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terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

Resumo crítico do livro “A República de Platão”.



Autor: Leandro Claudir Pedroso, formado em licenciatura Plena em história pela Ulbra e Pós-graduado em Metodologia do Ensino em História e Geografia pela Uninter.

            Li está antiquíssima obra em 2012, porém em minhas leituras faço inúmeras marcações, para o caso de precisar usar novamente as informações contidas no livro, poderei encontrá-las com facilidade, pois me foram relevantes no passado e poderão vir a ser no futuro. A República (Politeia, no original), foi escrita em 380 a.C e trata-se de um diálogo socrático, aonde tenta reproduzir as conversas de Sócrates com seus discípulos e Platão (427 a.C- 347 a.C), autor desta obra era um dos seus mais brilhantes pupilos. O personagem principal deste diálogo é Sócrates, e o tema central é justiça, o filósofo idealiza uma cidade ideal chamada Kallipólis, que em grego significa “cidade bela”.

I
            Podemos ver no decorrer do diálogo entre Sócrates e Polimarco a presença de afirmações como está: “Riqueza alguma poderá proporcionar paz a um homem mal”. Justiça é ajudar os amigos e prejudicar os inimigos, mas o homem justo deve fazer isto em casos de guerra, lutando com uns e aliando-se a outros. E a mesma também é útil na paz, e o uso dela na paz pode ser realizado por contratos comerciais. Em relações que envolva dinheiro o homem justo é mais útil que qualquer outro. E o diálogo entre ambos se confirma diante da dúvida sobre a justiça deve pertencer aos amigos e não aos inimigos. E se isto seria justo prejudicar os maus e ajudar os bons? O mesmo se desenvolve sobre a premissa de descobrir quem é amigo e quem é inimigo. Sendo o amigo aquele que parece e é realmente honesto, e o inimigo é o que aparenta, mas é desonesto. O interessante é que segundo o que lemos não devemos praticar o mal contra nossos inimigos, mesmo eles sendo desonestos, pois isto os deixaria piores ainda, pois a justiça é uma virtude humana, e não deve o homem justo prejudicar os inimigos e ajudar só os amigos. Pois “não é lícito  fazer o mal a ninguém em nenhuma ocasião".

            No decorrer do diálogo, Sócrates trata a questão da justiça junto a Trasímaco que considera a mesma nada menos que o interesse do mais forte  e que cada governo faz leis para seu próprio interesse e desta maneira acredita que isto é assim em todas as cidades, o justo é a mesma coisa, nada mais nada menos do que aquilo que é vantajoso para o governo, que é o mais forte, ele concluí que  justiça se iguala força. Os governos visam apenas seus interesses e sua justiça e a desvantagem daquele que obedece a suas leis.

            Sócrates discorre sobre os mais virtuosos governantes, que governam sem amor às glorias e ao dinheiro. Declara que uma cidade que surgisse  baseada em homens bons, fugir-se-ia do poder, saberiam que não deveriam visar seus próprios interesses, mas sim daqueles que por eles são governados. A justiça alimenta a concórdia e a amizade e da injustiça nasce toda sorte de dissenções. Sendo deste modo a justiça uma virtude da alma humana, e a injustiça nada menos do que um vício pernicioso.

II
            Os homens decidiram criar suas convenções e leis para evitar que cometam injustiça e a sofram também, pois chegaram à conclusão que devíamos ter uma situação aonde houvesse impotência em cometer injustiça. Glauco um dos personagens do diálogo conta uma história do pastor que se torna invisível graças a um anel e começa a fazer tudo quanto lhe apraz, tanto justas como injustas. Ele acrescenta que ninguém é justo por vontade própria, mas por obrigação, entende que são os fatores limitadores que impedem as pessoas de fazerem injustiças e a extrema injustiça é parecer justo não o sendo. O homem justo e generoso é aquele que não quer somente parecer bom, ele deseja ser bom, como nos ensina Ésquilo. Pois a aparência violenta a verdade! Adimanto interpõem que somente os deuses e os homens da ciência tem aversão pela injustiça, que no mais ninguém é justo por vontade própria.

            Faço um adendo aqui, pois me recordei do que ocorreu com o povo alemão durante o regime nazista, o povo mais culto da Europa e menos antissemita entregou-se completamente as injustiças contra seu semelhante quando todas as travas morais que consideram outros povos como humanos foram retiradas e vemos as barbáries que este povo foi capaz de cometer.

            Adimanto conclui que a justiça é um bem alheio e a injustiça é vantajosa somente para si mesma e nociva para os mais fracos.  Ele concorda com Sócrates que a justiça é um atributo também das cidades e nelas fica mais visível examina-la. Decidem procurar os atributos da justiça primeiro nas cidades e depois no individuo. As cidades existem, pela incapacidade dos indivíduos de se bastarem por si mesmo, necessitando de outros para lhes auxiliar. Debatem se é mais proveitoso para uma cidade se cada indivíduo executasse um só ofício ou não. Concluí que devem existir indivíduos responsáveis por tarefas no mercado, na compra e troca de produtos, existem também aqueles que prestam serviço salariado. Nesta cidade haveria pessoas que levariam uma vida mais e se satisfariam com ela e haveria pessoas que teriam uma vida mais requintada. A cidade cresceria e logo necessitaria de mais espaço vital, e como conclui Glauco, acabaríamos indo a guerra e a necessidade de guerra criaria o oficio de guerreiros.

