Mostrando postagens com marcador ÁFRICA. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador ÁFRICA. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

ESPECIAL EGITO: Cativos sim, escravos não!

A imagem épica de milhares de escravos erguendo magníficas pirâmides esconde uma realidade mais complexa. Os níveis de dependência e servidão na sociedade egípcia eram variados e não estão de todo decifrados, mas a escravidão, no sentido greco-latino, não existiu.


Níveis de dependência poderiam ser identificados como um tipo de escravidão, mas não havia a propriedade de um indivíduo sobre o outro. Israel no Egito, óleo sobre tela, Edward Poynter, 1867.


Diante dos grandes monumentos, como as pirâmides, só nos resta imaginar as massas de indivíduos curvados sob fardos muito pesados e sob as ordens de contramestres sádicos. E se trabalhar para o faraó constituísse de fato uma forma de recompensa?

É um dos temas que despertam mais paixão nos egiptólogos, mas também o fundamentalismo – a palavra não é forte demais – tanto daqueles que negam ferozmente o fato quanto daqueles que afirmam o contrário com veemência, como se a vida de uns e de outros dependesse da resposta. Como se também fosse possível resolver de forma simples um problema envolvendo noções tão complexas quanto as que dizem respeito à liberdade humana.

O Egito não conheceu a escravidão no sentido greco-romano, designando um indivíduo privado de sua liberdade, vivendo sob a autoridade absoluta de um mestre, seja devido ao nascimento – sendo ele mesmo filho de escravo –, seja após ter sido capturado (no decorrer de uma guerra), vendido ou condenado. Considerado como um bem material, ele se torna – para sempre – a propriedade explorável e negociável de outra pessoa. Ao longo do Vale do Nilo, essa forma de escravidão não ocorreu antes da época ptolomaica (século IV antes da nossa era), data em que os gregos se tornaram soberanos do país, levando com eles algumas de suas tradições, em particular a escravidão. Na sociedade egípcia, existiam múltiplos níveis de dependência que ligavam os homens entre si. Alguns podiam ser identificados como uma forma de escravidão, mesmo que estives- sem longe de responder aos critérios impostos pela definição jurídica.


Trabalhar para os faraós era uma forma de se apropriar de um pouco das benesses dos “filhos dos deuses”. Pintura na tumba do nobre Rekhmire, c. 1500-1450 a.C.


SEM PALAVRA QUE DESIGNE “ESCRAVO”

O funcionamento da realeza egípcia baseava-se em um elemento essencial – que aproxima muito o estado de espírito dos trabalhadores egípcios ao dos construtores de catedrais na Idade Média: filho dos deuses e seu representante na Terra, o faraó, no ápice da pirâmide social, garantia a vida e assegurava a cada um sua subsistência. Em troca desses benefícios, ele estava no direito de exigir dos súditos seu trabalho, de modo que cada um participava da grande obra coletiva.

Ainda por cima, por mais árduo que fosse o trabalho, contribuir para a edificação dos monumentos destinados ao futuro solar do rei ou à manutenção do equilíbrio cósmico permitia se apropriar de uma parcela das prerrogativas habitualmente reservadas ao personagem real. Enfim, fato sem dúvida revelador do sucesso do sistema faraônico, a coesão social passava pelo pertencimento a um Estado cuja organização quase militar era centrada na acumulação de riquezas, produzidas por uma mão de obra particularmente móvel com status sociais extremamente diversos.

Em um estudo especialmente instrutivo intitulado “Les noms de l’esclave en egyptien” (Os nomes de escravos em egípcio), o egiptólogo Jules Baillet elaborou uma lista dos vocábulos utilizados nos textos faraônicos para expressar a ideia de escravidão. Eis o que ele constatou: na língua egípcia, não existem palavras para designar o escravo no sentido estrito e, embora muitos termos expressem a sujeição, “nenhum corresponde exatamente à ideia de servidão”, tal como definida na Grécia ou em Roma. Daí sua pergunta: “O que é um estado social se nenhuma palavra o designa?”.

Evidentemente, se a palavra não existe, o mesmo ocorre com o status. Entre os muitos termos enumerados por Baillet, dois são mais comumente traduzidos por “escravo” entre os autores favoráveis à tese da existência da escravidão no Egito: hem e bak, duas palavras que parecem totalmente sinônimas na língua egípcia e que se pode, de maneira menos categórica, interpretar por “servo”, e mesmo “dependente”. Em egípcio, o sacerdote é um hem netjer, um “servo de deus”, e, como observa Bernadette Menu, grande especialista nas questões de direito no Egito antigo, um vizir se consideraria o bak do faraó, seu “devoto” de alguma maneira. Segundo Bernadette, a noção de escravidão não responde a uma necessidade egípcia. À luz dos textos jurídicos, parece claramente que o indivíduo hem ou bak era um homem livre, perfeitamente integrado à sociedade, dispondo de um estado civil, titular de direitos e devedor de obrigações idênticas às do resto da população: embora pudesse se casar, ter posses, vender, contratar ou entrar na Justiça, ele não podia escapar do pagamento de impostos e ao regime de corveia (trabalho gratuito).

