sábado, 13 de junho de 2020

Pré-história? Era da Agricultura!



Apesar de necessária para a compreensão e o estudo da história, há muitas críticas quanto à periodização clássica utilizada. Uma dessas críticas, diz sobre o período da vida humana anterior à chamada Idade Antiga, que corresponde, aliás, a milhões de anos. Dentro de uma concepção estreitamente relacionada ao positivismo ou à história-relato, esse enorme período é denominado, nos livros, Pré-história. Define-se que a História só tem inicio com a invenção da escrita. Mas, então – pode-se questionar, povos sem escrita (ágrafos) não têm história? É evidente que possuem História, pois não apenas documentos escritos dispõe o historiador. Se determinado grupo humano não chegou a criar símbolos reconhecidos como forma de escrita para registrar os acontecimentos de sua vida, isso não impede que tenhamos condições de compreendê-la. Afinal, esse grupo deixou uma infinidade de outros documentos: instrumentos de trabalho, joias, brinquedos, entre outros, com os quais o historiador pode elaborar a sua pesquisa.­


No seguinte texto será justificada a nova nomenclatura dada a Pré-história a partir do olhar da teoria histórica da Escola de Annales.

Baseados nos dados analisados teremos como nome ao período “Era da Agricultura”, devido a grande importância que a agricultura teve para a evolução humana desde seu descobrimento no período Neolítico, a mesma permitiu ao ser humano andar em grupos mais numerosos, já que no período Paleolítico nós simplesmente comíamos oque encontrávamos o que impedia que andássemos em grandes grupos, pois a comida acabava muito rápido se houvesse muitas pessoas juntas no mesmo lugar. A agricultura também permitiu termos moradias fixas e a criação de animais, pois agora plantávamos oque comíamos, impedindo que houvesse falta de alimentos. O que mais tarde desencadeou na Idade dos Metais, as organizações sociais, sendo mais numerosas ainda, dando início também à fabricação de ferramentas e armas de metais.

Ao fim concluímos que a agricultura levou o ser humano a capacidade de inúmeras evoluções e descobrimentos que levaram a sociedade ao que é hoje, sendo um grande marco para nossa espécie, está mais do que justificado chamarmos esse período de “Era da Agricultura”.

Autora: Isabel Cristina S. Pedroso, colaborada do Construindo História Hoje.

quarta-feira, 27 de maio de 2020

ÁTILA, O REI DOS HUNOS. “EGO SUM FLAGELLUM DEI”



O
 relato da vida e morte de Átila, o Rei dos Hunos, como consta nos texto do historiador romano Priscus.

Apesar de ser um individuo com uma personalidade agressiva e desconfiada, Átila permitiu-se acompanhar por romanos durante os períodos de paz entre ambos os povos. Foi nesses períodos que Priscus pode conhecer melhor o homem por detrás do “flagelo de Deus” (Flagellum Dei), era dessa forma que Átila se autointitulava.

Os hunos moravam em complexos murados semelhantes a povoados muito grandes. Como observou Priscus: “dentro da muralhas haviam um numeroso grupo de prédios, alguns feitos de tábuas e construídos  próximos para fins decorativos, outros eram feitos de troncos de madeira cuja casca havia sido arrancada, e haviam sido planejados em seguida. Eram dispostos em colunas circulares feitas de pedra, que começavam no chão e chegavam a uma altura moderada”.

Átila morava na maior residência, que era embelezada com torres para diferenciá-la das demais. Os aposentos eram acarpetados com tapetes que pareciam ser de lã e as mulheres hunas faziam bordados coloridos e delicadas roupas de cama e mesa. Os hunos jantavam em sofás, no mesmo estilo dos romanos. Tapeçarias e trabalhos ornamentais multicoloridos eram pendurados para decorar os quartos. Embora os guerreiros hunos praticassem a poligamia, estima-se que as mulheres tivessem um status superior entre os hunos em comparação com a maioria das sociedades nômades, das estepes ou orientais.
Apesar de uma sociedade guerreira, o caráter masculino era superior e algumas das descrições de Priscus mostram que as mulheres desempenhavam um papel de “embelezar” os rituais e trabalhos nas casas.

A entrada de Átila na sua sala de jantar é assim descrita:

“Quando Átila estava entrando, as moças vieram vê-lo e se perfilaram diante dele caminhando sob estreitas tiras de tecidos de linho branco, sustentadas pelas mãos de mulheres dos dois lados. Essas faixas de tecido eram esticadas de tal forma que sob cada uma delas caminhavam pelo menos sete moças. Havia muitas fileiras de moças sob os tecidos e elas cantavam canções citas.”

O próprio Átila não impressionou tanto Priscus à primeira vista: Baixo, de peito largo, rosto desmedido e corpo atarracado, tinha olhos pequenos e profundos, um nariz achatado e uma barba rala levemente grisalha. Caminhou ao longo da parede com um arrogante modo de andar, obsevando com altivez de um lado para o outro. Inconstante, melancólico, desconfiado, Átila parecia ser abstêmio em relação ao vinho e sem senso de humor: os bufões faziam os outros hunos rirem, mas Átila sentava lá, remoendo, taciturno e com a cara amarrada.

O único momento em que revelava um lado humano era quando seu filho caçula, Ernac, entrava no salão de banquetes. Priscus notou que os olhos rijos de Átila se enterneciam imediatamente; ele chamava o menino e acariciava sua bochecha. Por que ele era o preferido, perguntou-se Priscus? Parecia que um vidente lhe dissera certa vez que sua família entraria em decadência após sua morte, mas que Ernac restabeleceria a riqueza dos hunos. Profundamente supersticioso, habituado a presságios, oráculos, xamãs e curandeiros, Átila levou isso muito a sério.
No entanto, a despeito da sua figura, quanto mais Priscus o observava, mais ficava impressionado. Ele não era apenas um assassino brutal e um tirano cruel, mas revelava sagacidade e até sabedoria:

“Embora um amante da guerra, não era propenso à violência. Era um conselheiro muito sábio, misericordioso para com  quem o aceitava como amigo”.