            Os cidadãos devem ter seus espíritos alimentos desde pequenos pelas fábulas de suas amas e mães, mas não serão qualquer fabulas, estas fábulas devem ser as mais belas e mais adequadas a ensinar-lhes a virtude. Compete aos fundadores conhecer os modelos que devem seguir os poetas. Estes modelos visaram mostrar que sempre houve harmonia em nossa cidade e que Deus é essencialmente bom. Proibiram toda e qualquer fábula que denigra a imagem dos deuses por ser isto prejudicial para o desenvolvimento da juventude da cidade.


III
            Sócrates inicia um novo diálogo aonde declara que os cidadãos destinados à guerra, a serem os defensores da cidade não devem ser homens de lamentos, mas pessoas que devem se bastar em si mesmas, deixando as lamentações para as mulheres e os fracos. As crianças e os homens dessa civilização devem recear mais a escravidão do que a morte e implicaria em uma grande responsabilidade para os guardiões. De seu meio deveriam ser tirados todos os nomes odiosos que trazem medo e arrepios, que remetem as regiões do Hades. Do mesmo modo que evitam as lamentações, não devem ser propensos demais ao riso, pois provoca transformações excessivas. Os guerreiros não deveram receber presentes, tampouco ter ambições, pois as mesmas corrompem o homem. Serão homens que respeitaram e temem aos deuses, diferente de homens como Áquiles e Peleu que desprezavam os deuses. Os guardiões devem ser eximidos de qualquer outra responsabilidade que não seja há de defender a independência de nossa cidade, não deveram imitar outras coisas, mas se imitarem que imitem unicamente as virtudes: coragem, sensatez, pureza e liberalidade, mas nunca imitar a baixeza como aqueles perversos e covardes que falam mal, zombam uns dos outros e dizem coisas indecentes, quer na embriaguez, quer sóbrios.

            Sobre as coisas que devem ser consideradas licitas dizer ou não aos homens, uma delas está relacionada aos poetas e prosadores que não devem desestimular a justiça dizendo que os justos são desafortunados e os injustos felizes! Os governantes da cidade devem impedir que artesãos e outros introduzissem vícios, incontinências, baixeza e feiura em qualquer arte e contaminem nossos guardiões e isto se torne um grande mal em suas almas. Tudo que seguem a eles deve emanar das obras belas, tal como uma brisa transporta a saúde de regiões salubres, e predispondo-os a imitar e amar o que é reto e razoável. A educação musical será a principal, pois o ritmo e harmonia tem a capacidade de penetrar e tocar fortemente a alma. Pois é a alma boa que torna o corpo bem constituído. No seu meio não haverá embriagues, a mesma deixa o defensor incapaz de seu mister. Sua alimentação será alternada constantemente entre bebidas e comidas para que conservem a saúde e tenham os sentidos apurados.

            As pessoas se vangloriam, por vulgaridades de ser hábeis em cometer a injustiças, em poder usar todos os subterfúgios, escapar de todas as maneiras e dobrar-se como o vime, para evitar o castigo? E isso por interesses mesquinhos e desprezíveis, porque não sabem quanto é belo e melhor ordenar a vida de modo a não ter necessidade de um juiz? As pessoas honradas são simples na sua juventude e facilmente enganas pelos perversos por não haver nelas sentimentos que compreendam a postura dos maus.

            Estabeleceremos médicos e juízes em nossa cidade que trataram os cidadãos que são bem constituídos de corpo e alma, e quanto aos outros deixaremos para eles a condenação. A beleza do canto pode tornar o homem distraído, suavizando o elemento irascível de sua alma e sua coragem dissolve-se, tornando o guerreiro sem vigor, impressionável e predisposto a irritar-se e a acalmar-se em vez de corajoso, será colérico e cheio de mau humor. Torna-se inimigo da razão e amigo da violência, selvageria, como um animal passa a viver na ignorância sem harmonia e inútil para a cidade.

            Os guardas serão homens de boa vontade, proveitosos para a cidade, e nunca consentiram e agir em detrimento do Estado. Serão observados em todas as idades para vermos se se manterão fieis a está máxima de trabalhar para o maior bem da cidade e não serem seduzidos com facilidade por qualquer espirito de rebelião.

            Para realizar a divisão de atividade na cidade recorremos as fábulas, ensinaremos que na cidade todos são irmãos, mas que deus os formou e misturou ouro na composição de alguns que deveriam comandar, prata na forma dos auxiliares e bronze e ferro nos lavradores e outros artesãos e em geral procriareis gerando filhos semelhantes a vós, mas visto que são todos parentes pode nascer da prata um rebento de ouro e as mesmas transmutações possam se produzir nos outros metais que os constituem. De certa maneira seria uma cidade gerida por castas que por eventuais acontecimentos um individuo poderia migrar de uma casta para outra. E isto lhes servirá para inspirar maior dedicação à pátria e aos seus concidadãos.

            Nenhum dos defensores terá propriedades exclusivas, exceto objetos de primeira necessidade, sua alimentação será suprida pelos cidadãos da cidade, bem como seus salários não deverá faltar e nem sobrar. Isso deverá ser dessa maneira para que não venham a se tornar mercadores, lavradores e proprietários de terras, abandonando sua função de guardiões e tornando-se impuros e inimigos dos outros cidadãos, gerando a ruína da cidade.
            Os cidadãos de Kallipólis deveram evitar a doença que assola as pessoas destemperadas que consideram seu pior inimigo aquele que lhes diz a verdade, isto é, que, enquanto não renunciarem a embriaguez, glutonaria e libertinagem de nada lhes servirão os remédios, amuletos e simpatias que utilizam.