Paralelamente, estão conservados vestígios nos arquivos, sobretudo da Época Baixa (por volta do século VI antes da nossa era), de contratos relativos à venda ou à locação de indivíduos dependentes, tema muito controverso entre os egiptólogos: trata-se do que chamamos comumente “escravidão por dívida”, cuja negociação se referia a serviços temporários, avaliados e quantificados previamente pelos interessados.


Camponeses trabalhavam em troca de rações diárias e de um salário mensal, acertados antecipadamente. Pintura na tumba do artesão Sennedjem mostra agricultor trabalhando, c.1200 a.C.


TRABALHO POR DÍVIDAS

Um homem endividado se colocava a serviço de um mestre para saldar sua dívida, até que a soma fosse integralmente reembolsada. Depois, os dois homens podiam se entender, por meio de um contrato escrito, validado juridicamente e aceito pelas duas partes. Foi o caso de um indivíduo chamado Peftouâoukhonsou, cultivador por conta própria, que entrou para o serviço de Nessemteu para pagar despesas médicas. Uma vez paga a dívida, ele decidiu continuar trabalhando, mas dessa vez remunerado, o que foi objeto de um novo contrato, renovado na sequência.

Trabalhos agrícolas e canteiros de construção monopolizavam cotidianamente uma parte da mão de obra egípcia, fosse ela estrangeira ou recrutada entre a população local, no seio das classes trabalhadoras – em primeiro lugar, os camponeses. Em troca de rações diárias e de um salário mensal – as fontes dissociam bem essas duas remunerações complementares –, os contratados deveriam fornecer determinada quantidade de trabalho. Salário e tarefa eram negociados antecipadamente e por tempo determinado. Era o regime do trabalho obrigatório, o da corveia: o indivíduo não escolhia sua tarefa, mas era pago regularmente pelo trabalho efetuado. É o que revela um documento muito interessante, o papiro Reisner I, datado do reino de Sesóstris I (em torno de 1970-1928 antes da nossa era), no início da XIIª dinastia, durante o Médio Império.

Referindo-se aos trabalhos de construção do reino, o papiro apresenta dados cifrados sobre as rações, os recrutados, as equipes e os trabalhos realizados. Para a maioria, os homens – oriundos da mão de obra das terras agrícolas pertencentes ao Estado – eram trabalhadores destinados às tarefas mais árduas: transporte dos blocos e fabricação de tijolos crus. Reagrupados em equipes de dez trabalhadores dirigidos por um capitão, eles recebiam diariamente um quilo de pão – que constituía a moeda de troca – e alguns extras por ordem real. As listas apresentam alguns artesãos especializados, mais bem remunerados, e contramestres que executavam as ordens dadas pelo vizir, responsável pelos trabalhos de construção perante o faraó. O documento revela o caráter muito regulamentado dessa organização e a extrema mobilidade da mão de Obra sujeita à corveia, que não cessava de se deslocar de um canteiro para outro, dependendo da necessidade.

BRAÇOS POR DIA OU POR HORA

A partir do Novo Império, além do Estado, qualquer pessoa podia, pagando uma remuneração, alugar os serviços de um terceiro por dia, ou em frações: meio dia, um quarto de dia, uma hora se necessário. Foi o caso do vaqueiro Messouia, que, sob os reinos de Amenófis III e de Akhenaton (XVIIIª dinastia, de 1550 a 1292 antes da nossa era), alugava mulheres para fabricar tecidos. Os contratos – cujo termo hieroglífico pode ser traduzido por “troca a título oneroso” – engajavam essas trabalhadoras por períodos que variavam entre dois até muitos dias, com tarifa diária de dois shâtis.

No papiro Harris I, Ramsés III (que reinou por volta de 1198 a 1168 antes da era cristã) explica como ele “reduziu a pó” os beduínos da Ásia, pilhando seu acampamento, levando seu gado, bens e prisioneiros, e os oferecendo aos deuses “para serem utilizados como servos de seu domínio”. Bem mais cedo, sob o Antigo Império, a Pedra de Palermo (sobre a qual foram gravados os anais reais) revela listas impressionantes de butins de guerra: sob a IVª dinastia, Snefru (em torno de 2700 a.C.) trouxe da Núbia 200 mil cabeças de gado e 7 mil cativos, imediatamente empregados nas explorações agrícolas. Exemplos desse tipo são muito numerosos nas fontes egípcias, em particular no Novo Império, onde o Egito conquistador submete seus vizinhos à força, no espírito de trazer butim e prisioneiros. Estes últimos eram destinados a engrossar os efetivos do exército e os domínios divinos ou reais para executar trabalhos agrícolas, artesanais e domésticos.


Os prisioneiros de guerra exploravam a terra que possuíam e pagavam impostos. Pintura da tumba do artesão Menna mostra trabalhadores arando o solo, c. 1422-1411 a.C.


ANDAR NO BOM CAMINHO

Desde essa época, a política egípcia visava integrar esses cativos à sociedade, oferecendo-lhes uma educação que recebiam no seio das fortalezas reais. Rompidos com seu meio de origem, os prisioneiros adotavam um nome egípcio e se lançavam no aprendizado do “falar como aqueles que seguem o rei, de modo que abandonem sua língua e andem no bom caminho sem olhar para trás”, antes de serem destinados a um templo ou a um domínio real onde fariam um trabalho remunerado. Tratava-se de uma acumulação de homens condenados a servir nas engrenagens das estruturas econômicas egípcias. Os cativos de origem principesca se uniam geralmente ao círculo real, onde às vezes exerciam altas funções.

