sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Por que teorizar a História sem Marx?

Propaganda do Partido Comunista Alemão, citando a frase de Karl Marx, que acusa as religiões de serem o ópio ou seja uma droga das massas. Década de 1930. Imagem: Arquivo Pessoal CHH.
            
Saudações a todos os Construtores amigos e leitores do Construindo História Hoje, trago diante de vocês hoje com bastante ousadia um tema complexo, do qual muitos historiadores experientes fogem do assunto para não serem tidos como revisionistas ou extremistas, dentre outras classificações. Trago este tema em pauta, pois acredito que pontuar a História principalmente pela Teoria em uma análise ultrapassada e que se mostrou de todas as formas absurda, é persistir em um verdadeiro fracasso no olhar do passado. Utilizando os ensinamentos de Marx, continuaram criando uma História por demais simplista baseada na luta de classes, no confronto entre burguesia e proletariado.

Por não crer e não aceitar o que nos é ensinado seja na Universidade ou nas Escolas de Ensino Médio e Fundamental que trago está análise. Talvez seja somente uma gota de água em tal incêndio que se alastra por décadas sem fim, mas ninguém nunca vai poder dizer que fiquei calado enquanto mentiam descaradamente para estudantes. Não vou fazer parte desse grupo de indivíduos que temem perderem o respeito dos outros membros da “hierarquia dos historiadores”. O mesmo grupo de individuo que temem perderem o luxo, conforto proporcionado pelos seus salários que foram conquistando embutindo mentiras nas mentes de universitários e jovens alunos.

A miséria religiosa é, de um lado, a expressão da miséria real e, de outro, o protesto contra ela. A religião é o soluço da criatura oprimida, o coração de um mundo sem coração, o espírito de uma situação carente de espirito. É o ópio do povo.”

Karl Marx, em Crítica da Filosofia do Direito de Hegel (1844).

Quando o sociólogo Karl Heinrich Marx realizou está infeliz alegação sobre algo que tem por base a Cultura e Tradição humanas, posso dizer isso me baseando em um principio bem simples, e dela posso expandir a interpretação errônea de qualquer teorização da História que tenha bases marxistas. Neste assunto, basta citarmos sua famosa frase que por aqueles momentos da história de uma forma ou outra, Karl Marx inspirou-se em Immanuel Kant e Ludwick Feuderback dentre outros que já há haviam utilizado com este sentido:

"A religião é o ópio do povo!" Em alemão "Die Religion ... Sie ist das Opium des Volkes".

 Coloco aqui a expressão original, pois não sendo o alemão um idioma de origem latina torna as traduções prejudicadas e muitas vezes o sentido original acaba perdendo para mais forte ou mais fraco, ao invés de entender-se a profundidade da questão empregada pelo autor ou nesse caso a gravidade da alegação feita por Karl Marx.

            Aqui podemos ver que para Marx, a religião era improdutiva e como tal uma droga, mas nós historiadores sabemos que todas as primeiras grandes civilizações humanas tiveram por base suas crenças mais primitivas. Olhemos para os Babilônicos, Egípcios, Sumérios e posteriormente para os Gregos e Romanos. Todas estas civilizações iniciaram seu processo urbano, arquitetônico tendo por base suas crenças religiosas. Através delas esses povos foram levados a romper os limites do possível e tornaram possível através da matemática e posteriormente arquitetura as maiores obras de construção que o mundo já viu. As mesmas religiões que Marx chamou de droga, levaram os humanos à matemática, poesia, música, geografia, história, enfim não existe nenhuma de nossas primeiras civilizações que começou sem explorar sua capacidade criativa advindo da fé e da capacidade que somos mais que apenas humanos, nós somos extremamente humanos e como tais sabedores de sua essência divina. E nesta crença erguemos aquilo que chamamos de civilização.

            Na seguinte citação de sua obra “O Capital”, vemos como Marx compara o modus operandi, da burguesia com a atividade da Igreja Cristã, acredito que mais claro não preciso ser sobre como tal individuo pode ter autoridade Teórica na História:

"Nada de espantar que as formas de produção social que precederam a produção burguesa sejam tratadas da mesma maneira que os Padres da igreja tratam as religiões que precederam o Cristianismo."

 Karl Marx, em O Capital (1867).