IV
            A ciência será a responsável por conservar o Estado, e encontra-se nos magistrados, chamados de guardiães perfeitos. Será a classe menos numerosa, pois nela estarão aqueles que governam a cidade, fundada sobre homens raros que participam da ciência da sabedoria. Na cidade os guerreiros  serão submetidos aos magistrados como cães aos pastores, pois em casos de sedição é a cólera que pega em armas a favor da razão. Os filósofos chegam à conclusão de que na alma humana e na cidade existem princípios que são correspondentes de maneira igual. E que para tudo funcione de maneira efetiva na cidade, ela deve ser governada pela razão e por meio dela estabelecer uma imagem de justiça nas relações entre os ofícios não permitindo que um intrometa-se nas atividades do outro. A justiça só iria imperar na cidade se cada uma das três classes de cidadãos ocupasse somente da suas tarefas, os artífices e comerciantes cuja virtude é a temperança, os guerreiros cuja virtude é a coragem e os filósofos cuja virtude é a sabedoria.

            Em certo momento do diálogo com Glauco, Sócrates explica os três elementos da alma, o racional, irracional e a concupiscência. O racional seria a parte da alma mais desenvolvida pelos governantes, os magistrados/filósofos, o irracional seria mais forte na alma dos guerreiros que deveriam proteger a cidade e a concupiscência seria mais forte na alma dos comerciantes, agricultores e artesãos. Sendo a injustiça advinda da rebelião dos três elementos da alma, uma usurpação das suas respectivas atividades. Pois todas as boas ações levam irremediavelmente a virtude e más aos vícios.

            Ao analisar as formas de governo proposta por Platão nas palavras de Sócrates vemos que existem três formas de governo:

Monarquia - governo de um, virtude da unidade.
Aristocracia – governo dos melhores, virtude da qualidade.
República - governo de muitos, virtude da liberdade.

            Mas estas formas ditas como formas “Puras de Governo” podem se degenerar em formas “Impuras de Governo”.

Tirana
Oligarquia
Democracia
V
            Para o bem da sociedade é melhor que homens e mulheres participem de todas as atividades, ainda que a mulher seja mais fraca que o homem isso não impede que tenha as mesmas aptidões naturais. Existem mulheres aptas para algumas atividades e outras não, como os homens. Desta maneira elas poderão ser guerreiras e habitarão com os guerreiros, mas elas não pertencerão a um único guerreiro e deste modo seus filhos serão de todos. Aqueles que tiverem domicílio em comum farão suas refeições e não possuirão nada seu, mas tudo lhes será em comum, estudarão e se exercitarão juntos!  

            Os indivíduos membros da elite deveram ter seus filhos educados nas mais altas artes das letras, mas aos filhos das classes inferiores lhes será negada esta instrução para que o rebanho atinja a mais elevada perfeição. Podemos ver que a estratificação social em Kallipólis será algo marcante, pois os magistrados criaram abismos sociais entre os indivíduos. A população da cidade deveria se manter em uma taxa de substituição populacional ao ponto que a população não cresça nem diminua. As uniões serão decididas pelos magistrados, conferindo privilégios aos homens com distinção no combate, podendo os mesmos unir-se com mais liberdade às mulheres, de modo que a  maioria dos filhos provenha deles e herdem as características heroicas dos pais. Os filhos destas uniões serão criados em lares comuns, aonde serão criados por homens e mulheres com responsabilidades iguais para com eles e assistidos por amas. A procriação dos filhos deverá ser realizada na flor da idade, quando todas as funções de seus corpos estiverem em seu máximo vigor! Todos os nascimentos deverão ser autorizados pelos magistrados e por eles santificados.

            A cidade deverá ser fundamentada na comunhão de interesses comuns, como se fosse um corpo com todas as suas partes cooperando em harmonia. Os filósofos serão os reis e soberanos na cidade, armados com as armas da razão repeliram toda a oposição que leva ao caos e ruína das cidades. Buscando constantemente a sabedoria e amando o espetáculo da verdade, mergulhando constante na ciência e nos estudos, os filósofos são os homens mais adequados para governar a cidade.

            Em certo momento do dialogo Sócrates analisa a necessidade dos filósofos conhecerem o intermediário entre a ciência e a ignorância, se como ele diz algo assim existir, que fica entre o não ser da ignorância e o ser da ciência, sendo a opinião este intermediário como nos concluí Glauco.

VI
            Os magistrados de nossa cidade baseada na forma de governo da república serão escolhidos entre os homens capazes de zelar pelas leis e pelas instituições de Kallipólis. Serão homens sinceros com tendência natural a verdade, pois poderemos encontrar alguma coisa que se ligue melhor a ciência do que a verdade. Suas almas são justas e brandas, apegados a moderação e jamais feitas de ferocidade. Homens amadurecidos pela educação e pela idade, consagrados aos estudos filosóficos.

            Enquanto as cidades não forem governadas por homens assim, os males que afligem as cidades nunca terá fim. Segundo Sócrates a verdade acompanha a pureza e a justiça, que são juntas a coragem, grandeza de alma, facilidade de aprender e memória são às características que compõem o temperamento dos filósofos.

            Segundo Sócrates em seu diálogo com Adimanto, mesmos as almas bem-dotadas se forem influenciadas por uma má educação, se tornam extremamente más, pois os grandes crimes provem destas almas que teriam tudo para ser grandiosas e são corrompidas, passando a usar seus dons para mal ao invés do bem. São estás almas que recebendo a educação adequada se tornaram os filósofos que governaram a cidade. Sendo estas almas dotadas de todos os pendores necessários para o bom filosofo, enumero-as como a facilidade de aprender, a coragem e a grandeza da alma. Estes elementos constituem a alma do filósofo, mas podem ser deteriorados por uma má educação, afastando as pessoas de sua vocação. São destes homens que saem os maiores males e os maiores benefícios para a cidade, tudo dependerá da educação que a pessoa tiver.

