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domingo, 6 de setembro de 2015
As características do gnosticismo moderno
sexta-feira, 4 de setembro de 2015
Fascismo e Nazismo
"Não há mal nenhum em mudar de opinião. Contanto que seja para
melhor." Winston
Churchill
Fascismo e Nazismo
O que é totalitarismo?
O totalitarismo é uma forma de organização do
Estado na qual todo o poder se concentra nas mãos de um pequeno grupo de
pessoas, organizadas sob a forma de partido único. Esse partido conta
geralmente com uma base de massas, mas apenas seus dirigentes têm poder de
decisão. Os líderes intermediários ocupam postos na hierarquia do governo, de
tal forma que a máquina do partido se confunde com o aparelho do Estado. Essa
superposição entre a organização partidária e a administração do Estado só é
possível porque o grupo no poder suprime todas as liberdades individuais e
coletivas e instala um regime de terror total contra a nação. O Estado
totalitário, portanto, é um Estado policial que exerce uma vigilância
permanente sobre a vida cotidiana dos cidadãos, controlando até mesmo a vida
pessoal e familiar dos indivíduos. Trata-se de um caso extremo de
autoritarismo. Uma de suas principais características é o grande uso dos meios
de comunicação de massa para difundir a ideologia do regime, exaltar o governo
e a figura do líder. O chefe de um regime totalitário é o depositário de toda a
ideologia, sendo encarado como um indivíduo excepcional, dotado de qualidades
quase sobrenaturais.
Fascismo
italiano
Aliados das nações vencedoras da Primeira
Guerra Mundial, os italianos ficaram insatisfeitos com os resultados do
conflito. Além das perdas materiais e humanas sofridas (cerca de 670 mil mortos
e 1 milhão de feridos), a Itália não obteve as compensações territoriais
desejadas, não conseguiu, por exemplo, anexar nenhuma das antigas colônias
alemãs na África nem mesmo regiões mais próximas nos Bálcãs. Nessas
circunstâncias, difundiu-se entre a população da Itália um profundo
ressentimento contra as grandes potências democrático-liberais da Europa, ao
qual vinha somar-se uma crescente insatisfação social em razão da inflação, da
carestia e do desemprego decorrentes da guerra. Entre 1919 e 1920 cerca de 3
milhões de trabalhadores urbanos participaram de greves. Em Turim e outras
cidades industriais, os operários ocupavam fábricas e tentavam colocá-las em
funcionamento. O movimento foi reprimido, mas a sensação de que o governo havia
perdido o controle da situação se generalizava entre as classes médias. Em meio
a essas condições, em 1919 um ex-combatente chamado Benito Mussolini
(1883-1944) fundou um grupo nacionalista de extrema direita conhecido como Fascio
de Combattimento. Seu símbolo, um feixe de varas (fascio) atado à lâmina de
um machado, havia sido também um dos emblemas do Império Romano. Com ele,
Mussolini queria dizer que era preciso reconquistar o antigo poderio de Roma.
Os Fasci de Combattimento espalharam-se pela Itália divulgando suas idéias
ultranacionalistas, anticomunistas e antiliberais. Eles lutavam pela
instauração de um governo forte e autoritário capaz de esmagar os grupos de
esquerda (comunistas e socialistas) e de pôr um fim às greves e manifestações
operárias, vistas por Mussolini como desordem.
Com cerca de 320 mil adeptos no início dos anos
1920, os Fasci de Combattimento contavam com milícias armadas e uniformizadas
com camisas negras, que espalhavam o terror pelo país. Os integrantes dessas
milícias, conhecidos como camisas-negras, assassinavam militantes de
esquerda, dissolviam manifestações operárias e intimidavam políticos de
orientação democrática, tudo sob os olhares complacentes do governo. Em 1921 os
Fasci di Combattimento se unificaram em torno da autoridade de Mussolini e se
constituíram em Partido Nacional Fascista. Sua base de apoio era
formada, sobretudo por desempregados, ex-combatentes, pessoas das classes
médias, além de industriais e proprietários de terra temerosos de que a Itália
se transformasse em palco de uma revolução comunista. Nas eleições
parlamentares de 1921, 35 fascistas foram eleitos deputados. Entre eles,
Mussolini. Em 1922, numa demonstração de força, cerca de 30 mil camisas-negras,
sob a chefia de Mussolini, invadiram a capital italiana, ocupando prédios
públicos e estações ferroviárias. O episódio ficou conhecido como Marcha
sobre Roma. Dois dias depois, o rei Vítor Emanuel III convidou Mussolini
para ocupar o cargo de primeiro-ministro. O fascismo chegava ao poder.
