Departamento de Metodologia do Ensino - UFSCar
As Ciências Naturais (que incluem a Biologia, a Química, a Física, a Geologia etc.) são, por sua natureza, atividades investigativas, que partem dos questionamentos feitos, há gerações, acerca dos fenômenos naturais.
Nada mais natural, portanto, que as aulas de Ciências fossem repletas de...”???”
Se você respondeu “perguntas” já deve ter entendido onde pretendo chegar.
Isso mesmo: as aulas de Ciências deveriam estar repletas de perguntas! Mas, ao contrário do que alguns possam pensar, refiro-me aqui às perguntas feitas pelo professor, não àquelas feitas pelos alunos que, estes, aliás, quanto menores e menos reprimidos pela escola, as têm de sobra.
Você pode estar se colocando diante da seguinte questão: não cabe ao professor perguntar e, sim, responder, já que, supostamente, é ele quem sabe mais e está ali para ensinar aos alunos?
Mas é neste ponto que se pode confundir o papel do professor com o de uma mera fonte de informações. Quero fazer aqui a importante observação de que o professor pode ser, também, uma preciosa fonte de informações, mas seu papel não deve se reduzir a este. Se entendermos o papel do professor como o daquele que deve criar as condições para a aprendizagem mais do que simplesmente transmitir informações, podemos compreender a importância de fazer perguntas em sala de aula.
As perguntas podem servir a muitos fins, ou não servir para nada, como é caso da tão velha e desgastada pergunta repetida pelos professores há séculos “Vocês entenderam?”. Salvo exceções, essa pergunta é invariavelmente acompanhada por um silêncio da classe com, talvez, algumas cabecinhas sinalizando respostas positivas com confiança que varia de nula a total ou, quem sabe, exibindo sinais de total perplexidade diante da questão.
Para servir como fonte de informação para o professor a respeito da aprendizagem, as perguntas devem ser mais objetivas do que isso, ou seja, devem ter um conteúdo objetivo, como por exemplo, quando o professor pergunta “Alguém pode me explicar de que forma as folhas de uma árvore conseguem obter a água que foi absorvida pelas raízes?”, ao invés simplesmente de perguntar “Vocês entenderam?”. Até porque, inclusive, é bastante provável que cada aluno tenha tido um entendimento parcial do assunto e, portanto, a questão “Vocês entenderam?” não pode ser respondida de forma simples com um sim ou com um não.
Ao ouvir as respostas de um ou mais alunos, o professor tem a possibilidade de identificar o que foi e o que não foi bem compreendido, pode explicar novamente, pode esclarecer ambigüidades, mal entendidos.
Mas não é só para verificar a aprendizagem que o professor pode fazer perguntas em sala de aula. Ele pode criar questões que funcionem como desencadeadoras dos processos mentais necessários à aprendizagem de um determinado assunto. São questões que estimulam os alunos a pensar sobre aquele assunto, a selecionar e relacionar as idéias que têm a respeito dele, a distinguir, dentre estas idéias, o que é relevante ou não, o que está correto ou não do ponto de vista da Ciência etc. Ao invés, por exemplo, de dizer aos alunos que os ambientes de água salgada são mais estáveis que os de água doce e, que, portanto, é mais comum encontrar formas larvais nos organismos marinhos, o professor pode, após explicar o que caracteriza a estabilidade/ instabilidade nestes ambientes, pedir aos alunos que relacionem estas características com a vantagem/ desvantagem adaptativa de passar ou não por um estágio larval. Munidos das informações necessárias, lembrando sempre que a transmissão de informações é sim parte muito importante do trabalho do professor, os alunos, provavelmente serão capazes de chegar à conclusão correta.
É interessante, para que as perguntas tenham maiores chances de alcançar este segundo objetivo, que o professor dedique algum tempo no preparo de suas aulas à elaboração das perguntas que pretende fazer. Algumas questões podem ajudá-lo nesta tarefa: o que eu quero que meus alunos aprendam?; quais idéias/ informações relacionam-se com o que quero ensinar?; eles já têm as informações necessárias?; como devem relacionar estas idéias/ informações?; quais raciocínios meus alunos podem seguir para chegar aonde pretendo?
Algumas perguntas interessantes também podem advir de um pouco de leitura sobre História da Ciência. Conhecer a história de como foram construídos os conhecimentos dentro de determinada área ou assunto específico pode ajudar a entender melhor a respeito dos processos mentais, que na verdade são construções coletivas, de produção do conhecimento.
Você quer saber mais?
Lorencini Júnior, A.; O ensino de Ciências e a formulação de perguntas e respostas em sala de aula. In: Cadernos de Textos da III Escola de Verão. Serra Negra, São Paulo: FEUSP, 1994, p. 128-137.
