terça-feira, 12 de novembro de 2013

Resenha: História Militar do Mundo Antigo - Guerras e representações


Este livro dos organizadores Margarida Maria de Carvalho; Pedro Paulo Funari; Claudio Umpierre Carlan; Érica Cristhyane Morais da Silva, é o resultado do estudo da guerra na qual possui larga tradição e continua mais atual do que nunca. Nos últimos anos, as abordagens sobre a guerra multiplicaram-se. Como diz Heráclito, A guerra é o pai de todas as coisas. O tema da guerra e da vida militar permanece central para a reflexão sobre a vida em sociedade. Desse modo, a História Militar do Mundo Antigo é constituída de três volumes, fundamentando-se em debates atuais considerados como objetos a partir de novas perspectivas. A obra aqui analisada é o volume 2.

Não é objetivo do livro realizar uma apologia a guerra, mas ampliar a noção de documento ao analisar a cultura material de uma sociedade, através do ponto de vista militar.

No mundo antigo nem todos os cidadãos eram poetas, mas todos eram soldados. Antes de mais nada, o cidadão Greco- romano era um soldado, pronto para entrar em combate, quando sua cidade precisasse. Desde a mais remota infância, tinha todo o treinamento militar disponível. Era preparado para a arte da guerra, sabia usar a lança, a espada e o escudo. Usava também a inteligência como estratégia. Cada arma tinha sua função específica e simbólica.

O estudo da História Militar está na origem da própria disciplina histórica, tanto como gênero literário antigo, como no período moderno. Durante toda a Antiguidade, História e Guerra estiveram sempre ligadas, tanto na literatura em língua grega como latina. A História política não podia prescindir de uma atenção particular aos conflitos militares. Nas últimas décadas, o interesse pela História militar encontrou novos temas, ênfases e interesses, da vida sexual às identidades sociais, do colonialismo às relações de gênero, simbolismo às subjetividades.

História Militar do Mundo Antigo possui 270 páginas que congrega, a partir de eixos temáticos, o que há de mais consolidado e inovador na ciência brasileira e uma mostra da interação internacional, com capítulos de grandes referências dos estudos da História Militar do Mundo Antigo.

No campo da escrita da história ocorreram mudanças no decorrer das últimas décadas do século XX, com a ampliação do conceito de documento histórico e a adoção da perspectiva multidisciplinar, que é cada vez mais necessária pela própria natureza diversa da documentação.

A importância da música para a vida militar pode ser atestada tanto na pedagogia para a formação do cidadão-soldado, quanto na rotina militar, nos exercícios ou propriamente na guerra. Mesmo que o Mundo grego tenha construído uma significação peculiar do uso da música no universo da guerra, este costume deixou alguns vestígios nas sociedades posteriores, deixando como legado cultural para o mundo moderno a instituição das bandas militares e dos gêneros musicais marciais.

Para compreender a guerra não basta pensarmos nos condicionantes sociais, políticos e militares. É preciso ir além e perceber a presença do fator religioso e de outros aspectos do imaginário, como a influência da música sobre a vida no mundo da polis, contribuindo para o disciplinamento físico e espiritual dos cidadãos.

A teoria militar tem despertado o interesse de cientistas sociais em diferentes áreas de atuação, o fato ratifica que o tema sobre a guerra ainda permanece atual. O confronto da guerra, entendida como evento trágico, tem sido tema de interesse, ao longo do tempo, de cientistas políticos, filósofos e historiadores ao qual concluem que a guerra configura-se como um fenômeno que faz parte da história da humanidade.

Segundo Norberto Bobbio, podemos dizer que existe um estado de guerra quando dois ou mais grupos políticos encontram-se entre si em uma relação de conflito cuja solução esta confiada ao uso da força. Por mais que a guerra, em todas as suas formas, suscite horror e indignação, não podemos riscá-las das relações dos homens porque ela faz parte da história da humanidade. (BOBBIO, 2000:513/ 2005:511).

A nossa civilidade, nos leva a afirmar que talvez não seríamos aquilo que somos sem todas as guerras que contribuíram para a nossa formação. O binômio guerra-paz permanece como parte do imaginário social de toda a humanidade.

A tendência atual seguida pelas críticas aos modelos normativos é que de um lado, a história militar, especialmente aquela produzida pela historiografia de tradição inglesa, enfatiza a indispensabilidade das fontes (por vezes esquecida) em resposta às questões surgida no âmbito do que se convencionou chamar de pós-moderno. Por outro, torna-se cada vez mais comum e preocupante, embora ainda não de modo tão difuso na história militar, o aparecimento do historiador interessado mais com as condições de narração histórica do que propriamente com o produto ao qual a história se dedica.

Nos dias que correm, a mídia vende a imagem de que uma guerra- qualquer guerra é vencida pelo lado que dispuser de maior inteligência, nos faz crer, ou tenta fazê-lo, que a aquisição de inteligência vence guerras ou, ao menos, batalhas.

Através de estudos sobre o uso da inteligência militar por dois dos maiores generais do mundo antigo (César e Alexandre) - é possível compreender que mesmo nos tempos mais recentes, um dos lados em conflito dispunha de inteligência à vontade e isso não lhe assegurou a vitória.

Consideramos, contudo, que o fenômeno da guerra constitui um campo de investigação por direito próprio, ou seja, que a guerra é um objeto de estudo passível de ser explorado.

Guerras cada vez mais longínquas e fronts muitas vezes simultâneos levaram os romanos a pôr em ação forças superiores às quatro legiões tradicionais e anuais do exército consular, prorrogando tanto o tempo de serviço se seus legionários quanto os comandos de seus generais, a fim de assegurar a unidade estratégica de uma mesma guerra.

