sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Marcha Fúnebre (Madrugada do Espírito,1931)



O mundo moderno perdeu o senso puro da alegria. Porque confundiu a alegria com o prazer. E tendo esgotado todos os prazeres, caminhou para a morte e o aniquilamento.

A liberdade política transformou-se em liberdade moral e essa criou a liberdade dos instintos. O subconsciente cresceu sobre o consciente e clamou pelos seus direitos. Era o mundo ignorado, o segundo plano confuso e impreciso que se trans¬portava ampliando-se como uma escuridão que avulta sobre a inteligência.

Proclamada a libertação de todos os limbos desconhecidos, entrou pela alma do homem moderno o tropel alucinante das formas de pensamento, em estado de elaboração, fantasmal e trágico. O mundo subconsciente (caos gerador ensaiando as expressões em lineamentos disparatados como fetos informes e monstruosos) veio dominar o sentido da vida contemporânea com a violência de forças brutais desencadeadas.

Forças sem governo, forças desordenadas, heterogêneas, sem direção. Forças telúricas do mundo interior, amorfas, nebulosas, de ritmos fragmentários, dissociantes.

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O fenômeno que se dera com as antigas civilizações arra¬sadas pelos bárbaros repetiu-se de maneira inversa, dentro do próprio homem. Pois todo esse caos que a consciência disciplinava era contido pela pressão de uma força exterior dominadora. O século da máquina virou a alma pelo avesso, porque, tendo-se esta libertado do que se denominou o "terror cósmico", que mantinha o equilíbrio contendo a deflagração das energias interiores, viu-se, subitamente, dominada pelos estranhos duendes larvais, dos instintos desenfreados.

A alma foi invadida pelos hunos dos seus próprios recessos...

A isso fora o homem levado pela sede de liberdade. Essa liberdade chegou às suas últimas conseqüências. E de tal forma, que o pobre títere humano perdeu o sentido dela.

O homem já não sabe exatamente o que significa ser livre.

Pugnando pela progressão infinita do direito de se afirmar e de agir, acaba negando a própria personalidade e adotando o senso do coletivismo, aceita a subordinação do indivíduo à feição de um grande todo social.

Esse mesmo homem, que ergueu audaciosamente a cabeça para negar a metafísica, e substituiu a teologia pela crítica, o espiritualismo pelo materialismo, o sentimento da disciplina pela utilidade da disciplina, foi prosseguindo de tal forma que acabou por aceitar uma nova metafísica, criando o deus-coletividade, o misticismo da negação, o cativeiro social em nome de uma coisa tão vaga como o paraíso sonhado e uma humanidade mecânica.

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De sorte que o homem moderno retornou ao estado de espírito anterior ao monoteísmo e à revelação cristã, para viver apavorado diante dos elementos. Pois, se hoje já não treme diante dos trovões e dos raios começa a tremer e vai até ao delírio, sentindo o rumor "freudiano" do seu subconsciente em tropel, que ele procura decifrar através da psicanálise, como outrora os povos primitivos procuravam conhecer o mundo ex¬terior através dos seus sortilégios e superstições.

E, do mesmo modo que o troglodita recuava apavorado diante de uma tempestade, o "gentleman" recua hoje atordoado diante do seu próprio complexo, que é tão grande ou tão pe¬queno, ou pelo menos tão incondicional à inteligência, como as complexas nebulosas no infinito do tempo e do espaço.

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Quem ouvir um marxista, dos mais conhecedores da sua doutrina, discorrer sobre a teoria dos movimentos e das relações da matéria, sobre os processos dialéticos, sobre a concepção evolucionista da natureza, ficará pasmado diante das abstrações a que a sua inteligência é conduzida e dos planos metafísicos em que o raciocínio vai agir, usando da mesma força criadora com que o homem da caverna, perdida a luz da graça, ideali¬zava os seus primeiros deuses. E quem atentar melhor sobre os sentimentos que animam o prosélito de Marx, verificará que esse sentimento, analisado à luz crua da crítica, tem muito de misticismo e até de feiticismo.

É o homem, de novo, sob o domínio do terror, que pre¬cedeu o monoteísmo e o cristianismo e de onde se originou todo o pavor do infinito.

Tal é o fundo espiritual desta civilização, que finge desde¬nhar do problema da causa e do fim. Essa a expressão do burguesismo libertário, do capitalismo científico, do anarquismo e do socialismo.

