Ilustração da vida difícil que leva uma pessoal possuída por um Dybbuk. O espirito decadente acompanha seu hospedeiro aonde ele for. Segundo a tradição judaica absorvendo sua energia vital e fazendo o vivo passar pelas mesmas aflições que o Dybbuk, passou quando estava vivo e encarnado. Imagem: Maskofreason.
Cabala - Rituais mágicos
Invocar anjos e
demônios, transformar metal em ouro, criar vida usando barro: para os
praticantes da chamada cabala prática, corrente que ganhou força na Idade
Média, nada parecia impossível. Conheça os rituais mágicos usados por esses
cabalistas para entrar em contato com o sobrenatural.
Texto Michelle
Veronese
O rabino Moisés de Viena gostava de contar aos
amigos sobre o dia em que estivera na cidade de Rosenburg, na Áustria. Mal
havia chegado e um mensageiro bateu à sua porta, dizendo: "Um homem está
morrendo e quer um pouco de seu vinho". Ele achou o pedido um tanto
estranho, mas atendeu sem fazer perguntas. Mais tarde, descobriu do que se
tratava. Corria a lenda, na Idade Média, de que os judeus dominavam as artes
ocultas, sendo capazes de invocar anjos e demônios. Também se acreditava que o
vinho usado em cerimônias judaicas tinha poderes mágicos e era capaz de curar
doenças. O moribundo, como deduziu o rabino, pedira a bebida na esperança de
escapar da morte.
Superstições como essas eram comuns no período
medieval. Naquela época, o imaginário coletivo estava povoado por bruxas, magos
e demônios. E, se alguma crença destoasse da religião dominante, o
cristianismo, logo surgiam especulações, boatos e crendices. Era o caso da
cabala ma’asit ou cabala prática, que muita gente via com medo e desconfiança.
Segundo os estudiosos do misticismo judaico, essa corrente teria se
desenvolvido paralelamente à cabala tradicional. Mas, em vez de estudar ou
meditar sobre as forças divinas, seus adeptos propunham maneiras práticas de
experimentá-las. "A mística judaica sempre incluiu rituais de magia",
diz Michel Schlesinger, rabino da Congregação Israelista Paulista.
"Encantamentos, exorcismos e outras práticas eram realizados por essas
pessoas. Hoje, esses rituais são vistos pela comunidade judaica apenas como
objeto de estudo e curiosidade."
Apesar do caráter mágico, os praticantes da ma’asit rejeitavam a alcunha de magos. Eles eram chamados de ba’alem shem, do hebraico "mestres do Nome". Para entrar em contato com o mundo sobrenatural, esses cabalistas do truque usavam uma série de métodos secretos. O mais importante consistia na recitação dos chamados nomes divinos. Retiradas das escrituras sagradas, eram palavras utilizadas tradicionalmente para se referir a Deus e a seus atributos. Os cabalistas acreditavam que, se essas palavras fossem declamadas no momento certo e seguindo determinados rituais, podiam interferir no curso dos acontecimentos.
Apesar do caráter mágico, os praticantes da ma’asit rejeitavam a alcunha de magos. Eles eram chamados de ba’alem shem, do hebraico "mestres do Nome". Para entrar em contato com o mundo sobrenatural, esses cabalistas do truque usavam uma série de métodos secretos. O mais importante consistia na recitação dos chamados nomes divinos. Retiradas das escrituras sagradas, eram palavras utilizadas tradicionalmente para se referir a Deus e a seus atributos. Os cabalistas acreditavam que, se essas palavras fossem declamadas no momento certo e seguindo determinados rituais, podiam interferir no curso dos acontecimentos.
A rotina dos adeptos da ma’asit incluía rituais
que teriam o poder de alterar a matéria. Esses rituais eram transmitidos de
mestre para aluno, geração após geração: estudiosos acreditam que sua origem
está na Antiguidade, em regiões como o Egito e a Pérsia.
"O que se tornou
conhecido como cabala prática era, na verdade, um conjunto de todas as práticas
mágicas encontradas no judaísmo desde o período talmúdico até a Idade
Média", diz o historiador Gershom Scholem, no livro A
Cabala e Seu Simbolismo.
A maioria desses procedimentos se perdeu com o
tempo: somente alguns deles foram registrados em livros e tratados de magia.
Entre os poucos exemplares conhecidos do gênero está o Sefer ha-Razim
("Livro dos Segredos" ou "Livro dos Amuletos"), do século
4, que ensina como invocar anjos. O Harba de Moshe ("A Espada de
Moisés"), organizado entre os séculos 1 e 4, apresenta uma lista de nomes
de anjos que teria sido transmitida diretamente a Moisés, o patriarca bíblico.
