com exatidão aonde os eventos chegariam.

Em uma realidade presente devemos olhar para o passado de forma a nos identificarmos com os problemas que afligiam os cidadãos da época, mesmo que muitos problemas sejam semelhantes aos atuais o contexto era diferente. Exemplifico o nacionalismo para fins de um Estado forte da década de 30, onde uniformes, hinos, marchas moviam pessoas não só no Brasil, mas no mundo todo.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Como o Homo sapiens sapiens superou os outros hominídeos?



Fóssil de um Cro-Magnon (Homo sapiens sapiens) encontrado no sitio arqueológico de Mondeval Sora na Itália. Imagem: Science Photo.

Como vimos nos textos anteriores, como humanidade somos uma espécie que não possui concorrente na natureza e nem outras variedades de espécies humanas como ocorre com outros animais, mas aprendemos que nem sempre foi assim. Nas postagens “A Evolução do Homem: os primatas” e “A Evolução do Homem: a aurora da humanidade” entendemos que somente nos últimos 30 mil anos nós temos o domínio no planeta há mais ou menos cerca de 1,8 milhões de anos disputávamos o domínio no planeta com mais espécies como o Australopithecus boisei, robustus, Homo rudolfensis, Homo habilis, Homo erectus e Homo ergaster. E convivência não é a palavra mais correta a ser usada na relação que essas espécies mantinham umas com as outras. A suposição de que os "imigrantes" vindos do sul da África (Homo sapiens sapiens) teriam superado o Homo sapiens neanderthalensis na Europa e Oriente Médio por sua técnica mais avançada e sua maior inteligência é uma as suposições que possuímos acerca dessa situação estudada no texto “A Evolução do Homem: a supremacia do Homo sapiens sapiens.”.

Atualmente precisamos ver tudo isso como um processo cultural complexo, apontando as  mudanças climáticas nos últimos 40 mil anos de sua existência como um fator que possivelmente contribuiu para o desaparecimento do Homo sapiens neanderthalensis. Tais mudanças podem ter desencadeado movimentos migratórios, o que teria sido reforçado pela chegada de novos grupos humanos ao continente. Na Europa de 40 mil anos atrás viviam 250 mil pessoas no máximo, não deve ter sido muito difíceis para o novo grupo de Homo sapiens multiplicar-se e superar os "primeiros europeus [1].” O interessante é que o código genético da raça humana moderna não possui quase nenhum vestígio de parentesco com os homens e mulheres do Espécie Homo sapiens neanderthalensis.

Independente de como tenha sido, seja competindo por espaço, água ou quando possuía a mesma dieta alimentar competindo por comida, chegando a lutarem entre si pela sobrevivência da sua espécie [1]. Há diversas versões, muitas vezes contraditórias, sobre a cadeia de reações que gerou o homem, sobre o estilo de vida e comportamento dos hominídeos, de como eles e o Homo sapiens sapiens, entre 75 mil e 100 mil anos atrás teriam emigrado da África Austral para o resto do mundo, e de como interagiram com outros descendentes ou antecessores do Homo erectus dessas zonas. Vários Australopithecus conviveram, por alguns milhões de anos, com o Homo habilis e erectus. Como interagiram quando se encontravam, ninguém sabe ao certo [2].

Infelizmente, jamais será possível encontrar a verdade e os cientistas apenas podem conjecturar hipóteses, adaptadas aos achados que vão sendo descobertos, já que, como afirmou Napoleão Bonaparte (1769 - 1821).

"História,  é uma  versão de acontecimentos do passado sobre a qual algumas pessoas decidiram concordar."

Napoleão Bonaparte

As várias espécies de hominídeos que nos precederam, com diferentes graus de desenvolvimento eram mais propícios a caçarem-se mutuamente do que a terem convívios amigáveis e, ao entrarem em contato, tentavam matar os machos de outros grupos de hominídeos. Ainda hoje temos não só várias tribos humanas que lutam e matam-se mutuamente, por espaço vital [2].