Não tinha a riqueza como objetivo, exceto como um meio de controle político e social, e seus próprios gostos tendiam à austeridade em vez do visível consumo. Novamente nas palavras de Priscus:

“Enquanto para os outros bárbaros e para nós, só havia pratos preparados generosamente servidos em travessas de prata, para Átila havia somente carne em um prato de madeira...Copos de ouro e prata eram entregues para os homens no banquete, enquanto o dele era de madeira. Sua roupa era simples e não era nada diferente das demais, com exceção do fato de ser limpa. Nem a espada que ficava pendurada na lateral de seu corpo, nem as fivelas de suas botas bárbaras e nem as rédeas de seu cavalo eram decorados com ouro ou pedras preciosas, como aqueles de outros citas.”

Átila estava assim enviando uma mensagem sutil. Não precisava das manifestações externas e ornamentos do poder, tendo em vista que estava muito seguro de seu próprio destino. Também estava dizendo para aqueles que o apoiavam que ele nunca poderia ser comprado com o ouro romano, e que só a austeridade dava origem a grandes guerreiros. Átila era cruel e liquidava inimigos conhecidos num abrir e fechar de olhos, mas também era inteligente e percebeu que a simples brutalidade acabava afastando até os discípulos próximos: conhecia suficientemente a história de Roma para se lembrar dos imperadores que tinham sucumbido por causa de sua crueldade insensata: Calígula, Nero, Domiciano, Commodus, Elagabulus. Seus seguidores tinham de saber que ele era duro, e ele lhes dava muitas provas disso; mas eles também precisavam perceber que ele era capaz de moderação, conciliação e respeito por parte de seus subordinados, o que faria valer a pena estabelecer uma parceria com ele para a vida toda.

Foi por volta do ano de 451 d.C, quando em sua campanha na França, Átila invadiu a cidade de Troyes. O bispo Lupus de Troyes foi pedir rendição conciliatória a Átila e disse-lhe ser um homem de Deus. Átila então respondeu EGO SUM FLAGELLUM DEI (eu sou a cólera de Deus), e isso se tornou parte das duradouras histórias de luta dos reinos cristãos sobre Átila.

No retorno para a Hungria de sua campanha na Itália por volta de 452-453d.C, Átila planejava outra guerra de conquista, agora contra os bizantinos. Foi nesse contexto que o polígamo Átila fez outro casamento político, acrescentando uma princesa alemã chamada Ildico a seu pequeno grupo de esposas. Os hunos davam muito valor à posse de mulheres bem-nascidas, considerando-as como um acréscimo essencial para seu prestígio e exigindo frequentemente princesas e “damas” como parte do tributo pagos pelos inimigos conquistados. Uma requintada festa de casamento foi realizada no início de 453d.C.

Segundo o historiador romano Priscus foi durante essa festa de casamento que Átila morreu subitamente e de forma estranha. Segue o relato de Priscus:

“Pouco antes de morrer, ele (Átila), se casou com uma moça muito bonita chamada Ildico, depois de outras inúmeras esposas, como era o costume de seu povo. Ele se entregou ao regozijo excessivo na festa de casamento, e quando se deitou de costas, cheio de vinho e de sono, um fluxo de sangue superficial, que deve ter saído de seu nariz, desceu pela garganta e o matou, uma vez que foi impedido de passar pelas vias normais. No dia seguinte , de manhã, os criados reias suspeitaram de algum mal,e, depois de grande alvoroço, irromperam nos aposentos. Descobriram que a morte de Átila estava consumada por um derramamento de sangue, sem nenhum ferimento, e a moça com o rosto abatido, chorando por detrás do véu.”

Essa é a versão convencional sobre a morte de Átila, geralmente aceita pelos historiadores. Os sintomas descritos sugerem ou a ruptura de uma úlcera do aparelho digestivo, possivelmente provocada pelo profundo estresse pelo qual Átila estava passando, ou hipertensão em uma veia importante do corpo – varizes na garganta provocadas pelo excesso de alcoolismo. Se uma dessas veias se rompe, o sangue vai direto para os pulmões, no caso dele, que estava deitado de costas; se ele estivesse de pé ou sóbrio, o ataque não teria sido fatal.

Os hunos prantearam seu grande líder. É assim que Priscus descreve os ritos fúnebres:

“No meio de uma planície seu corpo ficou deitado em uma tenda de seda, e um espetáculo extraordinário foi apresentado solenemente. Os melhores cavaleiros de todo o povo huno fizeram um círculo em torno do local onde seu corpo jazia, como nos jogos circenses, e recitaram suas façanhas em um canto fúnebre...Quando eles prantearam com tais lamentos, com grande folguedo celebraram no seu túmulo o que eles chamam strava, e deixaram-se abandonar em uma mistura de alegria e luto...Entregaram seu corpo à terra no sigilo da noite...Acrescentaram as armas dos inimigos conquistadas em combate, adornos para cavalos brilhando com várias pedras preciosas e ornamentos de tipos variados, as marcas da glória real. Além disso, para que essas grandes riquezas fossem mantidas a salvo da curiosidade humana, aqueles que tiveram a tarefa de arrumar tudo foram recompensados com a morte.”

Alguns detectaram “demasiados protestos” no hino funeral, ao se declamar as conquistas de Átila, depois prosseguindo: “ quando ele tinha conquistado tudo isso favorecido pela sorte, caiu não por causa do adversário, nem  em virtude da traição de seus amigos, mas no meio de seu povo em paz, alegre em seu regozijo e sem nenhuma sensação de dor. Há até quem chame isso de morte e ninguém acredita que seja uma vingança”.