Que a religião e a guerra estavam em íntima relação em Roma é algo de que temos várias comprovações nas práticas sociais e políticas romanas. As interpretações mais recentes do papel e da natureza dos rituais apoiam a tese de que ocupavam um papel central na cultura e no funcionamento da sociedade (SCHEID, 1993).

Podemos entender que o colégio sacerdotal arcaico, os fetiale, situava-se na interseção entre o direito, a religião e a guerra mesmo após o principado, pois a atividade religiosa da elite romana manteve-se conectada com os rituais tradicionais ao longo de séculos. Conseqüentemente, o estudo dos rituais romanos é tema de grande interesse para o historiador da antiguidade. Os rituais devem ser vistos sempre em relação com as ideias e a crenças sobre o passado da urbs, formando um ele entre o passado e o futuro. Dessa forma, os rituais não somente representavam e definiam a identidade romana; em certo sentido, a constituíam.

Em uma conhecida passagem do Digesto (I, 5, 4), lemos que os escravos (servil) são assim chamados porque os generais costumavam conservar (servare) os cativos para venda, e não matá-los. Esse esclarecimento etimológico encontrou uma duradoura recepção na história intelectual da escravidão, desde, pelo menos, Santo Agostinho (Cidade de Deus, XIX, 15).

Embora uma guerra não torne necessariamente o cativo em escravo a venda posterior realiza essa transformação -, é comum, nas histórias sociais de Roma, uma equação imediata entre guerra e escravidão, transmitindo a impressão de que a guerra era a principal fonte de escravos.

A associação entre guerra e escravidão, e sua correspondente noção do escravo como cativo, encontra seus antecedentes nas fontes gregas e latinas, que apresentam a atividade bélica como uma das origens da escravidão.

A documentação romana permitia deduzir a ideia de que a escravidão era acima de tudo, uma instituição de ordem essencialmente internacional, no sentindo de que as duas noções de escravo e de estrangeiro se confundiam: o escravo nada mais é do que um estrangeiro sem direitos (Lévy-Bruhl, 1960).

A escravidão colocou-se como uma necessidade para suprir uma mão-de-obra que antes era provida internamente por um campesinato dependente. Embora se careça de estudos mais específicos para o caso de Roma, há elementos que indicam que a presença de escravos nos exércitos romanos se fazia notar.

A escravidão, cuja ubiqüidade nas sociedades antigas ainda estimula debates e controvérsias. Ainda mais quando os escravos ousam invadir um domínio ideologicamente circunscrito a cidadãos: a guerra.

A reflexão que proponho acerca da História militar de Roma está fundamentada em um amadurecimento das discussões nas últimas décadas e na sua importância para abrirmos possibilidades novas maneiras de se pensar o poder e influência do exército romano nas regiões conquistadas.

Escritos por pessoas das mais diferentes categorias sociais, os grafites são registros impares dos humores dos habitantes de Pompéia, pois explicitam suas paixões e ódios, seus amores e desavenças, suas piadas, suas ironias, seus desejos e sonhos. Tem como base a cultura material, ou seja, as ânforas olearias e seus selos, as lápides funerárias, lamparinas, relevos de mármore, indicando que a Arqueologia é uma ferramenta fundamental para se pensar outras maneiras de se aproximar do exército romano em períodos no qual não estão em campos de batalha.

Refletir sobre as particularidades das relações de gênero, econômicas e sociais abre a possibilidade de focarmos em uma multiplicidade de aspectos do cotidiano e construirmos outras interpretações acerca da presença militar nas fronteiras romanas, pensando a vida dos moradores das áreas mais distantes do centro do Império a partir de seus sentimentos, conflitos e contradições.

De acordo com a tradição romana, para se evitar a cólera dos deuses, um esforço militar para ser bem sucedido devia estar inserido no bellum istum, ou seja, pautado por motivos considerados justos: expulsão do inimigo, vingança por uma injustiça sofrida e entre outros casos. O aspecto religioso fazia parte de todas as instâncias da vida na Roma Antiga e não poderia deixar de estar presente na guerra. Assim a guerra envolvia um ritual muito complexo.

O desenvolvimento da arqueologia, da etnologia e da história das religiões e o aprofundamento do conhecimento da Antiguidade propiciaram a descoberta de mundos estranhos ao universo clássico e uma visão distinta do homem a partir de comparações resultando em explicações diferentes.

Dois Sóis aparecem no céu da China. PARTE II: os fatos por trás da mídia e da pseudociência.


No meu entender, existem nesta história alguns fatores a ter em conta:

1 – O homem que filmou realmente pensou que viu 2 sóis. Isso não faz com que seja dois sóis. Faz simplesmente com que se perceba que a testemunha não tem conhecimento sobre esses assuntos.

Tal como quando as pessoas veem satélites ou iridium flares e pensam logo que são naves extraterrestres, quando na verdade o que se passa é que a pessoa não tem conhecimento para perceber aquilo que está a ver.

As pessoas não terem conhecimento sobre os fenómenos é normal – ninguém pode saber sobre todos os assuntos. Os maus jornalistas e os sites pseudociência inventarem logo que é algo desconhecido, isso só demonstra a falta de sentido crítico que existe em muitos sítios.

Neste caso, a testemunha diz que não existe outra explicação – mas isso é porque ele (e o amigo) não sabe essa explicação que existe. O jornalista deu essa explicação. Era assim que deveria ter acabado a reportagem – com a explicação. Mas não, a reportagem acaba com a ideia de que isto é um mistério.

