quarta-feira, 15 de junho de 2016

O computador mais antigo do mundo: um dispositivo de 2.100 anos de idade usado como um "Guia Galáctico".



Os pesquisadores foram capazes de concluir que o Mecanismo de Antikythera foi usado a mais de 2.000 anos atrás como um calendário informatizado do sol e da lua. O dispositivo também ilustrou as fases da lua, a posição do sol e da lua no zodíaco, bem como a posição dos planetas e eclipses.

Nova pesquisa tem ajudado os cientistas a desvendar o mistério por trás do Mecanismo de Antikythera, computador mais antigo do mundo, que pode ter sido usado para "prever o futuro" dos eventos astronômicos.

O dispositivo enigmático tem sido estudado há cem anos desde que foi descoberto. Segundo os pesquisadores, o dispositivo de 2100 anos de idade foi o computador mais antigo do mundo.

Este artefato sofisticado e engenhoso, é completamente a frente do seu tempo de origem, foi descoberto em um velho navio naufragado na costa da Grécia a cem anos. Por mais de um século, a função exata do dispositivo permaneceu um mistério profundo desde que os pesquisadores não foram capazes de decifrá-lo devido à falta de textos que o descrevem. A pequena quantidade de textos que sobreviveram no dispositivo em si não ajudou em nada os pesquisadores.


No entanto, novos estudos têm ajudado a compreender mais sobre o mais antigo computador mecânico do mundo. Graças às poucas palavras impressas nos fragmentos corroídos em engrenagens e placas, os pesquisadores teorizaram que o Mecanismo de Antikythera era usado como um dispositivo astronômico.

No entanto, grande parte da história do antigo dispositivo permaneceu um mistério para os pesquisadores.

Mas a tecnologia tem seus caminhos, e graças aos seus esforços e a utilização de dispositivos de digitalização de ponta, um grupo internacional de pesquisadores conseguiu ler 3.500 caracteres de texto "explicativo", que se acredita ser um quarto do texto original, nas "entranhas" do computador antigo.



Segundo os pesquisadores, ele foi usado como uma espécie de "guia da galáxia" (leia-se astronômia).

"Agora temos os textos que vocês podem realmente ler como um "grego antigo", o que tínhamos antes era algo no rádio com um monte de estática", disse o membro da equipe Professor Alexander Jones, professor de história da ciência antiga da Universidade de Nova Iorque.

"É muito detalhe para nós, porque se trata de um período da qual sabemos muito pouco sobre astronomia grega e, essencialmente, nada sobre a tecnologia, exceto o que nós recolhemos a partir daqui", disse ele. 'Então, esses pequenos textos são uma coisa muito grande para nós. '

Os pesquisadores foram capazes de concluir que o Mecanismo de Antikythera foi usada a mais de 2.000 anos atrás como um calendário informatizado do sol e da lua. O dispositivo também ilustrou as fases da lua, a posição do sol e da lua no zodíaco, bem como a posição dos planetas e eclipses.

O dispositivo tem fascinado pesquisadores por décadas, já que nada do tipo era conhecido  feito pela humanidade há milhares de anos. Isso era único, e indescritível!

"Não foi uma ferramenta de pesquisa, algo que um astrônomo usaria para fazer cálculos, ou mesmo um astrólogo para fazer prognósticos, mas algo que você usaria para ensinar sobre o cosmos e nosso lugar no cosmos", disse o professor Jones.

"É como um livro de astronomia, como era entendida então, que ligava os movimentos do céu e os planetas com a vida dos antigos gregos e seu meio ambiente."

Os fragmentos do Mecanismo Antikythera foram levantadas a partir de um naufrágio em meados do século, na costa da Grécia. Era quase impossível de decifrar o mecanismo desde que os pesquisadores não sabiam ler mais do que algumas centenas de cartas que foram enterrados dentro do instrumento.

A busca para decifrar o mecanismo começou há cerca de 12 anos atrás, quando pesquisadores usaram varredura de raios-x e tecnologia de imagem para analisar 82 peças espalhadas do dispositivo.

"O inquérito inicial foi destinado para ver como o mecanismo funciona, e que foi muito bem sucedida", disse o professor Edmunds.

"O que nós não havíamos percebido era que as técnicas modernas que estavam sendo usados nos permitia ler os textos melhor do que se havia imaginado, tanto na parte externa do mecanismo e no interior dele também."

Segundo os pesquisadores, com base no estilo do texto, que foi muito formal e detalhado, o computador antigo não foi usado como um dispositivo comum.

Os cientistas especulam que o Mecanismo de Antikythera foi inventado na Grécia em algum momento entre 200 e 70 aC.  No entanto, isso não pode ser confirmado como não há textos que mencionam isso, porem é o mais provável.

domingo, 12 de junho de 2016

Do Lobo ao Cão, uma história de 12 mil anos.



A disputa é antiga e já teve momentos belicosos: o cachorro foi domesticado na Europa ou no Extremo Oriente? Ao menos uma vez a resposta satisfez todo mundo, porque o cachorro foi domesticado nos dois lugares de forma independente. E ninguém chegou antes do que o outro, já que as duas domesticações ocorreram há mais de 12.000 anos, e a partir de duas populações de lobos diferentes.