Todavia, a versão oficial da morte de Átila é problemática em vários níveis. Véus, noivas chorosas, nenhum grito, portas fechadas à chave –tudo isso se parece demais com um mistério; a descrição preparada não convence. A versão recebida pode ser criticada em vários níveis diferentes. Priscus, o historiador em quem devemos confiar para tudo o que diz respeito a Átila, nem estava na Europa quando o grande líder huno morreu, uma vez que se encontrava em missão diplomática no Egito. Seu relato é de segunda mão ou até de terceira. Não traz nenhuma relação com aquele feito em primeira mão por Priscus, a respeito do banquete em 449 d.C. na sua descrição, o historiador fala que os outros hunos estavam bebendo e se divertindo, mas afirma que Átila estava distante, abstêmio, bebendo aos pouquinhos, enquanto os outros davam grandes goles. Em poucas palavras o caráter de Átila apresentado por Priscus na qualidade de observador é muito distante da personalidade revelada na última descrição de sua morte. Naturalmente, era do interesse dos filhos de Átila e dos logades conspirar para dar a ideia de uma morte repentina e natural; a última coisa de que eles precisavam para poder ter uma sucessão pacífica era uma investigação lenta sobre um plano de assassinato. Se essa versão é suspeita, quais são as prováveis circunstâncias da morte de Átila?  Aqui a suspeita se volta contra o imperador bizantino Marciano, um inimigo implacável, subestimado por Átila. Os bizantinos estavam bem preparados para usar o assassinato como um instrumento político. O segundo motivo diz que o germano Edeco, pai de Odoacro, era um seguidor leal de Bleda, irmão de Átila, assassinado pelo mesmo. Edeco teria planejado uma vingança a longo prazo. Assim sendo, a morte de Átila, em 453 a.C, estaria relacionada ao assassinato de Bleda, em 445 d.C. Edeco poderia ter sido um autêntico agente duplo, ou pode ter sido “transformado” pelos bizantinos em algum momento.

Quanto ao meio usado para o assassinato, é mais provável que o envenenamento lento tenha sido fatal para Átila, possivelmente até a ingestão de bebidas em pequenos goles durante o banquete do casamento.

Você quer saber mais?

McLYNN, Frank. Heróis e Vilões: Por dentro da Mente dos Maiores Guerreiros da História. São Paulo: Larousse do Brasil, 2008.

“De origine actibusque Getarum” do Historiador romano Jordanes, traduzido para o espanhol por: MARTÍN, José, María Sánhez. Origen y gestas de los godos Madri, Cátedra, 2001.




sexta-feira, 15 de maio de 2020

CRO-MAGNON DAS ILHAS CANÁRIAS




O
 Museu das Canárias, na Ilha Grã-Canária, se orgulha de possuir a maior coleção do mundo de crânios do homem de Cro-Magnon.  Interessante também é o terraceamento para agricultura em torno de elevações arredondadas pela erosão, de origem desconhecida, que se encontra por todas as ilhas.
Na Ilha Tenerife existe um complexo piramidal feito de pedra negra vulcânica. As técnicas de arquitetura e engenharia empregadas na construção dessas pirâmides de seis “degraus” são similares àquelas encontradas no México, no Peru e na antiga Mesopotâmia.
Os arqueólogos da Universidade de La Laguna e o Dr. Thor Heyerdahl provaram que as estruturas são obra humana. A escavação revelou que elas foram erguidas sistematicamente com blocos de pedra, cascalho e terra. Escadas construídas cuidadosamente no lado oeste de cada pirâmide levam ao cume, uma plataforma perfeitamente plana, coberta de cascalho. Descobriu-se que o principal complexo piramidal, inclusive as esplanadas diante delas, é astronomicamente orientado para o poente no solstício de verão da mesma maneira que as pirâmides do Egito foram orientadas segundo os pontos cardeais.
Quem as construiu é um mistério, e nenhuma teoria é empurrada à força aos visitantes da cidade de Guimar e suas pirâmides. Um cartaz com um único ponto de interrogação rotula a exposição:
“OS HABITANTES CONHECIDOS MAIS ANTIGOS DE TENERIFE SÃO OS GUANCHES (hoje em dia extintos como cultura), QUE NÃO SABIAM DIZER QUANDO AS PIRÂMIDES FORAM CONSTRUÍDAS NEM POR QUEM”.
Entretanto, como veremos, os guanches provaram ser um elo cultural entre sociedades antigas e modernas. Quando os primeiros europeus modernos chegaram às Ilhas Canárias durante o início do século XIV, ficaram surpresos com as características físicas de seus habitantes guanches, que não eram muito diferentes daquelas das populações brancas nas regiões ao sul do Mediterrâneo. Investigadores do século XX ficaram ainda mais surpresos pela similaridade entre os esqueleto do homem de Cro-Magnon de 40 mil anos encontrado na Dordonha, França, e os restos mortais dos guanches.  Alguns pesquisadores acreditam que as similaridades não eram apenas físicas, mas também culturais como evidenciam as pinturas nas cavernas em Gáldar, Belmaco, Parque Cultural La Zarza e Los Letreros, por exemplo. Assim como as culturas Cro-Magnon, os guanches adornaram as cavernas com zigue-zagues, quadrados e símbolos espirais usando tinta vermelha ou preta. Os guanches continuaram pintando cavernas até o século XIV.

De acordo com a antropóloga alemã Ilse Schwidetzky, as Ilhas Canárias oferecem um extraordinário campo para investigações antropológicas. A população pré-histórica que vivia lá enterrava seus mortos em cavernas, o que proporcionou um material extraordinariamente abundante no que diz respeito a esqueletos. A despeito do fato de que os guanches não existem mais como cultura, grupos pré-hispânicos sobreviveram até o presente, mesmo depois do processo de cristianização e aculturação. Vários estudiosos dedicaram-se a identificá-los nos séculos XVIII, XIX e XX.