As descobertas recente demonstram que o número de ossos ancestrais diretos não tem aumentado muito e essa quantidade de espécies ainda são poucas em relação ao número imenso de elos perdidos que faltam para fixar a escala evolutiva humana em uma plataforma segura onde não haverá aberturas para dúvidas.O que diferenciou o Homo sapiens sapiens foi seu maior desenvolvimento técnico desencadeado na explosão criativa do paleolítico, com o aperfeiçoamento do desenvolvimento da linguagem e a produção de ferramentas cada vez mais apurada [1].

Humanos, que estranhos primatas. Andando sobre duas pernas, possuidores de cérebros enormes e colonizadores incansáveis de cada canto da Terra. Antropólogos e biólogos procuraram sempre entender como a nossa raça diferenciou-se tão profundamente do modelo primata. Foram desenvolvidos, ao longo dos anos, todos os tipos de hipóteses, visando explicar cada uma dessas particularidades. Um conjunto de evidências, porém, indica que essas idiossincrasias mistas de humanidade têm, na realidade, uma linha em comum: elas são, basicamente, o resultado do que Charles Darwin, chamou de seleção natural, atuando para maximizar a qualidade dietética e a eficiência na obtenção de alimentos. Mudanças na oferta de alimentos parecem ter influenciado fortemente nossos ancestrais hominídeos. Assim, em um sentido evolutivo, somos o que comemos.

Dessa forma, o que comemos é ainda uma outra forma pela qual nos diferenciamos de nossos parentes primatas. Populações de humanos contemporâneos pelo mundo afora, adotam dietas mais calóricas e nutritivas que aquelas de nossos primos, os grandes macacos.

1-Então, quando e como os hábitos alimentares de nossos ancestrais divergiram dos hábitos de outros primatas?

O tipo de ambiente que uma criatura ocupa irá influenciar a distribuição de energia entre esses componentes, em que condições mais duras representam, obviamente, maiores dificuldades. No entanto, o objetivo de todos os organismos é o mesmo: assegurar a reprodução, visando garantir, a longo prazo, o sucesso das espécies. Portanto, ao observarmos a forma como os animais se deslocam para obter a energia alimentar, podemos compreender melhor como a seleção natural produz a mudança evolutiva. As características que mais distinguem os humanos de outros primatas são, certamente, os resultados da seleção natural, agindo no melhoramento da qualidade da alimentação humana, e a eficiência com que nossos ancestrais obtiveram os alimentos [1]. Alguns cientistas sugeriram que muitos dos problemas de saúde enfrentados pelas sociedades modernas seriam consequências de uma discrepância entre o que ingerimos e o que nossos antepassados comeram.

Estudos entre populações que vivem tradicionalmente apontam que os humanos modernos estão aptos a suprir suas necessidades nutricionais usando uma ampla variedade de estratégias. Adquirimos flexibilidade alimentar. A preocupação com a saúde no mundo industrial, em que alimentos calóricos concentrados estão facilmente disponíveis, não se originam de desvios de uma dieta específica, mas de um desequilíbrio entre a energia que consumimos e a que necessitamos.O que é extraordinário em nosso cérebro grande, sob uma perspectiva nutricional, é o quanto de energia ele consome aproximadamente 16 vezes mais que um tecido muscular por unidade de peso. Porém, apesar de os humanos apresentarem, quanto ao peso corporal, cérebros maiores que os dos outros primatas (três vezes maior que o esperado), as necessidades totais de energia em repouso do corpo humano não são maiores que a de qualquer outro mamífero do mesmo porte. Usamos uma grande parte de nossa quota diária de energia para alimentar nossos cérebros vorazes. Na verdade, o metabolismo de um cérebro em repouso ultrapassa de, 20 a 25%, as necessidades de energia de um humano adulto - bem mais que os 8 a 10% observados em primatas, e que os 3 a 5% em outros mamíferos [2].


2-Além disso, quanto os humanos modernos se distanciaram do padrão alimentar ancestral?

