quarta-feira, 9 de março de 2011

Argumentos Filosóficos. O bom senso ou a razão?

“Livros não mudam o mundo, quem muda o mundo são as pessoas.Os livros só mudam as pessoas.” Mário Quintana

Descartes considerava o bom senso ou a razão a coisa do mundo a melhor compartilhada, de tal maneira que a capacidade de discriminar o verdadeiro do falso torna todos os homens, independentemente de sexo, cor ou religião, iguais. A razão é formalmente igual em todos, o que os distingue é a sua aplicação, pois essa deriva de costumes, da religião, dos conhecimentos adquiridos, daquilo que ganhou o estatuto de verdade, embora não o seja. A razão iguala, as opiniões diferenciam os homens. O problema consiste, porém, em que essas opiniões podem impossibilitar a ciência, a filosofia e o próprio convívio regrado e pacífico entre os homens. O espetáculo do mundo nos oferece frequentemente cenas de violência e intolerância, nascidas de preconceitos que querem se impor pela força, na ausência de questionamentos e, sobretudo, do exercício da razão.

Eis por que Descartes procura estabelecer um método que possa ser seguido por todo e qualquer homem, independentemente de época, opinião, crença, costumes ou sexo. Um método que poderia ser utilizado por qualquer indivíduo sempre e quando estivesse disposto a fazer uso da sua razão e abandonar meras opiniões que não teriam nenhum fundamento sólido de sustentação. Um método que permitiria que o edifício do conhecimento se construísse sobre bases sólidas, que não poderiam ser demolidas por opiniões impertinentes. Um método voltado, então, para a busca da verdade e não da verossimilhança. E quando dizemos busca da verdade, referimo-nos a um livre exercício da razão, que pode ser publicamente reproduzido por qualquer um, de tal modo que desse exame público, coletivo, possa surgir um conhecimento indubitável. O encontro com a verdade não tem nada de dogmático, ele significa somente um encontro da razão consigo mesma num procedimento livre e metódico.

Descartes expõe a sua experiência de vida como uma experiência filosófica, que possa ser imitada por qualquer um no livre uso de sua faculdade de discriminar o verdadeiro do falso. Trata-se, portanto, de um uso público da razão, que tem como ponto de partida o reconhecimento de que a ignorância impera naquilo que se considera como conhecimento, isto é, na ciência e na filosofia, com todas as suas repercussões do ponto de vista da ação humana. Ao se instruir, nosso jovem filósofo teve de descartar todas as verdades recebidas, pois essas, sob exame, se mostravam meras crenças sem fundamentos. No entanto, somente uma época que aceita como principio a liberdade de julgar pode dar inicio a uma nova retomada do pensamento: ela vai começar com o “discurso do método”.

“E assim resulta que nossas ideias ou noções, sendo coisas reais e provenientes de Deus em tudo que possuem de claro e distinto, só podem nisto ser verdadeiras”.

Você quer saber mais?

Descartes, René. Discurso do Método. Porto Alegre: L&PM, 2009

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