2 – Se as pessoas olhassem mais para o céu, perceberiam que este é um fenómeno normal (raro quando são lado a lado, mas mesmo assim explicável).

Tem a ver com reflexos nas lentes, a luz do Sol refratar na atmosfera (fenómeno óptico bastante comum), e miragens – tal como quando vamos numa reta com árvores dos lados, parece lá ao fundo não só que as árvores se tocam, mas parece inclusive que existem poças de água por toda a estrada.

3 – Como diz o professor Jim Kaler: “a imagem dupla do Sol deriva de um efeito óptico de refracção. É um fenómeno raro (ou seja, não é diário), e que não está totalmente explicado pela ciência (apesar de se saber o que é e de estar praticamente explicado)”.

4 – Deixem-me dizer novamente: este é um fenómeno comum (raro mas que acontece regularmente). Basta fazerem uma pesquisa no Google para verem várias outras fotografias do mesmo género, feitas por astro fotógrafos.

Se fizerem uma pesquisa no YouTube, veem também vários exemplos disso. Claro que se vê títulos completamente sem sentido, porque as pessoas imaginam logo conclusões sem sentido. Mas o que se percebe é que é um fenómeno “normal”.

5 – Como este é um fenómeno atmosférico recorrente, então é normal as pessoas de vez em quando (quando olham para o céu) o verem.

Não é algo que aconteça todos os dias. Mas é algo conhecido.

Claro que para quem não têm por costume olhar para o céu, estas coisas podem ser fantásticas! (qualquer dia aparece a “extraordinária notícia” que a Lua pode-se ver durante o dia, incluindo ao mesmo tempo que o Sol!) O Sol costuma produzir outras imagens estranhas, além de haver outros fenómenos atmosféricos estranhos.

O que a mim me aborrece é quem tem por obrigação disseminar a verdade sobre as notícias – como os jornalistas – por vezes preferem divulgar os mitos, as crenças, os mentirosos, os pseudociência, a ignorância.

6 – Como este é um fenómeno que acontece por vezes ,é assim normal que no passado tenha havido as mesmas histerias.

Por exemplo, o ano passado foi na Índia.

7 – Existe uma outra hipótese: tudo isto não passa de uma campanha de Marketing enganosa.

Dois Sóis aparecem no céu da China. PARTE I: Estranho fenômeno registrado em vídeo mostra Sol duplo na China!


No começo de março, a TV chinesa CTV mostrou um vídeo intrigante: dois sóis aparecem – lado a lado – assustando muitos espectadores.

Como era de se esperar, a reportagem caiu na web e em poucos dias alcançou as centenas de milhares de visualizações.

A repórter diz: “A notícia do dia aqui na China é este vídeo que foi enviado para nós por um homem que viu dois sóis esta tarde”.

Mais adiante, na matéria: “O Sol parece que está refletindo nas nuvens. Isso é uma ilusão de óptica, porém o homem que fez este vídeo diz que viu mesmo dois sóis”.

O cinegrafista que fez o vídeo fala: “Eu vi 2 sóis mesmo e os filmei para provar.”.

Não demorou nada para que vários fóruns, sites e blogs começassem a criar teorias das mais variadas. O aviso de que o fim do mundo estaria próximo, discos voadores e a explosão de uma supernova foram três das mais cogitadas!

Mas será que isso é real? Será que o segundo Sol visto na China é uma nova estrela?

O vídeo é real! Pelo menos não encontramos nenhuma falha que apontasse para manipulação digital.

Mas antes que você fique desesperado e saia correndo pelas ruas arrancando os cabelos de medo, temos que avisar:

Trata-se de uma ilusão de óptica, de uma miragem!

Em entrevista ao portal Life’s Little Mysteries , o astrônomo da Universidade de Illinóis, Jim Kaler, disse que a imagem do sol duplo é um efeito de refração óptica, mas é um fenômeno raro e ainda não totalmente explicado pela ciência.


Kaler não acredita que ele (o vídeo) tenha sido produzido no computador. “Deve ter havido alguma gota de atmosfera em algum lugar que causou este fenômeno verdadeiramente espetacular, que de certa forma é uma miragem.”, afirma Jim.

Segundo o Wikipédia, “miragem ou espelhismo é um fenômeno óptico muito comum em dias ensolarados, especialmente sobre rodovias, em paisagens desérticas, ou também em alto-mar. Trata-se de uma imagem causada pelo desvio da luz refletida pelo objeto, ou seja, é um fenômeno físico real e não apenas uma ilusão de óptica. Miragem pode ocorrer em diferentes condições, causando vários tipos de imagem do objeto. A luz solar, em direção ao asfalto, sofre refração devido ao gradiente de temperatura das camadas de ar a medida que se aproxima do asfalto. Essa refração desvia a direção de propagação da luz, e por final, ela reflete-se (reflexão total) nas camadas de ar próximas ao solo, fazendo com que a luz agora se distancie dele. Desta forma, tem-se a ilusão que a superfície do solo está espelhada (poça de água aparente). O fenômeno também é observado quando o solo está muito frio, neste caso as imagens refletidas no ar são invertidas.”

Os Miseráveis

Obra-prima do francês Victor Hugo desnuda com maestria a miséria material e a pobreza de espírito na conturbada França pós-revolução.