Os orientalistas, entretanto, têm o direito de ficar mais suscetíveis do que seus oponentes europeístas sobre a composição atual dos cachorros de todo o mundo. Porque, enquanto as atuais raças caninas orientais costumam ser herdeiras genuínas das primeiras domesticadas nessa região, os modernos cachorros europeus são mesclados com as raças de origem oriental. É uma consequência das migrações de leste a oeste que aconteceram na pré-história, e também o motivo do assunto ter sido tão difícil de se resolver até hoje.

A pesquisa é o maior estudo de DNA canino já realizado, e inclui até mesmo o primeiro genoma antigo de um cachorro, extraído de um osso (do ouvido interno) de 4.800 anos atrás que estava muito bem preservado em uma tumba de Newgrange, no complexo de Brú na Bóinne, o sítio arqueológico mais famoso da Irlanda.

Os cientistas também analisaram o DNA mitocondrial de outros 59 ossos de todo o continente (datados entre 14.000 e 3.000 anos atrás), e compararam tudo isso com os dados preexistentes de 2.500 cachorros e lobos modernos. Uma equipe internacional coordenada por Greger Larson, da Universidade de Oxford, apresentou os resultados na revista Science.

A domesticação animal é um raro fenômeno e precisamos de muitas evidências para desbancar a suposição de que aconteceu somente uma vez por cada espécie.

O cachorro foi o primeiro animal domesticado, e o único antes do surgimento das primeiras plantas de cultivo e o aparecimento dos assentamentos agrícolas que iniciaram o Neolítico. Alguns estudiosos chegaram a afirmar que os primeiros cachorros foram domesticados a partir do lobo há 30.000 anos, em pleno Paleolítico. Os primeiros restos de cachorros que não permitem controvérsia, entretanto, datam de 15.000 anos atrás na Europa, e de 12.500 anos atrás na Ásia oriental.

Os dados do estudo coordenado em Oxford revelam agora uma divisão nítida entre os cachorros europeus (como o golden retriever e o cachorro da tumba irlandesa, entre diversas outras espécies) e o asiático, como o husky siberiano, o mastim tibetano e várias amostras analisadas entre os cachorros de rua atuais do Tibete e dos povoados do sul da China. O caráter muito parcial dos estudos de DNA anteriores havia lançado dúvidas nessa divisória. A separação entre leste e oeste foi datada provisoriamente entre 6.000 e 14.000 atrás. O relógio genético canino ainda está longe de estar completamente desenvolvido e acertado.

“A domesticação animal é um fenômeno raro”, diz Larson, o coordenador do estudo, “e precisamos de diversas evidências para desbancar a suposição de que aconteceu somente uma vez por cada espécie; nossos resultados de DNA antigo, junto com o registro arqueológico dos cachorros primitivos, indicam que precisaremos reconsiderar o número de vezes em que os cachorros foram domesticados de maneira independente”.

A diferença entre um e dois é às vezes mais eloquente do que parece. Uma domesticação que só ocorreu uma vez pode refletir um fenômeno extremamente improvável, mesmo sendo tão útil que depois acaba por se propagar a todas as culturas. Mas se ocorre duas vezes, pode indicar um processo fácil, algo que está tão próximo de acontecer na natureza que basta um empurrão para fazê-lo ocorrer.

“Reconstruir o passado a partir do DNA moderno”, diz o primeiro autor, Laurent Frantz, de Oxford, “é um pouco como ler um livro de história, em que você não sabe quais são as partes cruciais que foram apagadas”. Demonstra assim a enorme vantagem de se contar com um genoma canino antigo. O mesmo aconteceu com o estudo da evolução humana a partir do primeiro genoma neandertal. Logo veremos mais genomas fósseis das demais espécies domésticas.

quinta-feira, 9 de junho de 2016

História da Enfermagem



Período colonial

A organização da Enfermagem na Sociedade Brasileira – compreende desde o período colonial até o final do século XIX e analisa a organização da Enfermagem no contexto da sociedade brasileira em formação. Desde o princípio da colonização foi incluída a abertura das Casas de Misericórdia, que tiveram origem em Portugal.

A primeira Casa de Misericórdia foi fundada na Vila de Santos, em 1543. Em seguida, ainda no século XVI, surgiram as do Rio de Janeiro, Vitória, Olinda e Ilhéus. Mais tarde Porto Alegre e Curitiba, esta inaurgurada em 1880, com a presença de D.Pedro II e Dona Tereza Cristina. No que diz respeito à saúde do nosso povo, merece destaque o Padre José de Anchieta. Ele não se limitou ao ensino de ciências e catequeses; foi além: atendia aos necessitados do povo, exercendo atividades de médico e enfermeiro. Em seus escritos encontramos estudos de valor sobre o Brasil, seus primitivos habitantes, clima e as doenças mais comuns.