Baseando-nos nas estimativas de tamanho corporal de hominídeos compilados por Henry M. McHenry, da University of California, em Davis, Robertson  estimamos a proporção das necessidades de energia em repouso que poderiam ser necessárias para alimentar os cérebros de nossos antigos ancestrais. Um Australopithecus típico, pesando entre 35 e 40 kg, com um cérebro de 450 cm³, teria reservado cerca de 11% de sua energia em repouso para o cérebro. Enquanto um H. erectus, pesando entre 55 e 60 kg e com um cérebro de cerca de 850 cm³, teria reservado cerca de 16% de sua energia em repouso - ou seja, cerca de 250 das 1.500 kcal diárias - para este órgão [1]. Além de todos os primatas, espécies com cérebros maiores ingerem alimentos mais ricos; os humanos são um exemplo extremo dessa correlação, ostentando o maior tamanho relativo de cérebro e a dieta mais variada. Conforme as análises recentes de Loren Cordain, da Colorado State University, os caçador-coletores contemporâneos obtêm, em média, 40 a 60% de energia da carne, do leite e de outros produtos de origem animal [2].

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

A Evolução do Homem: a supremacia do Homo sapiens sapiens.



Cro-Magnon: Representação artística à esquerda e esqueletos pertencentes  a dois sepultamentos distintos. Imagem: Arquivo Pessoal CHH.

Chegamos na terceira e última parte do estudo sobre A Evolução do Homem. Até agora vimos na primeira parte: A Evolução do Homem: os primatas (Leia aqui), a origem comum entre os Símios ou macacos antropomórficos muito próximos evolutivamente dos humanos e suas variedades dentro da Superfamília Hominoidea. Estudamos suas distintas classificações entre Símios e Pró-símios e os principais membros de cada família respectivamente. Já durante a segunda parte de nosso estudo: A Evolução do Homem: a aurora da humanidade (Leia aqui), nos localizamos no tempo e no espaço, para compreendermos a evolução dos Hominídeos, dentro dos períodos históricos. Entendendo-se dessa forma as três divisões da Pré-história no Paleolítico: o Paleolítico Inferior, Médio e Superior.  Estudamos o surgimento dos primeiros Australopitecinos e sua respectiva evolução para o Homo habilis, Homo erectus e consequentemente para o Homo sapiens neanderthalensis. Vemos suas respectivas indústrias líticas bem como sua formação biológica até o pensamento simbólico do Homo sapiens neanderthalensis. Daremos continuação ao nosso estudo que concluíra nossa reflexão sobre nossas origens com o surgimento do Homo sapiens sapiens na África e sua migração para todo o restante do mundo. Lembrando! Não deixem de ler os dois primeiros artigos, pois eles concluem o raciocínio para uma melhor compreensão dessa conclusão.

Paleolítico Superior

Iniciou por volta de 35 mil anos antes do presente (A.P) e estende-se até cerca de 10 mil A.P, quando ocorre a transição Neolítica. Do ponto de vista biológico, encontramos o Homo sapiens sapiens.  Com relação à tecnologia lítica encontramos uma grande diversidade de indústrias que marcam uma nova forma de produzir instrumentos [1].

Na história das civilizações europeias, o Paleolítico Superior aparece como um fenômeno brutal, rápido, profundo e definitivo. Após dois séculos de pesquisas, uma coincidência marcou esta ruptura; o aparecimento de uma nova forma anatômica humana e um novo comportamento. Está coincidência é indicativa de uma migração de populações vindas de fora. Tal fenômeno foi universal e ocorreu em toda a humanidade, depois que ela se originou mas, nesse caso [2]:

“(...) possuindo um aspecto particular devido à ausência de uma transição lenta.”

No Paleolítico Superior tratamos com um fenômeno de ordem histórica (deslocamento de um povo), biológica (modificações anatômicas secundárias) e antropológica: a adaptação de manifestações culturais a seus novos contextos geográficos (a arte rupestre por exemplo).

Cro-Magnon (Homo sapiens sapiens)

Tradicionalmente, associamos esse período ao Homem de Cro-Magnon (variável europeia do Homo sapiens sapiens advindo da África) que foi parcialmente contemporâneo do Homo sapiens neanderthalensis (Gênero humano distinto com um ancestral comum com o Homo sapiens sapiens, o Homo erectus). Antes do Cro-Magnon já haviam sido descobertos restos humanos modernos associados ao Paleolítico Superior, com a forma Homo sapiens neanderthalensis [2].