O romance completo, a história contada nos mínimos detalhes que vai, volta, viaja longe no tempo e no espaço e retorna ao cerne, ao ponto -chave da questão, como se nunca tivesse saído, e que por isso, pela fluidez com que sai do campo de batalha para a estalagem nos confins da França, e daí para a detalhada descrição geográfica e histórica de um convento e das ordens que o habitam, consegue segurar o leitor por dias, semanas e até meses submersos em suas quase 2 mil páginas. Publicado em 1862, em sete cidades da Europa ao mesmo tempo, Os miseráveis, do francês Victor Hugo, nasceu nas livrarias de Paris, Milão, Bruxelas, Budapeste, Leipzig, Roterdã e Varsóvia, e se espalhou pelo mundo, graças à força de personagens como Fantine, Javert e Jean Valjean, que inspirou dezenas de filmes por todo o planeta, do Japão à Índia, da antiga União Soviética ao Egito, do México ao Brasil, e isso há mais de um século. Os dois primeiros filmes baseados no romance de Victor Hugo, On the barricade e Le chemineau, datam de 1907, nos primórdios do cinema. O mais recente deles, versão do musical que fez sua estreia em 1980, em Paris, e depois foi sucesso na Broadway, com Anne Hathaway e grande elenco, é forte candidato, neste mês de fevereiro, a levar um ou outro Oscar, a estatueta fetiche do cinema americano.

A trama de Os miseráveis se passa entre dois episódios específicos da história francesa: a Batalha de Waterloo, em 1815, que representou o fim do sonho imperialista de Napoleão Bonaparte, e os motins de junho de 1832, em Paris, quando estudantes republicanos tentaram, em vão, derrubar o regime do rei Luís Filipe I. Na época de sua publicação, Victor Hugo tinha 60 anos e já desfrutava de grande prestígio, na França e fora dela. Tinha escrito clássicos como O corcunda de Notre Dame, mas nada foi maior em sua obra do que a epopeia de seus personagens pobres, sujos e desvalidos, cuja novidade era exatamente essa abordagem clara, escandalosa por pura falta de hábito, do ponto de vista das classes mais baixas, dos representantes de toda a miséria acumulada pelo absolutismo de Luís XIV, e depois nos reinados de Luís XV e Luís XVI, que desembocaria na Revolução Francesa e, mais tarde, em Napoleão.

O que Charles Dickens já começara a fazer na Inglaterra, mostrando a sociedade à margem do Império Britânico que habitava os submundos de uma Londres caótica, Victor Hugo, que também vinha retratando a miséria desde Claude Gueux, publicado em 1834, escancara com Os miseráveis. Cavou fundo nas camadas da conturbada organização social pós-revolução e revelou não só a miséria material, mas também a pobreza de espírito, que nem sempre caminham juntas, como nos mostra nesta breve introdução a um casal de personagens de suma importância na história.

Victor Hugo iniciou a concepção de Os miseráveis quase 40 anos antes de publicar o romance. Tinha 22 de idade quando, em 1824, começou a colher informações sobre a colônia penal de Toulon, de onde sai o protagonista Jean Valjean, ainda que, no caso de um livro desse porte e desse tamanho, os protagonistas sejam também, pelo menos, Fantine, Cosette e Marius, os outros três personagens que dão nome a quatro dos cinco volumes da história completa. Em 1837, o escritor visita finalmente a colônia penal que fornecia os remadores para o trabalho forçado nas galés, para remarem com os pés atados em correntes. Mas viveria ainda oito anos intensos antes de começar, no dia 17 de novembro de 1845, a redigir aquele que seria seu livro mais importante.

Antes de Hollywood, a URSS

A atuação russa foi a mais decisiva para a derrota da Alemanha nazista durante a Segunda Guerra. O papel dos americanos foi sobrevalorizado posteriormente, com a Guerra Fria e o fim do regime comunista.


Infantaria soviética em posição de defesa: resistência feroz aos nazistas definiu, mais do que qualquer outro fator, os rumos do conflito.

Decorridos quase 70 anos do fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) não resta mais dúvida entre os historiadores sobre qual das potências participantes do conflito deu a maior e mais importante contribuição para a derrota da Alemanha nazista: a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Das 783 divisões de diversos tipos (infantaria, blindada, paraquedista, etc.) que a Alemanha e os países que com ela se aliaram foram capazes de mobilizar, nada menos de 607 (77,5%) foram destruídas pelos soviéticos. Os demais países participantes da coalizão que venceu a guerra (os “Aliados”) foram responsáveis pela destruição das outras 176 divisões (22,5%).

Esses fatos contrastam com a percepção que a maioria das pessoas, mesmo as bem informadas e que mantêm interesse permanente pela história, tem daquele conflito. Para um grande número de membros da audiência dos filmes rodados em Hollywood desde o fim da Segunda Guerra Mundial, foram os Estados Unidos da América (EUA) que mais contribuíram para a der-rota do nazismo. Para essas pessoas, o desembarque na Normandia teria decidido a guerra e promovido o início da libertação da Europa do nazismo. No limite, teriam sido os norte-americanos a matar o próprio Adolf Hitler. No início do século XXI pode-se afirmar que a memória da contribuição ocidental – em especial dos EUA – à vitória na luta contra o nazi-fascismo ofuscou as lembranças afetas à decisiva participação dos soviéticos.

Uma avaliação objetiva da contribuição dos aliados ocidentais (EUA, Grã-Bretanha, etc.) para a derrota da Alemanha na Segunda Guerra Mundial pode ser feita a partir de diferentes indicadores. No que diz respeito à produção de armas veículos e munições – fundamental para a vitória numa prolongada guerra entre coalizões de países na era industrial –, não pode haver dúvida sobre a importância central dos EUA. Sendo a maior potência industrial do planeta, somente os Estados Unidos poderiam ter alcançado a capacidade de fabricar um navio por dia e um avião a cada cinco minutos, como de fato o fizeram durante quase toda a guerra, abastecendo suas forças e as dos países aliados. A própria URSS recebeu alimentos, matérias-primas, fábricas inteiras, tanques, barcos e aviões dos Aliados. As estimativas sobre a participação dessas doações na composição do total dos efetivos soviéticos variam entre 10 e 15%.