Esses homens, chamados, no momento de sua captura, de hâqou ou seqerou-anhkou – palavras que se aplicavam aos cativos, aos prisioneiros –, se tornavam, após uma egipcianização bem-sucedida, hemou ou bakou, o que nos leva a pensar que não recebiam um status de escravo. Embora a onipresença da iconografia real mostrasse o faraó em toda a sua majestade esmagando os inimigos, em uma visão de mundo em que os países estrangeiros eram seus vassalos e os adversários rebeldes, destinados a morrer, o estrangeiro, a partir do momento que estivesse integrado à sociedade egípcia, era tratado exatamente como um egípcio. Isso era particularmente verdadeiro para os cativos que entravam como servos na casa de um particular graças a um presente do rei a um homem merecedor. Muitas vezes acolhidos com família e filhos, esses dependentes rapidamente faziam parte da casa, na qual permaneciam em geral por toda a vida. Encontra-se também essa integração no domínio militar.

Além dos soldados de carreira, os contingentes eram compostos por corpos de mercenários constituídos “pelos melhores entre os cativos que Sua Majestade fez nos campos de batalha”. Um documento que remonta aos primeiros anos do reino de Ramsés II (de 1300 a 1235 antes da nossa era), atribuído a um escriba encarregado de efetuar a repartição dos víveres entre os soldados de uma mesma unidade quando de uma campanha militar na Síria, mostra que os efetivos contavam com 62%de estrangeiros contra apenas 38% de egípcios.

terça-feira, 15 de outubro de 2013

A caça ao conhecimento perdido: Novas pesquisas mostram que tribos primitivas têm muito a nos ensinar sobre justiça, saúde e até na criação dos filhos.


Sabedoria Antiga. Imagem: Arquivo Pessoal CHH.

Viver em países com organização centralizada e centenas de milhões de cidadãos é algo que torna as pessoas e as culturas bem homogêneas. E isso pode ser um problema. Nossos ancestrais viviam em grupos de 100, 200 indivíduos. Bastava andar algumas dezenas de quilômetros para ir parar em "terra estrangeira", povoada por inimigos mortais que falavam uma língua bem diferente da sua. Resultado: cada grupinho desenvolveu sua própria cultura. Única e peculiar. Alguns grupos ainda vivem como os nossos antepassados da Idade da Pedra. É o que acontece na ilha da Nova Guiné, por exemplo. Os povos tradicionais de lá foram os que ficaram mais tempo isolados da civilização, então o lugar abriga mais de mil línguas diferentes num território pouco maior que o de Minas Gerais. E a diversidade linguística é só parte da equação. Junto com ela vem uma incrível variedade de usos e costumes. "Esse grupos representam milhares de experimentos naturais sobre como construir uma sociedade", diz o biólogo Jared Diamond. Ele é conhecido por ser o autor do polêmico best-seller Armas, Germes e Aço, no qual propõe que o acaso seria a principal explicação para o triunfo da civilização europeia, não a tecnologia. Agora ele está com um livro novo, e que também chama a atenção pela originalidade: é o The World Until Yesterday ("O Mundo até Ontem", sem versão em português). Diamond argumenta ali que tribos supostamente primitivas têm muito a nos ensinar.

"Eles descobriram milhares de soluções para problemas humanos. Soluções diferentes das nossas". Nas páginas a seguir, você confere algumas delas - boa parte delas bolada pelos povos da Nova Guiné e de ilhas adjacentes, onde Diamond faz suas pesquisas de campo. De quebra, aproveitamos para mostrar alguns pontos nos quais essas sociedades acabam escorregando.

1. Criação dos Filhos

A situação das crianças entre muitos povos de caçadores-coletores ou de agricultores primitivos é paradoxal. Grosso modo, dá para dizer que os pequenos são muito mais mimados do que os nossos bebês em várias dessas sociedades - e, ao mesmo tempo, ficam muito mais ao deus-dará do que qualquer mamãe brasileira normal acharia seguro. Começando pela parte fofa da coisa: entre as sociedades de caçadores-coletores mais bem estudadas pelos antropólogos - gente como os Hadza, da Tanzânia, os Agta, das Filipinas, e os !Kung (o ponto de exclamação representa um som feito ao estalar a língua), da Namíbia e de Botsuana -, a idade média para desmamar os pequenos fica em torno dos três anos. E as mamadas podem continuar por ainda mais tempo (depois dos quatro anos de idade, no caso dos !Kung) se um irmãozinho não aparecer para cortar o barato da criança. Entre os pigmeus Bofi e Aka, da África Central, o desmame é feito de forma gradual e, muitas vezes, espera-se que o filho tome a iniciativa de largar o peito.