Seu autor ensina a utilizá-los em todo tipo de encantamento, desde poções para
atrair o amor e curar doenças até fórmulas secretas para conseguir andar sobre
a água.
Os encantamentos, por sinal, eram muito
populares entre os cabalistas mágicos. Acreditava-se que, fazendo uso de
determinados comandos verbais, lidos em voz alta, seria possível conjurar
entidades sobrenaturais. Essas práticas se baseavam na crença em uma dimensão
invisível - chamada de mundo intermediário ou mundo do meio - habitada por
milhares de anjos e demônios. Mas, para invocar tais entidades, era necessário
usar os elementos certos e recitar as palavras adequadas no número de vezes
indicado. Do contrário, o feitiço poderia dar errado e despertar forças
incontroláveis.
Forças sobrenaturais
Forças sobrenaturais
A crença em anjos e demônios tinha como base
alguns trechos específicos do Zohar. Segundo o livro sagrado da cabala, haveria
3 classes de demônios: um grupo parecido com os seres humanos, outro que
lembraria anjos e um terceiro em forma de animais. A mais temida, no lado das
trevas, era Lilith, a rainha dos demônios, que teria sido a primeira mulher de
Adão. Lilith, dizia-se, era casada com Asmodeu e gerenciava suas hordas de uma
caverna no fundo do mar. Para identificar a presença de um deles, os
praticantes sugeriam afastar as camas e, sobre o chão empoeirado, procurar
pegadas semelhantes às de pássaros. A tradição contava que alguns desses seres
tinham pés de aves e, mesmo quando disfarçados de humanos, esse aspecto
permanecia inalterado.
Durante séculos, essas lendas e rituais foram deixados de lado. Quando a cabala
se popularizou e se tornou acessível a todos, no século 20, alguns deles
voltaram a ganhar espaço, mas de maneira bastante simplificada. É o caso das
recitações ou visualizações de letras e palavras hebraicas, com intuito de atrair
equilíbrio e saúde para o praticante - o que não deixa de ser um tipo de magia.
"No fim das contas, pouco importa se esses rituais, magias, superstições
são reais ou não, se são fatos ou lendas", diz Schlesinger. "Se o
real e a fantasia enriquecem a nossa vida de alguma maneira, se nos fazem
pessoas melhores, isso é o mais importante".
Para invocar anjos e demônios
Origem
Foi descrito na Chave de Salomão, famoso livro de magia produzido entre os séculos XIV E XV. A obra era muito popular na Itália durante o Renascimento, quando diversos pensadores passaram a ler e produzir tratados sobre cabala e ocultismo.
Os ingredientes
• Roupas brancas, de linho ou seda
• Sapatos brancos
• Uma coroa branca
O ritual
É um ritual longo e complexo. Depois de vestir as roupas indicadas, escreva os nomes de Deus na coroa e coloque-a na cabeça. Trace no chão dois círculos, um dentro do outro. Os nomes de Deus devem ser novamente escritos entre um círculo e outro. O iniciado entra no círculo (no qual estará protegido) e profere uma série de orações e palavras mágicas para que a invocação ocorra. A entidade chamada realizará as tarefas que forem ordenadas.
Para voar e
levitar
Origem
Não se sabe a origem ritual, mas dizem que era praticado pelos cabalistas desde a Antiguidade. Foi registrado no livro Grimório do Poder, atribuído a Aptolcater, um mestre dessa tradição que teria vivido na Turquia do século 17.
Os ingredientes
• Madeira branca e vermelha
• Óleo e neve
• Vesícula de carneiro
• Um livro
O ritual
Acenda uma fogueira com a madeira branca e vermelha. Aqueça um punhado de neve com óleo e guarde a mistura em um saco feito com a vesícula de um carneiro. Em seguida, lance o saco nas chamas e deixe-o queimar. O material, por fim, deve ser triturado e transformado em pó. Quando desejar levitar ou voar, sente no chão e pense no local onde deseja estar naquele momento. Você será transportado para onde quiser, voando mais rápido do que um falcão.
Para transformar metal em ouro
Origem
Este
procedimento, também encontrado no livro de Aptolcater, lembra as práticas da
alquimia.
Os ingredientes
• Pedaço de madeira, pedra ou metal
• Mercúrio, pó preto e pó vermelho
• Recipiente de barro
O ritual
Desenhe, sobre um pedaço de madeira, pedra ou
metal, uma sequência específica de números e letras, dispostos na forma de um
quadrado. A figura funcionará como amuleto de proteção: use-a durante o
procedimento. Misture o mercúrio, pó preto e pó vermelho ao chumbo durante 8 dias
e noites. Depois, lance a mistura em um vaso de barro. No exterior do
recipiente, desenhe as letras consideradas mágicas e espere mais algum tempo.