Embora o volume de produção industrial dos EUA fosse superior ao de qualquer outra nação, os demais países aliados também deram contribuições expressivas. No crítico ano de 1942, os Aliados produziram 101.519 aviões, dos quais 47.836 norte-americanos (47,12%), 25.436 soviéticos (25,05%), 23.672 (23,31%) britânicos e 4.575 (4,5%) fornecidos pelos países da Comunidade Britânica. A Alemanha nazista, em contrapartida, produziu apenas 15.409 aparelhos naquele ano. Via de regra, dali por diante, em se tratando das principais armas empregadas naquele conflito (tanques, canhões autopropulsados, artilharia, etc.), a produção alemã seria equivalente apenas à metade do que produziam os soviéticos.

O ano 1943 é considerado como o mais decisivo para o desfecho da guerra, por conta das decisivas batalhas que foram travadas na frente russa: a rendição final das tropas alemãs cercadas em Stalingrado (2 de fevereiro) e a Batalha de Kursk, o maior combate de tanques da história (4 a 22 de julho). A essas batalhas tidas como definidoras, sob todos aspectos, devem-se acrescentar as importantes operações militares desenvolvidas pelos russos que culminaram na libertação da maior parte do território da URSS, o fim do prolongado cerco de Leningrado pelos nazistas (de 8 de setembro de 1941 a 27 de janeiro de 1944) e a destruição de tropas alemãs em escala maciça. Foi também em 1943 que americanos, com apoio dos britânicos, invadiram a Europa ocupada pelos nazistas pela primeira vez, com o início da campanha da Itália.

Ainda assim era na frente russa que a Alemanha nazista mantinha a grande maioria dos seus efetivos todo o tempo. Em 1943, havia pouco mais de 4 milhões de militares alemães e 283 mil soldados de países aliados da Alemanha combatendo 5,5 milhões de militares soviéticos. Na mesma época, havia outros 3 milhões de soldados alemães em tropas de ocupação na Europa, onde havia diferentes graus de resistência armada ao domínio nazista. A outra frente de combate aberta contra a Alemanha nazista foi a invasão anglo-americana da Itália. A península italiana apresentava características geográficas e climáticas que muito dificultavam o avanço aliado. Ali, os alemães foram capazes de oferecer uma resistência extremamente eficaz ao avanço inimigo, destinando à defesa da região àquela época apenas 412 mil soldados.

Tão pequena foi a contribuição da campanha italiana à derrota nazista que até mesmo os historiadores anglo-britânicos se recusam a se referir a esse teatro de operações como sendo a abertura de uma “segunda frente”. Para os fins práticos, a tão aguardada abertura de uma segunda frente de luta contra o nazismo foi mesmo o desembarque aliado na Normandia, em 6 de junho de 1944. Mas, mesmo os Aliados tendo desembarcado forças consideráveis na França ocupada pelos nazistas, o front principal continuava a ser o russo. Na França, os Aliados enfrentavam cerca de 58 divisões alemãs de diversos tipos, enquanto que os russos se confrontavam com 179 divisões alemãs e outras 49 de países aliados dela.

A tão propalada campanha aérea de bombardeios anglo-americanos contra o Terceiro Reich deu resultados muito menores do que os estimados na época. Embora tenham conseguido infligir considerável sofrimento humano à população alemã (600 mil civis alemães foram mortos em ataques aéreos dos Aliados, ou seja, dez vezes o número de cidadãos britânicos mortos em bombardeios aéreos alemães), o regime nazista conseguiu manter e até ampliar sua produção de material bélico. De fato, o auge da produção alemã de tanques e aviões, por exemplo, se dá em 1944 – justamente quando a campanha de bombardeios atingia o seu ápice em intensidade e eficácia. Onde os bombardeios ditos “estratégicos” que britânicos e americanos praticavam contra a Alemanha nazista deu algum resultado foi na in-versão de prioridades da indústria de armamentos alemã. Na fase final da guerra, nada menos de um terço da produção armamentista do Terceiro Reich era composta de armas e aeronaves dedicadas à defesa antiaérea (aviões de caça, canhões antiaéreos), em vez de armas ofensivas (tanques, aviões de bombardeio, etc) que permitissem à Alemanha retomar a iniciativa contra seus inimigos.

Conheça o “Índice da Maldade”, do Dr. Michael Stone


Dr. Michael Stone elaborou o “Índice da Maldade”

O ser humano é uma ser capaz das maiores atrocidades e violências possíveis. A história os jornais e noticiários nos mostra o quanto o homem pode ser criativo na arte de matar. Pensado nesse fato O Dr. Michael Stone, psiquiatra-forense da Universidade de Columbia, desenvolveu uma escala para classificar assassinos, psicopatas e sociopatas, de acordo com o teor de crueldade, tortura, brutalidade envolvida em seus atos além de analisar. O objetivo desse trabalho é ajudar a entender as mentes por trás dos assassinatos,suas motivações e o que impulsiona os atos levando em conta o contesto social e traumas psicológicos do passado e até funções cerebrais.

Alguns dos assassino analisados e mensurados nessa escala como Gary Ridgway (O assassino de Green River) e John Wayne Gacy (O palhaço assassino) cometeram crimes que deixariam no Chinelo muitos diretores de cinema. O curioso é que, na sua escala, alguns dos serial killers que muitos julgam extremamente cruéis não atingem a graduação máxima da maldade enquanto outros passam da escala.