A terapêutica empregada era à base de ervas medicinais minuciosamente descritas. Supõe-se que os Jesuítas faziam a supervisão do serviço que era prestado por pessoas treinadas por eles. Não há registro a respeito. Outra figura de destaque é Frei Fabiano de Cristo, que durante 40 anos exerceu atividades de enfermeiro no Convento de Santo Antônio do Rio de Janeiro, (Séc. XVIII). Os escravos tiveram papel relevante, pois auxiliavam os religiosos no cuidado aos doentes. Em 1738, Romão de Matos Duarte consegue fundar no Rio de Janeiro a Casa dos Expostos. Somente em 1822, o Brasil tomou as primeiras medidas de proteção à maternidade que se conhecem na legislação mundial, graças a atuação de José Bonifácio Andrada e Silva.

A primeira sala de partos funcionava na Casa dos Expostos em 1822. Em 1832 organizou-se o ensino médico e foi criada a Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. A escola de parteiras da Faculdade de Medicina diplomou no ano seguinte a célebre Madame Durocher, a primeira parteira formada no Brasil. No começo do século XX, grande número de teses médicas foram apresentadas sobre Higiene Infantil e Escolar, demonstrando os resultados obtidos e abrindo horizontes a novas realizações. Esse progresso da medicina, entretanto, não teve influência imediata sobre a Enfermagem.

Assim sendo, na enfermagem brasileira do tempo do Império, raros nomes de destaque e, entre eles, merece especial menção o de Ana Neri.

Ana Neri


  
Aos 13 de dezembro de 1814, nasceu Ana Justina Ferreira, na Cidade de Cachoeira, na Província da Bahia. Casou-se com Isidoro Antonio Neri, enviuvando aos 30 anos. Seus dois filhos, um médico militar e um oficial do exército, são convocados a servir a Pátria durante a Guerra do Paraguai (1864-1870), sob a presidência de Solano Lopes.

O mais jovem, aluno do 6º ano de Medicina, oferece seus serviços médicos em prol dos brasileiros. Ana Neri não resiste à separação da família e escreve ao Presidente da Província, colocando-se à disposição de sua Pátria. Em 15 de agosto parte para os campos de batalha, onde dois de seus irmãos também lutavam. Improvisa hospitais e não mede esforços no atendimento aos feridos. Após cinco anos, retorna ao Brasil, é acolhida com carinho e louvor, recebe uma coroa de louros e Victor Meireles pinta sua imagem, que é colocada no Edifício do Paço Municipal.

O governo Imperial lhe concede uma pensão, além de medalhas humanitárias e de campanha. Faleceu no Rio de Janeiro a 20 de maio de 1880. A primeira Escola de Enfermagem fundada no Brasil recebeu o seu nome.

Ana Neri como Florence Nightingale, rompeu com os preconceitos da época que faziam da mulher prisioneira do lar.

Florence Nightingale



Nascida a 12 de maio de 1820, em Florença, Itália, era filha de ingleses. Possuía inteligência incomum, tenacidade de propósitos, determinação e perseverança – o que lhe permitia dialogar com políticos e oficiais do Exército, fazendo prevalecer suas idéias. Dominava com facilidade o inglês, o francês, o alemão, o italiano além do grego e latim. No desejo de realizar-se como enfermeira, passa o inverno de 1844 em Roma, estudando as atividades das Irmandades Católicas. Em 1849 faz uma viagem ao Egito e decide-se a servir a Deus, trabalhando em Kaiserswert, Alemanha, entre as diaconisas. Decidida a seguir sua vocação, procura completar seus conhecimentos que julga ainda insuficientes. Visita o Hospital de Dublin dirigido pelas Irmãs de Misericórdia, Ordem Católica de Enfermeiras, fundada 20 anos antes. Conhece as Irmãs de Caridade de São Vicente de Paulo, na Maison de la Providence em Paris.

Aos poucos vai se preparando para a sua grande missão. Em 1854, a Inglaterra, a França e a Turquia declaram guerra à Russia: é a Guerra da Criméia. Os soldados ingleses acham-se no maior abandono. A mortalidade entre os hospitalizados é de 40%.Florence partiu para Scutari com 38 voluntárias entre religiosas e leigas vindas de diferentes hospitais. Algumas das enfermeiras foram despedidas por incapacidade de adaptação e principalmente por indisciplina. Florence é incomparável: estende sua atuação desde a organização do trabalho, até os mais simples serviços como a limpeza do chão. Aos poucos, os soldados e oficiais um a um começam a curvar-se e a enaltecer esta incomum Miss Nightingale. A mortalidade decresce de 40% para 2%. Os soldados fazem dela o seu anjo da guarda e ela será imortalizada como a “Dama da Lâmpada” porque, de lanterna na mão, percorre as enfermarias, atendendo os doentes. Durante a guerra contrai tifo e ao retornar da Criméia, em 1856, leva uma vida de inválida.

Dedica-se, porém, com ardor, a trabalhos intelectuais.

Pelos trabalhos na Criméia, recebe um prêmio do Governo Inglês e, graças a este prêmio, consegue iniciar o que para ela é a única maneira de mudar os destinos da Enfermagem – uma Escola de Enfermagem em 1859.

Após a guerra, Florence fundou uma escola de Enfermagem no Hospital Saint Thomas, que passou a servir de modelo para as demais escolas que foram fundadas posteriormente. A disciplina rigorosa, do tipo militar, era uma das características da escola nightingaleana, bem como a exigência de qualidades morais das candidatas. O curso, de um ano de duração, consistia em aulas diárias ministradas por médicos.