Dá-se de mamar ao bebê sempre que ele quiser, mesmo no meio da noite - por isso, os nenês dormem junto com a mãe, podendo achar o peito sem necessariamente acordá-la. Não são apenas os seios da mãe que ficam à disposição da criança 24 horas por dia. O normal é que os bebês, até os dois ou três anos de idade, estejam quase sempre em contato físico muito próximo com um adulto. São carregados para lá e para cá no colo sem medo de que a criança "fique folgada" ou, então, passam o dia em "bolsas de canguru" ou trouxinhas amarradas ao adulto.

Diferentemente dos nossos "cangurus", no entanto, toma-se sempre o cuidado de colocar a criança numa posição voltada para a frente, de maneira que ela tenha o mesmo campo visual da mãe diante de si, o que parece ter algumas vantagens para o desenvolvimento neurológico do pequerrucho.

O bebê começa a diminuir seu contato corporal direto com os adultos também por vontade própria, por volta de um ano de vida, quando começa a descer mais para o chão para brincar com outras crianças. Outro aspecto importante do cuidado com os pequenos em boa parte das sociedades tradicionais é que a tarefa é dividida entre um número muito maior de pessoas. Além dos pais, claro, e dos avós, tios e irmãos mais velhos (que entre nós ainda dão uma mãozinha, mas muito menos do que era usual décadas atrás, por exemplo), praticamente todos os membros do grupo passam ao menos algum tempo com os bebês. Conforme as crianças crescem, podem ficar dias ou até semanas na casa de parentes ou vizinhos. E há ainda o costume da adoção ritual - a tradição de que meninos e meninas mais velhos passem anos na casa de outra pessoa, completando sua educação. Resquícios dessa prática aparecem na literatura de sociedades guerreiras um pouco menos "primitivas", como os gregos de Homero ou os nobres medievais.

Mais importante: para muitos caçadores-coletores, palmada como instrumento educacional não existe. O linguista americano Daniel Everett, que passou anos vivendo com a tribo dos Pirahã, no Amazonas, conta que certo dia tentou punir sua filha Shannon na base da chinelada. Ele não contava com os Pirahã, no entanto. A menina fez um escândalo, e os índios, que nunca batem em seus filhos, simplesmente proibiram a surra. Entre os pigmeus Aka, da África subsaariana, é parecido: se um dos membros de um casal bate nos filhos, o cônjuge pode usar isso como boa razão para um divórcio.

O respeito pela individualidade da criança, contudo, também tem seu lado ruim. É comum que grupos tradicionais deixem que garotos e garotas pequenos façam coisas um bocado perigosas - e paguem o pato por isso. Diamond conta que muitos de seus amigos das montanhas da Nova Guiné, por exemplo, possuem cicatrizes feias causadas por queimaduras, simplesmente porque seus pais não interferiram quando eles quiseram brincar com fogo quando crianças. Sobre os Pirahã, aparentemente tão delicados com os pequenos, Everett conta uma história de arrepiar. Certo dia, um menininho de dois anos estava brincando com uma faca, fazendo todo tipo de movimento perigoso com o treco. "E a mãe, que estava conversando com outra pessoa, pegou a faca do chão e devolveu à criança quando o menino deixou cair! Ninguém disse a ele para tomar cuidado para não se cortar."
Também é importante lembrar que as dificuldades da vida nômade podem levar mães e pais a tomarem decisões difíceis, que envolvem inclusive o sacrifício de recém-nascidos. Quando nascem gêmeos numa família de caçadores-coletores, por exemplo, é comum que um deles seja sacrificado, porque a mãe dificilmente será capaz de alimentar ambos.

2. Fazendo justiça

Ciclos de vingança muitas vezes tomam conta da vida dos povos tribais. É claro que isso tem a ver com a inexistência de um Estado, capaz de monopolizar o uso da violência e de punir crimes por meio de tribunais e prisões. Se o único jeito de fazer justiça é matar o sujeito que matou seu pai, você vai considerar seriamente essa possibilidade. Só tem um complicador: em sociedades desse tipo, os laços familiares costumam ser mais fortes do que entre nós. Seu primo de segundo grau tem tanta obrigação de vingar você quanto seu filho. E, do outro lado da equação, uma vez vingado o assassinato original, nada impede que o primo de segundo grau do assassino se sinta obrigado a vingá-lo. Deu para ver onde isso vai parar.
Se o cenário parece desesperador, também há evidências de que as sociedades tradicionais conseguem enfrentar de forma eficaz situações que, para nós, virariam um pesadelo judicial. É essa a lição que Diamond tira de um incidente na Nova Guiné, a morte por atropelamento do menino Billy. O garoto foi atingido enquanto voltava da escola. Ele desceu do micro-ônibus para atravessar a rua e se encontrar com seu tio Genjimp, que estava esperando para levá-lo para casa, mas saiu correndo por trás do micro-ônibus. Com isso, Malo, motorista de outro carro, não viu o menino e acabou por atingi-lo.

