Saul Aaron Kripke
A
Antropologia filosófica é o “ser humano por ele mesmo”, sobre como o s humano
se define e se vê. Destacaremos três definições dentre várias dentro da
Antropologia: Essencialista (ou Metafísica), Naturalista (ou Científica)
e Histórico-Social (nas vertentes existencialista e dialética). A teoria Essencialista
busca a igualdade na diversidade dos homens, mesmo que cada ser humano seja
diferente, na educação existe um padrão a ser seguido.
O Essencialismo é uma
doutrina filosófica segundo a qual os particulares (pessoas, cadeiras, árvores,
números, etc.) têm pelo menos algumas propriedades essencialmente. Um
particular tem uma certa propriedade essencialmente quando esse particular não
poderia existir sem ter essa propriedade. Por exemplo, intuitivamente, Sócrates
não poderia deixar de ter a propriedade de ser um ser humano; mas poderia não
ter sido ateniense, se tivesse nascido noutra cidade.
A definição formal de propriedade essencial é a seguinte:
Um particular tem uma dada
propriedade essencialmente se, e só se, esse particular tem essa propriedade em
todos os mundos possíveis nos quais esse particular existe.
Deste modo, podemos
distinguir as propriedades essenciais das propriedades necessárias:
Um particular tem uma
propriedade necessariamente se, e só se, esse particular tem essa propriedade
em todos os mundos possíveis.
Dada a definição, só os
existentes necessários — os particulares que existem em todos os mundos
possíveis — podem ter propriedades necessárias. Os particulares contingentes,
como as pessoas, as árvores, etc., só podem ter propriedades essenciais, mas
não necessárias.
Um particular tem uma dada
propriedade contingentemente quando tem efectivamente essa propriedade, mas
poderia não ter; ou, na linguagem dos mundos possíveis, quando esse particular
tem essa propriedade no mundo tal como é, mas não a tem em alguns mundos
possíveis.
Há propriedades essenciais
triviais, como a propriedade de não ser mais alto do que si próprio. Este tipo
de propriedades essenciais não caracterizam a tese do essencialismo, que
defende a existência de propriedades essenciais substanciais, como a
propriedade que a água tem de ser H2O, ou a propriedade que Sócrates tem de ser
um ser humano, ou a propriedade que o João tem de ser filho de Maria.
História do essencialismo
As primeiras ideias
essencialistas foram defendidas por Aristóteles, mas caíram em desgraça com o
nascimento da ciência moderna; tais ideias foram "condenadas por
associação pecaminosa", isto é, por estarem de algum modo relacionado com
a metafísica medieval, considerada incompatível com a ciência moderna. Quine
condena o essencialismo em parte por causa deste preconceito, e em parte porque
o essencialismo pressupõe a noção de que o mundo tem uma natureza independente
do modo como o pensamos ou descrevemos (realismo), ao qual Quine se opunha
igualmente.
Willard Van Orman Quine, em
"Three Grades of Modal Involvement", caracterizou da seguinte maneira
o essencialismo: "A doutrina de que alguns dos atributos de uma coisa
(inteiramente independente da linguagem em que a coisa é referida, se é que é
referida) pode ser essencial à coisa, e outros, acidentais."
Quine opõe-se ao
essencialismo por considerar que as coisas não têm em si mesmas propriedades
essenciais ou acidentais; tudo depende da maneira como as descrevemos. Para
provar esta tese, Quine apresenta os famosos argumentos do ciclista matemático
e dos planetas. Mas nenhum dos argumentos consegue fazer mais do que refutar a
teoria linguística da necessidade, desenvolvida por Carnap e rejeitada por
Quine. A nova teoria essencialista apresentada por Kripke e outros filósofos
não é abalada pelos argumentos de Quine.
Atualmente muitos filósofos
aceitam o essencialismo substancial de Kripke; outros, todavia, continuam a
rejeitar estas ideias, favorecendo a ideia positivista de que a lógica, ou a
linguagem, é "a mãe da necessidade".
Um dos avanços mais
significativos da filosofia do século XX foi o fato de Saul Kripke ter
mostrado claramente que as refutações fáceis do essencialismo, que pareciam
mostrar que se tratava de uma teoria irremediavelmente defeituosa, resultavam
na verdade de uma confusão elementar entre palavras e coisas. Se os nomes
próprios não forem encarados como designadores rígidos, ou se não se admitir
outros designadores quaisquer que sejam rígidos, é impossível refutar o
essencialismo, mas fica-se com a sensação falsa de que se refuta o
essencialismo. Isto porque nesse caso se consegue mostrar trivialmente que a
frase "Sócrates era um ser humano" é falsa em alguns mundos
possíveis, nomeadamente, nos mundos possíveis em que não estamos a falar de
Sócrates, mas de outro particular referido pelo nosso nome
"Sócrates".
Só que, como não estamos já a falar de Sócrates, mas de
outro particular, não conseguimos refutar realmente o essencialismo: apenas
confundimos palavras com coisas. Seria como tentar provar que Cavaco Silva,
presidente de Portugal, poderia ter sido Mário Soares: num mundo possível em
que ele perdeu as eleições e em que Mário Soares ganhou as eleições, a
expressão "o presidente da República" refere Mário Soares. Mas pensar
que, por causa disto, Cavaco Silva poderia ter sido Mário Soares, é confundir
palavras com coisas.
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The Ways of Paradox, New York:
Random House, 1966, p. 173
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