            Marx, juntamente com Friedrich Engels elaborou a Teoria da luta de classes com o objetivo de designar o confronto entre o que consideravam os opressores, a burguesia, e os oprimidos, o proletariado. Eles enquadraram a Religião como parte de um sistema ideológico onde os opressores, a burguesia utiliza-se da religião para controlar, ou seja, “oprimir” o proletariado. Muitos críticos ao seu pensamento se revelaram, classificando a sua visão de mundo como Historicista, o que traria uma intenção de prever a história de modo supostamente ineficiente. Exemplos desses críticos são Bohm-Bawerk, Karl Popper e Paul Johnson.

O historicismo constitui esse modo ineficaz de analisar a história, assim, a base de uma visão de mundo tipicamente moderna e ocidental fundamentada nas ideias de Marx e Engels. Esta se fundamenta na noção de que as configurações do mundo humano, num dado momento presente, sempre são o resultado de processos históricos de formação, os quais são passíveis de ser mentalmente reconstruídos e, portanto, compreendidos. Como tal o Comunismo e Socialismo que tem por bases as ideias de Marx tem a pretensão de dizer que sua doutrina é capaz de certa forma predizer os acontecimentos futuros. Então quando retornamos a avaliar a afirmação de Marx que diz: “A Religião...é o ópio do povo!”, não estamos somente diante de uma afirmação presente, mas ao contrário que abrange na realidade da mente ideológica comunista uma compreensão e ação no Passado, Presente e Futuro como nos mostrar os teóricos do historicismo já citados.

Então o próprio Marx e a ideologia comunista nos deixam uma base para analisarmos com detalhes sua repulsa pela religião. Deixando dessa forma claro que qualquer que seja a ideologia que utilize seus ensinos deve levar a afirmação historicista em consideração.

Seja Socialismo ou Comunismo tratando-se de Teoria da História Marx colocou a Religião em uma posição de total desprestigio em relação ao seu valor e contribuição para o bem e desenvolvimento da civilização Humana, mas será que isto é uma realidade? Consultemos os autos da História!

Posso refutar a afirmação de Karl Marx, partindo do princípio que ao colocar a Religião em tal posição diz-se nas entrelinhas que ela também não contribuiu de forma benéfica na Civilização. Falo da Tradição e Cultura. Não posso aceitar uma historiografia que usa por base essa premissa, pois esquecem que as primeiras grandes civilizações ergueram-se através de sua Tradição e Cultura que teve por base SEMPRE A RELIGIÃO!

Religião está que levaram tribos de origens distintas a se unirem e formarem a Suméria por cultuarem os mesmos deuses ou similares e sincréticos.

Religião está que levou nômades do deserto há erguerem cidades, templos, pirâmides (diga-se de passagem, a mais incrível obra da engenharia humana) e palácios em honra a seus deuses. Estabelecendo as bases da civilização egípcia que cresceu e prosperou através do comércio. Civilização que tinha como centro de todo o seu “universo” seus deuses.

Veja o trecho a seguir e como Marx compara a Religião as burguesias que são o alvo de seus constantes ataques:

"Os economistas têm uma maneira singular de proceder. Para eles existem apenas duas espécies de instituições, as artificiais e as naturais. As instituições feudais são instituições artificiais; as da burguesia são instituições naturais. Nisto assemelham-se aos teólogos, que também distinguem duas espécies de religiões: qualquer religião que não seja a sua é uma invenção dos homens, enquanto que a sua própria religião é uma emanação de Deus. Deste modo, houve história, mas já não há."

Karl Marx, Miséria da Filosofia, 1837.

Religião está que estava presente no berço da Filosofia ocidental, na Grécia, aonde vemos uma história riquíssima baseada no culto aos deuses. Através do culto aos deuses desenvolveu-se todo um sistema de leis, tratados, festivais, arquitetura, poesia, música, teatro e tantas outras obras que não teria espaço nesta pequena reflexão para coloca-las em seus merecidos lugares. Então eu me pergunto como uma DROGA, como Karl Marx definiu a Religião poderia ser capaz de ter dado origem ha própria Civilização humana e ainda ter sido a base de todos os seus principais eventos histórico. Ela estava lá há RELIGIÃO.

