sexta-feira, 13 de abril de 2012

Saiba como a morte é encarada por diversas religiões


Anjo da morte (detalhe) por Evelyn De Morgan 


Segue-se abaixo uma seleção do significado da morte para diversas religiões, que a interpretam de maneiras diferentes. Entendo a palavra morte do latim mors, o óbito do latim obitu, falecimento (falecer+mento) ou passamento (passar+mento), ou ainda desencarne são termos que podem referir-se tanto ao cessamento permanente das atividades biológicas necessárias à manutenção da vida de um organismo, como ao estado desse organismo depois do evento. As alegorias comuns da morte são o Anjo da Morte, a cor negra, ou o famoso túnel com luminosidade ao fundo. A morte é o fenômeno natural que mais se tem discutido tanto em religião, ciência, opiniões diversas. O Homem, desde o princípio dos tempos, tem a caracterizado com misticismo, magia, mistério, segredo. Confira, em ordem o que as religiões dizem sobre o tema:
 PROTESTANTISMO


Significado: Os protestante acreditam que a morte é apenas uma passagem para outra vida e não aceitam a reencarnação.

"O movimento protestante acredita na próxima vida, mas em comunhão com Deus. Falar na vida eterna da alma é limitado porque acreditamos na ressurreição do corpo", diz o pastor da Igreja Metodista Fernando Marques.

Céu e inferno: Para os protestantes, existe o céu e o inferno. O julgamento ocorre não pelas ações da pessoa em vida, mas pela fé que ela teve na palavra de Deus e pelo amor ao Senhor.

Rituais: Os rituais de velório e enterro são semelhantes aos dos demais religiosos. No entanto, quando um protestante morre, o velório é feito em função da família e não para o morto. O mais comum é que o velório ocorra na igreja, mas também pode ser feito no próprio cemitério.

Os seguidores do protestantismo não usam velas, apenas flores. O ritual, chamado de Liturgia para Ofício Fúnebre, costuma ser feito pelo pastor, mas na ausência dele um leigo pode fazê-lo. A participação da comunidade é muito importante. São feitas leituras bíblicas e orações espontâneas.

O corpo do morto, de acordo com as tradições protestantes, pode ser cremado ou enterrado. Se for enterrado, no cemitério o corpo é acompanhado até o túmulo, onde a família recita um versículo da bíblia e o pastor faz uma breve despedida.

Não há cerimônias após a morte: Diferentemente da Igreja Católica, não há celebrações após a morte. Se a família desejar, pode fazer um culto de gratidão a Deus pela vida da pessoa, mas não é uma norma.

Os protestantes não têm imposição quanto ao luto.






CATOLICISMO

Significado: Para os católicos, a morte é uma passagem. "Não existem mortos, mas vivos e ressuscitados. O Senhor nos toca e nos reerguemos para a vida eterna", diz o padre Paulo Crozera, coordenador da pastoral Universitária da PUC-Campinas.

Não há reencarnação: Os seguidores do catolicismo acreditam que a morte é o batismo definitivo, o caminho para a vida eterna. Para eles, corpo e alma são uma só coisa. A reencarnação não é aceita.

Rituais: Os católicos velam os corpos do mortos e, além das orações populares que costumam ser feitas durante o velório católico, como o Pai Nosso e a Ave Maria, um padre ou ministro leigo das Exequias faz uma celebração para encomendar a vida da pessoa às mãos de Deus. Nesse ritual, há a celebração da passagem do morto à luz do mistério da morte, por meio de orações e da benção do corpo.

Simbolismo: As velas, colocadas ao lado do caixão, simbolizam a luz do Cristo ressuscitado, e as flores são a "primavera da vida que floresce na eternidade".

Celebrações: O corpo pode ser enterrado ou cremado. No momento do enterro, há a "benção do túmulo", cujo objetivo é pedir o acolhimento do corpo pela terra. Depois de enterrado, ocorrem celebrações em memória do morto no sétimo dia, no primeiro mês e no primeiro ano.
                                                                                     



JUDAÍSMO

Significado: Para os judeus, a morte não é o final da vida, apenas o fim do corpo, da matéria. "A verdadeira pessoa, que é a alma, é eterna", diz o rabino Avraham Zajac.