Billy e Malo pertenciam a grupos étnicos diferentes, o que poderia ser a receita para um ciclo de vinganças. Mas, graças à mediação do chefe da tribo, a família do menino reconheceu que tudo tinha sido um acidente e aceitou o chamado sori money, ou "compensação" em tok pisin, língua franca da Nova Guiné, derivada do inglês. E também ajudou a família a organizar o funeral de Billy. No final, as partes se despediram com um aperto de mãos.
No Ocidente, lembra Diamond, a mesma situação estaria sendo enfrentada por meio de uma disputa judicial impessoal, com os pais do menino simplesmente processando o motorista. Para o pesquisador, a vantagem do método da Nova Guiné é que ele tem um componente emocional importante, dando aos pais e aos representantes do motorista uma chance de tentar reparar, ao menos em alguma medida, o sofrimento trazido pelo caso. É o que os procedimentos recentes da chamada justiça restaurativa - quando vítimas e criminosos ficam frente a frente para conversar, com a ajuda de um mediador, por exemplo - estão tentando fazer.

3. Previdência social

Jared Diamond conta que, certa vez, passou vergonha ao bater um papo com um nativo de Viti Levu, uma das ilhas do arquipélago de Fiji, no Pacífico. O sujeito tinha visitado os EUA anos antes e acusou: "Vocês jogam seus idosos, e até seus próprios pais, no lixo!".Em Fiji, os filhos chegam a pré-mastigar a comida dos pais idosos e desdentados, o que provavelmente explica a indignação do nativo com o fato de alguns velhinhos americanos serem esquecidos em lares para idosos, sem receber visitas da família. De fato, o respeito cerimonioso com os mais velhos é comum entre sociedades tradicionais.

Mas, como acontece no caso das crianças, nem tudo são flores. Em situações de privação, muitas tribos de caçadores-coletores acabam "sugerindo" que os velhinhos façam o favor de bater as botas - ou praticam uma forma de eutanásia forçada (digamos) quando isso falha. Esse tipo de prática se torna mais comum em dois contextos, diz Diamond: quando a tribo precisa mudar de acampamento com frequência, o que dificulta a presença de pessoas com mobilidade reduzida; ou quando o grupo habita ambientes nos quais a falta de recursos acontece de maneira cíclica (como os desertos e o Ártico).

Grupos como os Inuit (esquimós) e os Hopi, dos desertos dos EUA, preferiam simplesmente ignorar os idosos indesejáveis, deixando de cuidar deles e de lhes dar comida, até que eles acabem morrendo. Uma tática mais ativa - e cruel - é abandonar a pessoa mais velha quando chega a hora de mudar de acampamento e fica claro que ela não será capaz de acompanhar o grupo sozinha, coisa que os Aché, do Paraguai, costumavam fazer. O método mais chocante, porém, talvez seja o adotado para viúvas do povo Kaulong, da Nova Bretanha, ilha próxima da Nova Guiné: até os anos 50, era função dos filhos homens, ou dos irmãos da mulher, estrangulá-la assim que o marido morria.

A antropóloga Jane Goodale (não confunda com Jane Goodall, a famosa especialista em chimpanzés) registrou a situação enfrentada pelo filho de uma dessas viúvas: "Quando hesitei, minha mãe ficou de pé e, em voz alta, disse que eu só estava demorando porque queria fazer sexo com ela". Humilhado, o sujeito acabou cumprindo seu dever.
Se nada disso parece muito inspirador, é bom lembrar que, em condições normais, as sociedades tradicionais sabem dar valor a seus membros mais velhos, em especial levando em conta os contextos nos quais eles são capazes de deixar a garotada no chinelo. Embora não sejam mais capazes de caçar um elefante na base das lançadas, eles são os principais responsáveis por interpretar marcas deixadas por um animal ou por planejar a caçada. São excelentes xamãs, pajés e curandeiros, além de dominarem o artesanato de forma mais precisa e cuidadosa do que os jovens, mais afoitos. E, em culturas que são orais e dependem de um conhecimento detalhado do ambiente, seus cérebros funcionam como bibliotecas vivas, guardando segredos como o que comer quando uma seca severa ou um furacão acabam com quase todas as fontes de alimento.

4. Paleo-dieta

Diamond lembra que, quando começou a trabalhar na Nova Guiné, na década de 1960, obesos ou mesmo gente um pouco acima do peso pareciam simplesmente não existir na ilha. Musculosos, esbeltos e cheios de fôlego, os nativos eram capazes de carregar pesos enormes no lombo durante o dia inteiro sem se cansar. Problemas cardíacos, pressão alta, diabetes e câncer mal eram registrados por lá - os idosos da Nova Guiné de então raramente eram afetados por esses males.

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Thonis-Heracleion: Tesouros surpreendentes da Atlântida Perdida do Egito há 1.300 anos agora são revelados.


Estela ordenada por Nectanebo I encontrada em Thonis-Heracleion sendo tirada do fundo do Mediterrâneo. Imagem: http://seriouslyforreal.com

Arqueólogos redescobriram uma cidade egípcia envolta em mitos, engolida pelo Mar Mediterrâneo e enterrada na areia e na lama por mais de 1.200 anos. Conhecida como Heracleion para os antigos gregos e Thonis para os antigos egípcios, a cidade foi encontrada em 2000 pelo arqueólogo subaquático francês Franck Goddio e sua equipe do Instituto Europeu de Arqueologia Subaquática, depois de um levantamento geofísico de quatro anos.

As ruínas da cidade perdida estavam 9,4 metros abaixo da superfície do Mar Mediterrâneo, em Aboukir Bay, perto de Alexandria. Vários artefatos surpreendentemente bem preservados foram recuperados, e contam um pouco da história do povo que lá viveu.


