Podemos
dizer que o livro foi um dos primeiros meio de comunicação em massa do mundo;
além de ser um dos meios de transmissão de conhecimento mais universais e
eficazes que existem. O livro tem aproximadamente 6 mil anos de história, tendo
sido feito com os mais diversos tipos de materiais e formatos. A sua história
apresenta dois grandes marcos: antes de Gutenberg (quando o livro era
manuscrito) e depois de Gutenberg (quando surgiu a tipografia).
O
livro manuscrito
Antes
do livro surgiu a escrita, há cerca de 40 mil anos, quando o homem pintava
imagens de sua realidade nas paredes das cavernas (pictografia). A partir desse
momento, a escrita foi adquirindo características muito próprias em diversos
povos (escrita mnemônica, escrita fonética e escrita ideográfica). As formas de
registro e guarda da memória escrita também variavam bastante. Vemos, então,
que a história do livro confunde-se com a própria história da escrita.
Os
primeiros suportes utilizados para a escrita – e que podem ser considerados os
primeiros livros - foram as tabuletas de argila utilizadas pelos sumérios. A
Suméria era uma região semi-árida localizada na Mesopotâmia (atual região sul
do Iraque). O estilo de sua escrita era a cuneiforme, que apresentava sinais em
forma de cunhas. O escritor Fernando Báez (que estudou a história da destruição
das bibliotecas) conta que perto de 2600 a.C. já apareciam, nessa região,
formatos inovadores parecidos com o livro que conhecemos atualmente: textos
onde na parte superior eram indicados os nomes do redator e do supervisor. Já
nessa época existiam diversas grandes bibliotecas que versavam sobre registros
econômicos, administrativos, políticos, flora, fauna, poesia, magia, etc.
Mais
tarde, os egípcios desenvolveram a tecnologia do papiro, uma planta encontrada
às margens do rio Nilo, cujas fibras unidas em tiras - e previamente preparadas
por um minucioso processo - serviam como superfície resistente para a escrita
hieróglifa (formada por desenhos e símbolos). Os rolos com os manuscritos
chegavam a 20 metros de comprimento. O desenvolvimento do papiro deu-se cerca
de 3000 a..C. e a palavra papiryrus, em latim, deu origem a palavra papel. O
papiro consiste em uma parte da planta, que era liberada ou livrada (em latim libere,
que quer
dizer livre) do restante da planta - daí surge a palavra liber, libri, em
latim, e posteriormente livro em português.
“Livro dos Mortos” de Neferrenpet – cerca de 1250 a.C.
Os romanos usavam os papiros em forma de cilindro, que
chamavam de volumen (ou khartés, nome original), facilmente transportados. O
volumen era desenrolado conforme ia sendo lido, sendo que o texto era escrito
em colunas na maioria das vezes (e não no sentido do eixo cilíndrico, como se
acredita). Algumas vezes um mesmo cilindro continha várias obras, sendo chamado
então de tomo. O comprimento total de um volumen era de c. 6 ou 7 metros, e
quando enrolado seu diâmetro chegava a 6 centímetros. Os romanos, também,
chegaram a escrever em tábuas de madeira cobertas com cera.
Devido à escassez natural do papiro e também aos conflitos
políticos e às guerras, que impediam a importação deste material, precisou-se
recorrer a uma nova matéria-prima que o substituísse. Nesse processo, surgiu o
pergaminho, cuja invenção atribuiu-se aos habitantes de uma cidade da Ásia
Menor chamada Pérgamo (razão do nome). Porém, alguns estudiosos afirmam que o
uso de peles de animais (sobretudo o de carneiro) já era corrente na Ásia há
muito tempo e que Pérgamo só aperfeiçoou a técnica.
Ilustração alemã, datada de 1568, que mostra o processo de
fabricação do pergaminho
Nesse processo de evolução surgiu o pergaminho feito
geralmente da pele de carneiro, que tornava os manuscritos enormes, e para cada
livro era necessária a morte de vários animais. A vantagem do pergaminho é que
ele se conserva mais ao longo do tempo; porém seu custo acabava sendo
altíssimo. Em razão disso, surgiam os palimpsestos, manuscritos reutilizados,
onde o texto anterior era apagado para dar lugar a outro. O formato, com o uso
do pergaminho, também acabava mudando: passava-se do volumen para o códex (ou
códice), que não era mais um rolo, mas sim uma compilação de páginas
acompanhada de uma capa. Acredita-se que o sucesso da religião cristã se deve
em grande parte ao surgimento do códice, pois o compartilhamento das informações
escritas tornou-se mais fácil. A utilização do pergaminho se estende pela Idade
Média.
