O Rei-Sol colocava o destino
da França e a perenidade da função real acima de sua própria pessoa. Seu reino
foi o apogeu da monarquia absoluta.
Reunido
com os secretários e conselheiros, Luís XIV toma ele mesmo todas as decisões,
de 26 de fevereiro a 23 de abril de 1672, óleo sobre tela, Escola Francesa,
1672.
A morte de Jules Mazarin em
9 de março de 1661 marca o nascimento do absolutismo de Luís XIV. O próprio rei
anunciou a morte do cardeal na manhã seguinte. Ele reuniu todos os oito
ministros, que esperavam ansiosamente o nome do sucessor de Mazarin. Para surpresa
geral, o rei voltou-se para o chanceler Séguier e declarou solenemente:
“Senhor, eu lhe pedi que se reunisse com meus ministros e secretários de Estado
para dizer que até agora eu deixei o falecido senhor cardeal conduzir os
assuntos de Estado; já é hora que eu próprio governe. Vocês me auxiliarão com
seus conselhos, quando eu lhes pedir.” Note-se que ele nunca pronunciou a
famosa frase “O Estado sou eu”; não passa de uma lenda. Em seguida, proibiu os
ministros de expedir qualquer coisa sem sua ordem.
Para Luís XIV, a monarquia
só podia ser absoluta. Sua mãe inculcou-lhe o gosto pela grandeza real e por
uma etiqueta rígida e lhe transmitiu profundos sentimentos religiosos. Mazarin
lhe dispensou uma educação política prática, fazendo-o assistir aos conselhos
desde a idade de 12 anos. Com a morte de seu mentor, instaurou-se uma monarquia
administrativa, dirigida pelo ministro Jean-Baptiste Colbert. O rei viu aí o
meio de restaurar sua autoridade e, assumindo a direção, inserir-se no projeto
do cardeal Mazarin.
Luís XIV dirigia a França
com menos de 50 mil agentes reais. Entre eles, os ministros e seus gabinetes,
os conselheiros de Estado, os mestres de solicitações, os intendentes e seus
funcionários e os magistrados. Todos lhe deviam fidelidade, dedicação e
eficiência. No alto da administração, um chanceler, responsável pela Justiça, um
controlador-geral dirigindo as Finanças e quatro secretários de Estado
encarregados da Guerra, da Marinha, dos Assuntos Estrangeiros e da Casa do rei.
A mudança teve um quê de
continuidade. Mazarin deixou ao rei, com 23 anos, sua equipe de brilhantes
colaboradores: Le Tellier (Guerra), Lionne (Assuntos Estrangeiros), Fouquet
(Finanças), ao lado de quem o cardeal colocou um homem seu, Jean-Baptiste
Colbert, que substituiu Fouquet a partir de setembro e depois se tornou o
controlador-geral das Finanças reais em 1665. Era então ministro de Estado e
acumulava cargos: fazia sozinho o trabalho de seis ministros! Esses homens
talentosos, provenientes da burguesia do comércio ou da toga, formavam clãs
familiares cujas rivalidades eram úteis ao rei.
Era tempo de colocar o reino
em movimento, em todos os domínios. O controle dos corpos intermediários do
Estado e a vigilância da administração provincial se impunham. O instrumento da
reforma escolhido por Luís XIV e Colbert foi a Câmara de Justiça de novembro de
1661, cujos trabalhos duraram até 1669. Foram emitidas muitas condenações
contra financistas acusados de desonestidade. Nas províncias, os intendentes
inspecionavam e controlavam, repartiam a talha (impostos) e verificavam as
dívidas das paróquias. Os governadores de província viam seu poder se reduzir.
Os parlamentares deviam apenas registrar as decisões re-ais. O soberano
trabalhava sem descanso, consagrando mais de oito horas por dia aos assuntos do
reino. Sua dedicação e sua coragem surpreenderam seus contemporâneos. Quando
Colbert lhe perguntou se ele devia fazer relatórios longos ou curtos, o rei
respondeu: “Longos; o detalhe de tudo.”
Durante seu reinado,
participou de todos os conselhos, decidindo soberanamente sobre a política que
cada ministro deveria seguir. Esses costumes não eram novidade, sobretudo
depois de Francisco I e de Henrique IV, mas Luís XIV organizou, hierarquizou e
conduziu a especialização dos conselhos, fixou os dias de sessão e retomou de
uma vez por todas o próprio mecanismo do regime. Contudo, seu governo
permaneceu coletivo.
As relações com seus
ministros eram muitas vezes tempestuosas. Luís XIV deixou em suas memórias
apreciações muito pessoais sobre eles: “Não temos nada a ver com anjos, mas com
homens a quem o poder excessivo dá quase sempre alguma tentação de usá-lo”.
Desconfiava muito também dos prelados e pessoas da Igreja: “Tenho uma regra
(...) a de jamais colocar um eclesiástico em meu Conselho, e menos ainda um
cardeal”.
Soberano absoluto, Luís XIV
não governou sozinho. Os órgãos governamentais estavam fechados a sua volta. No
alto figurava o Conselho de Estado, o órgão do governo onde eram abordados “os
assuntos de maior importância”. Tratava-se nele, em pequeno comitê, dos grandes
assuntos internos ou externos do reino. Até 1661, encontravam-se ali príncipes,
duques e marechais. Agora, o rei convocava alguns colaboradores escolhidos com
todo cuidado, nunca mais de cinco membros, que, sozinhos, tinham o título de
ministros de Estado: o chanceler, o superintendente das Finanças e os quatro
secretários de Estado.
O Conselho de Estado
privado, sob a presidência do rei, era essencialmente composto por magistrados.
Reuniu mais de 30 conselheiros que faziam os julgamentos e 80 referendários que
preparavam os dossiês. Reunindo-se toda segunda-feira na sala do Conselho, era
encarregado de regulamentar os litígios judiciários. Havia também outras
instâncias de decisão, de importância secundária.
No Conselho das Finanças,
onde Colbert era a viga mestra desde 1661, discutiam-se os impostos e a divisão
da talha. Desse órgão se originou, em 1664, o Conselho do Comércio,
estabelecido pelo próprio Luís XIV. Toda uma burocracia! A maioria dos
conselheiros que a compunham era oriunda da nobreza togada ou da burguesia.
Todos muito cônscios de seus direitos. Um contemporâneo os descreveu
ironicamente: “Os que ocupavam seus lugares eram como pequenos deuses colocados
entre o conselho ordinário, que comparavam à natureza humana, e os ministros
que eles olhavam como os deuses da terra”.
Texto:
DIMITRI CASALI é historiador, escritor e autor de dezenas de trabalhos sobre
Luís XIV e o Antigo Regime.
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