Entre 1922 e 1925 Mussolini governou juntamente com outras forças políticas.
Gradativamente, porém, ampliou seus poderes e se impôs como verdadeiro ditador.
O Parlamento perdeu sua autoridade e os partidos políticos, com exceção do
Partido Nacional Fascista, foram extintos. Os prefeitos e chefes locais
perderam seus cargos e foram substituídos por seguidores de Mussolini. Também
foi criada uma polícia política secreta para perseguir opositores do regime, o
que levou 300 mil pessoas a se refugiarem no exterior; o governo implantou
forte censura aos meios de comunicação e suprimiu o direito de greve. Todas as
organizações que não fossem fascistas tornaram-se ilegais. No início dos anos
1930, o duce (guia), como era conhecido Mussolini, já centralizava todo
o poder.
Os fascistas
acreditavam ser fundamental doutrinar as crianças e jovens. Nas escolas e
universidades os professores eram obrigados a exaltar as realizações do regime
e aspectos da vida do duce. Também foram criadas organizações que promoviam
festas, competições, acampamentos, atividades ao ar livre e que transmitiam aos
jovens a ideologia fascista. Mussolini valeu-se dos meios de comunicação de
massa para conquistar o apoio da população.
Para tanto, utilizou amplamente jornais, rádios e documentários que divulgavam
os feitos de seu governo e cultuavam sua figura, mostrada como a de um homem
enérgico, atlético e trabalhador.
Dois outros aspectos da política fascista
contribuíram para sua afirmação entre a população italiana. O primeiro
foi a intervenção maciça do Estado nas atividades econômicas. Isso ocorreu
principalmente após o crash da Bolsa de Nova York, em 1929. Para debelar a
crise, o Estado fascista lançou um amplo programa de obras públicas (estradas,
pontes, etc.) e incentivou a produção de armas. Essas medidas fizeram baixar o
desemprego. O segundo aspecto dessa política foi a instituição, em 1927,
da Carta del Lavoro (Carta do Trabalho), na qual se combinavam
concessões aos trabalhadores com medidas de controle policial sobre eles. A
Carta estabelecia, por exemplo, o seguro contra acidentes de trabalho e a
jornada de oito horas, mas proibia as greves e extinguia os sindicatos. Em 1935
Mussolini ordenou a invasão da Etiópia, único país africano, ao lado da
Libéria, ainda não dominado pelos europeus. No ano seguinte, interveio na
Guerra Civil Espanhola, enviando tropas em apoio às forças do general Francisco
Franco (veja o boxe A Guerra Civil Espanhola). Os princípios fascistas não
ficaram restritos à Itália. Com a consolidação do governo de Mussolini,
começaram a surgir ditaduras de direita também em outros países da Europa, como
Portugal, Hungria e Polônia. Foi nesse contexto que, em 1933, o nazismo chegou
ao poder na Alemanha.
Os princípios
do fascismo
Mussolini se definia como reacionário, antiparlamentarista,
antidemocrático, antiliberal e anti-socialista. A doutrina fascista tinha
aspectos originais. Seus princípios básicos eram:
v
Estado totalitário
assentado sobre a força da massa popular, encarnada na mística do chefe;
v
Existência do indivíduo
apenas como fração do Estado, em cuja grandeza devia encontrar sua própria
exaltação;
v
Extinção da luta de
classes: o Estado promoveria a solidariedade entre patrões e empregados,
visando a maior produtividade; busca da grandeza italiana, num constante apelo
às glórias do Império Romano, com exaltação da importância da guerra na
formação das pessoas;
v
Identificação entre
Estado, chefe de Estado e Partido Fascista.
Nazismo
Ao terminar a Primeira Guerra Mundial, a
Alemanha entrou em uma crise de grandes proporções. Estimulados pela
consolidação da Revolução Russa de 1917, os trabalhadores alemães saíam às
ruas, os soldados se amotinavam. Com a abdicação do imperador Guilherme II,
dois dias antes do armistício que pôs fim ao confronto mundial, líderes da
oposição proclamaram a República e constituíram um governo provisório liderado
pelo Partido Social-Democrata (socialista moderado). Em janeiro de 1919,
operários, soldados e marinheiros tentaram tomar o poder por meio de uma
insurreição armada. A frente da rebelião colocaram-se os socialistas da Liga
Espartaquista, liderados por Rosa Luxemburgo (1871-1919) e Karl Liebkenecht (1871-1919).