A característica mais marcante da Idade Média é o surgimento
dos monges copistas, homens dedicados em período integral a reproduzir as
obras, herdeiros dos escribas egípcios ou dos libraii romanos. Nos monastérios
era conservada a cultura da Antiguidade. Apareceram nessa época os textos
didáticos, destinados à formação dos religiosos. Esses ambientes acabaram se
tornando verdadeiras produções em massa de livros manuscritos.
A difusão do papel
À margem dessa trajetória do papiro e do pergaminho, outros
povos utilizavam-se dos mais diversos suportes para registrar seus escritos. Os
indianos, por exemplo, faziam seus livros em folhas de palmeiras. Os maias e os
astecas, antes do descobrimento das Américas, escreviam os livros em um
material macio existente entre a casca das árvores e a madeira.
Mas o papel como conhecemos, surgiu na China no início do
século II, através de um oficial da corte chinesa, a partir do córtex de
plantas, tecidos velhos e fragmentos de rede de pesca. A técnica baseava-se no
cozimento de fibras do líber - casca interior de certas árvores e arbustos -
estendidas por martelos de madeira até se formar uma fina camada de fibras.
Posteriormente, as fibras eram misturadas com água em uma caixa de madeira até
se transformar numa pasta. Mas a invenção levou muito tempo até chegar ao
Ocidente.
Dados históricos mostram que o papel foi muito difundido
entre os árabes, e que foram eles os responsáveis pela instalação da primeira
fábrica de papel na cidade de Játiva, na Espanha, em 1150 após a invasão da
Península Ibérica. Com o tempo o papel passou a substituir o pergaminho no
Ocidente e os elementos mais característicos dos livros atuais foram sendo
incorporados, tais como a pontuação no texto, uso de letras maiúsculas,
índices, sumários, resumos e gêneros de textos.
A imprensa
Basicamente a tipografia consiste em pequenas peças de
madeira ou metal em relevos de letras e símbolos (tipos móveis). Antes de
Gutenberg (em 1405), os chineses já haviam inventado tipos rudimentares, mas
que não eram reutilizáveis, pois eram de madeira. A revolução realmente veio
com a invenção da imprensa com tipos móveis reutilizáveis pelo alemão Johann
Gutenberg, em 1455. Seus tipos móveis eram de chumbo fundido, portanto mais
duradouros e resistentes do que os fabricados em madeira. O primeiro livro
impresso por essa técnica foi a Bíblia em latim.
Não se sabe ao certo o volume de códices em circulação na
Europa, na época da invenção da tipografia, mas a resistência e esta nova
tecnologia por parte da classe dos copistas faz pensar que empregava muita
gente. Também é curioso notar que a própria Igreja teve alguma resistência ao
uso da tipografia, pois possuía os seus próprios copistas e continuou a
produzir livros litúrgicos manuscritos até ao séc. XIX.
A reutilização dos tipos móveis conferia uma enorme
versatilidade ao processo de elaboração de livros e outros trabalhos impressos,
permitindo a sua massificação. Além disso, o uso dos tipos pedia um novo
desenho de letras. Isso acarretou em uma verdadeira revolução cultural que
permitiu o desenvolvimento do livro como primeiro meio de comunicação em massa,
tornado acessível pela redução enorme dos custos da produção em série.
Na Idade Moderna aparecem livros cada vez mais portáteis,
inclusive os livros de bolso. Estes livros passam a trazer novos gêneros: o
romance, a novela, os almanaques. A partir do século 19, aumenta a oferta de
papel para impressão de livros e jornais, além das inovações tecnológicas no
processo de fabricação. O papel passa a ser feito de uma pasta de madeira, em
1845. Aliado à produção industrial de pasta mecânica e química de madeira -
celulose - o papel deixa de ser artigo de luxo e torna-se mais barato. Surgem
depois o jornal e outros periódicos, que disseminam as informações de forma
cada vez mais rápida.
