domingo, 19 de janeiro de 2020

MELQUISEDEQUE, REI DE SALÉM.



Autor: Leandro Claudir Pedroso

Formado em Licenciatura Plena em História e Pós-graduado em Metodologia do Ensino em História e Geografia.
            
Tenho lido diversos textos sobre o Rei/Sacerdote Melquisedeque, e embora já houvesse feitos estudos anteriores sobre o mesmo, deixei-me levar pelo interesse atual no tema, e fui realizar novas pesquisas. Não é um tema tão simples como tenho visto em alguns artigos na internet, e aproveitando o ensejo deixo um alerta para nunca manterem suas pesquisas unicamente na internet, pois a mesma está repleta de informações inverossímeis e de especulação. Aconselho aos amigos do Construindo História Hoje pautarem suas pesquisas em livros de autores conceituados com formação especifica para tanto. O texto mais relevante sobre o assunto se encontra em Gn. 14:18-20, aonde o Rei/Sacerdote se encontra com Abrão, este encontro se deu em +- 1850 a.C, após a chegada de Abrão a Canaã!

            Melquisedeque significa “Rei da Paz” ou “Rei da Justiça”, seu nome tem origem Cananeia, assim como Abrão (antes de Deus mudar seu nome para Abraão), ele era cananeu, e como Jó um exemplo de um não israelita, servo de Deus. O Rei/Sacerdote Melquisedeque é interpretado muitas vezes como uma figura da realeza e sacerdócio eterno do Senhor Jesus, com também uma Cristofania, ou seja um termo técnico da teologia cristã que serve para designar as aparições de Jesus Cristo antes da encarnação, em eventos ocorridos no Antigo Testamento.

Salém (Paz) é a forma contrata de Jerusalém, que significa “Cidade da Paz”, ou o antigo nome da cidade, S. João Crisóstomo ensina que para restabelecer as forças das tropas de Abrão, após a batalha contra os quatro reis, o qual, em consideração ao caráter sagrado de Melquisedeque, figura de Cristo, aceitou os dons, figura da Eucaristia, e em troca deu ao sacerdote a décima parte de todos os despojos. É óbvio que Melquisedeque tenha primeiramente oferecido aqueles dons, segundo o uso, ao Altíssimo, de quem era sacerdote.

“Ora, Melquisedeque, rei de Salém, trouxe pão e vinho; pois era sacerdote do Deus Altíssimo; 19 e abençoou a Abrão, dizendo: bendito seja Abrão pelo Deus Altíssimo, o Criador dos céus e da terra! 20 E bendito seja o Deus Altíssimo, que entregou os teus inimigos nas tuas mãos! E Abrão deu-lhe o dízimo de tudo.” Gn. 14:18-20

            Melquisedeque adorava o Deus Altíssimo, no texto original El’ Elyon, Elyon é empregado na Bíblia, principalmente nos Salmos como título divino, e aqui é identificado como o verdadeiro Deus de Abraão. Salém é a cidade ao qual Iahweh escolheu para mais tarde habitar.

            A tradição patrística explorou e enriqueceu esta exegese alegórica, vendo no pão e no vinho trazidos a Abrão uma figura da Eucaristia, e até um verdadeiro sacrifico, figura do sacrifício eucarístico. Muitos padres admitiram ainda que em Melquisedeque aparecera o Filho de Deus em pessoa, seria então uma Cristofania, isto é uma aparição do Messias antes do seu nascimento carnal. No Antigo Testamento estás aparições segundo muitos teólogos se deram pelo Anjo do Senhor, que seria Cristo antes da encarnação.

            É importante dentro do contexto de estudo de Melquisedeque fazer menção ao Anjo do Senhor, um anjo incomparável que aparece no AT e NT. Seu primeiro aparecimento foi a Hagar no deserto (Gn 16:7) e outros aparecimentos incluirão pessoas como Abraão (Gn 22:11-15) e José (MT 1:20). A identidade do Anjo do Senhor tem sido debatida, especialmente pelo modo  como ele frequentemente se dirige às pessoas. Note em Jz 2:1, o Anjo do Senhor  diz: do Egito EU vos fiz subir, e EU  vos trouxe à Terra que a vossos pais EU tinha jurado, e EU disse: EU nunca invalidarei o meu concerto convosco. Verificam-se pelo pronome que eram atos do SENHOR! Alguns consideram que ele era uma aparição do Cristo eterno, a segunda pessoa da Trindade, antes de nascer da virgem Maria.

 “Jurou o Senhor, irrevogavelmente: ‘Tu és sacerdote para sempre, a maneira de Melquisedeque’.” Sl. 110:4

            O sacerdócio conferido por Deus ao Messias com nova e solene fórmula de juramento, não está unido à instituição levítica, mas remonta diretamente a Deus, como o de Melquisedeque “sacerdote do Altíssimo”. No Antigo Testamento somente os asmoneus reuniram na mesma pessoa a soberania política e o sacerdócio religioso.