A revolta fracassou e, os dois líderes foram presos e executados. Nesse mesmo
ano realizaram-se eleições para uma Assembléia Constituinte, reunida na cidade
de Weimar. Nascia, assim, a chamada República de Weimar (1919-1933),
primeira experiência democrática da história da Alemanha. Os primeiros anos da
nova República foram extremamente difíceis. O país não tinha dinheiro para
pagar as indenizações de guerra e sofria uma das maiores inflações de todos os
tempos. O preço das mercadorias subia várias vezes no mesmo dia. Em abril de
1922, por exemplo, um dólar valia mil marcos; em setembro do ano seguinte, era
equivalente a 350 milhões de marcos.
A economia alemã só voltou a se estabilizar a partir
de 1924, graças à injeção de capitais norte-americanos. Entretanto, a população
continuou insatisfeita com os termos dos tratados de paz que puseram fim a
Primeira Guerra Mundial. Esse sentimento de orgulho nacional ferido estimulou a
formação de grupos ultranacionalistas que propunham a instauração de um governo
forte, capaz de unificar os alemães e lutar pela recuperação da grandeza
nacional. Um desses grupos era o Partido
Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães (que, em alemão, daria
origem à expressão nazista), formado em 1919. Liderado pelo austríaco Adolf
Hitler (1889-1945), suas fileiras eram compostas por comerciantes
arruinados pela crise, desempregados, ex-militares, etc. Da mesma forma que os
fascistas italianos, os nazistas alemães também se organizavam em grupos paramilitares.
Suas milícias eram conhecidas como SA, sigla em alemão para “tropas de
assalto”. Além de reprimir violentamente os comunistas e os socialistas, as SA
garantiam a segurança dos comícios nazistas. Em novembro de 1923, inspirado na Marcha sobre
Roma de Mussolini, Hitler tentou dar um golpe de Estado na cidade de Munique. A
tentativa ou putsch de Munique, como ficou conhecida, fracassou e Hitler
foi preso. Na cadeia, onde ficou por um ano, escreveu o livro Mein Kampf
(Minha luta), no qual sistematizou a ideologia nazista. No livro, Hitler
defendia a superioridade dos povos arianos, considerados puros pelos nazistas e
dos quais descenderiam os alemães, sobre judeus, eslavos, ciganos, negros e
outros grupos humanos. Para Hitler, os judeus seriam, juntamente com os
comunistas, culpados por quase todos os males do mundo. O livro defendia ainda
o direito dos alemães a um “espaço vital” ou seja, um território na Europa que
reunisse os povos germânicos num só império.
No início, o apoio a Hitler era pequeno. A partir de
1930, porém, a Grande Depressão iniciada com o crash da Bolsa de Nova York
arruinou as classes médias e causou o desemprego de milhões de trabalhadores
alemães. A crise aumentou ainda mais o sentimento de humilhação que atingia a
população alemã desde 1918. Muitas pessoas passaram a ansiar pelo aparecimento
de um líder carismático capaz de resgatar a “honra nacional” e de colocar a
Alemanha outra vez entre as grandes potências. Com sua exaltação da “raça ariana”,
Hitler parecia a muitos ser esse líder predestinado. O Partido Nazista passou,
então, a crescer vertiginosamente. Assim, entre 1930 e 1932, o número de
deputados nazistas no Parlamento alemão aumentou de 170 para 230. No ano
seguinte, o presidente da Alemanha, marechal Paul von Hindenburg, convidou
Hitler para ocupar o cargo de chanceler (primeiro-ministro) de seu governo.
Morto Hindenburg em agosto de 1933, Hitler o substituiu no cargo de
presidente e assumiu o título de Führer (chefe), dando início ao Terceiro Reich
alemão (o Primeiro Reich foi o Sacro Império Romano-Germânico; e o Segundo,
o da unificação alemã conquistada por Bismarck em 1870).