            Sócrates junto com Adimanto conclui que a união entre pessoas de trabalho serviu e as de alma nobre, como as bem-dotadas pelo espirito filosófico devem ser proibidas para que não aja uma deterioração das famílias.

            O Estado deve agir para que a filosofia não pereça, conservando em nossa República o espirito que inspirou a elaboração das leis. Proporcionaram aos jovens e às crianças uma educação e cultura adequada a sua idade, cercados de todo cuidado com seus corpos de forma a prepara-los para servir a filosofia. Ensinando-os a estar em contato com o sagrado, respeitaram os limites da natureza humana, Kallipólis só será feliz se seus planos, digo suas leis e estatutos estiverem em harmonia com o sagrado e tornando a população imaculada pelos princípios que a regerão. Esforçando-os para serem homens divinos como aqueles dos modelos de Homero.

            Adimanto acredita que talvez todos os males da cidade serão extintos quando os filósofos governarem, pois estes formaram homens que respeitaram a Constituição e a manterão. Embutindo em suas almas o amor a pátria, de tal modo que não importar-se-ão com as dores que tiverem que passar para guardar seu Estado e os magistrados serão cumulados de distinção na vida e na morte para servi de exemplo a todos.

            Dois grandes grupos presentes na cidade e dos quais nos fala Sócrates, são os intelectuais e os guerreiros, uns dotados de facilidade de aprender e inteligência serão nossos magistrados, os outros embrutecidos e lentos em compreender serão hábeis na guerra, pois possuíram caráter firme e sólido.

VII
            No livro VII Sócrates discorre sobre o “Mito da Caverna”, aonde fala de uma caverna na qual homens estão presos desde sua infância e tudo que sabem sobre o mundo são as sombras daqueles que passam numa estrada ascendente, aqueles que passam nesta estrada são iluminados por uma fogueira acesa numa colina atrás deles. Se um destes prisioneiros for solto, sofrerá com a luz do Sol que machucará seus olhos e considerará as sombras de sua caverna mais verdadeiras. Demorará um tempo até que seus olhos se acostumem com a luz do Sol e depois considerará este lugar verdadeiro e as imagens refletidas falsas. Então este homem é colocado em seu antigo lugar na caverna, seus olhos ficarão cegos pela escuridão, afastados da luz do Sol. Antes que seus olhos se acostumem com a escuridão tentará convencer os outros que ficaram presos sobre o mundo exterior, mas estes não acreditaram nele. Neste mito Platão nos ilustra nas palavras de Sócrates a elevação da alma humana, a pessoa só poder ter sua alma retirada das trevas para luz por meio da educação, e mesmo aqueles que não possuem temperamentos propícios poderão ser disciplinados desde a infância e libertos dos pesos que corrompem a alma.

            Os filósofos que governam a cidade Estado de Kallipólis deverão ser diferentes dos filósofos de outras cidades, pois eles serão capacitados para descerem as moradas comuns da cidade e se acostumarem com as trevas que ali reinam, pois nela poderão ver mil vezes melhor que os habitantes locais e conheceram a natureza de cada sombra que contemplam. Conhecendo a realidade daqueles que não foram iluminados pela luz da educação será mais fácil descobrir suas necessidades.

            Glauco conversa com Sócrates sobre a educação das crianças e mesmo há mais de dois mil atrás concluem que não se deve usar de violência na educação das crianças, mas que aprendam brincando e assim desenvolveram facilmente suas tendências naturais.

            Os homens que se destacarem na cidade em relação as ciências, a guerra e nos trabalhos prescritos na lei ao completarem 30 anos devem ser afastados dos outros jovens e experimentando-os por meio da dialética, os que são capazes de elevar o próprio Ser pelo poder da verdade. Ao atingirem os 50 anos os que tiverem se saído bem e tiverem distinção em tudo quanto forem provados e elevarem a parte luminosa de sua alma ao Ser que ilumina todas as coisas. Estes serão os modelos com o qual se organizará a cidade, passaram a maior parte de sua vida estudando filosofia. Quando chegar sua vez destinar-se-ão a trabalhar na administração da cidade e verão nisto um dever indispensável, estes serão os governantes modelados pela filosofia que foram esculpidos pela boa educação.  

VIII
            Neste capitulo os diálogos se desenvolvem sobre as formas de governos e suas características. Sendo as outras formas de governo falhas e a República sendo a boa. Aqui ele discorre sobre outras quatro formas de governo: Monarquia hereditária, Oligarquia, Democracia, Timocrácia e Tirania. Também trata neste capitulo sobre a população da cidade que deve manter um número controlado de cidadãos e as uniões bem como os nascimentos devem ser ordenados de acordo com as necessidades e propósitos da cidade, caso contrários os filhos de uniões desenfreadas serão uma geração menos culta advinda da mistura das raças, resultando em uma mistura defeituosa da qual resulta todas as discórdias e guerras. Não deixo observar nas palavras de Platão algo que chamamos hoje de Eugenia ou raça pura, uma busca pelas uniões dentro da pureza de uma elite racial que é dotada de todas as nobres qualidades humanas e mantê-la pura é manter o Estado.

            Platão nas palavras de Sócrates nos cita algumas raças pelo nível de pureza, como a raça de Hesíodo, do Ouro, Prata, Bronze e Ferro, sendo as duas últimas as mais inferiores que não devem aspirar enriquecer nem física ou intelectualmente enquanto as duas primeiras devem almejar e buscas estas duas metas. A raça do Ferro e Bronze ao possuírem riquezas se apegam nelas e se fartaram dos prazeres, desprezando a dialética e filosofia.