Reencarnação: Os seguidores da leis judaicas acreditam na existência de outro mundo, para onde as almas vão, chamado de olam habá (mundo vindouro). No entanto, a alma pode voltar para a terra, num outro corpo, para completar sua missão (reencarnação).

"Acreditamos que a situação de vida que a alma terá depende de como a pessoa viveu no nosso mundo. Não são dois mundos diferentes porque o tipo de vida levado aqui afeta a vida no olam. Cada alma está na terra por alguma razão e tem uma missão a cumprir", diz o rabino.

Rituais: Apesar de acreditar que a alma seja eterna, os judeus sentem a dor da perda e acreditam que ela deve ser expressada de várias maneiras.

Quando um judeu morre, há um ritual chamado de tahará (purificação), no qual o corpo é lavado pelo chevra kadisha (grupo sagrado). Os judeus não permitem que seus mortos passem por autópsia.

Depois de lavado, o corpo é envolvido em panos brancos e o caixão é fechado para que ninguém mais o toque. O enterro deve ocorrer o mais rápido possível.

"Tudo usado no enterro deve ser de materiais simples, das vestimentas ao caixão, para não haver distinção entre um e outro", diz o rabino. Por isso não são usadas flores nem velas.

Não é permitida a cremação: As leis judaicas não permitem que o corpo seja cremado. "Tudo tem que voltar para a sua origem, da mesma forma que a alma volta. Se o nosso corpo saiu do barro, da terra, a maneira mais respeitável é colocá-lo de volta", afirma o rabino.

Cerimônias: Junto do corpo, familiares e amigos rezam salmos e partes da Torá (livro sagrado dos judeus). Os parentes mais próximos rasgam um pedaço da roupa para mostrar o luto, que tem três etapas.

A primeira delas dura uma semana. Durante este período, os parentes mais próximos não saem de casa nem para trabalhar. A roupa rasgada usada no enterro não é trocada durante a primeira semana. Não há cuidado com o corpo porque a preocupação é voltada apenas à parte espiritual. Por isso, todos os espelhos da casa são cobertos.

Na primeira etapa, todos os amigos e familiares visitam a família que está de luto e conversam sobre a pessoa que morreu. "Não é saudável fazer de conta que nada aconteceu. Acreditamos que as pessoas tem que demostrar seus sentimentos", diz.

Até o final da segunda etapa do luto, que acaba depois de 30 dias, os homens não fazem a barba e os cabelos também não podem ser cortados. O luto termina no primeiro aniversário de morte, mas a pessoa sempre é lembrada na data de morte por todos os anos seguintes.


   


ISLAMISMO

Significado: Para os seguidores do islamismo, a morte é uma passagem desta vida para outra eterna. "Quem fizer o bem será julgado por Deus e vai para o paraíso. Quem fizer o mal também será julgado e irá para o inferno", diz Abdul Nasser, secretário-geral da Liga Juventude Islâmica do Brasil.

Os muçulmanos acreditam que o corpo após a morte não significa mais nada, mas a alma continua tendo valor. A morte se dá, portanto, quando o corpo se separa da alma.

Rituais: De acordo com as leis islâmicas, o corpo do morto é lavado pelos familiares -sempre do mesmo sexo- e enrolado em três panos brancos. Depois, é colocado num caixão para que os parentes mais próximos se despeçam dele.

Em seguida, o corpo é levado à mesquita do cemitério islâmico e a partir deste momento apenas os homens participam da cerimônia. O sheik faz as orações para a alma da pessoa, numa celebração que dura cerca de duas horas.

O caixão é carregado para o túmulo, composto por quatro paredes de pedra, onde o corpo será colocado sem o caixão em que foi transportado. O buraco é tampado com pedras e só depois de totalmente fechado a terra é jogada sobre a tampa.

Não é permitida a cremação: A cremação do corpo não é permitida pelas leis islâmicas.

O luto pela pessoa morta dura três dias. No entanto, quando a mulher perde o marido, o tempo de luto é de 4 meses e 10 dias. Na ocasião, a mulher não pode sair de casa, a não ser em caso de emergência.

Pela tradição muçulmana, quando a mulher perde o marido e está no começo de uma gravidez, ela deve se despedir passando debaixo do caixão, para mostrar aos presentes que espera uma criança.