O terror nazista
Senhor absoluto do poder, Hitler anulou a Constituição de 1919,
instituiu a censura e suspendeu os direitos e as garantias civis. Membros da
Gestapo, a polícia secreta alemã, e das SS, tropa de elite nazista, passaram a
perseguir, prender e torturar líderes religiosos, ciganos, homossexuais,
judeus, líderes sindicais, comunistas e opositores em geral. Alcoólatras,
doentes mentais e deficientes físicos eram internados à força e submetidos a
cirurgias de esterilização. Muitos intelectuais, cientistas e artistas
contrários ao nazismo viram-se obrigados a exilar-se no exterior, como o físico
Albert Einstein (1879-1955), o dramaturgo Bertolt Brecht (1898-1956), o
escritor Thomas Mann (1875-1955), e muitos outros. Os que decidiam permanecer
corriam o risco de ser enviados a campos de concentração. Em 1933 havia nesses
campos 40 mil presos políticos. A partir de 1934, o anti-semitismo tornou-se
política oficial do Estado. Os judeus não podiam mais trabalhar em órgãos
públicos, seus bens foram confiscados e eles ficaram proibidos de se casar com
pessoas consideradas arianas. Além do terror, a propaganda sob os cuidados do
ministro Joseph
Goebbels (1897-1945) teve
papel fundamental para a consolidação do nazismo. A ideologia nazista era
transmitida por meio de documentários cinematográficos, programas de rádio,
pôsteres e cartazes. Os comícios de Hitler, que reuniam milhares de pessoas,
eram minuciosamente preparados para demonstrar a grandeza do Führer e do povo
alemão. Essa doutrinação também envolvia as crianças na sala de aula. Desde
pequenas, elas aprendiam a ter orgulho de pertencer à raça ariana e a venerar e
prestar obediência ao Führer. Com a recuperação econômica do país, a
popularidade do regime cresceu. Essa recuperação foi obtida pela intervenção do
Estado, que promoveu a realização de obras públicas, impulsionou a indústria de
armamentos e estabeleceu formas de planejamento econômico. Grandes capitalistas
internacionais e nacionais também ajudaram financeiramente o governo nazista.
Entusiasmado com o
crescimento econômico, Hitler passou a violar as determinações do Tratado de
Versalhes, que pôs fim a Primeira Guerra Mundial: remilitarizou a Alemanha e
colocou em prática uma política expansionista. Abria caminho, assim, para a
Segunda Guerra Mundial.
Juventude doutrinada
Os meninos eram alistados aos 10 anos de idade:
depois de passar por certas provas esportivas, entravam no Deutsch Jungvolk
(Jovem Povo Alemão) por um período de quatro anos, ao longo do qual seus
progressos físicos e ideológicos eram registrados em cademetas. Já as meninas,
aos 10 anos entravam nas Jungmädel (Jovens virgens). No primeiro ano, meninos e
meninas deviam estudar os “Deuses e heróis dos germanos”; no segundo, os
“grandes alemães" (de Frederico, o Grande, a Bismarck); no terceiro,
"Vinte anos de combate pela Alemanha” (os “anos de luta” do nazismo) no
quarta, enfim, “Adolf Hitler e seus companheiros de luta” Aos 14 anos, os
jovens entravam nas Juventudes Hitleristas; aos 18, outras estruturas do
partido os esperavam: Frente do Trabalho, SA ou SS. A formação ideológica dos
14 aos 18 anos prosseguia por melo de cursos versando desde"o combate pelo
Reich” até a “obra do Führer: Esses temas eram difundidos também pelas
transmissões radiofônicas dedicadas à juventude.
A suástica, uma espécie de cruz com os braços
voltados para a direita foi adotada como emblema oficial do partido nazista e
do Terceiro Reich. Ela foi criada séculos antes de Cristo, na Índia, por uma
civilização indo-européia (os arianos), da qual, na concepção do nazismo, os
alemães seriam descendentes.