Esta estela foi ordenada pelo faraó Nectanebo I, que viveu entre 378 e 362 aC. É quase idêntica à estela de Náucratis, que fica no Museu Egípcio do Cairo. Imagem: http://seriouslyforreal.com

Porto da era clássica

Durante a escavação de 13 anos de Thonis-Heracleion, emocionantes descobertas arqueológicas ajudaram a descrever uma cidade antiga que não era apenas um centro comercial internacional vital, mas, possivelmente, um importante centro religioso.
A pesquisa sugere que Thonis-Heracleion serviu como uma porta de entrada obrigatória para o comércio entre o Mediterrâneo e o Nilo.


Uma das descobertas mais importantes na área do templo foi esta capela monolítica, pois serviu como uma chave para identificar o resto da cidade. Imagem: http://seriouslyforreal.com

Até o momento, 64 naufrágios e mais de 700 âncoras foram descobertos a partir da lama da baía. Outros achados incluem moedas de ouro, pesos de Atenas (que nunca foram encontrados em um site egípcio) e tábuas gigantes inscritas em egípcio e grego antigos. Os pesquisadores pensam que esses artefatos apontam a proeminência da cidade como um centro de comércio movimentado.

Também foi analisada uma variedade de artefatos religiosos na cidade submersa, incluindo esculturas de pedra de cerca de 5 metros de altura, que provavelmente adornaram o templo central da cidade, e sarcófagos de pedra calcária que se acredita terem contido animais mumificados.

Especialistas se maravilharam com a diversidade de objetos localizados e com o quão bem eles estavam preservados. “A evidência arqueológica é simplesmente impressionante”, disse Sir Barry Cunliffe, arqueólogo da Universidade de Oxford (Reino Unido).


A deusa Ísis era adorada como mãe e esposa, bem como patrona da natureza e da magia. Imagem: http://seriouslyforreal.com

Apesar de toda a excitação sobre a escavação, um mistério sobre Thonis-Heracleion permanece em grande parte sem solução: por que exatamente a cidade afundou?

A equipe de Goddio sugere que o peso de grandes construções em uma região de barro e solo de areia pode ter feito a cidade afundar após um terremoto. Segundo Goddio, pode levar mais 200 anos antes de os cientistas descobrirem todos os segredos da cidade perdida.

Acompanhe mais fotos da descoberta de Thonis-Heracleion.


Os pesquisadores descobriram uma estátua de 5,4 m que representa o deus Hapi, que era o deus das inundações do Nilo e um símbolo da fertilidade e da abundância. A estátua decorava o templo de Heracleion. Imagem:  http://seriouslyforreal.com/ 


terça-feira, 8 de outubro de 2013

Revolta com a mecanização tem nova interpretação


Desenho publicado em 1812 mostrando trabalhadores comandados pelo lendário General Ned Ludd destruindo uma tecelagem. Imagem: Britsh Museum.  

A preocupação com a dominação das máquinas não é de hoje. Nos tempos de escola, aprendemos que o movimento ludista foi um movimento operário contrário à mecanização do trabalho que estava acabando com os trabalhos de muitos operários. Por isso, os ludistas invadiram fábricas e destruíram máquinas. E dois dos incidentes mais notórios aconteceram há exatos 200 anos, quando 150 rebeldes invadiram o Moinho de Rawfold e assassinaram o proprietário local, William Horsfall, perto do condado de York, Inglaterra.

Para historiadores de todo o mundo, a revolta foi divisora de águas, na qual a classe trabalhadora se fez presente e fez as outras classes sentirem sua força política pela primeira vez. Isso acabou levando a posteriores reformas, como a criação dos sindicatos, por exemplo.

Contudo, uma recente pesquisa de Richard Jones sugere que não foi bem assim. Segundo ele, o ludismo é celebrado pelos motivos errados. Ele defende que o movimento não representava as verdadeiras preocupações das classes operárias, mas somente as preocupações de profissionais mais privilegiados, que tinham interesses locais.
Na indústria têxtil, investigada pelo estudo, por exemplo, de um milhão de empregados, os aderentes ao movimento nunca passaram 12 mil.

“Para os historiadores, o ludismo é encarado como um fenômeno social histórico”, explica Jones. “Os ludistas eram vistos como trabalhadores que se faziam ouvir, mas esses não eram os grandes grupos de trabalhadores, mas sim os mais intelectualizados desses grupos.”

O foco de Jones recaiu sobre o condado de York, aonde ele examinou testemunhos orais, documentos legais, papéis do parlamento e relatórios. De acordo com ele, os grupos envolvidos nas quebras das maquinarias sempre variavam de 4 a 10 pessoas, e a rebelião não se tornou um movimento nacional, pois era diferente de lugar para lugar. Em Nottinghamshire, por exemplo, não havia violência. Os trabalhadores só removiam as engrenagens. Mas, em Lancashire, pelo contrário, houve ondas de movimentos radicais, que levou a greves maduras e bem organizadas.

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Mitologia como ciência antiga: o mito transcendendo o irreal!


Constelações zodiacais. Imagem: Arquivo Pessoal CHH.