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O equilíbrio do Homem e do seu "sentimento do Universo" provinha exatamente do equilíbrio entre as duas forças, uma que está dentro, outra que está fora de si.

Anulada uma, desaparecida a pressão exterior, rompe-se o equilíbrio e efetiva-se o desdobramento dos planos interiores. É o mundo dos instintos, são as formas larvares do pensamento, que passara a dominar sobre o homem moderno.

Esses espectros de ideias conduzem o homem contemporâneo à interpretação errônea da alegria e do sentimento do prazer e da dor.

Tudo se indefine. O prazer passa a ser uma forma de sensação, sem limites bem traçados com a dor. É uma dor bastarda, como afirmaria um notável escritor brasileiro. E, como todos os planos morais, estéticos e políticos se baseiam na concepção do bem e do mal do agradável e do desagradável, do útil e do inútil, do feio e do belo, e uma vez que o mundo caótico dos instintos estabeleceu o tumulto crítico, a Humanidade vai hoje caminhando sem disciplina, entregue a essas forças bárbaras que arrastam a todas as degradações e a todos os crimes.

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Não admira que se afirme que a moral é um ponto de vista. Não admira que se dê hoje ao amor entre o homem e a mulher uma finalidade puramente egoísta. Não admira que se queira anular a personalidade em nome do individualismo. Nem que se queira fazer uma coletividade infeliz, em holocausto a uma pura ideia abstrata, a uma pura concepção ideal de coletividade feliz. Nem, ainda, que se persigam as religiões em nome da liberdade. Que se venham mais tarde a perseguir os próprios indivíduos que clamarem pela liberdade, em nome dessa própria liberdade. Que se atente contra a afirmação integral do amor entre o homem e a mulher, em nome da liberdade do prazer. Que se negue o direito dos pais, em nome da justiça social e dos interesses de uma ideal coletividade. Não admira ainda que se suprima a propriedade em nome dos próprios direitos da propriedade, como faz o capitalismo, como pretende fazer o comunismo. Nem espanta que desapareçam todas as garantias da lealdade e da honra, quando todos estão certos que a moral não passa de um ponto de vista.

É que o Homem perdeu o senso do equilíbrio. E, perdendo esse equilíbrio, torna-se um instrumento imperfeito de interpretação do Universo e dos seus fenômenos.

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Estamos vivendo o grande período humano da confusão. E, nesse estado de espírito, o Homem é triste. Profundamente triste. Todas as suas barulhentas expressões exteriores não passam de dissimulações.

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Anasazi, “a tribo dos antigos”.



Chaco Canyon, Chetro Keti, Grande Praça Kiva (National Park Service). Imagem: Obiviousmag.

            Os Anasazi eram um antigo povo indígena do sudeste norte americano que viveram apartir do ano 1.200 a.C. e desapareceram repentinamente por volta de 1300 d.C. Este antigo povo desenvolveu uma civilização complexa de grandes comunidades inter-relacionadas. Os Anasazi evoluíram de nômades, que viviam em habitações temporárias, até se tornarem agricultores. Com o tempo, criaram enormes construções de pedra com algumas de até cinco andares e moradias em penhascos. Não se sabe o que os levou a abandonar tudo. Alguns pensam que uma grave seca ocorrida em 1275-1300 d.C foi um fator importante na sua partida. O pó do deserto no sudoeste da América, a arte da cerâmica, o som harmônico da flauta e lugares de culto relembram uma das civilizações indígenas mais antigas – os Anasazi. O rasto destes antepassados procura água, paz e sobrevivência pelos Estados de Utah, Colorado, Arizona e Novo México.

            Siga as pegadas e conheça o ADN desses gênios da arquitetura, artesãos e potenciais astrônomos. Anasazi é o termo utilizado para designar “os antigos” ou “antigos inimigos” pelos Navajos, uma tribo indígena da América do Norte. Possíveis antecessores e detentores das instruções genéticas dos índios Hopi, os Anasazi são também rotulados como Hisatsinom (“os antigos”). Os nômades do sudoeste dos atuais EUA (Utah, Arizona e Novo México) testam a sua sobrevivência em lugares inóspitos, desertos e montanhosos.

