segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

VOCÊS ENTENDERAM? ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE O USO DE PERGUNTAS NAS AULAS DE CIÊNCIAS.

Cristiane Camargo
Departamento de Metodologia do Ensino - UFSCar

As Ciências Naturais (que incluem a Biologia, a Química, a Física, a Geologia etc.) são, por sua natureza, atividades investigativas, que partem dos questionamentos feitos, há gerações, acerca dos fenômenos naturais.

Nada mais natural, portanto, que as aulas de Ciências fossem repletas de...”???”

Se você respondeu “perguntas” já deve ter entendido onde pretendo chegar.

Isso mesmo: as aulas de Ciências deveriam estar repletas de perguntas! Mas, ao contrário do que alguns possam pensar, refiro-me aqui às perguntas feitas pelo professor, não àquelas feitas pelos alunos que, estes, aliás, quanto menores e menos reprimidos pela escola, as têm de sobra.

Você pode estar se colocando diante da seguinte questão: não cabe ao professor perguntar e, sim, responder, já que, supostamente, é ele quem sabe mais e está ali para ensinar aos alunos?

Mas é neste ponto que se pode confundir o papel do professor com o de uma mera fonte de informações. Quero fazer aqui a importante observação de que o professor pode ser, também, uma preciosa fonte de informações, mas seu papel não deve se reduzir a este. Se entendermos o papel do professor como o daquele que deve criar as condições para a aprendizagem mais do que simplesmente transmitir informações, podemos compreender a importância de fazer perguntas em sala de aula.

As perguntas podem servir a muitos fins, ou não servir para nada, como é caso da tão velha e desgastada pergunta repetida pelos professores há séculos “Vocês entenderam?”. Salvo exceções, essa pergunta é invariavelmente acompanhada por um silêncio da classe com, talvez, algumas cabecinhas sinalizando respostas positivas com confiança que varia de nula a total ou, quem sabe, exibindo sinais de total perplexidade diante da questão.

Para servir como fonte de informação para o professor a respeito da aprendizagem, as perguntas devem ser mais objetivas do que isso, ou seja, devem ter um conteúdo objetivo, como por exemplo, quando o professor pergunta “Alguém pode me explicar de que forma as folhas de uma árvore conseguem obter a água que foi absorvida pelas raízes?”, ao invés simplesmente de perguntar “Vocês entenderam?”. Até porque, inclusive, é bastante provável que cada aluno tenha tido um entendimento parcial do assunto e, portanto, a questão “Vocês entenderam?” não pode ser respondida de forma simples com um sim ou com um não.

Ao ouvir as respostas de um ou mais alunos, o professor tem a possibilidade de identificar o que foi e o que não foi bem compreendido, pode explicar novamente, pode esclarecer ambigüidades, mal entendidos.

Mas não é só para verificar a aprendizagem que o professor pode fazer perguntas em sala de aula. Ele pode criar questões que funcionem como desencadeadoras dos processos mentais necessários à aprendizagem de um determinado assunto. São questões que estimulam os alunos a pensar sobre aquele assunto, a selecionar e relacionar as idéias que têm a respeito dele, a distinguir, dentre estas idéias, o que é relevante ou não, o que está correto ou não do ponto de vista da Ciência etc. Ao invés, por exemplo, de dizer aos alunos que os ambientes de água salgada são mais estáveis que os de água doce e, que, portanto, é mais comum encontrar formas larvais nos organismos marinhos, o professor pode, após explicar o que caracteriza a estabilidade/ instabilidade nestes ambientes, pedir aos alunos que relacionem estas características com a vantagem/ desvantagem adaptativa de passar ou não por um estágio larval. Munidos das informações necessárias, lembrando sempre que a transmissão de informações é sim parte muito importante do trabalho do professor, os alunos, provavelmente serão capazes de chegar à conclusão correta.

É interessante, para que as perguntas tenham maiores chances de alcançar este segundo objetivo, que o professor dedique algum tempo no preparo de suas aulas à elaboração das perguntas que pretende fazer. Algumas questões podem ajudá-lo nesta tarefa: o que eu quero que meus alunos aprendam?; quais idéias/ informações relacionam-se com o que quero ensinar?; eles já têm as informações necessárias?; como devem relacionar estas idéias/ informações?; quais raciocínios meus alunos podem seguir para chegar aonde pretendo?

Algumas perguntas interessantes também podem advir de um pouco de leitura sobre História da Ciência. Conhecer a história de como foram construídos os conhecimentos dentro de determinada área ou assunto específico pode ajudar a entender melhor a respeito dos processos mentais, que na verdade são construções coletivas, de produção do conhecimento.