As Ciências Naturais (que incluem a Biologia, a Química, a Física, a Geologia etc.) são, por sua natureza, atividades investigativas, que partem dos questionamentos feitos, há gerações, acerca dos fenômenos naturais.
Nada mais natural, portanto, que as aulas de Ciências fossem repletas de...”???”
Se você respondeu “perguntas” já deve ter entendido onde pretendo chegar.
Isso mesmo: as aulas de Ciências deveriam estar repletas de perguntas! Mas, ao contrário do que alguns possam pensar, refiro-me aqui às perguntas feitas pelo professor, não àquelas feitas pelos alunos que, estes, aliás, quanto menores e menos reprimidos pela escola, as têm de sobra.
Você pode estar se colocando diante da seguinte questão: não cabe ao professor perguntar e, sim, responder, já que, supostamente, é ele quem sabe mais e está ali para ensinar aos alunos?
Mas é neste ponto que se pode confundir o papel do professor com o de uma mera fonte de informações. Quero fazer aqui a importante observação de que o professor pode ser, também, uma preciosa fonte de informações, mas seu papel não deve se reduzir a este. Se entendermos o papel do professor como o daquele que deve criar as condições para a aprendizagem mais do que simplesmente transmitir informações, podemos compreender a importância de fazer perguntas em sala de aula.
As perguntas podem servir a muitos fins, ou não servir para nada, como é caso da tão velha e desgastada pergunta repetida pelos professores há séculos “Vocês entenderam?”. Salvo exceções, essa pergunta é invariavelmente acompanhada por um silêncio da classe com, talvez, algumas cabecinhas sinalizando respostas positivas com confiança que varia de nula a total ou, quem sabe, exibindo sinais de total perplexidade diante da questão.
Para servir como fonte de informação para o professor a respeito da aprendizagem, as perguntas devem ser mais objetivas do que isso, ou seja, devem ter um conteúdo objetivo, como por exemplo, quando o professor pergunta “Alguém pode me explicar de que forma as folhas de uma árvore conseguem obter a água que foi absorvida pelas raízes?”, ao invés simplesmente de perguntar “Vocês entenderam?”. Até porque, inclusive, é bastante provável que cada aluno tenha tido um entendimento parcial do assunto e, portanto, a questão “Vocês entenderam?” não pode ser respondida de forma simples com um sim ou com um não.
Ao ouvir as respostas de um ou mais alunos, o professor tem a possibilidade de identificar o que foi e o que não foi bem compreendido, pode explicar novamente, pode esclarecer ambigüidades, mal entendidos.
Mas não é só para verificar a aprendizagem que o professor pode fazer perguntas em sala de aula. Ele pode criar questões que funcionem como desencadeadoras dos processos mentais necessários à aprendizagem de um determinado assunto. São questões que estimulam os alunos a pensar sobre aquele assunto, a selecionar e relacionar as idéias que têm a respeito dele, a distinguir, dentre estas idéias, o que é relevante ou não, o que está correto ou não do ponto de vista da Ciência etc. Ao invés, por exemplo, de dizer aos alunos que os ambientes de água salgada são mais estáveis que os de água doce e, que, portanto, é mais comum encontrar formas larvais nos organismos marinhos, o professor pode, após explicar o que caracteriza a estabilidade/ instabilidade nestes ambientes, pedir aos alunos que relacionem estas características com a vantagem/ desvantagem adaptativa de passar ou não por um estágio larval. Munidos das informações necessárias, lembrando sempre que a transmissão de informações é sim parte muito importante do trabalho do professor, os alunos, provavelmente serão capazes de chegar à conclusão correta.
É interessante, para que as perguntas tenham maiores chances de alcançar este segundo objetivo, que o professor dedique algum tempo no preparo de suas aulas à elaboração das perguntas que pretende fazer. Algumas questões podem ajudá-lo nesta tarefa: o que eu quero que meus alunos aprendam?; quais idéias/ informações relacionam-se com o que quero ensinar?; eles já têm as informações necessárias?; como devem relacionar estas idéias/ informações?; quais raciocínios meus alunos podem seguir para chegar aonde pretendo?
Algumas perguntas interessantes também podem advir de um pouco de leitura sobre História da Ciência. Conhecer a história de como foram construídos os conhecimentos dentro de determinada área ou assunto específico pode ajudar a entender melhor a respeito dos processos mentais, que na verdade são construções coletivas, de produção do conhecimento.
Você quer saber mais?
Lorencini Júnior, A.; O ensino de Ciências e a formulação de perguntas e respostas em sala de aula. In: Cadernos de Textos da III Escola de Verão. Serra Negra, São Paulo: FEUSP, 1994, p. 128-137.
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