Religião está que estava igualmente presente em Roma, o Império que conquistou “o mundo” e levou a “Paz Romana” aos mais longínquos locais da terra. Roma levou aos quatro cantos do mundo conhecido seus deuses e junto a eles sua arte, arquitetura, comercio direito e deveres dos cidadãos e tudo isso tinha por base seus princípios religiosos.

Talvez você esteja se perguntando como isso foi possível? Mas, eu posso mostrar como Marx errou ao chamar a maior dádiva da Civilização Humana, seja ela Ocidental ou Oriental, em ópio do povo, ou seja, a droga que embriaga a mente e tornam as pessoas meros escravos da burguesia. Vejamos então:

Quando as primeiras tribos nômades do deserto do Saara tiveram que se deslocar no fim da última Era Glacial na busca de novas regiões aonde se houve água. Essas tribos já possuíam seus deuses, mitos, contos, orações e ídolos que levavam consigo aonde fossem. Sua religião mantinha se viva através da história oral. Mas ao encontrarem nas margens do Rio Nilo, todo o tipo de recursos para sua permanência sem a necessidade de deslocamento na busca de mais recursos, pois ali havia água, animais para caça e pesca, e matéria prima para seus diversos utensílios. Essas antigas tribos nômades estabeleceram-se e firmaram as bases do que seria o Grande Império Egípcio.  Consigo estava sua fé, seus deuses, e como gratidão por encontrar tal paraíso no meio do deserto começou a aperfeiçoar o culto aos deuses.

 O desejo de criar Templos em honra a aqueles que os guiaram a terras tão prospera, era o mínimo de gratidão na mente dessas pessoas. Mas, para tanto nossos ancestrais tiveram que aprender através do erro e do acerto as bases de toda nossa sociedade atual. Eles aprenderam matemática, arquitetura, engenharia, astronomia e desenvolveram a escrita, e por meio da fé criaram uma das primeiras grandes civilizações humanas.

terça-feira, 10 de setembro de 2013

As “Bruxas da Noite”, um pesadelo para os nazistas durante a II Guerra Mundial.



A ideologia dos líderes nazistas sempre foi pontuada por esoterismo e magia, mas se alguma vez tiveram verdadeira razão para acreditar em bruxas as responsáveis foram as ​​Nachthexen (Bruxas da Noite). Assim, os alemães chamavam os militares aviadores do 588° Regimento de Bombardeiros da Noite da União Soviética.



Em 2 de novembro de 1938, Polina Osipenko ,Valentina Grizodúbovatres e Marina Raskova receberam a distinção de Heroínas da União Soviética por vários recordes de distância percorrida em voo, foram as primeiras mulheres a recebê-lo e as únicas antes do início da Segunda Guerra Mundial. Marina Raskova, que também foi à primeira mulher instrutora na Academia da Força Aérea, foi entrevistada por Stalin pessoalmente que lhe deu o posto de Major. Quando Hitler quebrou o pacto de não agressão com a União Soviética, Marina liderou uma campanha para que as mulheres tivessem permissão para lutar contra os alemães no ar. Em 1941, graças à sua amizade com Stalin alcançou seu objetivo: a criação de três regimentos de voo compostos exclusivamente por mulheres, incluindo 588° Regimento de Bombardeiros da Noite. Este regimento foi composto por 400 mulheres, entre pilotos e pessoal de terra, que tinham uma idade média de 22 anos. Quando Marina encontrou-se com todas elas, assustou-se com a perspectiva de que mulheres tão jovens pudessem morrer. Dirigindo-se ao Regimento a Major Raskova, perguntou-lhes:

“Vocês não tem medo de ir para o front? Vocês não sabem que os alemães podem matar você?”

Todo o Regimento respondeu em uníssono:

“Não se atirarmos primeiro, Major Raskova!”



Os alemães avançavam rapidamente e a aprendizagem que deveria durar vários anos na Academia da Força Aérea foi reduzido há alguns meses. Tiveram que passar por um duro treinamento físico e um curso de táticas de combate, mas nenhuma delas se queixou sobre isso. Além disso, as aeronaves escolhidas para o Regimento de Bombardeiros da Noite foram os Polikarpov U-2 (Po-2), o biplano mais produzido no mundo criado, inicialmente, para a prática de voo e pulverização de campos.