Em um estudo de 1984, o professor Gabriel Camps, da Universidade de Provença, foi bastante explícito quando à questão de identificar corretamente os naturais das Ilhas Canárias e seus predecessores. Nessa pesquisa, ele concentrou-se na antiga população Cro-Magnon da África do Norte, à qual ele se referia especificamente como iberomaurusianos. Esses iberomaurisianos eram uma cultura de 16 mil anos de idade do noroeste da África, que habitavam a planície costeira e o interior do que são hoje a Tunísia e o Marrocos. Viviam da caça do gado selvagem, gazelas, antílopes e carneiros-da-Barbária, e da coleta de moluscos. Hoje em dia, características físicas Cro-Magnono são raras nas populações da África do Norte. As características gerais ali pertencem a diferentes variedades de tipos mediterrâneos. No máximo, o grupo com características semelhantes às do homem de Cro-Magnon representa 3% da atual população do Magreb (Marrocos, Argélia e Tunísia). Mas são muito mais numerosos nas Ilhas Canárias.

O termo “iberomaurusiano” se refere à fabricação de implementos no final da Idade do Gelo caracterizados por ferramentas e armas de pedra menores, se comparadas às das culturas anteriores, e que apresentam pequenas lâminas com uma das extremidades sem corte, para que fosse possível segurar o instrumento daquele dão, ao manuseá-lo.  Os fabricantes dessas ferramentas estavam presentes em muitos pontos do Magreb africano, como AfalouBou-Rhummel, La Mouillah, Caverna Taza I e Taraforalt, entre 20 e 10 mil anos atrás. Muitos desses sítios encontram-se aglomerados em cavernas e abrigos rochosos ao longo do litoral do Magreb. Tinham esqueletos fortes que se pareciam como do Cro-Magnon europeu, embora tivessem as feições mais duras e outros tipos de diferenças. As origens do Cro-Magnon da África do Norte são desconhecidas. Estudiosos sugerem que eles tenham vindo da Europa, oeste da Ásia, ou de outro ponto da África, ou que tenham se desenvolvido na própria África do Norte. Eram relativamente altos (1,73 m para os homens e 1,62 m para as mulheres), e possuíam feições muito marcantes, rosto largo e forte, e um crânio alongado e estreito. Esse tipo de conformação craniana é referida como dolicocéfalo.

Você quer saber mais?

MALKOWSKI, Edward F. O Egito Antes dos Faraós: e suas misteriosas origens pré-históricas. São Paulo: Editora Cultrix, 2010.





domingo, 3 de maio de 2020

CIVILIZAÇÕES ESQUECIDAS: HARAPPA


A
 primeira civilização da Índia e uma das maiores da Antiguidade, foi tão desenvolvida quanto o Egito e a Mesopotâmia. Mas sua história está apenas começando a ser desvendada.

O vaivém de peregrinos é intenso, frenético, louco. Eles chegam aos montes, vindos de pequenos vilarejos vizinhos, nos vales ao leste do Paquistão. As ruas, tomadas por mercadores itinerantes, ganham, aos poucos, o colorido dos artistas performáticos e das trupes de circo. Músicos ajudam a entreter as multidões. Luzes e sons misturam-se. Mulheres gazeteando pelas vias procuram peregrinos mais experientes, para dar a eles as oferendas religiosas que serão repassadas a divindades de lugares distantes – tudo para garantir que, no futuro, seus filhos sejam saudáveis e – preferencialmente – do sexo masculino. À primeira vista, este é apenas mais um tradicional ritual de cultura popular, desses que o tempo insiste em manter vivos.

E é mesmo. Conhecido por sang – algo como “feira de encontro” –, é realizado até hoje nas grandes cidades do vale do rio Indo, perto da fronteira entre o Paquistão e a Índia. Mas esconde uma curiosidade. Remete a uma das civilizações mais desenvolvidas de toda a Antigüidade, um povo que viveu ali, na mesma região, há milhares de anos. Não eram egípcios, nem mesopotâmios, tampouco chineses. Esse povo esquecido atingiu um surpreendente grau de desenvolvimento, comparável inclusive ao dos célebres vizinhos. A diferença é que não ficaram tão conhecidos – pelo menos nos dias de hoje –, embora tenham interagido profundamente com algumas dessas culturas avançadas. Eles eram a civilização do Vale do Indo, ou civilização harappiana, nome derivado de sua principal cidade, a capital Harappa.

Por volta de 3000 a.C., numa época em que Egito, Mesopotâmia e China começavam a esbanjar desenvolvimento e a ocupar o centro do mundo, os harapiannos floresciam no vale do rio Indo. Como as potências vizinhas, também dominavam técnicas e conhecimentos inimagináveis para aquele período da história. No seu auge, entre 2600 a.C. e 1900 a.C., espalharam-se por mais de 1500 vilas e estenderam-se por uma área duas vezes maior que o próprio Egito antigo e a Mesopotâmia. Ergueram cidades amplas e muito bem planejadas, com sistemas de drenagem sofisticados e prédios muitos complexos, e já conheciam as técnicas de fundição a mais de 930°C. Eram artesãos habilidosos que se destacavam principalmente por seus trabalhos com cerâmica e argila.

O conhecimento traçou os rumos de Harappa. Seus habitantes abriram rotas comerciais que os levaram ao Golfo Pérsico, à Ásia Central e à Mesopotâmia. Por outro lado, as cidades harappianas viraram centros de comércio do mundo antigo. O artesanato local espalhou-se, tendo sido encontrado até nos sítios arqueológicos mesopotâmios. Textos antigos desta civilização, as inscrições cuneiformes, também comprovam o contato entre as duas culturas. Falam sobre o comércio com povos originários da distante Índia, que costumavam chamar de Meluha e Makkan. Assim como ainda acontece atualmente, naquela época os moradores dos pequenos vilarejos harappianos iam para as grandes cidades em dias de festivais – ou feiras de encontro, para comprar, vender ou trocar produtos, participar de cerimônias e até para rever familiares.
Democracia e Religião
Apesar de ser a maior das quatro civilizações da Antigüidade, o Vale do Indo só foi descoberto em 1920, quando arqueólogos escavaram parte das ruínas de Harappa e Mohenjo-daro, as duas maiores cidades da região, áreas que hoje correspondem às províncias paquistanesas de Punjab e Sindh, respectivamente. Mesmo assim, ainda há muito a ser escavado e, principalmente, desvendado. Questões básicas sobre estes povos continuam sem respostas. Vários sítios arqueológicos permanecem intocados, incluindo grandes cidades, e sua escrita está longe de ser decifrada. Alguns pontos, porém, são dados como certos.