Nas primeiras escolas de Enfermagem o médico foi, de fato, a única pessoa qualificada para ensinar. A ele cabia então decidir quais das suas funções poderia colocar nas mãos das enfermeiras Florence morre a 13 de agosto de 1910, deixando florescente o ensino de Enfermagem. Assim a Enfermagem surge não mais como uma atividade empírica, desvinculada do saber especializado, mas como uma ocupação assalariada que vem atender a necessidade de mão-de-obra nos hospitais, constituindo-se como uma prática social institucionalizada e específica.

Juramento da Florence

“Juro, livre e solenemente, dedicar minha vida profissional a serviço da pessoa humana, exercendo a enfermagem com consciência e dedicação; guardar sem desfalecimento os segredos que me forem confiados, respeitando a vida desde a concepção até a morte; não participar voluntariamente de atos que coloquem em risco a integridade física ou psíquica do ser humano; manter e elevar os ideais de minha profissão, obedecendo aos preceitos da ética e da moral, preservando sua honra, seu prestígio e suas tradições.”

segunda-feira, 6 de junho de 2016

Psicologia Cognitiva



Segundo (STENBERG, 2000, p.22) a psicologia cognitiva trata do modo como as pessoas percebem, aprendem, recordam e pensam sobre a informação. Por exemplo, o que é estudado em um livro didático sobre psicologia cognitiva?

a) Cognição - As pessoas pensam;

b) Psicologia cognitiva - Os cientistas pensam a respeito de como as pessoas pensam;

c) Estudantes de psicologia cognitiva- As pessoas pensam sobre a maneira como os cientistas pensam a respeito de como as pessoas pensam;

d) Professores que ensinam psicologia cognitiva aos estudantes - Você capta a ideia.

Para a Gestalt, o elemento fundamental estrutura do processo cognitivo é o insight (percepção de relações), base de toda a aprendizagem.

Um dos principais representantes desta linha é Piaget, que não elaborou uma teoria da aprendizagem, mas sim uma teoria do desenvolvimento mental. Para ele a aprendizagem é "aumento do conhecimento"- só há aprendizagem quando o esquema de assimilação sofre acomodação. Ou seja: uma reestruturação da estrutura cognitiva (esquemas de assimilação existentes) do indivíduo, o que resulta em novos esquemas de assimilação mental.

Para Ausubel, a aprendizagem significa organização e integração do material na estrutura cognitiva. Admite a existência de uma estrutura na qual a organização e a integração de ideias se processam. A experiência cognitiva é caracterizada por um processo de integração no qual os conceitos novos se interagem com os já existentes na estrutura cognitiva, integrando o novo material e, ao mesmo tempo, modificando-se.

Condição importante para haja aprendizagem, o aprendiz deve manifestar disposição para relacionar de forma substantiva o novo material à sua estrutura cognitiva.

Bruner parte do conceito de que aprendizagem é modificação do comportamento resultante da experiência.

Abaixo serão apresentados os resumos das teorias de aprendizagem apresentadas no texto:


Epistemologia Genética (J. Piaget)

O conceito de estrutura cognitiva é central para a teoria de Piaget. Estruturas cognitivas são padrões de ação física e mental subjacentes a atos específicos de inteligência e correspondem a estágios do desenvolvimento infantil. Existem quatro estruturas cognitivas primárias - estágios de desenvolvimento - de acordo com Piaget: sensorial-motor, pré-operações, operações concretas e operações formais. No estágio sensorial-motor (0-2 anos), a inteligência assume a forma de ações motoras. A inteligência no período pré-operação (3-7 anos) é de natureza intuitiva. A estrutura cognitiva durante o estágio de operações concretas (8-11 anos) é lógica, mas depende de referências concretas. No estágio final de operações formais (12-15 anos), pensar envolve abstrações.

As estruturas cognitivas mudam através dos processos de adaptação: assimilação e acomodação. A assimilação envolve a interpretação de eventos em termos de estruturas cognitivas existentes, enquanto que a acomodação se refere à mudança da estrutura cognitiva para compreender o meio. O desenvolvimento cognitivo consiste de um esforço constante para se adaptar ao meio em termos de assimilação e acomodação. Nesse sentido, a teoria de Piaget é similar a outras teorias de aprendizagem construtivistas como as Bruner e Vygotsky.

Embora os estágios de desenvolvimento cognitivo identificados por Piaget estejam associados a faixas de idade, eles variam para cada indivíduo. Além disso, cada estágio tem diversas formas estruturais detalhadas. Basta observar que o período operacional concreto tem mais de quarenta estruturas distintas, cobrindo classificação e relações, relações espaciais, tempo, movimento, oportunidade, número, conservação e medida. Uma análise detalhada similar das funções intelectuais é fornecida por teorias de inteligência, como Guilford, Gardner e Sternberg.

Piaget explorou as implicações de sua teoria em todos os aspectos do desenvolvimento da cognição, inteligência e moral. Muitos dos experimentos de Piaget foram focalizados no desenvolvimento de conceitos matemáticos e lógicos. A teoria foi bastante aplicada no modelo de prática de ensino e de currículo na educação elementar (Bybee & Sund, 1982; Wadsworth, 1978).