Assassinos delirantes, frios e calculistas. Mentes perversas levadas ao extremo, no limite entre o real e o imaginário.

Instigadas por convicções irracionais, atormentados por vozes. Como esses delírios se instalam? Onde se encaixam no Índice da Maldade?

Sabemos que, em certas condições, sobretudo durante a infância, um ser humano pode ser capaz das maiores atrocidades e violências possíveis.

O mundialmente conhecido psiquiatra-forense, da Universidade de Columbia, Dr. Michael Stone, desenvolveu uma escala para classificar os assassinos, psicopatas e sociopatas, de acordo com o teor de crueldade, tortura, brutalidade envolvida em seus atos doentios e macabros.

O objetivo dos estudos do Dr. Stone é ajudar a entender as mentes por trás dos assassinatos, suas motivações e o que impulsiona os atos levando em conta o contesto social e traumas psicológicos do passado e até funções cerebrais.

Estima-se que haja cerca de 69 milhões de psicopatas no mundo, o que dá 1% da população em geral. Isso significa ainda que há um psicopata em cada vinte e cinco pessoas, em média.

Veja a escala do Índice da Maldade, do Dr. Michael Stone:

1- Matam em defesa própria e não tem tendências psicopatas (pessoas normais);

2- Amantes ciumentos sem tendências psicopatas (também pessoas normais);

3- Cúmplices de assassinos: personalidade distorcida e com problemas anti-sociais;

4- Matou em auto-defesa, mas provocou a vítima de forma extrema;

5- Pessoas desesperadas com traumas que matam parentes abusivos ou outras pessoas para sustentar vícios. Sem tendências psicopatas e mostram remorso genuíno;

6- Pessoas impetuosas que matam em acessos de fúria, sem tendências psicopatas;

7- Narcisista psicótico, não-psicopata, que mata as pessoas próximas por um motivo (seja lá qual for);

8- Pessoas que matam em acessos de fúria;

9- Amantes ciumentos psicopatas;

10-Matadores de pessoas que estavam “em seu caminho” ou testemunhas. Ou seja, egocêntricos, mas não psicopatas;

11- Psicopatas assassinos de pessoas “em seu caminho”;

12- Psicopatas megalomaníacos que mataram quando ameaçados;

13- Pessoas com problemas de personalidades cheios de ódio em crise;

14- Psicopatas egoístas que montam esquemas;

15- Psicopatas à sangue frio ou assassinos múltiplos;

16- Psicopatas cometendo vários atos criminosos;

17-Assassinos sexualmente pervertidos, torturadores-matadores (o estupro é o principal motivo, não a tortura);

18-Torturadores-matadores onde o principal motivo é o assassinato;

19-Psicopatas que fazem terrorismo, subjugação de vítimas (tortura), intimidação e estupro (sem assassinato);

20-Torturadores-matadores onde a tortura é o principal motivo, mas em personalidades psicóticas;

21-Psicopatas que torturam até o limite, mas sem nunca terem cometido um assassinato;

22-Psicopatas que torturam, onde a tortura é o principal motivo (e matam).

sábado, 9 de novembro de 2013

O misterioso povo Pirarrã e o idioma mais estranho do mundo


Eles não sabem contar, não diferenciam cores, não conhecem arte ou mitos, não entendem ficção, não acreditam em nenhum deus. Vivem no agora, sem futuro, sem passado. Esses são os pirarrãs: 150 a 350 índios que vivem na selva amazônica e desafiam nosso entendimento da linguística moderna.

Os pirarrãs ou piraãs, também chamados de pirahãs ou mura-pirahãs, são um povo indígena brasileiro de caçadores-coletores, monolíngues e semi-nômades, que se destacam de outras tribos pela diferença cultural e linguística. 

Eles habitam as margens do rio Maici, afluente do rio Marmelos ou Maici, que por sua vez é um afluente do rio Madeira, um afluente do rio Amazonas. Se autodenominarem hiaitsiihi, categoria de seres humanos ou corpos que se diferenciam dos brancos e dos outros índios.

Antes mesmo de nascer, ainda no ventre materno, os pirarrãs recebem um primeiro nome, que eles acreditam ser responsável pela criação de seus corpos. Durante a vida, recebem nomes de seres que habitam camadas superiores e inferiores do cosmos, responsáveis pela criação de suas almas e destinos, e também de inimigos de guerra.

Linguagem

A língua pirarrã é um língua da família linguística mura. É a única língua do grupo mura ainda não extinta, sendo que todas as demais desapareceram nos últimos séculos. Essa língua não tem nenhuma relação com qualquer outra língua existente. Havia cerca de trezentos e cinquenta falantes em 2004, distribuídos em oito aldeias ao longo do rio Maici.

Apresenta características peculiares, não encontradas em outras formas de expressão oral. Foi identificada e teve sua gramática elaborada em 1986 pelo linguista estadunidense Daniel Everett em cerca de doze artigos. Everett viveu entre os Pirarrã por sete anos, dos anos 1970 aos 1980.