quinta-feira, 3 de setembro de 2015
Clio, Musa da História e da criatividade
domingo, 30 de agosto de 2015
A História da Batalha de Poitiers ou Tours
sexta-feira, 28 de agosto de 2015
A Cavalaria
"Apesar de todos os defeitos que são bem conhecidos, a Cavalaria medieval deu a Igreja uma coleção de Santos e Santas, como nenhuma, classe social jamais deu, justamente porque eram a verdadeira elite social, a santidade se multiplicou neles pelo heroísmo de profissão, pela consagração de energias magníficas. Bastaria evocar os santos e as santas, reis e rainhas. Desde o século XIII nunca mais houve tantos santos entre os chefes dos Estados, chamados católicos. Houve muito mais hipocrisia, não houve mais santos. Seria preciso citar os santos de Cluny e Citeaux, os santos Papas e bispos que a nobreza deu a Igreja. Ora, o heroísmo da nobreza posto a serviço da santidade de Cristo marcou profundamente o catolicismo europeu e subsiste ainda como apelo ao heroísmo: p.ex: a vocação missionária de tantos jovens europeus (missionários no sentido de missões estrangeiras) deriva diretamente do espírito de Cavalaria" (Pe. Joseph Comblin, Os sinais dos tempos e a Evangelização - Ed. Duas Cidades - 1968, São Paulo - pg.82)
— "A França não pertence nem ao Sire da Inglaterra nem ao Sire da França, mas a Meu Sire".
O capitão, espantado, pois já havia dois Reis disputando o trono da França, e agora ela lhe anunciava a pretensão de um terceiro, perguntou:
"Não podendo acabar com a guerra, a Igreja cristianizou o soldado", diz Léon Gautier (op. cit. p. 31).
"O soldado cristão não é homicida, na guerra, e sim um malicida", diz Santo Agostinho, pensamento que será repetido por São Bernardo ao escrever o seu Elogio da Nova Cavalaria, justificando a existência do monge guerreiro Templário. Nesse trabalho, “São Bernardo denuncia e lamenta a cavalaria do mundo,e, brincando com as palavras (militia, malitia) denuncia essa “malícia do mundo” (non dicomilitiae sed malitiae) a Milícia Cristã contra a Malícia do mundo ( Alain Demurger, Les Templiers, Éditions du Seuil, Paris, 2005, p. 61).
"A terra estremeceu (Sal.17,8) porque o Senhor do céu principiou a perder a terra que é muito sua. Muito sua, insisto, porquanto nela, durante mais de trinta anos, a palavra invisível do Pai se tornou visível, instruiu o povo, e como um homem conversou entre os homens (Bar. 3,38). Muito sua, por a ter glorificado com os seus milagres, consagrado com o seu sangue, adornado com as primeiras flores de sua gloriosa ressurreição. E agora, devido aos nossos pecados, os inimigos da Cruz ergueram o seu estandarte blasfemo, e destruíram com fogo e ferro a Terra Santa, Terra de Promissão! Em breve, a menos que encontrem forte oposição, irromperão na cidade do Deus dos vivos, para destruir os preciosos monumentos de nossa redenção e devastar os lugares sagrados, outrora avermelhados pelo sangue do Cordeiro Imaculado. Ai de nós! Ardem no profano desejo de invadir o próprio santuário da religião cristã, e violar o sepulcro, onde Cristo, que é a nossa vida (Col.3,4), por nós, dormiu o sono da morte
Que fareis, "bravos cavaleiros? Que fareis, soldados cristãos? Deverei crer que lançareis aos cães o que é sagrado, e as pérolas aos porcos? (Mat. 7,6)
Oh quantas multidões de pecadores, confessando as suas penas com arrependimento, se reconciliam com Deus naquela Terra Santa, desde que as espadas dos guerreiros cristãos repeliram de lá os loucos pagãos! Viu-o o pecador e se indignou; rangeu os dentes e consumiu-se (Sal. CXI,10).
Agitou os instrumentos de sua impiedade; e, se alguma vez lograr apoderar-se do Santo dos Santos, (que Deus nunca o permita), não tolereis que permaneça vestígio de sua passagem junto dos monumentos e lugares associados com a paixão de Jesus Cristo.
Que dizeis, irmãos? Se fosse anunciado que o inimigo invadiu as vossas cidades, violou os vossos lares, ultrajou vossas famílias e profanou vossas igrejas, qual de vós não pegaria em armas? Fareis menos pela honra de Jesus Cristo? Todos esses males, e outros ainda piores atingiram a sua família, da qual sois membros. O lar do Salvador foi perturbado pela espada dos sarracenos; os bárbaros destruíram a casa de Deus e dividiram entre si a sua herança. Hesitareis em debelar semelhante mal em vingar tal perversidade? Suportareis que os infiéis contemplem em paz a extensa ruína que oneraram entre o povo cristão? Recordai que o seu triunfo será motivo de desgosto inconsolável para gerações futuras, e de desgraça perpétua para nós que o consentimos. E mais do que isso: o Deus dos Vivos encarregou-me de proclamar que se vingará de todos os que se recusem defendê-lo de seus inimigos. Às armas, pois! Que uma indignação sagrada vos anime ao combate, e que o grito do profeta vibre por toda a cristandade: "Maldito seja aquele que não ensangüentar a sua espada" (Jerem. XL VIII, 10). (J.F. Michaud, História das Cruzadas, ed. cit., vol.II – pp..235/236 e A. Lubby, S. Bernardo)
“A “trégua de Deus” – como se chamava, esse armistício periódico — pouco a pouco, foi estendido, ao mesmo tempo que às grandes festas, aos três dias da semana (desde a noite de Quarta feira) que precediam o domingo e pareciam prepará-lo. Tanto que,no fim das contas, a guerra dispunha de menos tempo que a paz” (Marc Bloch, La Société Féodale, Albin Michel, Paris, 1968, p. 571).