O desenvolvimento cognitivo tem como facilitador atividades ou situações que envolvam os aprendizes e que requeiram adaptação destes. Os materiais de aprendizado e atividades devem envolver um nível apropriado de operações motoras ou mentais para uma criança de uma dada idade. É preciso evitar o pedido para que os aprendizes realizem tarefas que estejam além de suas capacidades cognitivas atuais.

Teoria Construtivista (J. Bruner)

Bruner afirma que o aprendizado é um processo ativo, no qual o aprendiz constrói novas idéias ou conceitos, baseado em seus conhecimentos prévios e os que estão sendo estudados, baseado em sua estrutura mental inata. O aprendiz filtra e transforma a nova informação, infere hipóteses e toma decisões, utilizando uma estrutura cognitiva. Essa estrutura cognitiva - esquemas e modelos mentais - fornece significado e organização para as novas experiências, permitindo ao aprendiz enriquecer seu conhecimento além do conceito estudado, através do relacionamento das novas informações com seus conhecimentos prévios.

O papel do instrutor é o de incentivador dos alunos no sentido de descobrirem por si mesmos os princípios do conteúdo a ser aprendido. O instrutor e o aluno devem manter um diálogo ativo, através do qual o instrutor traduz a informação a ser aprendida em um formato adequado à compreensão do aluno. O currículo deve ser organizado em espiral, para que o aluno construa continuamente sobre o que já aprendeu. O aluno vai descobrir aquilo que já existe em sua estrutura cognitiva. O professor não é apenas um passador de informação.

Teoria da Inclusão (D. Ausubel)

Ausubel preocupa-se com a aprendizagem que ocorre na sala de aula da escola. O fator mais importante de aprendizagem é o que o aluno já sabe. Para que ocorra a aprendizagem, conceitos relevantes e inclusivos devem estar claros e disponíveis na estrutura cognitiva do indivíduo, funcionando como ponto de ancoragem. Ausubel está interessado em saber como os indivíduos aprendem grandes quantidades de material significativo por meio de apresentações verbais/textuais em um quadro escolar. Um processo primário em aprendizado é a inclusão, na qual o conhecimento novo é relacionado com as idéias relevantes da estrutura cognitiva existente em uma base substantiva. As estruturas cognitivas representam o resíduo de todas as experiências de aprendizado. A aprendizagem ocorre quando uma nova informação ancora-se em conceitos ou proposições relevantes preexistentes na estrutura cognitiva do indivíduo. O armazenamento de informações no cérebro é altamente organizado formando uma hierarquia na qual elementos mais específicos de conhecimentos são ligados ( = assimilados) a conceitos mais gerais, mais inclusivos.

Ausubel recomenda o uso de organizadores prévios que sirvam de âncora para a nova aprendizagem e levem ao desenvolvimento de conceitos classificadores que facilitem a aprendizagem subseqüente .

Organizadores prévios são materiais introdutórios apresentados antes do material a ser aprendido em si. Sua principal função é de servir de ponte entre o que o aprendiz já sabe e o que ele deve saber a fim de que o material possa ser aprendido de forma significativa. Facilitam a aprendizagem na medida em que funcionam como "pontes cognitivas".

"A essência do processo de aprendizagem significativa é que idéias simbolicamente expressas sejam relacionadas de maneira substantiva (não literal) e não arbitrária ao que o aprendiz já sabe, ou seja, a algum aspecto de sua estrutura cognitiva especificamente relevante para a aprendizagem dessas idéias. Este aspecto especificamente relevante pode ser, por exemplo, uma imagem , um símbolo, um conceito, uma proposição, já significativo".

Ausubel (1978,p.41): "As idéias mais gerais de um assunto devem ser apresentadas primeiro e, depois, progressivamente diferenciadas em termos de detalhe e especificidade. Os materiais de instrução devem tentar integrar o material novo com a informação anteriormente apresentada por meio de comparações e referências cruzadas de idéias novas e antigas."

sábado, 4 de junho de 2016

Civilização Paquimé. PARTE II



Paquimé, Casas Grandes, é uma zona arqueológica situada no noroeste do estado de Chihuahua, no México. Este local, nomeado Património da Humanidade pela Unesco em 1998, caracteriza-se pelas suas construções em terra argilosa e as suas portas em forma de "T".
Paquimé atingiu o seu apogeu nos séculos 14 e 15 e desempenhou um papel-chave no comércio e contatos culturais entre a cultura Pueblo do sudoeste dos Estados Unidos e norte do México e as civilizações mais avançadas da Mesoamérica. Os extensos vestígios arqueológicos, de que apenas parte foram descobertos, são uma clara evidência da vitalidade de uma cultura perfeitamente adaptada ao meio envolvente, mas que de repente se eclipsou durante a época da conquista espanhola.

Descrição histórica

A chamada Cultura Pueblo do sudoeste dos Estados Unidos da América, com uma economia baseada na agricultura,  espalhou-se lentamente para sul durante o primeiro milénio dC. No século VIII,  no local de Casas Grandes, a noroeste de Chihuahua, foi fundada uma aldeia composta por construções escavadas,  por populações Mogollon do Novo México.