            Discorrem os diálogos seguintes sobre as características de alugns tipos de governos:

            Monarquia: governo do Rei-filósofo.
            Oligarquia: governo em que os ricos mandam e os pobres não participam do poder, somente os que possuem fortunas ascendem aos cargos públicos. O cumprimento de suas leis e feito através das forças das armas. Seu sistema político funciona pela divisão entre pobres e ricos, jogando constantemente uns contra os outros, vivem em constate conspiram. Exteriormente parecerá ser um governo bom, mas não possuí uma alma uma e harmoniosa.
            Democracia: forma em seu meio homens de bem, preocupados com a política da cidade, pessoas benevolentes. Um governo agradável, anárquico e variado, que dispensa uma espécie de igualdade, tanto ao que é desigual como ao que é igual.
            Tirania: sua origem está na democracia, nas perversões advindas do excesso de liberdade. Pais se assemelhando a filhos, não respeitando e nem temendo seus genitores, mestre recearam seus discípulos que fazem pouco caso deles. O resultado de todos estes abusos é uma população melindrosa que a mínima aparência de opressão causa revolta. Seu governante suscitará as guerras constantes, eliminará toda a oposição para poder manter-se no poder, manterá uma guarda fiel de mercenários (homens pagos) ou escravos libertos, isto devido ao ódio de seus súditos.
            Timocrácia: designa-se a transição entre a constituição ideal e as três formas mais tradicionais (oligarquia, democracia e tirania). Platão se pergunta se esta forma de governo não estaria situada entre a Aristocracia e a Oligarquia.
Cito diretamente está excelente frase:

“Sócrates – Desse modo, o excesso de liberdade conduz a um excesso de servidão, tanto no indivíduo como no Estado.”

IX
            Neste capitulo Platão discorre sobre a Tirania, afirma que a alma tiranizada ficará cheia de perturbações e remorsos e serão arrastadas por todas formas de desejos violentos. O tirano segundo Sócrates nada mais é do que um homem que governa mal a si próprio é semelhante a um doente que não tem domínio do corpo e passa a vida a bater-se com os outros. Na verdade é um escravo, condenado a uma baixeza e servidão extremas, assim define-se o Tirano. Os filósofos Glauco e Sócrates estabelecem em um diálogo que o governo mais feliz é a monarquia e o mais infeliz a tirania, por ser o mais injusto.

Trata em seus dilemas filosóficos a existência de um estado da alma humana aonde não se sente nem alegria e nem tristeza, um estado igualmente afastado destes dois sentimentos, um estado de repouso.

X
Segundo o que nos ensina Sócrates sobre o equilíbrio é que devemos manter sempre a calma durante os períodos de infelicidade, pois nestes momentos não conseguimos distinguir bem as coisas e confundimos o bem  e o mal, não ganhamos nada nos indignando, mas sim mantendo a calma e não nos afligindo para que saibamos ver quando estão vindo em nosso socorro. Devemos tratar as feridas, erguer-se e seguir em frente, calando os lamentos. Assim prosperarão em nossa cidade os homens nobres e fortes. Acusam neste capitulo de vários males causados pela poesia, e um deles é o de corromper as pessoas honestas. Para comprovar sua opinião sobre a imortalidade da alma, neste capitulo Sócrates nos conta a história de Er, um homem que morreu em batalha e teve seu corpo encontrado no campo após vários dias de sua morte ainda estava intacto, ao levarem para casa e o colocarem na pira funerária ele ressuscitou. E após recobrar os sentidos contou tudo o que viu no além, o relato é extenso e vou me manter em alguns pontos que considerei mais importante. Sócrates usa o relato de Er para deixar um aviso aos seus concidadãos de que devem se manter longe dos excessos, tanto nesta vida quanto na vida futura no Hades, pois é isto que se liga a maior felicidade humana. Os homens que ao nascerem nesta vida se aterem aos caminhos da filosofia terão vidas felizes nesta terra como no outro mundo terão sua passagem não pelo subterrâneo, mas pelas vias do céu. Discorre sobre vários personagens do passado que escolheram retorna ao mundo como animais devido ao desgosto pelo gênero humano, como Agamenom e Ulisses. Fala de várias crenças de sua rica mitologia e termina o livro afirmando sua posição sobre a imortalidade da alma e capaz de se manter na pratica da justiça e da sabedoria. Estando assim de acordo com os deuses tanto neste mundo quanto no além.

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PLATÃO, República. Tradução de Enrico Corvisieri. Editora Best Seller: São Paulo, 2002.
   