Entre suas peculiaridades, destacam-se:

Uma das menores quantidades de fonemas entre os idiomas existentes. Identificam-se os sons de apenas três vogais (A, I e O) e seis consoantes: G, H, S, T, P e B;

A pronúncia de muitos fonemas depende do sexo de quem fala;

Apresenta dois ou três tons, quantidade discutida entre estudiosos;

O falar pirarrã pode ser expresso por música, assobios ou zumbidos (como “M” com lábios fechados);

Apenas alguns dos homens, nunca mulheres, conseguem se expressar em nheengatu ou em português;

Sentenças muito limitadas, sendo o único idioma sem orações subordinadas;

Não tem numerais, apenas a noção do unitário (significando também “pequeno”) e de muito. Sua cultura e seu modo de vida, como caçadores e coletores, não exige conhecimento de numerais (um trabalho recente de Everett indica que a língua não trata nem mesmo de “um” e “dois”; não usam números, mas quantidades relativas);

Não há palavras para definir cores, exceto “claro” e “escuro”, embora isso seja discutido entre diversos autores;

Tudo é falado no presente, não há o tempo futuro, nem o passado. Trata-se de um povo, portanto, sem mitos da criação;

Não tem termos que identifiquem parentesco, descendência. A palavra para Pai e Mãe é uma única;

Os pronomes pessoais parecem ter-se originado na língua nheengatu, uma língua franca de origem tupi.

Entre as coisas que separam os homens dos outros animais, estão as sutilezas da linguagem. Os animais até são capazes de transmitir mensagens simples – em geral relacionadas a comida, sexo ou disputa de território –, porém não conseguem encaixar uma mensagem dentro de outra.

Por exemplo, um golfinho treinado pode transmitir a mensagem “A bola está na piscina” ou “Pegue a bola”, mas não é capaz de juntar as duas expressões dizendo “pegue a bola que está na piscina”. Esse é um atributo exclusivamente humano que os linguistas chamam de recursividade – que, salvo casos de deficiência mental, é considerado um denominador comum a todos os indivíduos da nossa espécie.

O que aconteceria se um grupo humano não dominasse isso? Essas pessoas seriam menos humanas que outras?

Os índios não são recursivos pelo “Princípio da Experiência Imediata”. O nome é mais complicado do que a coisa em si: os pirarrãs só vivem e falam do aqui-agora. Fazem apenas sentenças relacionadas ao momento em que estão falando, aos fatos vistos por eles. “As sentenças dos pirarrãs contêm somente situações vividas pelo falante ou testemunhadas por alguém vivo durante a vida do falante”. Por isso eles têm problema com as abstrações e tudo o que resulta delas: cores, números, mitos, ficção e a bendita recursividade. Também é isso que faz com que os pirarrãs, ao contrário de todas as outras comunidades linguísticas já estudadas, não aprendam a contar em outro idioma. “Eles não querem saber de nada que esteja fora do seu mundo”.

Outros linguistas rebatem: “A contagem ‘1, 2, bastante’, por exemplo, é típica de vários outros indígenas”, afirma Maria Filomena Sândalo, linguista da UNICAMP (Campinas, Brasil) que fez sua dissertação de mestrado sobre a tribo. “Isso não quer dizer que eles não reconheçam quantidades. Eles simplesmente fazem recortes diferentes da realidade, como qualquer outra língua”.

A professora argumenta que, enquanto esteve com os pirarrãs, encontrou uma linguagem tão complexa e recursiva como qualquer outra. Ela interessou-se pela questão pirarrã e, junto com dois outros pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (EUA) e da Universidade Harvard (EUA), analisou os dados colhidos por Everett. Em 2007, o grupo publicou um artigo concluindo que a língua é normal. “Ela não é inexplicável ou especial. É tão interessante quanto uma língua de qualquer outro lugar do mundo. Não tem essa história de experiência imediata ou falta de recursividade”, diz a professora.

O linguista e filósofo estadunidense Avram Noam Chomsky, um dos maiores ícones dessa ciência, argumenta que os pirarrãs não são um “contra-exemplo” à gramática universal (termo usado no último século para a teoria do componente genético que habilita os humanos a se comunicar). Como os pirarrãs não são diferentes geneticamente do resto da humanidade, não há nada de extraordinário aí.

Cultura e crença

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Psicopatia e a mentira


Texto: Sergio Senna

Quando ministro aulas sobre a mentira, muitas pessoas me perguntam sobre os psicopatas e suas artimanhas para enganar.

Nesse artigo, apresentarei algumas características da psicopatia e introduzirei aspectos sobre a mentira que ocorrem nesse contexto. Em outra postagem veremos a mentira com mais detalhes.

Veremos, ainda, alguns aspectos sobre a psicopatia que podem nos interessar no que diz respeito à mentira e à análise do comportamento não verbal. 


Não estranhe os nomes utilizados na psicologia. Alguns deles têm mais de 150 anos e, àquela época, era muito comum tratar aspectos técnicos com palavras do senso comum. Então, certos conceitos psicológicos, ainda hoje, possuem significados complexos para as mesmas palavras que você conhece e usa na linguagem cotidiana. Trocando em miúdos – alguns nomes são horrorosos.


Se você tem interesse nesses assuntos, procure verificar o significado psicológico dos termos, pois eles, não necessariamente, coincidem com aqueles que as pessoas usam na Língua Portuguesa do dia a dia.

Percebo, ainda, que a preocupação excessiva das pessoas com a psicopatia e com a mentira está relacionada à repercussão das barbaridades cometidas por serial killers. Entretanto, estudos mostram que, na população em geral, as taxas dos transtornos de personalidade podem variar de 0,5% a 3% (APA, 2000; Assadi et al., 2006; Dembo et al., 2007; Elonheimo et al., 2007), lembrando que nem todos os assim chamados sociopatas matam pessoas ou trazem grandes prejuízos para os que os cercam. 


Como se define a psicopatia?

Psicopatia ou sociopatia é a forma popular para denominar o Transtorno de Personalidade Dissocial.

É um transtorno de personalidade descrito no DSM-IV-TR, caracterizado pelo comportamento impulsivo do indivíduo afetado, desprezo por normas sociais, e indiferença aos direitos e sentimentos dos outros.

