segunda-feira, 3 de agosto de 2020

A Arte da Guerra de Sun Tzu

Exemplar em bambu de "A Arte da Guerra" da época do reino do Imperador Qianlong, século XVIII.

M

uito pouco se sabe sobre Sun Tzu. Especula-se que ele tenha nascido por volta de 544 a.C e falecido em 496 a.C. É considerado grande estrategista militar e é autor de A arte da guerra, uma obra clássica sobre táticas militares. O historiador Su-ma Ch’ien, a única fonte sobre Sun Tzu que restou, apresenta-o como tendo sido um general que viveu no Reio de Wu no século VI a.C.Apesar de muitos puristas admitirem que a única e legítima filosofia foi aquela que nasceu na Grécia por volta do século V a.C., ele é considerado por muitos como um dos pilares fundamentais da chamada filosofia oriental.

            Sun Tzu, também conhecido como Sun Zi ou Sun Wu, natural do estado de Ch'i, viveu durante o período histórico da China conhecido como o dos "Reinos Combatentes" (476-221 a.C.). O primeiro registro da obra foi feito pelo famoso historiador chinês Ssu-Ma Chien por volta do ano 100 a.C.  Obra seminal entre os "clássicos marciais", A Arte da Guerra foi estudada por centenas de oficiais chineses e japoneses durante séculos a fio. Os grandes generais tinham como costume incluir notas e comentários aos versículos do livro, que foram sendo acrescentados à cada nova versão, até consolidar a considerada padrão, datada do fim do século XVIII.

Somente em 1772, por intermédio da tradução para o francês do padre J. J. M. Amiot, o ocidente pode ter acesso ao texto integral de A Arte da Guerra e é bem possível que tal publicação tenha caído nas mãos de Napoleão. Hoje é impossível existir uma escola militar que ignore seu conteúdo. Era o "livro de cabeceira" de Mao Tse Tung. Se existe um propósito no qual toda a evolução tecnológica do homem é empregada com mais afinco, certamente é na criação de artefatos bélicos. É de espantar-se então que toda academia militar que se preze tenha como leitura obrigatória uma obra escrita quatrocentos anos antes de Cristo, quando os homens guerreavam com armas tão rústicas quanto espadas, flechas, paus e pedras.

Citação direta de Sun Tzu:

Quando nos empenhamos numa guerra verdadeira, se a vitória custa a chegar, as armas dos soldados tornam-se pesadas e o entusiasmo deles enfraquece. Se sitiarmos uma cidade, gastaremos nossa força e se a campanha se prolongar, os recursos do Estado não serão iguais ao esforço. Nunca esqueça, quando as armas ficarem pesadas, seu entusiasmo diminuído, a força exaurida e seus fundos gastos, outro comandante aparecerá para tirar vantagem da sua penúria. Então, nenhum homem, por mais sábio, será capaz de evitar as consequências que advirão.

 

Se você conhece o inimigo e conhece a si mesmo, não precisa temer o resultado de cem batalhas. Se você conhece a si mesmo, mas não o inimigo, para cada vitória conquistada, você também sofrerá uma derrota. A invencibilidade está na defesa; a possibilidade de vitória, no ataque. Quem se defende mostra que sua força é inadequada; quem ataca, mostra que ela é abundante. A estratégia sem tática é o caminho mais lento para a vitória. Tática sem estratégia é o ruído antes da derrota. Se você conhece o inimigo e conhece a si mesmo, não precisa temer o resultado de cem batalhas. Se você se conhece mas não conhece o inimigo, para cada vitória ganha sofrerá também uma derrota. Se você não conhece nem o inimigo nem a si mesmo, perderá todas as batalhas. Mantenha-os sob tensão e canse-os. A vitória é o principal objetivo na guerra. Se tardar a ser alcançada, as armas embotam-se e a moral baixa. Aquele que é prudente e espera por um inimigo imprudente será vitorioso. Se numericamente és mais fraco, procura a retirada.
É preferível capturar o exército inimigo a destruí-lo. Obter uma centena de batalhas não é o cúmulo da habilidade. Dominar o inimigo sem combater, isso sim é o cúmulo da habilidade. O principal objetivo da guerra é a paz.

 

Sun Tzu, por volta do ano 400 antes de Cristo, apresentou seu livro para Ho-lü, ou Wu Helu, rei do pequeno povo semibárbaro de Wu. O rei, após ler os treze capítulos, chamou Sun Tzu e elogiou seu trabalho. Perguntou se era possível utilizá-lo com suas tropas. Sun Tzu respondeu com alegria que sim. Depois perguntou o rei, em tom de zombaria, se poderia aplicá-lo às mulheres. O general, ressentido, disse sim. O rei imediatamente mandou reunir suas 180 concubinas no pátio do palácio e lhes deu armas. Sun Tzu dividiu-as em dois grupos, liderados pelas duas favoritas do rei, que a tudo assistia do púlpito. E então perguntou:


- Vocês conhecem as posições "frente", "esquerda", "direita" e "retaguarda"?
- Sim. Responderam as moças, que estavam dispersas e riam da situação.
- Ótimo, pois quando eu disser "frente" olhem para frente. Quando eu disser "esquerda", "direita" e "retaguarda" olhem nessas direções. Façam o que eu mandar. Está claro? 
Mas uma vez, as moças responderam que sim por entre os risinhos.
Sun Tzu sinalizou para a guarda e falou:
- Estejam prontos para punir quem me desobedecer. - Os guardas prontamente desembainharam suas espadas.
O general levantou sua bandeira e sinalizou, gritando a plenos pulmões:
- Frente!. - As concubinas desataram a rir, displicentes. Sun Tzu refletiu:
- A incapacidade de dar ordens claras é uma falha do comandante. Explicarei novamente. Quando eu disser "frente", "esquerda", "direita" e "retaguarda", olhem nessas direções.
Levantou novamente sua bandeira e apontando para o lado gritou: 
- Esquerda!
As moças desataram a gargalhar.
Sun Tzu falou:
- A incapacidade de dar ordens claras é uma falha do comandante. Mas quando elas são claras, a culpa é dos soldados. 
Assim, ordenou aos guardas:
- Matem quem me desobedeceu! Poupem as moças, mas não suas líderes!
As moças, acuadas, pediram piedade ao rei, que interveio:
- Sei agora que você é um bom comandante, mas não gostaria de perder minhas concubinas favoritas. Deixe-as ir, não as mate. - Pediu o rei, animado com a cena.
- Não. - Retrucou Sun Tzu - Como comandante, não posso aceitar interferências no comando das tropas.
Virou-se para os guardas e ordenou:
- Executem-nas em público! - E os soldados, sem o menor traço de piedade, obedeceram. O rei e as concubinas assistiram ao espetáculo aflitos.
Sun Tzu escolheu mais duas moças para liderar as tropas e orientou-as novamente. Desta vez nenhuma moça ousou rir e todas elas marcharam de acordo com o rufar dos tambores.
O general dirigiu-se ao rei e exortou:
- Elas agoras estão treinadas e prontas para a inspeção, majestade. Podereis usá-las como bem entender, estão prontas para realizar a tarefa mais difícil em vosso nome.

O rei, contrariado, retirou-se. Mas reconheceu o gênio de Sun Tzu e nomeou-o General de suas tropas. Neste período o pequeno estado Wu anexou os reinos ao norte e oeste, transformando-se numa grande potência graças aos feitos de Sun Tzu.


Você quer saber mais?

 
TZU, Sun. A Arte da Guerra. Coleção Leitura. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 1996.


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