Polikarpov Po-2. Ilustração técnica. Imagem: 

O problema é que essas aeronaves eram muito lentas, obsoletas (fabricadas em 1927) e foram construídos com madeira e lona. Essas "Vassouras Voadoras", sem rádio ou paraquedas, preferiam morrer a cair nas mãos dos alemães, transportando dois tripulantes (piloto e navegador) tinham espaço para duas bombas, e às vezes devido a sistemas desatualizados e mau funcionamento lançavam as bombas com as mãos. Há princípio, eles não tinham chance contra os rápidos caças alemães, mas sua capacidade de manobrar e fazer curvas bruscas e rápidas dificultavam muito a possibilidade de serem abatidos. Além disso, sua lentidão permitia voarem tão baixo a ponto de passarem entre os bosques, onde caças alemães não poderiam atravessar.

Devido à sua pequena capacidade de carga, As Bruxas da Noite realizavam várias operações na mesma noite, sempre seguindo as mesmas táticas quando se aproximaram do alvo desligavam seus motores barulhentos e planavam até alcançar o objetivo, jogando bombas e logo após religavam o motor para sair do local.

domingo, 8 de setembro de 2013

Você sabia? Em 1939 Gandhi enviou uma carta a Hitler!


A carta que Gandhi enviou a Hitler. Imagem: http://koenraadelst.bharatvani.org/articles/fascism/gandhihitler.html

Ela nunca chegou a seu destino final – e seria arriscado dizer que, se tivesse chegado, teria alguma possibilidade de mudar o curso da história (terrível) que estaria por vir. Mas não podemos dizer que ele não tentou: Mahatma Gandhi, o líder pacifista que comandou o processo de independência da Índia, mostrou que era capaz de sonhar mais alto do que qualquer música de John Lennon e enviou uma carta para Adolf Hitler, pedindo que este evitasse a guerra. A correspondência foi escrita em 23 de julho de 1939, quando a Alemanha do Führer estava prestes a invadir a Polônia e dar início à Segunda Guerra Mundial.

A carta, que nunca chegou ao seu destino, pois foi interceptada pelo governo britânico, diz o seguinte:

sábado, 7 de setembro de 2013

Os Evangelhos Apócrifos: Um estudo historiográfico.




            O presente texto não tem por objetivo diminuir de forma alguma a autoridade dos quatro Evangelhos Canônicos aceito pela maior parte das Igrejas cristãs pelo mundo. Mas, sim mostrar uma visão histórica e como tal uma análise firmada nesta de que estes livros que foram colocados fora do Cânon principal do cristianismo possa nos ensinar mais sobre aqueles que os escreveram e seus objetivos. É com essas bases que apresento aos amigos Construtores um texto que visa ampliar nossa visão sobre essa obra a muito envolvida em confrontos e diversas com bases teóricas.  Não é fácil definir o que são “evangelhos apócrifos”, bem como o que são escritos apócrifos em geral. Para simplificar a tarefa, pode-se dizer: “apócrifos” designa todos os textos que estão reunidos na coleção iniciada por Edgar Hennecke, e depois sob a curadoria de Wilhelm Schneemelcher, intitulada “Neutestamentliche Apokryphen”. Com essa definição do conceito, porém, estaríamos presos num círculo fechado, uma vez que a escolha dos textos para aquela coleção parte de uma determinada pré-compreensão do que seja “apócrifo”.

CHH

“A todas as grandes mentes que deram seu sangue para que a Justiça se cumpra no Universo.”

Maria Helena de Oliveira Tricca

 Nas edições até agora feitas dessa obra de referência, não houve mudança digna de nota quanto a seu conteúdo. Na primeira edição (1904) e na segunda edição (1924) constavam, por exemplo, os Padres Apostólicos: a primeira e a segunda Epístola de Clemente, as Epístolas de Inácio, de Policarpo, de Barnabé, a Didaché, o Pastor Hermas, Também nesse grupo de escritos trata-se de um corpus artificialmente organizado, que deve seu título, “Padres Apostólicos”, a uma edição do texto em 1672. A partir da terceira edição (1959), gradativamente começam a serem considerados entre os “Apócrifos do Novo Testamento” os textos de Nag Hammadi. Alguns textos eram acrescentados e depois tornavam a ser excluídos, tais como a Carta de Diogneto, os Ditos de Sextus (ambos somente na segunda edição) e as Odes de Salomão (na segunda e na terceira edições).