“Desde 1139, a Igreja proíbe o uso por demais mortífero do arco e da arbaleta em todos os combates entre cristãos” (Léon Gautier, La Chevalerie, ed. cit., p. 39).
Em campo raso o nobre não podia usar o arco, que não exigia coragem maior pois se atacava o inimigo longe dele. Era lícito usá-lo apenas em cercos de castelos. Proibiu ainda fazer guerra aos fracos, aos que não podiam normalmente usar armas (clérigos, mulheres, doentes, camponeses):
“Enfim, a Igreja tinha como seu dever particular proteger, com seus membros, todos os fracos, essas Miserabiles personnae” das quais o direito canônico lhe confiava a tutela” (Marc Bloch,La Société Féodale, Albin Michel, Paris, 1968, p. 569).
"Belos senhores, eu vos envio no primeiro escalão da batalha. Fazei tanto que aí obtenhais honra, porque do contrário vossas esporas de ouro teriam sido mal colocadas".
“O “doubement” (do francês arcaico dubban = bater, golpear) até então simples rito militar,do qual o gesto essencial era um golpe dado pelo iniciador com a mão ou com a espada, tornava-se assim uma liturgia calcada sobre a da “porrection” (do latim porrigere= estender, entregar) instrumentos no curso da ordenação sacerdotal” (Jean Chélini, Histoire Religieuse de L´Occident Medieval, Hachette, Paris 1991, p. 374).
“Entre os germanos, a cerimônia era à imagem de uma civilização guerreira. Sem negar outros traços — tais como o corte dos cabelos, que por vezes se encontra mais tarde na Inglaterra, unido ao adoubement essencialmente cavaleiresco --, elas consistiam essencialmente numa entrega de armas, que Tácito descreveu e cuja persistência, na época das invasões, foi confirmada por alguns textos. Entre o ritual germânico e o ritual da Cavalaria, a continuidade não é duvidosa”(Marc Bloch, La Société Féodale, ed .cit. p. 436).
“O início de ‘Elias de Saint Gilles’ é, sob esse ponto de vista, uma obra prima de exposição selvagem e verdadeira. O pai de Elias, Julien de Saint Gilles, tem a barba toda branca. É um altivo barão que nunca se tornou culpado de uma traição, que sempre amou o filho de Santa Maria, que honrou os morteiros e fez construir portas e hospedarias para os pobres viajantes. Mas enfim, ‘há cem anos é que ele foi armado cavaleiro’, e ele sente a necessidade de ‘repousar e viver bem’. Então, ele faz vir seu filho Elias, ou antes, o faz comparecer diante de si na sala ‘jerrine’. Para excitar a cólera do jovem, ele o repreende de não ter praticado ainda nenhuma façanha: ‘na tua idade, diz ele, eu havia já conquistado castelos, fortes e cidades’, O jovem Elias se irrita sob o aguilhão dessas palavras, tanto mais que o ancião se pergunta ‘bem alto se seu filho não seria chamado a viver num claustro e ser ‘monge recluso no Natal ou na Páscoa’. Isto já é demais, Elias quer partir e deixar para sempre esse castelo no qual ele é forçado a engolir tais ultrajes: ‘Cala-te, infeliz, cala-te lhe grita seu pai. Imaginas partir assim, sem escolta e sem armas? Mas diriam ao te ver passar nas estradas: ‘Vede esse jovem? É o filho de Julien-à-la-Barbe. Seu pai o expulsou de sua terra’. Não, não, tu não partirás assim. E eu vou agora mesmo, te fazer cavaleiro’. Voltando-se então para seus homens diz: ‘que preparem uma quintana e que me tragam minhas armas’. A cerimônia começa imediatamente. O velho cinge a espada em seu filho; depois, levantando a mão e deixando-a cair como um martelo sobre a nuca do filho, esse terrível centenário lhe dá um tal golpe, que Elias é meio derrubado. O novo cavaleiro sente a cólera subir-lhe a cabeça e falando baixinho cobre seu pai de ameaças contidas. ‘Ah! diz ele, se fosse um outro! Mas é meu pai e meu dever é de não me queixar’. Ele se acalma, levanta a cabeça, monta bruscamente a cavalo e abate com um golpe de mestre todo o aparelho da quintana. ‘Ele será um valoroso’ exclama então o velho encantado” (L .Gautier, op. cit, pg. 283/284).