A semelhança entre as plantas e a arquitetura das cidades harappianas, por exemplo, mostram que o Vale do Indo mantinha uma estrutura social e econômica uniforme. A economia era baseada na produção agrícola e nas atividades comerciais. Ou seja, comerciantes e artífices tinham grande influência na sociedade e, muito provavelmente, compunham a elite dominante. O povo era pacífico e não apresentava uma cultura belicosa, embora possuísse armas como lanças e espadas. Não havia reis nem teocratas – prova disso é a inexistência de palácios e templos suntuosos, mesmo nas ruínas das grandes cidades. As maiores construções eram mercados e prédios de banhos públicos, algo tão sofisticado para época que nem mesmo no Império Romano, dois mil anos depois, este tipo de facilidade chegava às classes mais baixas. “As principais edificações não são voltadas para os líderes, mas sim para a população. Isso sugere, inclusive, que havia um possível exercício arcaico de democracia, baseado principalmente em valores econômicos”, comenta o professor de cultura da Índia e língua sânscrita Carlos Eduardo Barbosa, do Instituto Narayana, de São Paulo.

Essa organização social não exclui, no entanto, a participação e a influência de líderes religiosos na sociedade. É provável que eles tenham sido a chave para manter unida uma civilização tão abrangente, que não tinha como característica usar a força para subjugar outros povos. Apesar de não haver provas arqueológicas da existência destes líderes, existem estudos que indicam que eles formavam uma elite dominante, que manteve a hegemonia por meio da religião e de rituais sagrados. “É o que aconteceu mais tarde com o hinduísmo, em que milhões de pessoas permaneceram unidas não pelo uso da força, mas sim da persuasão”, pondera Iravatham Mahadevan, do Conselho de Pesquisa Histórica da Índia, que há mais de 30 anos estuda a escrita do Vale do Indo. “Além disso, existem selos encontrados nos sítios arqueológicos que mostram a prática de rituais sagrados, com adorações a deuses nus, sentados em posição de yoga”, acrescenta Mahadevan.

Apogeu e decadência

Embora não se saiba muito da cultura do povo harappiano, sabe-se que a cidade de Harappa viveu seu boom econômico entre os séculos 2800 a.C. e 2600 a.C. Foi nesse período que os artesãos desenvolveram técnicas avançadas de manipulação de argila e outras matérias-primas, criando tijolos simétricos de barro e objetos refinados de cerâmica cobertos por uma espécie de esmalte. A fabricação de produtos têxteis também decolou aí. Enquanto os egípcios notabilizavam-se pela manufatura de peças de linho, os harappianos teciam com algodão. Surgiu nessa época ainda o sistema formal de escrita local, estampada em vários vasos e selos de argila encontrados nos sítios arqueológicos. Estes objetos, ilustrados com figuras geométricas ou representações de animais, parecem ter tido uso comercial ou administrativo. Seriam usados basicamente pela elite dominante e funcionavam como um mecanismo de controle econômico e demonstração de poder político.
Alguns pesquisadores, como Mahadevan, acreditam que eles também indicavam os títulos de seus usuários e até nomes e profissões. Para os harappianos, seria algo útil numa cidade que chegou a ter cerca de 80 mil habitantes, segundo as estimativas do arqueólogo Jonathan Mark Kenoyer, professor de antropologia da Universidade de Wisconsin e um dos líderes dos grupos de escavações dos sítios arqueológicos. Esses e outros segredos de Harappa, no entanto, continuam escondidos atrás de um enigma: a indecifrável escrita do Vale do Indo.

Depois de quase dois mil anos de existência, a civilização do Vale do Indo começou a entrar em declínio. Várias teorias explicam esta fase, mas nenhuma é unânime. A mais aceita combina uma série de motivos. O primeiro deles seria a incapacidade da elite em manter a ordem num território tão vasto e povoado, que por volta de 1900 a.C. já se estendia para além das planícies do rio Ganges. “Essa falta de autoridade levou a uma reorganização da sociedade, não apenas em Harappa mas em toda a região do Vale do Indo”, escreveu Kenoyer em artigo publicado na revista Scientific American. Prova disso é o desaparecimento gradual de símbolos característicos da região, como os selos, vasos e pesos usados na taxação e comércio de produtos.
Outro fator importante para a queda da civilização harappiana foram as alterações climáticas que ocorreram ao longo dos séculos, possivelmente causadas pelo crescente desflorestamento para obtenção de matérias-primas. Em 2000 a.C., um dos mais importantes rios da região, o Sarasvati, começou a secar e deixou várias cidades sem uma base viável de subsistência. Estas populações teriam migrado para áreas agrícolas e cidades como Harappa e Mohenjo-daro, superpovoando lugares que não tinham estrutura para receber mais pessoas. Por conseqüência, os mecanismos de manutenção das rotas comerciais acabaram comprometidos.

Uma das teorias mais antigas, porém, conta outra história. Teria havido uma simples dispersão da população para outras regiões. Mas esta é uma hipótese pouco considerada pelos estudiosos atualmente. “Vestígios arqueológicos encontrados em escavações recentes mostram que as cidades continuavam habitadas entre 1900 a.C. e 1300 a.C.”, escreveu Kenoyer. Uma terceira tese atesta ainda que os harappianos foram aniquilados pelos indo-arianos a partir do segundo milênio antes de Cristo. De fato, o período entre o ano 2000 a.C e o ano 1300 a.C. foi bastante conturbado, com guerras eclodindo em várias partes do mundo. Além disso, existem indícios de batalhas nos sítios arqueológicos do Vale do Indo.