Nestes tempos amigos Construtores onde a tecnologia marca a civilização humana de uma forma tão forte que o pensamento contemporâneo se recusa a aceitar que as civilizações antigas pudessem marcar a passagem do tempo para além das simples observações sazonais que definem um ano. Mas, através da história houve astrônomos, matemáticos e historiadores que mediram o tempo de maneiras sofisticadas.

O historiador John G. Jackson (1907-1993), em seu estudo do folclore e das tradições da Grécia Antiga, lançou uma preciosa luz sobre a relação entre os mitos e a observação das estrelas entre os antigos. Na mitologia grega, aprendemos sobre o lendário e poderoso rei etíope, Cefeu, cuja fama era tão grande que ele e sua família foram imortalizados como estrelas. Ele, sua esposa Cassiopeia e sua filha, a princesa Andrômeda, todos se tornaram estrelas na esfera celeste. Embora essa conexão pessoal com as estrelas possa no parecer estranha, Jackson observa que para os antigos etíopes, isso não era incomum. Amigos Construtores, veremos agora que Jackson destaca que Luciano, antigo escritor e historiador grego (180-129 AEC), descreveu a cuidadosa observação das estrelas por parte dos primeiros etíopes.

Os etíopes foram os inventores da ciência das estrelas, e deram nomes aos planetas, não de maneira aleatória e sem sentido, mas descritivos das qualidades que concebiam que possuíssem; e foi deles que essa arte passou, ainda que em estado imperfeito, para os egípcios”.

Historiador grego Luciano

O estudioso francês Constatin-François Volney (1757-1820) que é conhecido pelos relatos meticulosos de suas explorações no norte da África, era particularmente fascinado pelo alto grau de conhecimento astronômico e, decorrente disso, o elevado nível cultural alcançado pelos etíopes. Volney descreve a invenção do zodíaco por essa antiga civilização:

“Foi então que na fronteira do Alto Nilo, entre uma raça de homens negros, organizou-se um complicado sistema de adoração das estrelas, considerado em relação às produções da terra e aos trabalhos na lavoura [...] Assim, o etíope de Tebas chamou de ESTRELA DE INUNDAÇÃO, ou AQUÁRIO, aquelas sob as quais começam as cheias do Nilo; ESTRELAS DO BOI ou TOURO, aquelas sob as quais começam a plantar; ESTRELAS DO LEÃO, aquelas sob as quais esse animal, expulso do deserto pela sede, aparecia nas margens do Nilo; ESTRELAS DO FEIXE DE ESPIGAS, ou primeira colheita VIRGEM, aquelas da estação da ceifa; ESTRELAS DO CORDEIRO, ou ÁRIES e ESTRELAS DAS DUAS CRIANÇAS, ou GÊMEOS, aquelas sob as quais os preciosos animais nasciam [...].
Assim, o mesmo etíope, tendo observado que o retorno das inundações sempre correspondia ao surgimento de uma bela estrela na direção da nascente do Nilo, e que parecia prevenir os agricultores acerca da elevação das águas, ele comparou essa ação à do animal que , com seu latido, alerta contra o perigo, chamou essa ESTRELA DE CÃO, aquele que ladra, SIRIOS. Da mesma maneira, chamaram de caranguejo as estrelas onde o sol, tendo chegado ao trópico, recuavam devido a um lento movimento retrógrado, como o CARANGUEJO DE CÂNCER. Ele chamou de CABRA SELVAGEM, ou CAPRICÓRNIO, aquelas onde o sol, tendo alcançado o ponto mais alto em seu trato anual [...] imita a cabra, que adora escalar o alto das rochas. Ele chamou de BALANÇA, ou LIBRA, aquelas onde os dias e noites são iguais, parecem em equilíbrio, como esse instrumento; e ESTRELAS DE ESCORPIÃO, aquelas onde certos ventos periódicos trazem vapores que queimam como o veneno do escorpião.”


Constelação de Cepheu. Imagem: Arquivo Pessoal CHH.

Volney determinou que a data de origem do zodíaco tinha de ser 15194 AEC.
Charles-François Dupuis (1742-1809), professor de retórica em Lisieux, França, acreditava que existiu uma origem comum para as opiniões astronômicas e religiosas dos gregos, egípcios, chineses, persas e árabes. Em seus livros The Orign of All Religious Worship, The Origen of Constellations e The Chronological Zodiac, Dupuis, correlaciona os mitos da Antiguidade com a observação de uma série de acontecimentos celestes. Esses livros foram a fonte de inspiração de Giorgio de Santillana, quando ele começou a estudar a mitologia e a astrologia dos primeiros egípcios.

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Núbia (TA-SETI), a terra do arco. Parte V. Desintegração do Reino da Núbia.



Em, em 661 d.C, Assurbanipal da Assíria caí sobre o Egito, é destroí a cidade de Tebas. Os invasores assírios tinham nomeado Neco I como rei do Egito, para então posteriormente deixarem o Egito. A partir da Núbia, Tanutâmon marchou pelo Vale do Rio Nilo e conquistou todo o Egito novamente. Neco I, o representante dos assírios, foi morto na campanha de Tanutâmon. Em reação, os assírios voltaram ao Egito, e  derrotaram o exército de Tanutâmon no Delta do Nilo. Tanutamôn mudou-se para o sul para Tebas.