            No Novo México encontra-se o berço da civilização pré-histórica Anasazi: Canyon Chaco. É aqui que estão as primeiras habitações desta tribo. Pueblo Bonito é não só a maior casa, como também a mais conhecida. Pedra e madeira eram transportadas pela própria comunidade a fim de edificar todas estas obras de uma engenharia, desenho e geometria complexa. Conta-se que estas amplas habitações circulares atraíam pequenos povos agrícolas que sobreviviam à base do cultivo de cereal e procuravam água. O cenário de Canyon Chaco nem sempre foi desértico e o lugar chegou a ser popular em períodos de mais chuva. No interior de Pueblo Bonito, há diferentes compartimentos que funcionam como o epicentro de rituais religiosos – as Kivas. Aqui ouviam-se os sons dos tambores e cânticos divinos, sentia-se o calor da fogueira e acompanhavam-se os ritmos das danças. Rezas de chuva e campos férteis invocavam o desejo pelo alimento. Porém, não eram só os rituais que sustentavam as suas crenças. Era, também, a arquitetura baseada nas estrelas.
            Alguns investigadores como, Gary David, em The Orion Zone, e arqueólogos defendem que a disposição geográfica das kivas, das janelas e o desenho da construção dos Anasazi espelham os movimentos dos corpos celestes, representando a constelação Orion. As habitações monitorizam as posições do sol e advinham o (des)equilíbrio da Terra, como um calendário arquitetônico-celestial. É possível que o povo Anasazi tenha, ainda, obervado a supernova que formou a Nebulosa do Caranguejo. Os Anasazi tiveram que partir quando Canyon Chacon cobriu-se de pó e a seca predominou. A leitura dos anéis dos troncos das árvore ainda presentes no monumento revelam que tem decrescido o valor da precipitação desde o ano de 1130. O clima desfavorável, a perda da estrutura de poder do povo e o acreditar que estavam em desequilíbrio com a Natureza apresentam-se como possíveis razões da sua migração para outro local.

            Próxima parada? Novo México, Aztec. O povo Anasazi voltou a reconstruir as suas habitações. Contudo, a natureza arbórea e verdejante não foi suficientes para esta civilização estabelecer raízes no local.   Sul do Colorado, Mesa Verde. As terras são férteis mas o local que enraíza a população é de difícil acesso. Apesar das típicas portas em forma de T e da presença das Kivas, Mesa Verde acaba por ser uma compressão das habitações em Canyon Chaco e Aztec. Escadas em pedra dão acesso ao aperto dos diferentes compartimentos. Que medos e inseguranças esconde esta comunidade? A resposta talvez se encontre em imagens simbólicas, fatos e mitos gravados nas rochas – os petróglifos. Combates, pontas de lança, escudos, guerreiros e caveiras são algumas das imagens. Alguns dos elementos são objetos de atração da chuva. Mas há segredos nesta sociedade desesperada, levada ao limite. Há quem se aproveitasse da bruxaria e das forças malignas para desenvolver práticas de canibalismo. O destino final é a floresta de Utah, onde se encontram os últimos vestígios desta comunidade. Neste local há as mesmas escadas pré-históricas, a aproximação aos recursos naturais, os petróglifos e a mesma cultura vibrante e defensiva.

            As pegadas de Anasazi param neste local, em meados do século XIV d.C. A tribo Hopi ainda mantém contacto com a época dos seus antepassados. A arte de trabalhar a cerâmica, a dança do búfalo, o equilíbrio do vaso na cabeça das mulheres para transportar água e os amuletos fazem parte desta cultura. Já se falou que o povo Zuni e Hopi – índios pueblo – seriam descendentes dos Anasazi, porém nunca foi provada a ligação genética entre eles. 

domingo, 11 de janeiro de 2015

Arqueologia brasileira: do privado ao público


            A Arqueologia brasileira do século XIX se encerra dentro do contexto nacionalista romântico, da valorização das origens de um povo. Na prática, seu objetivo era conferir nobreza ao passado de um lugar chamado Brasil, nação recém-nascida a quem o governo imperial procurava atribuir caráter de civilização (BARRETO, 1999-2000; FERREIRA, 2003; FUNARI, 2003; GUIMARÃES, 1988). As pesquisas arqueológicas da época dedicavam-se, portanto, a estudar povos indígenas e a buscar os vestígios de arquitetura monumental que confirmariam a tese de que os indígenas seriam a degeneração de uma grande civilização do passado. Esta suposta civilização seria a colonizadora do continente, e esta ideia delimitava temática e temporalmente as pesquisas arqueológicas. O estudo de épocas anteriores caberia à História Natural, ciência que buscava compreender do ponto de vista paleoambiental a evolução ou sucessão de eras geológicas.