domingo, 9 de fevereiro de 2020

Breve introdução sobre a Primeira Guerra Mundial




A
 Primeira Guerra Mundial foi conhecida como "a guerra que acabaria com todas as guerras". Imagem: Só História. Vários problemas atingiam as principais nações européias no início do século XX. O século anterior havia deixado feridas difíceis de curar. Alguns países estavam extremamente descontentes com a partilha da Ásia e da África, ocorrida no final do século XIX. Alemanha e Itália, por exemplo, haviam ficado de fora no processo neocolonial. Enquanto isso, França e Inglaterra podiam explorar diversas colônias, ricas em matérias-primas e com um grande mercado consumidor. A insatisfação da Itália e da Alemanha, neste contexto, pode ser considerada uma das causas da Grande Guerra.          
Vale lembrar também que no início do século XX havia uma forte concorrência comercial entre os países europeus, principalmente na disputa pelos mercados consumidores. Esta concorrência gerou vários conflitos de interesses entre as nações. Ao mesmo tempo, os países estavam empenhados numa rápida corrida armamentista, já como uma maneira de se protegerem, ou atacarem, no futuro próximo. Esta corrida bélica gerava um clima de apreensão e medo entre os países, onde um tentava se armar mais do que o outro.
Existia também, entre duas nações poderosas da época, uma rivalidade muito grande. A França havia perdido, no final do século XIX, a região da Alsácia-Lorena para a Alemanha, durante a Guerra Franco Prussiana. O revanchismo francês estava no ar, e os franceses esperando uma oportunidade para retomar a rica região perdida.
O pan-germanismo e o pan-eslavismo também influenciou e aumentou o estado de alerta na Europa. Havia uma forte vontade nacionalista dos germânicos em unir, em apenas uma nação, todos os países de origem germânica. O mesmo acontecia com os países eslavos.
 O início da Grande Guerra
O estopim deste conflito foi o assassinato de Francisco Ferdinando, príncipe do império austro-húngaro, durante sua visita a Saravejo (Bósnia-Herzegovina). As investigações levaram ao criminoso, um jovem integrante de um grupo Sérvio chamado mão-negra, contrário a influência da Áustria-Hungria na região dos Balcãs. O império austro-húngaro não aceitou as medidas tomadas pela Sérvia com relação ao crime e, no dia 28 de julho de 1914, declarou guerra à Servia.
Política de Alianças
Os países europeus começaram a fazer alianças políticas e militares desde o final do século XIX. Durante o conflito mundial estas alianças permaneceram. De um lado havia a Tríplice Aliança formada em 1882 por Itália, Império Austro-Húngaro e Alemanha ( a Itália passou para a outra aliança em 1915). Do outro lado a Tríplice Entente, formada em 1907, com a participação de França, Rússia e Reino Unido.
O Brasil também participou, enviando para os campos de batalha enfermeiros e medicamentos para ajudar os países da Tríplice Entente.
 Desenvolvimento
As batalhas desenvolveram-se principalmente em trincheiras. Os soldados ficavam, muitas vezes, centenas de dias entrincheirados, lutando pela conquista de pequenos pedaços de território. A fome e as doenças também eram os inimigos destes guerreiros. Nos combates também houve a utilização de novas tecnologias bélicas como, por exemplo, tanques de guerra e aviões. Enquanto os homens lutavam nas trincheiras, as mulheres trabalhavam nas indústrias bélicas como empregadas.
 Fim do conflito
Em 1917 ocorreu um fato histórico de extrema importância : a entrada dos Estados Unidos no conflito. Os EUA entraram ao lado da Tríplice Entente, pois havia acordos comerciais a defender, principalmente com Inglaterra e França. Este fato marcou a vitória da Entente, forçando os países da Aliança a assinarem a rendição. Os derrotados tiveram ainda que assinar o Tratado de Versalhes que impunha a estes países fortes restrições e punições. A Alemanha teve seu exército reduzido, sua indústria bélica controlada,  perdeu a região do corredor polonês, teve que devolver à França a região da Alsácia Lorena, além de ter que pagar os prejuízos da guerra dos países vencedores. O Tratado de Versalhes teve repercussões na Alemanha, influenciando o início da Segunda Guerra Mundial.
A guerra gerou aproximadamente 10 milhões de mortos, o triplo de feridos, arrasou campos agrícolas, destruiu indústrias, além de gerar grandes prejuízos econômicos.

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domingo, 2 de fevereiro de 2020

Os vikings não passavam de meros saqueadores?



Esses “homens do norte” ou nordmanni, como eram chamados nos séculos IX e X, não eram meros selvagens que atacavam as pobres populações cristãs indefesas. Seus objetivos eram variados; poderiam ser comerciais, trabalhos como mercenários protegendo reinos europeus. O esquema empregado foi o mesmo que opôs os romanos a bárbaros. Uma imagem negativa, pois revela mais sobre as representações do “outro” por parte dos clérigos carolíngios que sobre a realidade histórica dos próprios vikings.
O termo viking designa os homens que surgiram no litoral da Europa ocidental no fim do século VIII. Oriundos da Escandinávia, eles organizavam expedições a bordo de seus navios, os knorr, pelas margens do Báltico e do Mar do Norte.
Seus objetivos eram variados. Praticavam atividades comerciais importantes, mas também pilhavam as populações costeiras, às vezes subindo rios como o Reno, o Sena e o Loire. A primeira grande incursão teve como alvo as ilhas britânicas na década de 790. Pouco depois, os vikings chegaram à costa do continente europeu.
Durante grande parte do século IX, o reino da Frância Ocidental foi particularmente visado, e Carlos, o Calvo, foi obrigado a lhes pagar tributo. Em certos casos, eles se instalavam em terras estrangeiras. Foi assim com a Normandia, concedida ao líder viking Rollo por Carlos, o Simples, em 911. Em troca, o chefe viking comprometeu-se a proteger o litoral franco contra futuros ataques.
No entanto, convém relativizar a oposição entre francos e vikings. Estes não eram os únicos que praticavam a pilhagem. No século VIII, os pipinidas, à frente do reino dos francos, promoveram expedições contra os saxões ou os turíngios que não se distinguiam dos ataques vikings.
O saque representava uma ação heroica para os reis carolíngios. O butim era frequentemente exibido como prova de valor guerreiro. Pode-se dizer que, durante muito tempo, o "viking" foi o franco. Afinal, as pilhagens do século IX nada tinham de novo. Incomum foi o fato de os francos passarem a ser as vítimas.
Então por que essa imagem de bárbaros? Ela se explica pelas fontes, essencialmente clericais e monásticas. As igrejas e mosteiros eram o alvo privilegiado dos vikings, daí a reação veemente dos clérigos. Alguns, como o monge inglês Alcuíno, apresentavam os vikings como um castigo divino. Afinal de contas, faziam parte de um mundo estrangeiro, desconhecido, assustador, no qual se costumava situar os monstros descritos pelos autores da Antiguidade.
Certos missionários chegaram a ver cinocéfalos (homens com cabeça de cão) entre os pagãos do Norte. Foi assim que se construiu uma imagem que, de certo modo, espelhava o contrário do mundo franco. Os vikings eram apresentados como seres imundos, ímpios, rudes, ao contrário do mundo carolíngio, que se considerava civilizado e cristão. O esquema empregado foi o mesmo que opôs romanos a bárbaros. Uma imagem negativa, pois revela mais sobre as representações do “outro” por parte dos clérigos carolíngios que sobre a realidade histórica dos próprios vikings.