Ao abri-lo, segundo a tradição, encontrará ouro puro.
O Golem
de Praga
Criar a vida
usando barro era uma das metas dos adeptos da cabala ma’asit. A tradição conta
que vários rabinos teriam conseguido esse feito, usando seus poderes para criar
um tipo de criatura chamada golem (a palavra vem do hebraico gelem, que
significa "matéria crua"), que obedeceria às ordens de seu criador.
Eles seriam semelhantes aos seres humanos, mas só na aparência, pois não teriam
intelecto nem personalidade. O rabino Yehuda Leow, que viveu em Praga entre os
séculos 16 e 17, ficou conhecido como o criador do mais famoso golem. Seu
intuito, dizem, era usar a criatura para proteger os judeus que viviam na
cidade. Mas, com o tempo, ela teria ficado violenta e se voltado contra o
mestre. O golem de Praga virou estátua (foto acima) e foi tema de um filme rodado
em 1936 (abaixo, à esquerda). A lenda cabalista também foi citada em um
episódio da série de TV Arquivo X chamado Kaddish (abaixo, à direita).
Os Espíritos das Trevas, Exorcismo
judaico e os Dybbuks.
Imagem: Capa do Livro The Dybbuk de Tony Kushner, Joachim Neugrochel.
Mas a realidade sobre espíritos das trevas e exorcismos não é uma crença
meramente Cristã. Os exorcismos são também constatados na religião Judaica, e exemplos disso podem ser vistos no Talmud : Schabbath, xiv,
3; Aboda Zara, xii, 2; Sanhedrin, x, 1...
No entanto, nas crenças Judaicas a possessão por espíritos é vista num
contexto diferente daquele que é encarado no Cristianismo. Para o Judaísmo, uma pessoa pode ser possuída por um espírito chamado dybbuk, que
se acredita ser uma alma de uma pessoa falecida
que regressou do Gehenna , o conceito judeu de purgatório ou de local entre
mundos, ( entre o mundo físico e o mundo celeste, entre a terra e o
céu), para onde as almas vão antes de entrar
no céu.
De acordo com estas crenças, por vezes ,( não muito
frequentes), uma
alma que em vida não teve oportunidade de cumprir com todas as
suas missões, é-lhe concedida a oportunidade de realizar esses fins , regressando
a este mundo na forma de um dybbuk. E por vezes também, uma alma demasiadamente atormentada não
encontra descanso no purgatório e pode escapar-se dessa (zona entre mundos), regressando a
esta mundo.
A alma regressa assim a este mundo e procura “ligar-se” a uma pessoa viva que esteja experimentando uma situação similar á que essa alma viveu
quando estava encarnado neste mundo.
Acredita-se por isso que há bons dybbuks e maus dybbuks.
Os bons dybbuks, acabam desempenhado o papel de “guia
espiritual” da pessoa a que se ligaram, procurando-a fazer ultrapassar os
obstáculos e tribulações que esta vivendo, como forma de salvar essa pessoa e
assim se salvar a si mesmo. Estas são consideradas possessões boas.
No caso
dos dybbuk maus, esses são almas atormentadas que regressaram a
este mundo ou que não partiram deste mundo, e que se ligam a uma pessoa
e fazem-na passar pelos mesmos erros, tormentos e caos que essa alma
experimentou durante a sua vida.
Anjos e Demônios: A Magia Judaica através dos séculos.
Tigela de encantamento adjurando o anjo Sarfiel para que dois demônios sejam exorcizados da casa de Kafnay filho de Imma e sua esposa, filha Immay de Anay. Imagem: Numinusumteologia.
As origens e o desenvolvimento da magia no judaísmo remetem desde
a época do Primeiro Templo até os dias atuais, centrando-se em crenças,
costumes e, sobretudo, na utilização prática de objetos mágicos na vida
judaica diária.
Apesar da magia negra ser proibida no judaísmo (cf. Ex 22,17; Dt
18,10-11), a magia branca, utilizada para combater os
“poderes das trevas”, era amplamente utilizada entre os judeus, como mostram os
escritos rabínicos preservados. Mas quem observar a exposição vai notar objetos
cujo uso estava associado à magia negra, como, por exemplo, uma espécie
de boneca de vodu utilizada em práticas de magia erótica.
Para visitar a exposição
on-line e conhecer alguns dos curiosos amuletos mágicos utilizados pelos
judeus, clique aqui (em
inglês) ou aqui (em
português traduzido pelo Google).
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