Imagem de Manco Capac. (Foto: Museu Inca de Cusco).
Diferente
do homem moderno, que está sempre em busca de uma especialização nas diversas
áreas do saber e acredita ser esse o caminho para o alcance de status e de uma
sabedoria suprema, muitas vezes, sem utilizá-la de modo sensato, o homem andino
e outros povos considerados primitivos sempre viram no conhecimento a chave do aprendizado coletivo que beneficia a todos e os complementava, sem diferenciá-los uns dos
outros.
Pachamama. Escultura prehispánica andina. (Col. Particular de Mª Leticia Sánchez Hernández).
O
saber aplicado na prática e o respeito à natureza, considerando-a como sagrada,
conferem a esses povos antigos o que podemos chamar de verdadeira sabedoria: aquela que
“emerge nós”, uma sabedoria que permite uma outra visão de mundo, um contato profundo com a nossa própria existência.
“emerge nós”, uma sabedoria que permite uma outra visão de mundo, um contato profundo com a nossa própria existência.
A Porta do Sol de
Tiawanaco encontra-se atualmente na extremidade noroeste do Kalasasaya. No
passado, chegou, por mais de uma vez, a estar deitada, demandando, mesmo com os
atuais recursos tecnológicos, enorme esforço para ser erguida. Esse
impressionante monumento foi esculpido em um único bloco de andesita vulcânica
e seu peso ultrapassa 12 toneladas. (Foto: Ka W. Ribas).
Esse
mito relata a origem do antepassado mais antigo da dinastia dos incas, Manco
Capac e sua esposa, Mama Ocllo. Ambos teriam surgido por obra divina,
saindo do lago Titicaca. Esse mito apresenta Manco Capac e Mama Ocllo como “heróis culturais” ou civilizadores que, como enviados e
reprentantes do deus Sol, seriam os sagrados ancestrais de todos os incas.
O
cronista mestiço Garcilaso de la Vega, em seu Comentarios Reales, fala sobre
Manco Capac e Mama Ocllo:
“Nosso
Pai, o Sol, vendo aos homens, teve pena deles e enviou do céu à terra um filho
e uma filha para que os doutrinassem no conhecimento de Nosso Pai, o Sol, e
para que os dessem preceitos e leis em que vivessem como homens em razão e
urbanidade, para que habitassem em casas e povoados, soubessem lavrar as
terras, cultivar as plantas, criar os gados e gozar destes e dos frutos da
terra como homens racionais e não como bestas”.
Outra
versão do mesmo mito apresenta os irmãos de Manco Capac que, com este,
realizam, uma peregrinação pelos Andes até um lugar especial.
Os
míticos irmãos Ayar eram quatro que,
com suas esposas, partiram de um local chamado Pacaritanpu, em uma migração
atrás da “terra prometida”.
Essa
peregrinação era motivada pela sagrada missão – ditada pelo Sol, seu pai e deus
– de levar a civilização e a ordem onde prevalecia a barbárie e o caos, só
terminando quando um sinal especial, o
bastão de liderança feito de ouro, chamado Tupayauri, de Manco Capac ou Ayar Manco penetrasse a Terra.
O
ato de penetrar a terra com um bastão de ouro, um objeto fálico, destaca a
fertilidade da Pachamama, que uma
vez fecundada proverá o sustento de seus filhos com sua generosidade e amor,
além da manifestação simbólica dos arquétipos masculino e feminino que se
enlaçam em um romance cósmico.
Detalhe da Porta
do Sol, destacando-se a figura que possui dois padrões simétricos com 48
personagens alados, 24 de cada lados. (Foto: Ka W. Ribas).
Pararitanpu, que
quer dizer Casa do Amanhecer ou Casa de Janelas (Pacaritanpu possuiria
três covas ou janelas orientadas para o nascente), possui um significado muito
especial dentro da mitologia incaica ao se converter em paqarina dos Filhos do Sol, seu sagrado lugar de origem, sua Huaca
ancestral.
Aliado
ao culto prestado pelos povos andinos aos ancestrais, esse princípio de filiação
do grupo a um elemento ou ponto da natureza reforça os laços entre os homens e
a Pachamama, que assume o papel afetivo de mãe amorosa e doadora de vida. Além
disso, uma vez que toda a comunidade possui a mesma origem ancestral ou panaca, os laços que unem e compõem o ayllu são reforçados,
garantido a sólida estrutura dessa milenar instituição andina.
O
cronista nativo Juan de Santa Cruz Pachacuti elaborou um ideograma no qual,
próximo a uma figura geométrica composta de quadrados e círculos que simbolizam
Pacaritanpu, desenhou duas árvores
as quais nomeou pai e mãe da dinastia
(panaca) dos incas: Apotambo e
Pachamamaachi, respectivamente.
O
interesse é que, tanto na língua quíchua como na aimara, a palavra Mallqui pode significar tanto árvore
quanto o cadáver mumificado de um antigo ancestral fundador de um ayllu.
Diz
a lenda que os irmãos Ayar entraram nas profundezas do lugar chamado
Pacaritanpu e, ao amanhecer de certo dia, abriu-se uma janela que, alinhada com
o Sol nascente, permitiu a entrada dos raios que iluminaram Manco Capac e seus
irmãos.
Logo,
Ayar Manco, Cachi, Aucca e Uchu,
acompanhados de suas mulheres, saíram de dentro de sua mãe, a Terra, e
festejaram dançando debaixo dos refelxos, do calor e da proteção de seu pai, o
Sol.
O
mito segue descrevendo as peripécias dos irmãos Ayar durante o trajeto até
chegar à região do vale de Cuzco,
onde a estaca de ouiro que portava Ayar Manco ou Manco Capac terminou por
penetrar a terra fértil, justamente o sinal que marcava o lugar onde deveriam
estabelecer-se. Nesse local, eles fundaram sua
capital a sagrada cidade de Cuzco, ponto de partida da expansão de um
gigantesco império.
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Você quer saber mais?
RIBAS, Ka.W. A ciência
sagrada dos Incas. São Paulo: Editora Madras, 2008.
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