Paquimé desenvolveu-se lentamente até meados do século XII, quando passou por uma dramática expansão e alterações culturais.

As construções escavadas foram substituídas por estruturas mais elaboradas, acima do solo, em adobe e com um desenho complexo. A presença de elementos como as plataformas, campos de jogos, um sofisticado sistema de distribuição de água e edifícios de armazenamento especializados para produtos exóticos, como araras e perus, artefatos com conchas, cobre e agave indica influências das civilizações mais avançadas da Mesomérica. Resiste ainda hoje a incerteza entre os arqueólogos sobre se isso terá representado uma invasão do sul ou uma expansão indígena para lidar com um elevado volume de comércio.Paquimé tornou-se um grande centro de comércio, ligada a um extenso número de pequenos aglomerados em torno dele. Estima-se que a população durante o período de prosperidade, nos séculos XIV e início de XV, com cerca de 10 mil habitantes, tornando-se uma das maiores aglomerações proto-urbanas  da América do norte.



Após a conquista espanhola do México foi imposta à região uma nova estrutura social e econômica centrada no modelo europeu, na qual Paquimé não participou. O declínio rápido relatado pelos exploradores espanhóis refere apenas pequenas comunidades agrícolas a noroeste de Chihuahua. A ruptura final surge no final do século XVII, quando a colonização espanhola intensiva da área resultou no êxodo dos habitantes sobreviventes.



sexta-feira, 3 de junho de 2016

Civilização Paquimé. PARTE I.


Vista área da cidade de Paquimé.

Paquimé localiza-se em Casas Grandes, Chihuahua, no México. Paquimé, no norte do México, tinha edifícios de sete andares, climatizados, e um sofisticado sistema hidráulico, em pleno século XIII. A cidade de barro é um mistério que até hoje os arqueólogos não sabem explicar. É um Patrimônio Mundial da Unesco desde 1998.

Paquimé, que atingiu o seu apogeu nos séculos XIV e XV, teve um papel fundamental no comércio e nos contactos entre a cultura de Pueblo (que viviam no noroeste dos Estados Unidos e norte do México) e as culturas mais avançadas da Mesoamérica. As ruínas são uma clara prova da vitalidade de uma cultura que foi perfeitamente adaptada ao seu ambiente físico e económico, mas que desapareceu no tempo da Conquista Espanhola.


Os espanhóis que chegaram em 1556 ao deserto de Chihuahua, no norte do México, já encontraram Paquimé em ruínas. A cidade foi abandonada no ano 1340, depois de incendiada por um ataque dos índios ópatas, que vieram do norte, provavelmente de onde fica hoje o Estado do Novo México, nos Estados Unidos. Para os europeus, Paquimé era uma das sete cidades de Cíbola, um suposto reino mítico existente no Novo Mundo que os invasores imaginavam repleto de ouro.


O ouro nunca apareceu, mas os edifícios de argila com sete andares, o labirinto de ruas e os muros curvos continuam a intrigar os arqueólogos. A civilização paquimense é praticamente desconhecida. Sabe-se que tem parentesco remoto com os povos anasazi, do Colorado, nos Estados Unidos, e hopi, do Novo México: todos eles construíam vilas de barro, que ficaram conhecidas por “pueblos”.

Ar refrigerado ambiental

O que distingue Paquimé é o prodígio da climatização das casas em um deserto onde a temperatura oscila de 10 graus centígrados negativos a 45 positivos ao longo do ano. As paredes têm 75 centímetros de largura e, com isso, bloqueiam o calor. As casas estão voltadas para o sol da manhã e ficam na sombra durante a quentura da tarde. A pintura, em tons pastel, branco, rosa e verde, reflete a luz do sol, sem absorvê-la. Pequenas janelas, no alto das paredes, garantem o máximo de ventilação e o mínimo de insolação. Até parece ar-refrigerado.


Os paquimenses também eram bons de hidráulica. A cidade possuía água em abundância, trazida do Rio Casas Grandes por um canal de 8 quilômetros. Havia aquedutos atravessando praças, poços e um reservatório, onde a água era filtrada em um tanque de sedimentação formado com camadas de seixos, cascalho e areia para absorver as impurezas. “Havia até uma roda com pás, que mantinha a água em movimento para evitar a estagnação e a putrefação”, diz o arqueólogo inglês Ben Brown, do Instituto Nacional de Antropologia e Arqueologia do México. “Eles tinham confortos de que muita gente ainda carece no mundo moderno.”

Construtores buscavam conchas a 300 quilômetros

Arqueólogos escavaram Paquimé em 1958 e 1961. Acharam indícios de ocupação humana desde antes da era cristã. Os paquimenses seriam descendentes dos povos mogollón, que se fixaram no rio Casas Grandes. A cidade teve seu apogeu entre 1261 e 1340. Aparentemente, depois da destruição, um clã paquimense, os patki, migrou para o norte e fundiu-se aos hopis do Novo México, onde ainda hoje existe o clã palatkwabi.