Você quer saber mais?

Lorencini Júnior, A.; O ensino de Ciências e a formulação de perguntas e respostas em sala de aula. In: Cadernos de Textos da III Escola de Verão. Serra Negra, São Paulo: FEUSP, 1994, p. 128-137.

DA DESCOBERTA DO NEURÔNIO À NEUROCIÊNCIA.


Agnaldo Arroio Faculdade de Educação – USP

Fala-se muito em aumentar a inteligência através de exercícios. Até que ponto isto é válido? Será que só usamos 10% de nosso cérebro? Você acredita nisso?

O cérebro e as funções cerebrais têm sido estudados cientificamente por diversos ramos do saber, a partir de uma perspectiva biológica. A neurociência é a ciência que reúne diferentes disciplinas com o objetivo de estudar o funcionamento do sistema nervoso central, principalmente em relação à anatomia e à fisiologia do cérebro humano.

No início do século XX, três grandes áreas de pesquisa que contribuíram muito para o conhecimento sobre o cérebro, esse órgão tão complexo! Foram o localizacionismo cerebral, a eletrofisiologia e a anatomia microscópica.

O localizacionismo cerebral, isto é, a busca pelas localizações das funções nervosas e mentais, foi evidenciada com as pesquisas de Pierre Flourens mostrando que as principais divisões anatômicas do cérebro eram responsáveis por funções bem distintas.

Outra contribuição foi feita simultaneamente por Carlos Mateucci, Julius Bernstein e Emile du Bois-Reymond, com seus estudos sobre a natureza elétrica dos impulsos nervosos e o novo modelo de funcionamento do sistema nervoso baseando-se nas descobertas sobre eletricidade de Luigi Galvani.

A anatomia já estudava as estruturas macroscópicas do cérebro, porém ainda eram desconhecidos sua estrutura microscópica e seu funcionamento. Porém com os avanços tecnológicos e o desenvolvimento do microscópico óptico composto foi possível o estudo do tecido neural, possibilitando assim o estudo da estrutura microscópica cerebral. Os cientistas começaram a estudar os diferentes tecidos do cérebro e entre 1836 e 1838. As primeiras células neurais foram descritas pelos anatomistas. Gabriel Gustav Valentin foi o primeiro a descrever a estrutura do neurônio, composto de núcleo e nucléolo.

Em 1863, Otto Friedrich Karl Deiters sugeriu que as terminações dos axônios pareciam se fundir com os dendritos de outra célula formando uma espécie de ponte. Foi então proposto que os impulsos nervosos recém descobertos propagar-se-iam de célula para célula por meio destes filamentos, possibilitando ao cérebro funcionar como uma gigantesca rede, com um número muito grande destes filamentos interconectados.

Entretanto, 70 anos após Galvani ter proposto a primeira teoria sobre o funcionamento do tecido neural, surgiu a idéia de que as funções neurais poderiam ser o resultado da transmissão de mensagens elétricas por essa rede, que era o cérebro, onde os neurônios não se fundem e são interdependentes. Assim os impulsos nervosos poderiam ser elos das mensagens sendo transmitidas. Cabe hoje à neurociência estudar esta linguagem e explicar como funciona o nosso cérebro. Mas se os neurônios não estão ligados uns aos outros como então acontece essa transmissão? Pois é, na próxima vez falaremos sobre a transmissão química destes impulsos.

Você quer saber mais?

http://cdcc.usp.br/

Você sabe o que é a cidade do conhecimento?


A cidade do conhecimento é uma comunidade de aprendizagem baseada em projetos cooperativos onde os participantes produzem conhecimento, fazendo parte de uma rede de aprendizado permanente.

A principal característica da cidade é a dinâmica, a cidade faz uso de mídias digitais, principalmente a internet, para promover ações visando à democratização do conhecimento no Brasil.

Na área educacional o programa Educar na Sociedade da Informação, visa promover a criação de redes d educadores e outros profissionais do ensino médio e fundamental.

Você quer saber mais?
http://www.cidade.usp.br

Visite o portal “SciELO”:


Scientific Electronic Library Online

Regina H. Porto Francisco, FEB

Este portal é mantido por agências de fomento à pesquisa (FAPESP, CNPq e BIREME) e disponibiliza gratuitamente o conteúdo completo de quase todas as revistas e jornais científicos da América Latina, com o objetivo de divulgar as pesquisas feitas nesta região e também viabilizar o acesso à produção científica regional. A língua mais freqüentemente utilizada é o português, seguindo-se o espanhol e depois o inglês, o que facilita o acesso para estudantes brasileiros.