As características gerais do Cro-Magnon (Homo sapiens sapiens) são uma grande estatura, superior a 1,65 m e um crânio do tipo ‘evoluído’, uma fronte direta com face alta e plana, um queixo saliente e uma redução alveolar, além de uma caixa craniana alta, com uma capacidade de volume idêntica a atual, entre 1.500 cm³ e 1.750cm³ [3].

Com podemos ver as diferenças são, portanto, bastante claras em comparação com os neanderthalensis (ver A Evolução do Homo: a aurora da humanidade) e no entanto, ambos foram parcialmente contemporâneos. Podemos mostrar que houve uma evolução autônoma entre as populações humanas da África que migraram há mais ou menos 45 mil anos atrás para a Europa (Cro-Magnon) e os Neandertais que já habitavam a Europa desde 300 mil anos atrás. Dessa forma chegamos a conclusão que as formas modernas humanas são de origem africana. Houve um constante influxo de origem externa e a dissociação necessária, fora da Europa, entre as conquistas culturais e a forma anatômica neste momento crucial da história da humanidade.

Indústrias Líticas

Foi no Paleolítico Superior que o homem ocupa todos os continentes, chegando inclusive a América. A partir desse período, o lascamento atinge seu mais alto grau de desenvolvimento técnico, baseando-se fundamentalmente na retiradas de lascas através da preparação do núcleo e do plano de percussão [1].

Indústria Aurignacense: as datas mais antigas estão por volta de 44 a 40 mil anos A.P.

Indústria Gravettiense: estende-se a partir de 28 até cerca de 20 mil anos A.P.

Indústria Solutrense: estende-se a partir de 20 até cerca de 15 mil anos A.P.

Indústria Magdalenense: estende-se a partir de 15 até cerca de 10 mil A.P.

Dentre a grande gama de artefatos produzidos por estas industrias líticas citamos os raspadores, destinados ao trabalho com pele; os buris, utilizados para o trabalho com o material ósseo e os furadores para material duros, como sementes ou osso (as peles são perfuradas com a ajuda de furadores em osso). Temos também as lâminas, facas e pontas de projéteis, feitas de material ósseo [2].

O fogo foi intensamente utilizado nestas técnicas e completamente dominado. Encontrou-se uma espécie de ‘isqueiro’ feito de blocos de marcassita percutida, lamparinas (depressões com marcas de queima) na rocha, traços de resina queimada e modelagem em terra cozida.

Alimentação

O Cro-Magnon baseava sua alimentação principalmente na caça, a dieta alimentar no Paleolítico Superior foi progressivamente complementada com a pesca e posteriormente com a coleta intensiva de mariscos. A coleta de vegetais não poderia ser um aporte calórico substancial em razão do ambiente generalizadamente frio que reinara na Europa.

As armas mais frequentemente empregadas na caça, são o uso esporádico do arco, ao lado do uso sistemático da azagaia e do propulsor. Outra arma típica usada apartir da propulsão eram os arpões, que foram usados na pesca bem como na caça de pequenos mamíferos [1].

Modos de Vida

O habitat propriamente dito, consiste em uma estrutura de proteção (frio, vento, umidade) de natureza variada, segundo os recursos naturais locais. Os abrigos ou as entradas das cavernas foram intensamente utilizados. As cabanas para moradia são reconhecidas pelos traços que deixaram, em arcos e círculos vazios, junto aos vestígios observados sobre o solo. Estima-se que havia grupos nômades com habitats diversificados de caça com em torno de 50 a 100 pessoas. Os grandes grupos sociais, com estrutura mais complexa e flexível, organizam encontros periódicos para fins de intercâmbio ( de bens, esposas, informações) [3].

Religião

Presente desde o Paleolítico Médio, os traços de religiosidade são extremamente ricos e variados no Paleolítico Superior. A Arte Rupestre, suporte evidente dos ritos religiosos, opera sobre um mundo de preocupações espirituais coerentes, significativas, extremamente variadas de acordo com os grupos étnicos, mas toda elaborada e estruturada. As mitologias explicativas de mundo foram criadas, instituídas e difundidas pelos caçadores paleolíticos, se expressando sob a forma de imagens monumentais, que deveriam reger os comportamentos cotidianos e refletir nos valores, mentalidades e regras sociais [2].

Homo sapiens neanderthalensis versus Homo sapiens sapiens. O que houve?