            Christoph Markschies, que iniciou uma reedição da valiosa coleção, sugere que se fale de “apócrifos cristãos antigos”. Com o termo “antigo” assinala-se a restrição à época da Igreja antiga, pois, de fato, a redação dos apócrifos prolongou-se até a Idade Média e a Idade Moderna, enquanto o termo “cristão” deve libertar o conceito de sua fixação ao Novo Testamento. Se com isso todas as dificuldades quanto à terminologia estão removidas, permanece uma questão em aberto. Além do mais, os escritos de Nag Hammadi, entre os quais se encontra o tão considerado Evangelho de Tomé, deverão ser excluídos da obra, para serem reunidos numa tradução própria.

            O termo “apócrifo”, para iniciar, provém do grego (απόκρυφος). Significa literalmente, “oculto”, “escondido”, “secreto”. Aplicado a textos do cristianismo primitivo, seu significado toma duas direções que, apesar de suas oposições, se mantêm inter-relacionadas:

            1) Com o conceito “apócrifo” designam-se revelações secretas, que não constam no conjunto das revelações geralmente aceitas, mas que, para determinados grupos, têm relevância bem maior do que os ensinamentos conhecidos e aceitos no ambiente eclesial. “Apócrifo” tem aqui um tomo positivo, sem reservas; com o mesmo significado, o termo também está presente em Clemente de Alexandria.

            2) Em contrapartida, os seguidores da Igreja Ortodoxa, defendendo um cânone escriturístico claramente delimitado, tomam a designação “apócrifo” como sinônimo de “falsificação”, “não-confiável”. No Decretum Gelasianum, uma lista canônica do século VI, o termo “apócrifo” aparece de maneira estereotipada, em referência a um grande número de escritos, com o significado equivalente a “herético”. Nega-se qualquer base de autoridade ao acervo escriturístico assim denominado.

            Em ambas as avaliações estabelece-se uma relação entre os escritos apócrifos e o cânone do Novo Testamento, que em seus elementos básicos estava estabelecido em fins do século III. Para uma parte dos assim chamados apócrifos, principalmente para os mais tardios, um fator que levou à sua produção poderia ser assim descrito: tomando como medida os escritos neotestamentários, tinha-se a intenção de complementá-los, levar adiante o processo de produção escriturístico e preencher supostas lacunas. Em parte pretendia-se também, diante deles, valorizar interesses teológicos próprios, adaptando-se, por isso mesmo, aos seus grandes gêneros literário: evangelhos, epístolas, atos de apóstolos, apocalipse.

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

A Cidade perdida de Mahendraparvata é encontrada depois de 1200 anos nas florestas do Camboja



Um grupo de pesquisadores, liderados pelo australiano Damian Evans e pelo francês Jean Baptiste Chevance, encontrou, com a ajuda de uma tecnologia a laser, uma cidade perdida há mais de 1200 anos nas florestas do Camboja. 

Evans é diretor da Universidade de Sydney e do centro de pesquisa arqueológica no Camboja, ele disse que o "momento eureka" na descoberta veio semanas antes, quando os dados do LIDAR apareceu na tela do computador. "Com este instrumento - Bang - de repente vimos uma imagem imediata de uma cidade inteira que ninguém sabia que existia, o que é notável", disse ele.

Heng Heap, um ex-soldado do Khmer Vermelho, guiou a expedição, guiando através do mato e contornando as minas terrestres na área onde ele conhece cada afloramento significativo, fluxo e vale. Ferido em três explosões de minas terrestres e vestindo uma perna de plástico protético, Heng Heap disse que ficou surpreso quando os arqueólogos, usando coordenadas GPS, apontaram-o diretamente para o sitio do templo que ele nunca soube que existia e que foram enterrados ou escondidos pela floresta.


Equipe liderada por Damian Evans explora cidade recém-descoberta do Camboja.  Imagem: http://www.technocrazed.com/a-1200-years-old-lost-city-discovered-in-cambodian-forest

"Eu sabia que algumas coisas estavam lá, mas não todas elas", disse Heng Heap. Os arqueólogos vários sítios com pedestais de templos desmoronados, que provavelmente foram saqueados séculos atrás.