Mesmo assim, é pouco provável que os indo-europeus tenham destruído toda a civilização. A maioria dos especialistas acredita que a imigração ariana aconteceu depois que os harappianos entraram em declínio – e a relação entre estes povos foi muito provavelmente pacífica. “Quando chegaram à região, os indo-europeus tornaram-se sedentários e seus rebanhos ajudaram a fertilizar os campos agrícolas. Em troca, seus cavalos alimentavam-se da palha da cevada que era produzida pelos agricultores”, argumenta Barbosa. E por fim há uma hipótese indiana ultra-nacionalista, que acredita no caminho inverso ao ensinado pelo etnocentrismo europeu. Ela defende a idéia de que a civilização do Vale do Indo deu origem aos védicos, povos que surgiram logo em seguida aos harappianos e formularam o Rig Veda, a mais antiga escritura sagrada hindu. De acordo com a tese, eles conquistaram os sumérios e teriam expandido seus domínios para o oeste, influenciando também os povos do Ocidente. Ufanismo? Pode ser. Mas esta também é mais uma pergunta que continua sem resposta.

Altos e baixos no Vale do Indo

Os harappianos deixaram uma herança para a Índia

3300 a.C. – 2800 a.C.
É a primeira fase da civilização harappiana, chamada de Ravi. No começo deste período, plantam trigo, cevada e leguminosas. Técnicas especializadas de artesanato avançam pelo vale do rio Indo e as primeiras rotas comerciais começam a se desenvolver, com pequenos vilarejos formando-se ao seu redor. Na mesma época, sumérios construíam os primeiros zigurates e egípcios enterravam seus mortos junto com suas riquezas em túmulos de tijolos de barro.
2800 a.C. – 2600 a.C.
Período conhecido como Kot Diji. Harappa torna-se um próspero centro econômico, dando início à urbanização. Artesãos aprimoram suas técnicas e produzem peças refinadas de cerâmica esmaltada, trabalhando com fornos em altas temperaturas. Aumenta a quantidade de matérias-primas que chegam à cidade, em carroças e barcos. Rodas feitas de terracota surgem neste período.

2600 a.C. – 1900 a.C.
É o apogeu da civilização do Vale do Indo, com mais de 1.500 vilas espalhadas por uma área muito maior do que a de todas as antigas civilizações juntas, com exceção da China. As rotas comerciais chegam até o Golfo Pérsico, à Ásia Central e à Mesopotâmia. Cidades amplas e bem planejadas multiplicam-se, com sistemas de drenagem e prédios sofisticados.

1900. a.C. – 1300 a.C.
Uma série de fatores ocasiona a queda de Harappa. Entre os motivos estão até variações climáticas, que provocaram a seca do rio Sarasvati. Há indícios de batalhas nos restos arqueológicos, mas pesquisadores não acreditam que a civilização tenha sido aniquilada por outros povos. A cultura em torno do Ganges assume a hegemonia.

1300 a.C. – 1000 a.C.
Uma nova ordem social entra em vigor. Seguidores da religião védica, que falam línguas indo-arianas, como o sânscrito, povoam o subcontinente indiano. O urbanismo e a arte harappiana, no entanto, sobrevivem. Artesanatos continuam sendo produzidos na regiãodo Vale do Indo, embora adaptados a novas exigências. Surgem garrafas e contasde vidro. Mais tarde, desenvolvem, paralelamente ao Ocidente, o aço.

 A sociedade das castas

Com o fim de Harappa, a Índia foi retalhada. Surgiu em cena o modelo que bagunça a estrutura social do país até hoje.

A divisão da sociedade indiana em castas surgiu da turbulência social e das invasões do subcontinente, logo após o declínio de Harappa. Foram criadas pelos védicos (hindus), na tentativa de instaurar a ordem e acalmar os ânimos das diferentes lideranças. A idéia era instituir territórios culturais das linhagens familiares. No início, quatro castas foram estabelecidas a partir da observação das aptidões naturais de cada grupo: brâhmanes, a classe dos sábios, sacerdotes e professores, incumbidos da orientação espiritual e aconselhamento dos governantes; kshatrias, a casta guerreira, encarregada de manter a ordem política e garantir a proteção social; vayshias, composta por comerciantes, artesãos e grandes proprietários de terras, responsáveis pela economia da sociedade; e shudras,ou trabalhadores braçais,que deveriam seguir os desígnios das outras três classes. De acordo com a teoria da invasão indo-ariana, esta era a casta dos harappianos, depois que foram assimilados pelos védicos. Com o passar dos anos, as castas multiplicaram-se e, hoje, estima-se que haja mais de 2000. Surgiram, por exemplo, os párias, cujo grau mais baixo é o dos chantalas – ou intocáveis, pessoas sem função social, como mendigos e andarilhos. O sistema das castas durou com relativa organização até o século 17, quando foram declaradas hereditárias. Até então, havia alguma mobilidade e pessoas de uma determinada classe poderiam ascender socialmente. Com a nova medida, a bagunça foi geral. Chegou a tal ponto que, no século 19, o guru hindu Sri Ramakrishna declarou o fim das estratificações. Oficialmente, porém, a estranha divisão da sociedade perdurou até 1960, quando as castas foram finalmente banidas por lei. Mas, na prática, a história é diferente. Até hoje elas são mantidas vivas pelo preconceito e por iniciativas do próprio governo indiano, que cria empregos, por exemplo, apenas para castas menos privilegiadas.

Que língua é essa?

Como ninguém consegue decifrar o harappiano, a civilização do Vale do Indo permanece envolta em mistérios que estão longe de serem desvendados.