O mais intrigante, porém, é a engenharia que possuíam. Os paquimenses conheciam a fundo os materiais de construção e as técnicas de proporção e misturas. As paredes de terra argilosa e cascalho não têm material orgânico, como palha, ramos ou esterco, comum nos adobes antigos. São mais resistentes. Espantados, os arqueólogos encontraram 4 milhões de conchas da espécie nassarius, que eram pulverizadas e misturadas para impermeabilizar o revestimento das casas. O surpreendente é que elas foram trazidas do Golfo da Califórnia, que fica a 300 quilômetros de Paquimé.


Concepção artística de Paquimé em seu auge. 

Construindo História Hoje


Construindo História Hoje, 
o conhecimento histórico
 ao seu alcance!

O experimento “Universo 25”





Desde décadas atrás, pesquisadores vêm alertando sobre os riscos à humanidade que a superpopulação pode trazer. E de volta em 1972, o cientista John Calhoun elaborou um famoso experimento com ratos. Ele construiu um paraíso para os animais – um grande cenário com edifícios e alimentos ilimitados. De início, o cientista introduziu apenas 8 ratos a população. Dois anos depois, um inferno surgiu.

O enorme cenário, conhecido como Universo 25, foi feito com o objetivo de ser uma utopia roedora. Mas com o passar do tempo, a caixa, com suas rampas que iam até os apartamentos, foi ficando superlotada. No dia 560 do experimento, a população era de 2.200 animais. Foi o auge. Daí em diante, a população foi diminuindo até ser extinta. Por que isso aconteceu?

No auge da população roedora, os raros passavam todo instante com centenas de outros colegas. Reuniam-se nas principais praças para serem alimentados, e não era difícil os ver se atacando. Poucas fêmeas conseguiam dar a luz, e as que faziam simplesmente abandonavam seus filhotes.

Chegou um momento que os ratos não faziam nada além de comer ou dormir. Quando a população foi diminuindo, os sobreviventes perderam totalmente seus comportamentos sociais, como ter relações sexuais ou cuidar da prole.

Será que a humanidade pode ter o mesmo fim? O controverso experimento na época foi algo assustador, pois concluiu que se a fome não matar todo mundo, os indivíduos da espécie vão se destruir mutuamente.

Agora, um estudo recente resgatou da memória o Universo 25 e concluiu que, no geral, o cenário não era superlotado. Os apartamentos em cada corredor dos edifícios tinham somente uma entrada e saída, o que os faziam fáceis de guardar. Isso fez com que os machos territoriais limitassem o número de animais em cada apartamento, o que fazia superlotar o restante da caixa.

Portanto, ao invés de superpopulação, cientistas agora argumentam que o Universo 25 possuía um problema de distribuição, algo que, segundo os pesquisadores, também pode acontecer com os humanos, que são exímios em desigualdade.           


terça-feira, 31 de maio de 2016

Por dentro dos zigurates.


Plano do zigurate de Ur construído por Ur-Nammu. Construído com tijolo de adobe seco ao sol, tinha uma grossa camada externa de tijolo cozido. Conservaram-se partes dos níveis inferiores. O aspecto geral foi reconstruído a partir das figuras encontradas em relevos e em selos.

Os zigurates eram um dos elementos mais característicos da antiga Mesopotâmia. Em muitas cidades o templo do deus tutelar compreendia um zigurate que constava de uma série de plataformas sobrepostas, em cima dos quais havia um templo. Os templos erigidos sobre plataformas já se encontram no período Ubaid em Eridu, por volta do quinto milênio a.C. os primeiros zigurates verdadeiros foram construídos por Ur-Nammum (2112-2095 a.C.),  primeiro rei da Terceira Dinastia de Ur, em Ur, Eridu, Uruk e Nippur. A planta era semelhante em todos eles, com uma base retangular, três escalinatas que se cruzavam em ângulo reto e que conduziam ao templo alto. Esta é a lanta do zigurate mais famoso de todos, o do deus Marduk, na Babilônia, que deu origem à história da Torre de Babel. Tinha o nome de Etemenanki, que significa “o templo da fundação do céu e da terra”, e foi começando no século XVII a.C.

Não se conhece a natureza exata das cerimônias que se desenvolviam no alto santuário. O historiador grego Heródoto, que descreveu em pormenor o zigurate da Babilônia, dizia que ali se celebravam as núpcias sagradas de uma sacerdotisa com o deus (que talvez estivesse representado na pessoa do rei ) nu ritual destinado a assegurar a prosperidade futura do país.



Os restos de zigurates foram encontrados em 16 jazigos; outros são conhecidos pelos textos (como o de Agadé, que não se sabe exatamente onde estava) ou pela forma das ruínas. Havia dois tipos principais de zigurate: um tipo do S., mais antigo, que tinha uma plataforma retangular e três escalinatas, e um tipo de nortenho, posterior, sem escalinatas, em que o templos costumava ser parte de um grande complexo. A construção do zigurate no jazigo elamita de Al-Untas-Napirisa (meados do séc. XIII a.C.) é excepcional. Encheu-se um pátio quadrado (com salas à volta) para construir um zigurate alto. As escadas dos quatros lados estavam dentro da estrutura.