            Dessa forma, a construção da ideia de uma pré-história americana, no século XIX, esbarrava em limitações metodológicas, mas, sobretudo em impedimentos de ordem ideológica. Isto pois, por mais que se considerasse alheios ao pensamento mitológico, quase não havia espaço entre os pressupostos da ciência da época que admitisse uma ocupação humana do continente americano em tempos remotos.

          A prática arqueológica era realizada por colecionadores, intelectuais amadores, curiosos e museus, que o faziam sem leis específicas ou regulamentações, mesmo após a elevação da Arqueologia ao status científico, conferido pelo IHGB em 1847. No âmbito privado, era encarada como uma atividade de prestígio, um hobby, mas também um indicador de refinamento. Não era incomum o trânsito internacional de peças arqueológicas raras, oriundas de escavações pela Grécia ou Egito, por exemplo, a fim de adornarem galerias e salões particulares.

            Por outro lado, as explorações arqueológicas científicas eram essencialmente fundamentadas em hipóteses criacionistas. Os princípios norteadores destas pesquisas buscavam quase sempre constatar a veracidade dos relatos bíblicos da criação, ainda que vestígios paleogeológicos testemunhassem fortemente contra a cronologia estabelecida pela Bíblia e pela Igreja. Quando Peter Lund realizou suas primeiras descobertas no carste de Lagoa Santa (MG), nos idos da década de 1840, seus achados atestaram evidências da convivência de seres humanos com “as grandes bestas extinctas”. Suas teses foram tão rapidamente difundidas quanto refutadas pela comunidade científica nacional e internacional (LUNA FILHO, 2007, p. 128).

            Entre o amadorismo e a cientificidade estavam, portanto, paleontólogos e arqueólogos no século XIX. Para a Ciência, de modo geral, a existência de seres humanos em eras anteriores à “atual” era hipótese descartada. Dessa forma, a relevância da pesquisa em sítios pré-históricos para o delineamento das primeiras ocupações do território brasileiro foi ignorada e a manutenção e preservação destes sítios foi severamente negligenciada. Mesmo no período republicano, o debate acerca da proteção do patrimônio arqueológico, a despeito de inúmeros esforços e projetos de lei, apenas em 1961 resultou em uma lei mais abrangente e em âmbito federal. Esta década é caracterizada pelo fortalecimento das instituições de pesquisa. Entretanto, Em um momento que não havia diferenças significativas entre “profissionais” e “amadores”, a categoria de “arqueólogo profissional” foi construída no bojo da campanha de proteção dos sítios e em oposição aos “amadores”. […]

            [Estes] foram proibidos de continuar o trabalho de coleta de dados, e sítios foram totalmente destruídos sem que houvesse qualquer tipo de registro. Por outro lado, os “arqueólogos” desenvolveram uma linguagem restrita à comunidade científica, sem qualquer compromisso com a divulgação dos resultados de pesquisa para a sociedade brasileira (GASPAR, 2004, p. 18-19). Assim, o estabelecimento da Arqueologia como ciência apenas será compreendido se considerarmos o processo de concepção de seus pressupostos científicos, além das influências sociais, políticas e ideológicas desta época. Mas é a partir da relação peculiar entre estes fatores que podemos entender a questão patrimonial no Brasil atual.

Patrimônio arqueológico sob a ótica legal

            No Brasil, a formalização legal da proteção a sítios arqueológicos foi resultado de um processo de décadas. Foram diversos esforços originários de várias instituições, políticas e intelectuais, entre o primeiro e já tardio projeto de lei, proposto pela Sociedade Brasileira de Belas Artes em 1920, defendendo a nacionalização dos recursos, até a lei atual, nº 3924/1961.

            Entretanto, o decurso da subordinação da questão às leis entre as décadas de 1920 e 1960 esbarrou na indefinição do valor pré-histórico dos sambaquis. Segundo Paulo Duarte (1968, p. 5), o primeiro Código de Minas (Decreto-Lei nº 1985/1940), assinado durante o Estado Novo, classificou indiscriminadamente terraços e sambaquis como “jazida mineral natural”, o que trouxe graves prejuízos à Arqueologia no Brasil. De fato, nesse contexto, a nacionalização das jazidas minerais, antes de visar a proteção de sítios pré-históricos, coadunava com as políticas desenvolvimentistas do período varguista. Dois anos depois, o Decreto-Lei nº 4146/1942 estabeleceu uma vaga discriminação entre as explorações econômicas e científicas. Duarte afirma ainda que “Em São Paulo, porém, graças à vigilância implacável do Instituto de Pré-História, a lei [nº3924/1961] vigora” (1968, p. 5). A particularidade da Lei nº nº3924/1961 é que esta abrange qualquer monumento pré-histórico ou arqueológico, a estatização destes bens, a preservação por parte do Estado e a insubmissão destes às regras gerais da propriedade privada.