O povo de Harappa deixou ruínas de grandes cidades como herança arqueológica, mas a única forma de escrita encontrada pelos pesquisadores são as pictografias dos selos e outros ornamentos artesanais. Decifrá-las segue sendo o desafio de estudiosos mundo afora. Primeiro, porque não existe – ou, pelo menos, não foi descoberta – uma Pedra de Roseta que contenha inscrições em duas línguas para ajudá-los a quebrar o código. Além disso, a variação de sinais dos milhares de selos achados pelos arqueólogos é muito pequena – há uma média de cinco por objeto, apenas, repetidos em outras peças. "Tudo indica que a disposição é totalmente aleatória. Se alguém encontrar uma placa de automóvel daqui a milhares de anos, por exemplo, dificilmente vai dizer que se trata de uma forma de escrita", compara o professor Carlos Eduardo Barbosa.

É certo que estes sinais foram amplamente difundidos na maioria das cidades da civilização harappiana, por causa da unidade cultural e das necessidades econômicas desses povos. A maior parte dos selos reproduz, também, figuras de animais e objetos usados em rituais. A imagem de unicórnios é a mais comum (aparece em 65% das peças), mas há desenhos de elefantes, búfalos, tigres, rinocerontes e outros animais.

Uma possibilidade sustentada por pesquisadores é a de a escrita harappiana ser a forma arcaica de alguma língua dos dravidianos, que habitaram o norte e noroeste do subcontinente. Como o balúchi por exemplo, que ainda é falado no Baluchistão e em algumas partes do Irã. "Mas isso é apenas uma teoria. A única coisa que podemos dizer é que são sinais escritos da direita para a esquerda, assim como o árabe e ao contrário do sânscrito", avalia o estudioso indiano, Iravatham Mahadevan. Mas ele ainda tem esperança de encontrar a chave da antiga civilização. "Sempre existe a possibilidade de se descobrir algo novo, um objeto ou mesmo uma tábua de argila bilíngue, em lugares como o Oriente Próximo. Os harappianos fundaram espécies de colônias por lá e é bem capaz de terem fabricado objetos com traduções na língua local".


Você quer saber mais?

(HARAPPA)

quinta-feira, 16 de abril de 2020

A História dos zoológicos humanos



Zoológico humano de senegaleses na Bélgica.

Autora: Isabel Cristina S. Pedroso, estudante e colaboradora do Construindo História Hoje.

Os zoológicos humanos surgiram em 1874, ano o qual o mundo vivia o Neocolonialismo. Neste ano um vendedor de animais selvagens chamado Karl Hagenbeck, resolveu apresentar à visitantes, nativos de Samoa e da Lapônia. Diante do sucesso que obteve com essa exibição e outras, resolveu em 1876 encaminhar seu ajudante ao Sudão egípcio, com o objeto de trazer novos animais para sua atração. Esse novo modelo de negócio se estendeu por variados países, como Alemanha, Inglaterra, Noruega, França e entre outros. Assim, com essa popularidade uma exibição qualquer recebia em torno de 300 mil espectadores, e era perceptível que para a população ocidental os nativos eram inferiores e selvagens. Esses visitantes arremessavam alimentos e itens sem valor, sem contar que falavam sobre suas fisionomias, o comparando-os com primatas. As exposições tinha como objetivo saciar o sadismo europeu que se consideravam superiores a outros povos, e estavam cada vez mais espalhando pelo mundo, uma imagem de inferioridade dos nativos. Com essa errônea animalização de outro ser, é absurdo perceber o quanto jornalistas,
políticos ou até cientistas não se comoveram com a atual situação dos nativos, em relação às precárias condições sanitárias e moradia.

Até mesmo publicações científicas apresentam o povo nativo como uma conquista colonial e um povo medíocre, por exemplo a obra do Conde de Gobineau concretiza a desigualdade racial, onde aponta diferenças da inteligência, força física e beleza das formas, criando as noções de “raças superiores” e “raças inferiores”. O médico Samuel George Morton afirmava que os crânios possuem diferentes tamanhos, e quanto maior forem, maior o cérebro e a inteligência contida. Assim, Samuel, abordava que os crânios de europeus e americanos eram significamente maiores do que os de africanos, mongóis, tasmanianos e entre outros. Com isso, eram considerados raças inferiores podendo serem escravizados e torturados, Samuel e diversos outros médicos realizavam o racismo científico, trazendo abordagens para os povos negros serem considerados "estranhos" e inferiores.

O desenvolvimento científico na análise da espécie humana, fez com que fosse visto a espécie humana como um todo, e diferentes etnias dentro da mesma, e junto com a criação de universidades e colégios, auxiliou com que muitas pessoas possuíssem consciência sobre isso. Hoje em dia não temos mais situações como ao zoológico humano, mas pessoas negras ainda enfrentam diferentes problemas na sociedade, como falta de empregabilidade, olhares de julgamentos, falas desnecessárias sobre o cabelo ou cor de pele, e entre outras. Atos como esses de 1874 jamais serão aceitos e cometidos novamente, já que hoje em dia possuímos leis sobre os direitos humanos, como a Declaração Universal dos Direitos Humanos, criada após a Segunda Guerra Mundial em resposta às atrocidades cometidas com os Judeus.

Isabel Cristina S. Pedroso

segunda-feira, 30 de março de 2020

Humanidade, mais que um principio filosófico!




"A espécie humana não é boa, mas ela possui um grande potencial para o bem. Tangência a bondade e beira a monstruosidade, mas tenho esperança que um dia voltaremos a ser o que já fomos em um passado há muito esquecido. Quando éramos humanos no sentido literal da palavra e não como somos hoje, aonde humanidade é mais um princípio filosófico do que uma experiência vivida!"

Leandro Claudir Pedroso

domingo, 29 de março de 2020

Crônicas esquecidas!


              Vejo por meio da neblina de muitas eras da antiguidade, tantas quando qualquer livro ou civilização possam ter vestígios. Somente por pedras encontramos os restos de um mundo há muito esquecido. Vejo antes que as grandes águas se erguessem, antes que sua civilização se degenerasse e abandonasse os caminhos da verdade do Criador. Um mundo aonde as vimanas cruzavam os céus e às águas, unindo os dois grandes reinos de justiça, prosperidade e paz. A humanidade era uma grande família, não haviam guerras, doenças ou sofrimento, a longevidade de seu povo era inimaginável.