Guiados pelo GPS carregados com os dados do LIDAR, foi que a equipe tropeçou em pilhas de tijolos antigos. Eles descobriram dois sítios do templo onde há rochas esculpidas ou tijolos antigos que podem ser encontrados espalhados nas proximidades, indicando que elas nunca foram saqueadas. Eles também encontraram uma caverna com esculturas historicamente significativas que foi usada por eremitas que eram comuns durante o período de Angkor.


Um buda esculpido em uma rocha em uma antiga cidade do Camboja que foi descoberto usando a tecnologia laser. Foto. Nick Moir

O SISTEMA LIDAR funciona disparando pulsos de laser rápidas em uma paisagem com um sensor, medindo o tempo que leva para cada pulso ser recuperado. Ao repetir o processo, a tecnologia constrói uma imagem complexa do terreno que é medida. Em Phnom Kulen, os dados revelaram centenas de montes misteriosos vários metros de altura em toda a cidade na maior parte enterrada. Uma teoria não comprovada é que eles eram túmulos onde os mortos eram enterrados, mas pode haver muitas explicações. "Nós ainda estamos tentando descobrir o que essas coisas eram", disse Evans.


Imagens de  Mahendraparvata tiradas pelo Sistema Lidar. Imagem: http://www.technocrazed.com/a-1200-years-old-lost-city-discovered-in-cambodian-forest

"Pode haver implicações para a sociedade de hoje... por exemplo, vemos a imagem que a paisagem era completamente desprovida de vegetação", disse ele. "Uma teoria que estamos vendo é que o impacto ambiental grave do desmatamento e a dependência de gestão da água levaram ao fim da civilização. Talvez se tornou muito bem sucedido, a ponto de se tornar incontrolável."

Durante séculos a montanha de Phnom Kulen manteve-se um lugar sagrado, aonde dezenas de milhares de peregrinos vêm a cada ano para banho e realizar ritos espirituais. A pesquisa arqueológica de cavernas esculpidas e leitos de rios mostra a área permaneceu ocupada durante todo o período de Angkor entre os séculos 9 e 16.

Mas a tecnologia LIDAR confirmou que Mahendraparvata foi construído em Phnom Kulen antes do rei Jayavarman II descer da montanha para construir outra capital a Angkor, perto de onde está agora. "Este é o lugar onde tudo começou, dando origem à civilização Angkor que todo mundo associa com Angkor", disse Evans. Construído ao longo de centenas de quilômetros quadrados, com uma população de centenas de milhares, talvez um milhão de pessoas, Angkor foi o maior complexo urbano de baixa densidade, pré-industrial do planeta, dominando sudeste da Ásia por 600 anos.

De acordo com o estudioso chinês Zhou Daguan, que gravou a vida na então capital entre 1294 e 1307, os governantes de Angkor governantes presidiam uma civilização baseada no trabalho escravo, onde as pessoas viviam nus da cintura para cima, enrolados em um pano. Eles moravam em cidades prósperas, de baixa densidade, com canais e aldeias e templos dedicados a um deus.


Arqueólogos no local do Camboja. Foto. Nick Moir.

De acordo com escrituras antigas, um sacerdote brâmane Jayavarman II tornou-se um "monarca universal" em 802. Mas pouco se sabe sobre a cidade que ele presidiu. Phnom Kulen foi coberto por selva por séculos até os madeireiros mudaram-se para a área na década de 1990, após anos de guerra civil. A área era um antigo reduto do Khmer vermelho, uma organização maoísta que surgiu em 1970 e tentou repetir os resultados agrícolas do período de Angkor, causando a morte de mais de um milhão de pessoas por excesso de trabalho ou de fome e centenas de milhares de pessoas foram executadas.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

O “Menestrel” ou “Depois de um Tempo”? William Shakespeare ou Veronica Shoffstall?


Reportagem do Lawrence Journal World de 1995, abordando o poema de Veronica Shoffstall. Imagem: http://kamibible.me/2010/04/28/even-sunshine-burns-if-you-get-too-much/

Encontrei um texto intitulado como O Menestrel (?) e também conhecido como Um Dia Você Aprende ou coisas similares. Ele começa assim:

Depois de algum tempo você aprende a diferença, a sutil diferença entre dar a mão e acorrentar uma alma. E você aprende que amar não significa apoiar-se, e que companhia nem sempre significa segurança. E começa a aprender que beijos não são contratos e presentes não são promessas. (…)

E por aí vai.