A forma dos zigurates era parecida com as pirâmides do Egito, como a pirâmide escalonada de Saqqara (acima, figura), mas a sua função era diferente. As pirâmides eram túmulos, onde a câmara mortuária estava oculta no centro do monumento, sem estrutura por cima. Os zigurates eram sólidas construções de tijolo coroadas por um templo; parecem-se mais aos templos da América Central, como o de Chichén Itzá (figura inferior). É possível, contudo, que a ideia de uma grande estrutura piramidal tivesse vindo do Egito.


Plano reconstruído do templo e zigurate de Tell al-Rimah, provavelmente a antiga Qatara. É provável que fosse construído em tempos de Samsi-Adad I(por volta de 1800 a.C.). ao contrário do tipo anterior do S., que tinha três escalinatas, o zigurate formava parte do edifício do templo e do santuário mais alto chegara até ao teto do templo do pátio.



Em cima: O zigurate da capital assíria de Dur-Sarrukin foi um dos que forma descobertos anteriormente. Julgava-se que um caminho em espiral conduzia até à cúspide e que os três níveis inferiores estavam pintados de branco, negro e vermelho. Os níveis superiores não foram conservados, mas, segundo a combinação normal de cores, teriam sido azul, laranja, prateada e dourada.

sábado, 28 de maio de 2016

Cirurgias e mumificação no antigo Egito



A mumificação

Um dos melhores exemplos da engenhosidade dos antigos egípcios é a mumificação, que ilustra o conhecimento profundo que tinham de inúmeras ciências, como a física, a química, a medicina e a cirurgia. Esse conhecimento era resultado do acúmulo de uma longa experiência. Por exemplo, à descoberta das propriedades químicas do natrão – encontrado em certas regiões do Egito, em particular no Uadi El-Natrum – seguiu-se a utilização das mesmas no cumprimento prático das exigências da crença na vida além-túmulo. Preservar o corpo humano era uma forma de dar realidade à crença. Análises recentes revelaram que o natrão se compõe de uma mistura de carbonato de sódio, bicarbonato de sódio, sal e sulfato de sódio. Os antigos egípcios conheciam portanto, as funções químicas dessas substâncias. No processo de mumificação, o corpo era embebido em natrão durante setenta dias. O cérebro era extraído pelas narinas, e os intestinos removidos através de uma incisão num dos lados do corpo. Operações desse tipo exigiam um acurado conhecimento de anatomia, queé e ilustrado pelo bom estado de conservação das múmias.

A Cirurgia

Foram sem dúvida os conhecimentos adquiridos com a prática da mumificação que permitiram aos egípcios o desenvolvimento de técnicas cirúrgicas desde os primeiros tempos de sua história. A cirurgia egípcia é, com efeito, bastante conhecida graças ao Papiro Smith, cópia de um original escrito durante o Antigo Império, entre – 2600 e – 2400, um verdadeiro tratado sobre cirurgia dos ossos e patologia externa. Quarenta e oito casos são examinados sistematicamente. Em cada um deles, o autor do tratado começa o estudo com um título geral: “Instruções acerca de {tal e tal caso}”. Segue-se então uma descrição clínica:  “Se observares [tais sintomas]”. As descrições são invariavelmente precisas e incisivas, seguidas de um diagnostico: “Em relação a isso, dirás: um caso de [tal e tal lesão]”, e, dependendo do caso, “um caso que poderei tratar” ou “um caso que não tem remédio”. Se o cirurgião pode tratar o paciente,o tratamento a ser administrado é então explicado em detalhes; por exemplo:  “no primeiro dia, deves usar um pedaço de carne como bandagem; depois, deves colocar duas tiras de tecido de modo a juntar os lábios da ferida...”
Ainda hoje são aplicados vários tratamentos indicados no Papiro Smith.
Os cirurgiões egípcios sabiam suturar ferimentos e curar fraturas empregando talas de madeira ou de cartonagem. Algumas vezes, o cirurgião simplesmente recomendava que se permitisse à natureza seguir os seu próprio curso. Em dois exemplos, o Papiro Smith instrui o paciente a manter sua dieta normal.

Dos casos estudados pelo Papiro Smith, a maioria se refere a lacerações superficiais do crânio ou da face. Há também casos de lesão dos ossos ou das juntas, como contusões das vértebras cervicais ou espinhais, luxações, perfurações do crânio ou do esterno, e diversas fraturas que afetam o nariz, o maxilar, a clavícula, o úmero, as costelas, o crânio e as vértebras. Exames nas múmias revelaram vestígios de cirurgia, como é o caso do maxilar (datado do Antigo Império) em que foram praticados dois orifícios para drenar um abscesso, ou do crânio fraturado por golpe de machado ou espada e recomposto com sucesso. Existem também indícios de tratamentos dentários, como obturações feitas com um cimento mineral; há uma múmia que apresenta uma espécie de ponte feita de ouro ligando dois dentes pouco firmes.

Por sua abordagem metódica, o Papiro Smith serve como testemunho  da habilidade dos cirurgiões do antigo Egito, habilidade que, supõe-se, foi transmitida pouco a pouco à África, à Ásia e à Antiguidade clássica pelos médicos que acompanhavam as expedições egípcias aos países estrangeiros.