Você quer saber mais?

http://www.scielo.br

GREGOR JOHANN MENDEL


Agnaldo Arroio
Faculdade de Educação - USP


Mendel, monge e botânico austríaco de origem tcheca foi o primeiro cientista a elucidar os mecanismos básicos da hereditariedade. Primeiro crítico importante das teorias evolucionistas de Darwin, ele escreveu uma série de artigos (1868-1876) defendendo a idéia de que as características adquiridas de qualquer variação genética ou somática não podiam ser todas herdadas.

Johann Mendel nasceu em 22 de julho de 1822, em Heinzendorf, Áustria. Aos 18 anos estudou por dois anos filosofia, latim, matemática, física, religiões, filosofia grega, história e história natural no Philosophical Institute em Olmütz (agora Olomouc, República Tcheca), antes de ir para Brünn. Entrou para o monastério em Brünn, Moravia (agora Brno, República Tcheca) em 1843. Ordenou-se padre em 1847, quando adotou o nome de Gregor. E dividiu o tempo entre lecionar numa escola técnica e plantar ervilhas no jardim no mosteiro. Com alguns colegas de magistério, fundou em 1862 a Sociedade de Ciências Naturais.

Enquanto tentava oficialmente ser aprovado como professor de Biologia - o que nunca conseguiu - Mendel fez descobertas que criaram um novo ramo dentro das ciências biológicas: a genética, ciência da hereditariedade. Nos 20 anos seguintes ele ensinou em uma faculdade vizinha, exceto por dois anos em que ele estudou na University of Vienna (1851-53). Durante este período, estudou zoologia, botânica, paleontologia, física e matemática. Depois Mendel não conseguiu ser aprovado oficialmente como professor, por ter se desentendido com a banca examinadora. Em 1868 Mendel foi eleito abade do monastério, no entanto, o “lado científico” parece não ter sofrido influência da sua crença religiosa. Mesmo não tendo sido aprovado para a função de professor, os anos de estudo lhe proporcionaram uma sólida formação científica, principalmente no aspecto metodológico, aprendeu como proceder na escolha do material para a experiência, a tomar notas minuciosas dos seus experimentos, os procedimentos específicos para cada caso estudado, utilizando cálculos e análise estatística. As circunstâncias colaboraram para que ele desenvolvesse seus trabalhos, pois dispunha no seu mosteiro de um jardim experimental, de auxiliares para as culturas, de uma biblioteca e de intercâmbio com outros cientistas através de cartas, bem como sua importante participação nas sociedades científicas, onde ele podia se comunicar com outros cientistas, estudantes, especialistas em diversos assuntos e fazer a divulgação das pesquisas.

Oficialmente para a Ciência, Mendel era um desconhecido. Sua obra sobre hereditariedade ficou esquecida na biblioteca, desde quando publicada em 1866, nas atas da Sociedade de Ciência Naturais. Este trabalho não teve muita repercussão nos meios científicos, pois ao contrário da norma para um trabalho de Historia Natural da época, era recheado com cálculos e proporções. E assim ficou por 34 anos, até que em 1890, agindo independentemente, três botânicos - K. Correns, na Alemanha, E. Tcherrmak, na Áustria, e H. De Vries, na Holanda - redescobriram seu trabalho e proclamaram as leis de Mendel, desenterraram seu trabalho e anunciaram sua importância.

Os seus dois grandes trabalhos, hoje clássicos, são: Ensaios sobre a Hibridação das Plantas e Sobre Algumas Bastardas das Hieráceas Obtidas pela Fecundação Artificial. As leis de Mendel (ou mendelismo) são a base da moderna genética e foram estabelecidas a partir do cruzamento de ervilhas. Suas observações também o levaram à criação de dois termos que continuam sendo empregados na genética moderna: dominante e recessivo. O convívio em vários meios com diferentes pessoas, diferentes maneiras de pensamento, contribuiu muito para que ele encarasse a hereditariedade com um novo olhar.

Você quer saber mais?

http://www.mendel-museum.org/

A COMPETIÇÃO NA NATUREZA


Mariana de Senzi Zancul, Bióloga

Competição é o uso ou defesa de um recurso por um indivíduo que reduz a disponibilidade daquele recurso para os outros indivíduos. No seu sentido mais amplo a competição se refere à interação de dois organismos que estão à procura da mesma coisa, como por exemplo, alimento, território ou luminosidade. Além disso, a competição é um fator regulador da densidade populacional.