           

sábado, 10 de janeiro de 2015

Ética e a Filosofia da Educação

              


              O presente trabalho tem por objetivo analisar a ética segundo seu conceito e estudos relacionados com a Filosofia da Educação e sua importância para a sociedade como um todo, e igualmente para o individuo como membro dessa sociedade. Veremos sua influências e desse modo aprenderemos sua importância para a coexistência e crescimento do individuo humano consigo mesmo e com o outro.

              O que motiva os indivíduos como seres humanos diante do sofrimento de seus semelhantes, de modo a moverem-se e lutarem por seus direitos e do próximo? Porque sentimos indignação diante das injustiças cometidas pelo mais forte diante do mais fraco? Nessas situações entra em ação nosso senso moral e nossa consciência moral, pois são perguntas que necessitam de explicação para nós e para a sociedade, razões para que assumamos suas consequências.

              São os valores éticos que nos guiam como uma bússola oferecendo garantia de nossa condição de sujeitos e não objetos, pois como sujeitos os seres humanos tem capacidade de racionalizar, livre-arbítrio, capacidade comunicativa e a interação com outros de seu grupo. Um objeto é uma coisa sem expressão ou vontade própria que pode ser usado e manipulado a bel-prazer de alguém, e a ética é quem proíbe que humanos sejam tratados como objetos através da moralidade.

              O campo ético é composto pelos valores e obrigações do sujeito moral que é formado pelo conteúdo das condutas morais. Segundo a ética para que o sujeito moral exista é necessário que seja consciente, capaz de refletir e reconhecer sua existência, e a do próximo como semelhante. Deve possuir vontade, sendo capaz de controlar e escolher seus desejos e sentimentos conforme a consciência. O individuo deve ser responsável, ciente de seus direitos e deveres para com a sociedade e para com o próximo. Ele deve ser livre, não estar submetido à vontade de terceiros, ele deve ser possuidor de autodeterminação. Assim concluímos que o campo ético é composto pelo sujeito moral e os valores morais que se interacionam de modo que se completam.

              O sujeito moral vem a existir a partir do momento que começa a ser educado para os valores morais, uma educação que visa colocar-nos em harmonia com os valores de nossa sociedade.

              Para entendermos melhor as razões da existência da moral em sua cultura é necessário que exista a filosofia moral, pois ela é que fará as pessoas refletirem como seres críticos sobre os valores éticos, interpretando seus valores e os problematizando de forma que se houver discrepância entre o escrito ou dito e o praticado pela cultura em questão, seja motivo para a entrada da filosofia moral. A filosofia moral faz com que nossa ética não seja algo mecânico, como uma simples repetição daquilo que nos foi ensinado desde a infância, os costumes.

              Segundo Marilena Chaui, podemos resumir a ética dos antigos em três aspectos principais: “1. O racionalismo: a vida virtuosa é agir em conformidade com a razão, que conhece o bem, o deseja e guia nossa vontade até ele; 2. O naturalismo: a vida virtuosa é agir em conformidade com a Natureza (o cosmo) e com nossa natureza (nosso ethos), que é a parte do todo natural; 3. A inseparabilidade entre ética e política: isto é, entre a conduta do indivíduo e os valores da sociedade, pois somente na existência compartilhada com outros encontramos liberdade, justiça e felicidade.” (CHAUI, 2002. p. 342.).

              A ética cristã surge com um diferencial em relação as religiões da antiguidade que eram nacionais e políticas, pois ela prega a religião de indivíduos independente  de sua nacionalidade ou questões políticas. Considerando o ser humano por si só incapaz de realizar o bem, baseados nessa visão de mundo o cristianismo institui uma nova visão dentro da moral: o conceito de dever. Dever que vem por meio das Leis de Deus, e as Revelações dos Profetas. E a ética cristã não se resumia somente aos atos, mas também as intenções de realizar atos que contrariam a ética cristã, isto é intenções invisíveis.