"Este herói não era ainda cavaleiro, e se assistiu então a um grande milagre. O corpo inanimado de Roland estava lá, sob os olhos do imperador, sob os olhos de Galien. Em meio ao silêncio, o braço direito do amigo de Olivier se levantou lentamente e estendeu a Carlos sua espada pela ponta. O rei compreendeu e presenteou Galien com esta incomparável espada; depois, por uma inspiração sublime: ‘Tu serás cavaleiro’, lhe diz. Mas para um tal cavaleiro era preciso um ‘adoubement’ que não fosse banal. O filho de Pepino se inclina para Roland, toma o braço do morto, e faz dar por esta mão fria o tapa (collée) em Galien. Ora, jamais ‘collée’ fora dada desse modo, e desde então jamais o foi. Foi a única vez, mesmo em nossa lenda, que um cavaleiro vivo foi assim feito e criado por um cavaleiro morto" (Resumo de Viaggio di Cario Magno in Spagna, apud Léon Gautier op. cit - pg. 268/269 e nota 1 da edição original).
“Em 1213, Simon de Montfort tinha cercado de um piedoso brilho, digno de um herói cruzado, o adoubement de seu filho, que dois Bispos, ao canto do Veni Creator, armaram cavaleiro para o serviço de Cristo. Ao monge Pierre des Vaux de Cernay, que assistiu a esse ato, essa cerimônia arrancou um grito característico: “ ò novo modo da cavalaria! Modo até aqui inaudito! (Marc Bloch, La Société Féodale, Albin Michel, Paris 1968, p. 340).
"Abençoai esta espada, Senhor, afim de que vosso servo possa ser, doravante, contra a crueldade dos hereges e dos pagãos, o defensor das igrejas, das viúvas, dos órfãos e de todos os que servem a Deus".
"Abençoai esta espada, Senhor Santo, Pai todo poderoso, Deus eterno; abençoai-a em nome do advento de Jesus Cristo e pelo dom do Espírito Santo consolador. E possa vosso servo, que tem vosso amor por principal armadura, possa espezinhar todos os teus inimigos visíveis e, senhor absoluto da vitória, possa permanecer sempre ao abrigo de todo ferimento".
"Bendito seja o Senhor Deus que formou minhas mãos para o combate e meus dedos para a guerra. Ele é minha misericórdia. Ele é meu refugio. Ele é meu Redentor”.
"Deus santo, Pai onipotente, Deus eterno, que sozinho ordenastes todas as coisas, e as dispusestes como é conveniente, é para que a justiça tenha aqui na terra um apoio, é para que o furor dos malditos tenha um freio, é por essas duas causas somente que, por urna disposição salutar Vós permitistes aos homens o uso da espada. Ê para a proteção do povo que desejastes a instituição da Cavalaria.A uma criança, a Davi, outrora, Vós destes a vitória sobre Golias. Vós tomastes pela mão Judas Macabeu, e lhe destes triunfo sobre todas as nações bárbaras que não invocaram vosso nome. Pois bem, eis vosso servo, que curvou recentemente a fronte sob o jugo da condição militar: envia-lhe do alto do céu as forças e a valentia de que ele precisa para a defesa da justiça e da Verdade; dai-lhe o aumento da fé, da esperança e da caridade; dai-lhe o temor e o amor, a humildade e a perseverança, a obediência e a paciência. Disponde tudo nele ,como é preciso, afim de que com esta espada ele jamais golpeie injustamente ninguém, e a fim de que ele defenda com ela tudo o que é justo, tudo o que é reto".