Não entrarei no mérito da qualidade, mas obviamente ele não foi escrito por Shakespeare e, aparentemente, quem o espalhou com essa autoria o fez como quem costuma fazer isso com a intenção de ver um texto ser espalhado sob o aval de um nome conhecido. Na verdade, o texto que circula por aí é a tradução corrompida, distorcida e alongada do texto, de um poema de autoria de Veronica Shoffstall e se chama After a While.

O que mais me irrita são comentários como: “Não importa quem escreveu. Importa que alguém escreveu”.

Desculpe-me, mas importa sim.

Um dia publicar informações erradas e autorias equivocadas na internet será considerado tão nocivo quanto atirar lixo nos rios. Mas o que estou dizendo… atirar lixo nos rios já é considerado nocivo e nem por isso as pessoas deixam de fazê-lo.

Shakespeare nunca escreveu textos de autoajuda, se você já leu algum texto de autoajuda creditado a Shakespeare, pode ter certeza de que não é dele.

Um Dia Você Aprende que..., Você Aprende ou Depois de um Certo Tempo são títulos para um mesmo hoax, um texto que circula pela internet com indevida atribuição de autoria . Trata-se de um texto de Veronica A. Shoffstall, que o escreveu aos 19 anos, no livro de formatura (yearbook) de sua escola, ao terminar o college (equivalente ao grau superior, no Brasil).

A autora registrou o copyright da versão original em 1971. O título, originalmente, era Comes the Dawn, mas o texto ficou mais conhecido como After a While. Começou a circular como sendo de William Shakespeare ainda nos Estados Unidos, onde recebeu acréscimos, cortes e alterações. Todas essas versões circulam no Brasil e no mundo todo, nas mais diversas línguas.

Na verdade, não há nem uma única frase do texto que possa ser encontrada nos trabalhos de Shakespeare. No entanto, a internet em inglês registra (em 15 de agosto de 2012) 46 milhões de referências para esse texto com a autoria indevidamente atribuída a ele, e apenas 22 mil referências para a verdadeira autora. Em português, há 8 mil para Shoffstall e 60 mil para Shakespeare.

Aqui temos nas palavras da própria autora o que ela acha da adulteração e plágio de seu texto sendo o mesmo creditado a Shakespeare:
Resposta original dada por Veronica Shoffstall ao ser indagada sobre o poema.
"This poem has been plagiarized, bastardized, renamed, reworded, redesigned, expanded and reduced. But it is my work, which I wrote at the age of 19 and had published in my college yearbook. Why anyone would want to claim it is beyond me, but for what it's worth, I wrote it, and if I'd known it was going to be this popular, I'd have done a better job of it.

Veronica Shoffstall

Tradução da resposta original do inglês para o português

"Este poema foi plagiado, degradado, renomeado, reformulado, ampliado e reduzido. Mas é o meu trabalho, que eu escrevi com a idade de 19 anos e havia publicado no meu anuário da faculdade. Porque alguém iria querer dizer que é de outra pessoa? Mas para mim o que vale a pena, é saber que eu escrevi, e se eu soubesse que ia ser assim popular, eu teria feito um trabalho melhor."
Veronica Shoffstall

"After a While"

After a while you learn
the subtle difference between
holding a hand and chaining a soul
and you learn
that love doesn't mean leaning
and company doesn't always mean security.
And you begin to learn
that kisses aren't contracts
and presents aren't promises
and you begin to accept your defeats
with your head up and your eyes ahead
with the grace of woman, not the grief of a child
and you learn
to build all your roads on today
because tomorrow's ground is
too uncertain for plans
and futures have a way of falling down
in mid-flight.
After a while you learn
that even sunshine burns
if you get too much
so you plant your own garden
and decorate your own soul
instead of waiting for someone
to bring you flowers.
And you learn that you really can endure
you really are strong
you really do have worth
and you learn
and you learn
with every goodbye, you learn...

© 1971 Veronica A. Shoffstall


"Depois de um tempo"

Depois de algum tempo você aprende a sutil diferença
entre segurar uma mão e acorrentar uma alma,