Depois da vitória Assíria no Egito, o último Faraó Núbio Tanutâmon vendo não haver meios de detê-los refugia se ao Sul no início do século VI a.C. Durante nove séculos, a Núbia conseguiu permanecer isolada até o século IV da era cristã, quando sua Capital Meroe, foi destruída pelos nabateus que se estabeleceram na região e, por volta do ano 540, converteram-se ao cristianismo. 


O Faraó Tanutâmon refugia-se em Nápata e começa a ignorar o Reino do Norte e passa a proteger sua influência no Sul. A Capital foi posteriormente transferida para Meroe no Sul. Com Tanutâmon vêmos fim das Dinastias Núbias no Egito. embora a autoridade Tanutâmon ainda foi reconhecida no Alto Egito até seu oitavo ano. 

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Núbia (TA-SETI), a terra do arco. Parte IV. Conquistas e Aspectos Socioculturais.



Necrópole de Mênfis. Mênfis a Cidade Sagrada foi uma das grandes conquistas Núbias pelo Faraó Piankh em suas campanhas do ano de 721 a.C . Imagem fonte: http://destinolandia.com/la-necropolis-de-menfis/

Continuando nosso estudo sobre o Reino da Núbia, analisaremos as Conquistas e os Aspectos Socioculturais que abrangem a região Núbia. Os Faraós núbios além de expandirem suas fronteiras ao Norte e ao Sul unificaram o Egito sobre uma única dinastia diante de um Reino Egípcio decadente. A cultura núbia é muito rica em diversos aspectos e está dividida em três Grupos: A,B e C. Sendo a primeira muito diversificada em todos os aspectos de sua ampla imagem e visão da realidade que os cercava. Já o Grupo B, nada mais é do que uma degeneração do Grupo A, devido as seguidas invasões egípcias na região. Distinta das duas anteriores, a Grupo C e baseada em motivos geométricos e se espalhou por toda a região núbia durante o Primeiro Período Intermediário.

Conquistas da XXV Dinastia (A Dinastia Núbia)

Formação do Reino Núbio autônomo em Nápata pelo Rei Alara (780 a.C).

O Rei Kashta (760 a.C) sucede seu irmão Alara no Trono de Nápata e com um exercito eficiente expande o Reino além de Tebas.

Em 751 a.C Piankhi filho de Kashta conquista a cidade de Mênfis e Saís e todo o Delta do Nilo e torna-se o primeiro Faraó da XXV Dinastia, a Dinastia Núbia.

O Faraó Sciabaka irmão de Piankhi reconquista Saís, após a revolta de Bocoris, seguidor da XXIV dinastia egípcia e do “Faraó” Osorkon IV.

Sobe ao trono o Faraó Taharka (689 a.C), filho de Piankhi. Ele realiza construções em Mênfis (681 a.C).

Em 664 a.C Tanutâmon neto de Taharka torna-se Faraó e da continuidade aos trabalhos de construção e reformas nas cidades. Projeta sua influência ao Sul e transfere sua Capital para Meroe.


Ruínas de parte da cidade de Saís. Foi conquistada por Piankh em 721 a.C. Imagem fonte:http://www.dur.ac.uk/penelope.wilson/gallery2.html

Aspectos Socioculturais

Seu modo de vida era voltado para caça, pesca e e criação animal que estavam associados a uma forma de agricultura rudimentar. Era uma Núbia pastoral e talvez seminômade, embora não destituída de habilidade agrícola. Os núbios possuíam uma Cultura Oral bem comum aos membros das distintas tribos. Não adotaram a escrita que conheceram através do contato com o Egito porque eram estruturados em pequenas unidades sociopolíticas aonde não havia pressão/necessidade da presença da escrita para as atividades cotidianas. A cultura da Núbia Antiga é dividida em Grupo A, B e Grupo C.

Cultura Núbia Grupo A

A Cultura do Grupo A desenvolveu-se contemporaneamente à I Dinastia Egípcia. Seus vestígios arqueológicos foram encontrados na Núbia entre a primeira catarata à Batn-el-Haggar ao Sul. Fisicamente apresentavam semelhanças com os egípcios pré-dinásticos. Viviam em pequenos acampamentos pastoreando ovelhas, cabras e alguns bovinos.


Cerâmica Núbia do Antigo Império (3.100 a 2.200 a.C). Imagem fonte: http://historia-da-ceramica.blogspot.com.br/2009/11/ceramica-nubia.html

Eram seminômades, orientados pelas necessidades de novas pastagens. A cerâmica constitui uma das marcas características desse grupo cultural, pois revela um artesanato engenhoso e uma decoração artística.

Cultura Núbia Grupo B

No fim da II Dinastia Egípcia e é considerada um empobrecimento da Cultura do Grupo A. Esse período de decadência cultural coincide com o inicio da III Dinastia Egípcia e vai até o inicio da VI Dinastia e teria sido causado pelas repetidas investidas egípcias contra a Núbia.


Cerâmica Núbia do Médio Império. (2.000 a 1.600 a.C.). Imagem fonte: http://historia-da-ceramica.blogspot.com.br/2009/11/ceramica-nubia.html