Rodolphe Keller

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domingo, 19 de janeiro de 2020

MELQUISEDEQUE, REI DE SALÉM.



Autor: Leandro Claudir Pedroso

Formado em Licenciatura Plena em História e Pós-graduado em Metodologia do Ensino em História e Geografia.
            
Tenho lido diversos textos sobre o Rei/Sacerdote Melquisedeque, e embora já houvesse feitos estudos anteriores sobre o mesmo, deixei-me levar pelo interesse atual no tema, e fui realizar novas pesquisas. Não é um tema tão simples como tenho visto em alguns artigos na internet, e aproveitando o ensejo deixo um alerta para nunca manterem suas pesquisas unicamente na internet, pois a mesma está repleta de informações inverossímeis e de especulação. Aconselho aos amigos do Construindo História Hoje pautarem suas pesquisas em livros de autores conceituados com formação especifica para tanto. O texto mais relevante sobre o assunto se encontra em Gn. 14:18-20, aonde o Rei/Sacerdote se encontra com Abrão, este encontro se deu em +- 1850 a.C, após a chegada de Abrão a Canaã!

            Melquisedeque significa “Rei da Paz” ou “Rei da Justiça”, seu nome tem origem Cananeia, assim como Abrão (antes de Deus mudar seu nome para Abraão), ele era cananeu, e como Jó um exemplo de um não israelita, servo de Deus. O Rei/Sacerdote Melquisedeque é interpretado muitas vezes como uma figura da realeza e sacerdócio eterno do Senhor Jesus, com também uma Cristofania, ou seja um termo técnico da teologia cristã que serve para designar as aparições de Jesus Cristo antes da encarnação, em eventos ocorridos no Antigo Testamento.

Salém (Paz) é a forma contrata de Jerusalém, que significa “Cidade da Paz”, ou o antigo nome da cidade, S. João Crisóstomo ensina que para restabelecer as forças das tropas de Abrão, após a batalha contra os quatro reis, o qual, em consideração ao caráter sagrado de Melquisedeque, figura de Cristo, aceitou os dons, figura da Eucaristia, e em troca deu ao sacerdote a décima parte de todos os despojos. É óbvio que Melquisedeque tenha primeiramente oferecido aqueles dons, segundo o uso, ao Altíssimo, de quem era sacerdote.

“Ora, Melquisedeque, rei de Salém, trouxe pão e vinho; pois era sacerdote do Deus Altíssimo; 19 e abençoou a Abrão, dizendo: bendito seja Abrão pelo Deus Altíssimo, o Criador dos céus e da terra! 20 E bendito seja o Deus Altíssimo, que entregou os teus inimigos nas tuas mãos! E Abrão deu-lhe o dízimo de tudo.” Gn. 14:18-20

            Melquisedeque adorava o Deus Altíssimo, no texto original El’ Elyon, Elyon é empregado na Bíblia, principalmente nos Salmos como título divino, e aqui é identificado como o verdadeiro Deus de Abraão. Salém é a cidade ao qual Iahweh escolheu para mais tarde habitar.

            A tradição patrística explorou e enriqueceu esta exegese alegórica, vendo no pão e no vinho trazidos a Abrão uma figura da Eucaristia, e até um verdadeiro sacrifico, figura do sacrifício eucarístico. Muitos padres admitiram ainda que em Melquisedeque aparecera o Filho de Deus em pessoa, seria então uma Cristofania, isto é uma aparição do Messias antes do seu nascimento carnal. No Antigo Testamento estás aparições segundo muitos teólogos se deram pelo Anjo do Senhor, que seria Cristo antes da encarnação.

            É importante dentro do contexto de estudo de Melquisedeque fazer menção ao Anjo do Senhor, um anjo incomparável que aparece no AT e NT. Seu primeiro aparecimento foi a Hagar no deserto (Gn 16:7) e outros aparecimentos incluirão pessoas como Abraão (Gn 22:11-15) e José (MT 1:20). A identidade do Anjo do Senhor tem sido debatida, especialmente pelo modo  como ele frequentemente se dirige às pessoas. Note em Jz 2:1, o Anjo do Senhor  diz: do Egito EU vos fiz subir, e EU  vos trouxe à Terra que a vossos pais EU tinha jurado, e EU disse: EU nunca invalidarei o meu concerto convosco. Verificam-se pelo pronome que eram atos do SENHOR! Alguns consideram que ele era uma aparição do Cristo eterno, a segunda pessoa da Trindade, antes de nascer da virgem Maria.

 “Jurou o Senhor, irrevogavelmente: ‘Tu és sacerdote para sempre, a maneira de Melquisedeque’.” Sl. 110:4

            O sacerdócio conferido por Deus ao Messias com nova e solene fórmula de juramento, não está unido à instituição levítica, mas remonta diretamente a Deus, como o de Melquisedeque “sacerdote do Altíssimo”. No Antigo Testamento somente os asmoneus reuniram na mesma pessoa a soberania política e o sacerdócio religioso.