A leitura e o acesso aos livros
A história do acesso aos livros e à leitura é intimamente
ligada à história da cultura e da educação no mundo. Na Antigüidade, o
conhecimento era transmitido oralmente. Por isso, a arte da oratória era a base
dos ensinamentos, sendo que os mestres ensinavam os aprendizes através do
diálogo. A leitura e a escrita ficaram restritas a poucos privilegiados por
séculos e séculos. Efetivamente, a educação e o acesso à cultura só foram
massificadas a partir da Revolução Francesa. A máxima de que conhecimento é
poder é totalmente compreensível, portanto.
Na Grécia, restringia-se aos filósofos e aristocratas,
enquanto em Roma a escrita tornou-se uma forma de garantir os direitos dos
patrícios às propriedades. Na Idade Média, uma minoria era alfabetizada, as
igrejas, os mosteiros e as abadias converteram-se nos únicos centros da cultura
letrada. Nos mosteiros e abadias medievais encontravam-se as únicas escolas e
bibliotecas da época, e era lá que se preservavam e restauravam textos antigos
da herança greco-romana.
De acordo com Wilson Martins, autor do livro “A palavra
escrita”, até a Renascença, as bibliotecas não estavam à disposição daqueles
que não eram religiosos (ou que não detinham o poder). Elas eram locais mais ou
menos sagrados. “O livro, a palavra escrita, eram o mistério, o elemento
carregado de poderes maléficos para os não-iniciados”. Com o advento da
Renascença e, conseqüentemente, com a ascensão da burguesia e decadência do
monopólio da Igreja sobre o poder; o livro perde o seu caráter de objeto
sagrado. De acordo ainda com Martins, “foi o livro, ou seja, no fundo, a
biblioteca, um dos instrumentos mais poderosos da abolição do ‘antigo regime’.”
A partir do século XVIII, com a estimulação das idéias iluministas, tem-se a
presença de um pensamento democrático que via na instalação de gabinetes de
leitura, bibliotecas públicas e museus uma forma de democratizar o conhecimento
ao homem comum que não era alcançado em vista dos privilégios de uma minoria.
No século XIX torna-se imperativo a todos a implantação da escola pública.
Durante o século XX e início do XXI, assistimos uma enorme
aceleração do desenvolvimento de tecnologias ligadas à comunicação e
informação. Ao lado dos tradicionais livros, periódicos (jornais e revistas),
rádio e televisão; temos agora a internet, os aparelhos de comunicação móvel e
uma crescente convergência de mídias (celulares que transmitem sinais de TV e
enviam e-mails; TV digital, e-books, etc.).
E-book
Todo esse panorama nos acostumou a um novo modo de leitura: a
leitura através de hipertextos ou hiperlinks, surgidos através dos sistemas
informáticos e computacionais, popularizados pela internet. A forma de ler e
encontrar as informações na internet, por exemplo, segue uma ordem não-linear,
enquanto que o texto impresso ou não adaptado à internet segue uma linha
preestabelecida. O próprio modo de pensar do ser humano não é totalmente
linear, pois às vezes entrecortamos pensamentos e nos focamos em diversos
pontos de atenção. A internet possibilitou, também, o encontro de informações e
textos, cujo acesso no mundo real seria quase que impossível ou muito oneroso.
Podemos dar como exemplo, os conteúdos localizados fisicamente em outros
países, ou mesmo os livros raros ou já esgotados.
É claro que o caminho para a plena democratização da leitura
e da informação não foi e não tem sido tão fácil até hoje. A tendência em se
transformar os bens de cultura (livros, por exemplo) em bens de consumo, desde
o início da era industrialização e da produção de produtos em massa, dificulta
o acesso dos mais pobres. As tecnologias de comunicação e informação também
sofrem do mesmo mal, sendo que o acesso aos computadores e à internet aos menos
privilegiados, muitas vezes, só se dá através de programas de inclusão digital.
Por essa razão é tão necessária a discussão de políticas públicas que
incentivem a prática da leitura e do acesso a essas tecnologias no Brasil.
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Você quer saber mais?
BÁEZ, Fernando. História da destruição dos livros: das
tábuas sumérias à guerra do Iraque. Rio de Janeiro: Ediouro, 2006.
Do papiro
ao papel manufaturado (Revista Espaço Aberto (USP), nº 24, outubro de 2002) http://www.bv.sp.gov.br
biblioteca.virtual@sp.gov.brBiblioteca Virtual do Governo do Estado de São
Paulo.
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