Num ecossistema, sempre se encontram casos de indivíduos que compõem a biocenose (conjunto de populações de diferentes espécies que vivem numa mesma região) e necessitam do mesmo fator. Ocorre uma verdadeira disputa, que se torna especialmente importante se esse fator não existir em quantidade satisfatória para todos.

A competição acontece quando duas ou mais espécies exploram os mesmos recursos e quando estes recursos são pouco abundantes. Por exemplo, duas espécies de pássaros, que vivem no mesmo ambiente e que se alimentam dos mesmos insetos.

Competição é um dos mais importantes mecanismos em que as atividades de um indivíduo acabam afetando o bem estar dos outros, sem levar em conta se estes indivíduos são da mesma espécie ou de espécies diferentes.

Quando a competição ocorre entre indivíduos da mesma espécie é chamada de competição intra-específica, e quando ocorre com indivíduos de espécies diferentes é conhecida por competição interespecífica.

A competição intra-específica está muito relacionada com as mudanças evolutivas, pois é este tipo de competição que regula o tamanho da população, fazendo com que os indivíduos que têm fatores genéticos mais eficientes na própria maneira de explorar recursos, possam produzir mais descendentes. Quanto mais superlotada uma população, mais forte é a competição entre os indivíduos. Um exemplo de competição intra-específica é a que ocorre com beija-flores da mesma espécie que se atacam.

A competição interespecífica é causadora de efeito mutuamente depressor nas populações de ambos os competidores, uma vez que cada espécie contribui para a sua própria regulação populacional e regulação da outra espécie também, o que pode acarretar na eliminação da alguma das espécies.

Um exemplo de competição interespecífica é o que ocorre entre espécies de trevo, Lemna gibba e Lemna polyrrhyza, cada uma das espécies cresce bem sozinha, mas Lemna gibba sempre elimina Lemna polyrrhyza, quando crescem juntas. L. gibba cresce e forma uma cobertura sobre a outra espécie, que acaba morrendo.

As populações são consumidoras de recursos e o resultado da competição depende das eficiências relativas com as quais elas exploram seus recursos comuns. A competição e seus vários resultados dependem da relação dos consumidores com seus recursos.

Recurso é qualquer substância ou fator consumido por um organismo e que pode levar a taxas de crescimento populacionais crescentes à medida que sua disponibilidade no meio ambiente aumenta. Duas observações podem ser feitas a respeito desta definição: o recurso se reduz quando consumido e o recurso é usado pelo consumidor para sua manutenção e crescimento.

Os recursos podem ser divididos em recursos renováveis e recursos não renováveis. Recursos renováveis são constantemente regenerados. Os recursos não renováveis, não podem ser regenerados.

À medida que uma população cresce, suas exigências totais de recursos também aumentam. Um fator que pode limitar o crescimento de uma população é a disponibilidade de recursos em relação à demanda.

A competição entre membros da mesma espécie e de espécies diferentes pode ser de duas formas: competição por exploração e competição por interferência. A primeira pode ocorrer entre indivíduos que não têm contato físico nenhum e ocorre quando um indivíduo consome um recurso tornando-o não disponível para os outros. A competição por interferência necessita da interação direta entre os indivíduos competidores e um deles será derrotado.

A ocorrência de cada um destes mecanismos de competição depende das capacidades dos organismos e dos habitats onde eles ocorrem.

As conseqüências da vida social não são sempre benéficas. A existência de competição é inevitável na vida dos indivíduos. Nem sempre os recursos são suficientes, e mesmo que sejam abundantes, poderá ocorrer competição em torno dos recursos de melhor qualidade.

De um modo geral, tanto o esforço despedido por um indivíduo numa situação de competição, como o risco que ele assume durante uma luta, são proporcionais à perda potencial, no caso de perder, e aos ganhos, no caso de vencer.

Existem muitas conseqüências evolutivas originadas da competição. Por exemplo, a seleção natural em ambientes saturados favorece a capacidade competitiva. O efeito evolutivo de maior alcance da competição interespecífica é a diversificação ecológica, também chamada de “separação de nichos”. O resultado da competição intra-específica e da competição interespecífica é o aumento da eficácia na utilização de recursos pouco abundantes.

Você quer saber mais?

DEAG, J. M. O Comportamento social dos animais. Temas da biologia, v.26. São Paulo, EDUSP, 1981. RICKLEFS, R. E. A Economia da Natureza. 3 o ed. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan, 1996, 470p.