            Ao analisarmos a narrativa de Gênesis sobre Melquisedeque, rei de Salém, para inferir daí a prova de que este misterioso personagem que entra  bruscamente em cena e depois não se fala mais dele a não ser na citada alusão do Sl 110:4, era figura de Jesus Cristo. A narração bíblica apresenta muitos traços que o fazem semelhante a ele. A prova apoia-se em argumentos de três gêneros diversos: significado etimológico dos nomes próprios “Melquisedeque” e “Salém”, aquilo que a Escritura era corrente e reconhecido como válido entre os hebreus, e não pode negar-lhes o valor quem crê na inspiração da Bíblia e na providência divina especial em relação à história do povo eleito. Jesus Cristo é pessoa sobre-humana que transcende os tempos e Melquisedeque é, na narração bíblica, como que seu reflexo. Infere-se aqui dos fatos de Melquisedeque, expressamente mencionados na narrativa bíblica, outro argumento para provar quanto o sacerdócio de Melquisedeque e por consequência o de Jesus seja superior ao da tribo de Levi na lei mosaica. Outra consequência de suma gravidade: a lei mosaica estava intimamente ligada ao sacerdócio levítico, seja por se concentrar nele o culto divino, seja por caber  aos sacerdotes a explicação da lei ao povo e interpretá-la nos casos dúbios ou discutidos. Era um sacerdócio instituído para aplicação e conservação da Lei, vindo portanto a faltar este sacerdócio, também a lei ligada a ele perde o valor. E isto aconteceu com a vinda de Jesus Cristo que não era da tribo de Levi, mas sim de Judá, com Ele o sacerdócio levítico foi extinto e um novo sacerdócio eterno foi promulgado. Os sacerdotes levíticos estavam ligados ao estatuto carnal, pois eles morriam e necessitavam serem substituídos por novos sacerdotes, o sacerdócio do Senhor Jesus Cristo segundo a ordem de Melquisedeque é imortal, não tem fim, sendo o mesmo um sacerdócio perfeito. O sacerdócio levítico era de casta, já o instituído pelo Senhor Jesus é pessoal e trás salvação a toda humanidade!

            Quando o texto sagrado fala em Hebreus cap. 7 que o sacerdócio de Cristo é segundo a ordem de Melquisedeque, significa que Cristo é anterior a Abraão, a Levi e aos sacerdotes levíticos e maior que todos eles. No texto também lemos que ele não possuía nem pai e nem mãe, mas isso pode não significar que literalmente ele não tivesse pais, mas que os mesmos não estão registrados nas genealogias do texto sagrado.

            Temos várias teorias sobre quem foi Melquisedeque, poderia o mesmo ter sido unicamente um rei e sacerdote cananeu que servia ao Deus único, podendo ainda ter sido uma aparição de Cristo no Antigo Testamento, o que chamamos de Cristofania (Anjo do Senhor, que muitas vezes recebeu culto sem rejeitar, sendo desde modo uma pessoa da Santíssima Trindade), como em Gn. 16:7-13, 21:17-18, 22:11-18, Ex. 3:2, 13:21 e 14:19, também podemos explorar o fato de ter sido uma Teofania, uma presença física de Deus, como vemos em Gn. 32:22-30, Ex. 24:9-11, Gn. 12:7-9, entre outros, ou ainda uma Angelofania, que significa uma materialização de um anjo em forma corpórea, como vemos em relatos no Antigo Testamento, cito Gn. 18:1-33, Tb 12, dentre outros trechos.

            Ainda existem diversas vertentes de pensamentos que consideram Melquisedeque o próprio Sem, filho de Noé que teria tido seu nome alterado pelo próprio Deus e devido a sua longevidade, pois o mesmo teria sido contemporâneo de Abrão por 60 anos, dado o fato que Sem viverá 600 anos. E teriam sido sacerdotes de uma ordem ao qual o nome da mesma teria sido Melquisedeque, então o mesmo seria um título e não um nome próprio. O primeiro sacerdote desta ordem teria sido Sete, depois Sem e então o último teria sido Abrão, e os pães e vinho que o mesmo receberá de Melquisedeque (Sem) seriam um ritual de elevação sacerdotal de Abrão. Está posição e muito explorada pelos Judeus Messiânicos, que são alguns judeus conversos ou cristãos que se apegam a ritualística judaica.  
            Diante desta breve exposição podemos verificar várias opiniões sobre quem foi Melquisedeque, mas segundo minha opinião e com base em meus estudos, tenho duas opiniões a respeito do assunto: a primeira é que foi um Rei/Sacerdote Cananeu converso ao Deus Único Iahweh, e a outra que se tratava de uma Cristofania, muito comum em Gênesis por meio do Anjo do Senhor. Mas este é um tema a ser explorado, mas reitero aos meus leitores que ele seja feito sempre pautado em textos de conteúdo teológico respeitável e não em devaneios e especulações.

Autor: Leandro Claudir Pedroso


Formado em Licenciatura Plena em História e Pós-graduado em Metodologia do Ensino em História e Geografia.

Você quer saber mais?

Bíblia Sagrada, Edições Paulinas, 1967.


Bíblia de Jerusalém, Paulus, 2010.

Bíblia de Estudo Pentecostal, CPAD, 1995.

A Guerra dos Reis.. Disponível em: https://www.baciadasalmas.com/a-guerra-dos-reis/, acessado em 19/01/2020.

GINZBERG, Louis. Lendas dos Judeus. 1909-1928.

Para os curiosos em uma exposição detalhada sobre Melquisedeque ser Sem, filho de Noé, indico lerem este artigo: https://www.baciadasalmas.com/sete-e-seus-descendentes/