            Até que a escuridão foi derrubada na terra, ela corrompeu a ciência dos reinos, degenerou suas almas e mudou a ordem natural do Criador. Os reinos das terras do Norte das grandes águas e do Sul das baixas águas se digladiaram em  um conflito hediondo, aonde sua ciência foi usada para replicar o poder do  Sol em armas e envenenar suas cidades. Então lágrimas do céu caíram, os abismos se abriram e os povos dos dois reinos  foram tragados pelas águas. Tudo que eram foi esquecido, mergulhado nas profundezas das águas e revolvidas  pela abertura dos abismos.


             Hoje o que restou deles é relegado aos mitos, mas o sonho dos fundadores dos reinos ainda vive dentro de seus descendentes das Terras Novas, sonho escondido nas entranhas de sua carne e de seu sangue. Sangue que clama por aquele que os criou: Bereshit bará Elohim (no princípio criou Deus)!

Leandro Claudir Pedroso

quarta-feira, 25 de março de 2020

Resumo do livro “As Crônicas de Nárnia” volume único. Parte IV.





Leandro Claudir Pedroso

            Seguimos agora com mais uma parte do resumo do livro “As Crônicas de Nárnia”, espero que estejam gostando deste meu humilde trabalho, pois sei que muitos não possuem tempo para ler livros extensos, e na dúvida acabam nem começando algumas leituras por não conhecerem bem o livro. Vejo nos resumos e resenhas uma luz para estes amantes da leitura que não podem dispender de muito tempo para as mesmas. Iniciemos então mais uma parte....

            As crianças são ajudas pelo recém transformado em cavalo alado, Pluma. Ele irá conduzi-las até a montanha onde está o jardim, ao chegar lá deverão cumprir a missão dada por Aslam. Voando com Pluma a viagem ficará mais curta, e ao chegarem lá encontram o jardim cercado por uma cerca de relva, com um portão feito de ouro que possuí uma placa contendo um alerta que dizia: “quem ali entrar deverá pegar a fruta para outro e não para si.”

            Somente Digory entra no jardim, lá encontra várias árvores e no centro da macieira, ele pega uma maça e coloca no bolso para levar, mas ao ir em direção a saída se depara com a rainha Jadis, sentada no chão comendo uma maça, todo seu orgulho está expresso em si. Mas seu semblante é pálido, como no alerta da entrada ela está sendo consumida pelo seu próprio desejo de poder.

            Jadis vê Digory e tenta convencê-lo a levar a maça da eterna juventude para sua mãe que se encontra mortalmente doente. Digory resiste as investidas malignas da rainha e volta o mais rápido possível para Aslam e entrega a maça para ele, Aslam pede que enterre a maça. Nesse meio tempo o grande Leão coroa o ex-cocheiro como Rei Franco de Nárnia e sua esposa como Rainha Helena, após a coroação resplandecem de coragem e bondade.


            Tio André encontra-se preso em uma gaiola feita de árvores, o Leão Aslam estão explica a Digory que tudo continuará crescendo rapidamente ali por algum tempo, mas depois irá parar. Também explica que seu tio André está separado dele por seus pecados e não consegue ouvir sua voz, somente seus rugidos, não podendo deste modo ser consolado por ele, e para acalma-lo faz  com que caia em um sono profundo. Enquanto isso, a maça plantada por Digory, cresce e transforma-se em uma frondosa macieira que protegerá Nárnia da feiticeira com seu perfume. Com o tempo a feiticeira tornar-se-á mais forte, mas sua eternidade lhe será por tormento.

            Aslam explica que ao plantar a maça o que importa é a intensão do coração de quem a planta, se a intensão fosse má, Nárnia se tornaria como Charn, um império poderoso e cruel. Por que a feiticeira comeu um dos frutos do jardim com a intensão má, não poderá se aproximar desta árvore plantada com intensão boa.

            O grande leão entrega para Digory uma maça que acabou de nascer da macieira e diz para o menino entregá-la para sua mãe, que ao comê-la ficará curada. Então leva Digory, Polly e tio André para o “Bosque entre dois mundos” e lá deixa uma alerta para eles: o que aconteceu em Charn poderá acontecer no mundo dos filhos de Adão se não se mantiverem no caminho do bem. Não há mais lago para Charn, em seu mundo algum tirano poderá descobrir também a palavra execrável e leva-lo ao mesmo fim! Pede às crianças que enterrem os anéis. Aslam envolve todos em sua face de luz, todos sentem bondade e paz, e em minutos estão novamente em Londres, mas era como se a confusão cauda pela feiticeira em frente a casa do tio André acabasse de acontecer.

            Digory leva a maça correndo para sua mãe Mabel que está muito debilitada, ela come a maça da vida e logo começa a melhorar. O menino então enterra o miolo da maça que no dia seguinte já é um broto nascente, ele enterra ao redor da macieira os anéis.


            Com sua mãe Mabel recuperada e o retorno de seu pai das índias após a morte do tio avô de Digory sua família fica rica e vão morar na casa de campo do tio avô falecido. Enquanto isso em Nárnia a paz reina e o broto plantado por Digory se torna uma grande árvore que na velhice de Digory acaba caindo, mandando o mesmo fazer um roupeiro com ela.
            Deste roupeiro, novas e fantásticas aventuras virão, mas estás são outras histórias para um outro momento, por enquanto encerro meu resumo com estás quatro partes que são a introdução das histórias que a maioria conhece pelos filmes.


            Encerro este resumo introdutório na página 97 do volume único desta obra. Deixo em vocês a curiosidade de lerem o restante desta magnifica obra de C.S Lewis.

Você quer saber mais?

LEWIS, C.S. As Crônicas de Nárnia – Volume único. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2009.

PARTE I

PARTE II

PARTE III