Na Classificação Internacional de Doenças, recebe a denominação de Transtorno de Personalidade Dissocial (Código: F60.2).  


É um transtorno de personalidade caracterizado por um desprezo das obrigações sociais, falta de empatia para com os outros. Há um desvio considerável entre o comportamento e as normas sociais estabelecidas.

Existe uma baixa tolerância à frustração e um baixo limiar de descarga da agressividade, inclusive da violência. Existe uma tendência a culpar os outros ou a fornecer racionalizações plausíveis (usando ou não a mentira)  para explicar um comportamento que leva o sujeito a entrar em conflito com a sociedade. 


Nos casos extremos, o Transtorno de Personalidade Dissocial é caracterizado principalmente pela ausência de empatia com outros seres vivos, resultando em descaso com o bem estar do outro e sérios prejuízos aos que convivem com eles.

São comuns os relatos de sociopatas que dão conta de uma infância difícil ou de testemunhas que observaram comportamentos excessivamente agressivos e mentira patológica na adolescência. É igualmente comum que essas pessoas não tenham recebido o adequado cuidado familiar, geralmente repetindo os comportamentos violentos e abusivos a que foram submetidos. Com a passagem do tempo, o transtorno tende a se cronificar e pode causar grandes prejuízos à vida do próprio indivíduo e especialmente de quem convive com ele (Kaplan, Sadock & Grebb, 1997). 


Como se chega à conclusão de que alguém é um psicopata?

Pela descrição das características do Transtorno de Personalidade Dissocial, é possível notar a dificuldade de identificar tal transtorno, pois existem muitas situações que são “socialmente” aceitas e que se assemelham ao padrão de comportamento em que há quebra de normas sociais ou algum nível de violência. Além disso, existem outros critérios a considerar como a idade, comorbidades, entre outros que fogem ao propósito informativo desse artigo.

O instrumento auxiliar mais utilizado como guia para um diagnóstico foi desenvolvido por Robert Hare (2003). Vem sendo utilizado no Brasil e foi classificado como teste psicológico (mas, caracteriza-se como uma escala), em 2005, pelo Conselho Federal de Psicologia. Seus critérios diagnósticos abrangem aspectos afetivos, interpessoais e comportamentais em relação ao estilo de vida e às ações antissociais. Cada item é avaliado em uma nota de zero (ausente ou leve), um (moderada) ou dois (grave).  Essa avaliação é realizada por um especialista (não é um questionário respondido pelo próprio sujeito) e se baseia em entrevistas e no histórico disponível sobre a pessoa. A soma total determina o grau de psicopatia de uma pessoa.

Veja alguns dos critérios da escala Hare (PCL-R): Narcisismo agressivo, sedutor ou charme superficial; Grandioso senso de auto-estima; Mentira patológica; Esperteza e Manipulação; Falta de remorso ou culpa; Superficialidade emocional; Insensibilidade / Falta de empatia; Falha em aceitar a responsabilidade por ações próprias; Agressão a animais; Impulsividade; Irresponsabilidade.


Existem “níveis” de psicopatia?

Muitos especialistas sustentam que existem graus de psicopatia. Sob esse ponto de vista, mesmo quando alguém não haja cometido algum crime bárbaro, elementos que caracterizam esse transtorno podem estar presentes. É nesses casos que a identificação da mentira mais nos interessa.

Veja algumas obras que tratam desse tema:

Snakes in Suits - Robert Hare;

Psychopaths of everyday life – Martin Kantor;

Bad boys, bad men – Donald Black;

Mask of Sanity - Hervey Cleckly 


Diversas vezes, em meus 30 anos no mundo do trabalho, me deparei com pessoas assim. Eu percebia que esses indivíduos sentiam um prazer disfarçado no sofrimento alheio. Às vezes, eu não entendia o porquê de estar ocorrendo determinada situação que me oprimia sem nenhuma necessidade. Mentira, manipulação de informações e redução desnecessária de prazos: observava isso com certa frequência.

Então percebi que a razão para esses “ataques” era me colocar em sofrimento, o que servia de contexto de alegria para essas aberrações humanas que viviam para verem os seus semelhantes sofrerem.


Normalmente, as perversidades e a mentira eram “encobertas” por regras, cumprimento de ordens e de determinações superiores, motivo pelo qual não era possível reagir objetivamente.

Aprendi então que a melhor forma de lidar com esses indivíduos doentes era não demonstrar sofrimento. Inicialmente, as maldades aumentavam (o que era esperado). Entretanto, depois de algum tempo eles “largavam do pé” e procuravam outra vítima mais responsiva que satisfizesse mais facilmente os seus desejos em observar o sofrimento.

Em que o Transtorno de Personalidade Dissocial interessa à análise da mentira e do comportamento não verbal?


Um dos principais aspectos que pode interessar a quem estuda a análise do comportamento não verbal é que o sociopata não apresenta o padrão de ansiedade e depressão, que costuma estar presente nos demais indivíduos quando do cometimento de atitudes violentas e da utilização da mentira para enganar ou esconder seus atos socialmente reprováveis.

É importante ressaltar que os indivíduos que desenvolvem esse transtorno não apresentam um déficit em termos de processamento das informações sociais, conseguindo entender e manipular os estados mentais de outras pessoas (e seus comportamentos), ainda que se mostrem indiferentes às emoções que percebem nos outros.

Eles aprendem e desenvolvem técnicas sofisticadas para realizar manipulações voltadas à obtenção de vantagens exclusivamente pessoais e não raras vezes perversas.