            Ao analisarmos a narrativa de Gênesis sobre Melquisedeque, rei de Salém, para inferir daí a prova de que este misterioso personagem que entra  bruscamente em cena e depois não se fala mais dele a não ser na citada alusão do Sl 110:4, era figura de Jesus Cristo. A narração bíblica apresenta muitos traços que o fazem semelhante a ele. A prova apoia-se em argumentos de três gêneros diversos: significado etimológico dos nomes próprios “Melquisedeque” e “Salém”, aquilo que a Escritura era corrente e reconhecido como válido entre os hebreus, e não pode negar-lhes o valor quem crê na inspiração da Bíblia e na providência divina especial em relação à história do povo eleito. Jesus Cristo é pessoa sobre-humana que transcende os tempos e Melquisedeque é, na narração bíblica, como que seu reflexo. Infere-se aqui dos fatos de Melquisedeque, expressamente mencionados na narrativa bíblica, outro argumento para provar quanto o sacerdócio de Melquisedeque e por consequência o de Jesus seja superior ao da tribo de Levi na lei mosaica. Outra consequência de suma gravidade: a lei mosaica estava intimamente ligada ao sacerdócio levítico, seja por se concentrar nele o culto divino, seja por caber  aos sacerdotes a explicação da lei ao povo e interpretá-la nos casos dúbios ou discutidos. Era um sacerdócio instituído para aplicação e conservação da Lei, vindo portanto a faltar este sacerdócio, também a lei ligada a ele perde o valor. E isto aconteceu com a vinda de Jesus Cristo que não era da tribo de Levi, mas sim de Judá, com Ele o sacerdócio levítico foi extinto e um novo sacerdócio eterno foi promulgado. Os sacerdotes levíticos estavam ligados ao estatuto carnal, pois eles morriam e necessitavam serem substituídos por novos sacerdotes, o sacerdócio do Senhor Jesus Cristo segundo a ordem de Melquisedeque é imortal, não tem fim, sendo o mesmo um sacerdócio perfeito. O sacerdócio levítico era de casta, já o instituído pelo Senhor Jesus é pessoal e trás salvação a toda humanidade!

            Quando o texto sagrado fala em Hebreus cap. 7 que o sacerdócio de Cristo é segundo a ordem de Melquisedeque, significa que Cristo é anterior a Abraão, a Levi e aos sacerdotes levíticos e maior que todos eles. No texto também lemos que ele não possuía nem pai e nem mãe, mas isso pode não significar que literalmente ele não tivesse pais, mas que os mesmos não estão registrados nas genealogias do texto sagrado.

            Temos várias teorias sobre quem foi Melquisedeque, poderia o mesmo ter sido unicamente um rei e sacerdote cananeu que servia ao Deus único, podendo ainda ter sido uma aparição de Cristo no Antigo Testamento, o que chamamos de Cristofania (Anjo do Senhor, que muitas vezes recebeu culto sem rejeitar, sendo desde modo uma pessoa da Santíssima Trindade), como em Gn. 16:7-13, 21:17-18, 22:11-18, Ex. 3:2, 13:21 e 14:19, também podemos explorar o fato de ter sido uma Teofania, uma presença física de Deus, como vemos em Gn. 32:22-30, Ex. 24:9-11, Gn. 12:7-9, entre outros, ou ainda uma Angelofania, que significa uma materialização de um anjo em forma corpórea, como vemos em relatos no Antigo Testamento, cito Gn. 18:1-33, Tb 12, dentre outros trechos.

            Ainda existem diversas vertentes de pensamentos que consideram Melquisedeque o próprio Sem, filho de Noé que teria tido seu nome alterado pelo próprio Deus e devido a sua longevidade, pois o mesmo teria sido contemporâneo de Abrão por 60 anos, dado o fato que Sem viverá 600 anos. E teriam sido sacerdotes de uma ordem ao qual o nome da mesma teria sido Melquisedeque, então o mesmo seria um título e não um nome próprio. O primeiro sacerdote desta ordem teria sido Sete, depois Sem e então o último teria sido Abrão, e os pães e vinho que o mesmo receberá de Melquisedeque (Sem) seriam um ritual de elevação sacerdotal de Abrão. Está posição e muito explorada pelos Judeus Messiânicos, que são alguns judeus conversos ou cristãos que se apegam a ritualística judaica.  
            Diante desta breve exposição podemos verificar várias opiniões sobre quem foi Melquisedeque, mas segundo minha opinião e com base em meus estudos, tenho duas opiniões a respeito do assunto: a primeira é que foi um Rei/Sacerdote Cananeu converso ao Deus Único Iahweh, e a outra que se tratava de uma Cristofania, muito comum em Gênesis por meio do Anjo do Senhor. Mas este é um tema a ser explorado, mas reitero aos meus leitores que ele seja feito sempre pautado em textos de conteúdo teológico respeitável e não em devaneios e especulações.

Autor: Leandro Claudir Pedroso


Formado em Licenciatura Plena em História e Pós-graduado em Metodologia do Ensino em História e Geografia.

Você quer saber mais?

Bíblia Sagrada, Edições Paulinas, 1967.


Bíblia de Jerusalém, Paulus, 2010.

Bíblia de Estudo Pentecostal, CPAD, 1995.

A Guerra dos Reis.. Disponível em: https://www.baciadasalmas.com/a-guerra-dos-reis/, acessado em 19/01/2020.

GINZBERG, Louis. Lendas dos Judeus. 1909-1928.

Para os curiosos em uma exposição detalhada sobre Melquisedeque ser Sem, filho de Noé, indico lerem este artigo: https://www.baciadasalmas.com/sete-e-seus-descendentes/




Um comentário:

  1. Um texto excelente baseado em fontes fidedignas e com muitas informações relevantes para todos os amantes da História.
    Parabéns Prof. Leandro Claudir!

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