“Sem dúvida, não é por acaso que a época na qual viveu esse santo adoubé [São Luis, Rei] deu nascimento à nobre oração que, recolhida noPontifical de Guillaume Durand, oferece-nos como que o comentário litúrgico dos cavaleiros de pedra, erguidos pelos escultores, no portal de Chartres, ou no reverso da fachada de Reims:“Senhor Santíssimo, Pai onipotente,... Tu que permitistes, na terra, o emprego da espada para reprimir a malícia dos maus e defender a justiça; que, para a proteção do povo quisestes instituir a Ordem da Cavalaria... dispondo seu coração ao bem, faz com que teu servidor, que aqui está, jamais use desta espada, ou a de um outro, para prejudicar injustamente ninguém; mas que ele sempre se sirva da espada para defender a Justiça e o Direito” (Marc Bloch, La Société Féodale, Albin Michel, Paris 1968, p. 444).
“Sê um soldado pacífico, corajoso, fiel e devotado a Deus", e batia levemente com a mão no rosto do cavaleiro.
"His dictis, novus miles vadit in pace". (Com estas palavras, o novo Cavaleiro vá em paz).
"Não queira ter o mineter de Cavaleiro quem só quiser viver suavemete“ (Apud Marc Bloch, La Société Féodale, ed. Cit., p. 442).
“Recebe este gládio cora a benção de Deus e possas pela virtude do Espírito Santo repelir, com a ponta desta espada, todos os teus inimigos e todos os inimigos da Santa Igreja".
"Toma esta espada. Exerce com ela o vigor de justiça; abate com ela o poder da injustiça. Defende com ela a Igreja de Deus e seus fiéis. Dispersa com ela os inimigos de Cristo. O que está por terra, levanta-o. O que levantastes, conserva-o. O que é injusto aqui na terra, abate-o. O que é conforme a ordem, fortifica-o. É assim que, glorioso e altivo, unicamente pelo triunfo das virtudes, justitiae cultor egregius, chegarás ao Reino dos Céus, onde com Jesus Cristo de que trazes a marca, reinarás eternamente". (L. Gautier, La Chevalerie, pp. 304 a 306).
“Não quero mais o império, deixai-me retornar a Hisn Kaîfa, ó Muçulmanos. Não há entre vos que me defenderá e me salvará?”
“Ele veio até o rei, com sua mão toda ensangüentada, e lhe disse: “Que me darás por ter morto o teu inimigo?”
E o Rei São Luis nada lhe respondeu”.
“Silêncio tão eloqüente de heroísmo como os apelos guerreiros de pouco antes, silêncio real no qual a majestade do santo monarca esmaga com sua tranqüilo desprezo a barbárie das hordas vitoriosas; serenidade diante dos regicidas, pela qual o rei franco se mostra ainda maior do que no campo de batalha” (Joinville, Crônicas, 353, apud René Grousset, Histoire des Croisades et du Royaume Franc de Jerusalem, Plon, Paris 1936, volume III, p. 489).
"Quando os cavaleiros assistiam Missa e chegava a leitura do Evangelho, em silêncio eles desembainhavam as espadas e as mantinham nuas e eretas diante do rosto, enquanto durasse a leitura sagrada. Esta altiva atitude queria dizer: se for preciso defender o Evangelho, nós estamos aqui. Neste gesto estava todo o espírito da Cavalaria”. (L. Gautier, La Chevalerie, p.30).
“Meu bom Senhor! O doce Jesus! Tu me escolhestes, apesar de minha indignidade, para teus combates. É de teu altar que, hoje, recebo minhas armas, a fim de que no momento de dar batalha, eu receba de Ti os instrumentos do combate” (Dominique Paladilhe, Simon de Montfort et le Drame Cathare, Perrin, Paris, 1988, p.214).
“O que quero dizer é que Deus será minha ajuda, tanto que pouco temo um homem que vem, por causa de uma mulher, convulsionar o que Deus quer”
"O céu estava aberto acima deles, povoado de figuras vivas, de patronos atentos e manifestos. O mais intrépido guerreiro caminhava nessa mistura habitual de temor, de confiança, como uma criancinha”. (Saint Beuve, citado por G. Hubault "Sobre o Ensino de História da França", p..26, apud Léon Gautier - La Chevalerie, p. 34, nota 2, na edição original).
"Não a mim, Senhor, não a mim, que creio que podeis. Mas [aparece] a eles Senhor, a eles que não crêem".