              Rousseau, um filosofo que surge após o renascimento, afirmava que a consciência moral era parte da natureza humana, segundo ele quando o dever passa a se tornar obrigação é por que a bondade da natureza humana foi corrompida.  Já no mesmo período temos as ideias de Kant, que afirmava que nascemos com nossa natureza humana má e sem consciência moral e por isso necessitamos do dever para podermos nos tornar seres dotados de consciência moral.  Como afirma a autora: “Rousseau e Kant procuraram conciliar o dever e a ideia de uma natureza humana que precisa ser obrigada à moral.” (CHAUI, 2002. P. 347).

              Uma questão atual que está presente na filosofia é a natureza e o respeito ao meio ambiente. A ética humana em relação ao respeito com o meio-ambiente como habitat da espécie humana. Essa nova ética que o autor Leonardo Boff define como novo ethos que ele defino assim: “[...] a casa humana, vale dizer, aquela porção do mundo que reservamos para organizar, cuidar e fazer o nosso habitat. Temos que reconstruir a casa humana comum – a Terra – para que nela todos possam caber. Urge modelá-la de tal forma que tenha sustentabilidade para alimentar um novo sonho civilizacional.” (BOFF, 2002.p. 27). Segundo o que temos observado essa ética visa proteger nosso planeta e tornar os seres humanos mais envolvidos com a coletividade, mais voltados para a espiritualidade, que surge da própria profundidade da natureza humana, e é onde se encontra esse novo ethos. Vemos que é no cuidado para com o próximo e a nossa casa, o planeta Terra e toda sua biodiversidade que iremos encontrar o ethos que precisamos para a civilização humana desenvolver-se de forma construtiva.

              Então podemos ver que na Filosofia da Educação, o filosofo é aquele que desestabiliza certezas e questiona o que é convencional. Usando a dúvida como desencadeadora desse processo crítico. Refletindo e tomando o próprio pensamento, pensado e voltar para si e coloca-lo em questão o que já se conhece, buscando as raízes das questões, explicando os fundamentos do pensar e do agir. E, por conseguinte ao questionarmos os fundamentos da educação pedagógica, fazemos filosofia da educação. Buscando dessa forma caminhos possíveis para aqueles que serão os futuros educadores e para que esses futuros educadores possam filosofar sobre a educação.

sábado, 3 de janeiro de 2015

Miguel Reale – Cronologia


            Seguindo nossos estudos trago nesta postagem a cronologia de Miguel Reale, um brasileiro que contribuiu com suas ideias para o desenvolvimento de nossa sociedade. Foi poeta, jurista, filosofo e educador, reconhecido no Brasil e no exterior por suas obras e palestras. Recebeu dezenas de prêmios e condecorações nacionais e internacionais. Fundou ao lado de Plínio Salgado a Ação Integralista Brasileira, o primeiro partido político no Brasil que atingiu todos os territórios da nação.

1910 – Nasce Miguel Reale na cidade de São Bento de Sapucaí em 6 de novembro.

1930 - Ingressa no bacharelado em Direito pela Faculdade de Direito do Largo de São Francisco.

1932 - Adere à Revolução Constitucionalista de 1932, ingressando no Batalhão Ibrahim Nobre, junto com seus colegas de curso, participando das batalhas ocorridas no sul do estado.

1932 - Inaugura, ao lado de Plínio Salgado, a Ação Integralista Brasileira, movimento cultural a princípio, mas que se tornaria político, sendo um de seus principais dirigentes.

1933 – Escreve sua obra “O Estado Moderno”.

1934 – Escreve “A Política Burguesa”.

1934 – Formou-se em Direito na Universidade de São Paulo.

1935 – Escreve “O ABC do Integralismo”.

1941 – Tornou-se professor Catedrático de Direito da Universidade de São Paulo.

1942-1944 - Membro do Conselho Administrativo do Estado.

1947 - Secretário da Justiça do Estado de São Paulo. Cria a primeira Assessoria Técnico-Legislativa do Brasil.

1949 - Funda o Instituto Brasileiro de Filosofia, o qual presidiu até sua morte em 2006.

1954 - Funda a Sociedade Interamericana de Filosofia, da qual foi duas vezes presidente.

1975 – A partir desse ano ocupou a cadeira 14 da Academia Brasileira de Letras.