"Acreditamos num Deus único, absoluto e individual, que jamais gerou ou foi gerado", diz Nasser.
BUDISMO


Significado: Para os budistas, a morte é a única certeza. "Se nos lembrarmos da inevitabilidade da morte, geraremos o desejo de usar nossa preciosa vida humana de modo significativo", diz Ani-la Kelsang Pälsang, do Centro Budista Mahabodhi.

"Treinamento": Os budistas acreditam que treinando a mente durante a vida, o indivíduo estará tranquilo e sereno quando chegar a hora de morrer, o que garantirá um renascimento afortunado.

Reencarnação: Os seguidores do budismo acreditam na reencarnação. "A única coisa que passa de uma vida para outra é nossa mente sutil. Como um pássaro mudando de ninho em ninho. Buda compara o processo de morrer e renascer com o ciclo de dormir, sonhar e despertar", diz Ani-la.

Reflexo da vida: De acordo com o budismo, toda ação em vida influencia decisivamente na vida futura. Para Buda, se a pessoa quiser saber quem foi no passado, basta olhar para sua condição no presente.

Ajuda: Diante da morte, os budistas procuram manter o equilíbrio e ajudar os amigos ou parentes que estejam morrendo. Evitam o choro e o desespero para que a mente da pessoa permaneça positiva.

Rituais: No Japão, de acordo com a monja zen-budista Coen de Souza, usam-se flores dentro do caixão, tradicionalmente, e, além disso, uma tigela com arroz cozido, água, um vaso com flores, velas e incenso são colocados sobre uma mesa para que nada falte ao morto.

Os budistas têm vários rituais funerários. Um deles é o powa (transferência de consciência), quando toda prece feita com intenção de ajudar o morto é válida e traz benefícios.

Não há luto: Há apenas preces e dedicação dos pensamentos positivos à pessoa que morreu. No entanto, nos lugares lugares mais tradicionais, como no Japão, a família guarda até 49 dias de luto como sinal de respeito.

ESPIRITISMO


Significado: Para os seguidores do espiritismo, a morte não existe. O espírito usa o corpo físico como instrumento para se aprimorar. "O corpo é uma veste e a reencarnação serve para o espírito evoluir", diz Ana Gaspar, das Casas André Luiz.

Reencarnação: Quando o corpo morre, o espírito se desliga e fica no mundo espiritual estudando e se preparando para uma nova encarnação. Com a reencarnação, o espírito adquire experiências e evolui em outro corpo sucessivamente.

Rituais: Os espíritas velam e enterram seus mortos da mesma maneira que os demais religiosos. Durante o velório, fazem preces e procuram manter o equilíbrio porque o espírito do desencarnado pode continuar por perto durante um período.

Os espíritas não usam velas nem flores nas cerimônias fúnebres. O corpo pode ser enterrado ou cremado. Não existe luto e a vida dos familiares segue normalmente. "O espírita não tem fé, ele tem certeza", diz Ana.




Posicionamento dos Luteranos em relação a enterro e cremação.


  Foto de Cemitério Luterano no RS. O anjo segura uma faixa com epitáfio em alemão:Abençoados são os que morrem no senhor.”

A morte não faz parte do propósito salvífico de Deus para com a sua criação. Está diametralmente oposta à vida, que é característica de Deus (Rm 6.23). Portanto deve ser vencida. É o último inimigo de Deus. A vitória de Deus sobre a morte já aconteceu no evento da cruz e da ressurreição de Jesus Cristo. Jesus, integralmente, se expôs ao poder da morte e com isso a venceu em seu bojo. Por ser Cristo o primogênito dentre os mortos, cremos em vida para além da morte. Esta vida nos é dada por Deus, e nós a podemos viver já agora em comunhão com ele. Temos a certeza de que a realidade de Deus é mais forte que a morte (Rm. 8.31-39), razão pela qual esperamos em que faça nova criação e dê nova vida ao ser humano. Esta certeza norteia também o sepultamento cristão.
Consequentemente, o sepultamento é para a Igreja oportunidade de testemunho público de sua fé na ressurreição e de consolo aos enlutados. Representa igualmente um ato de respeito ao defunto, lembrando que o corpo humano, mesmo falecido, é criação de Deus.
O sepultamento é mais que um ato familiar. É um ato comunitário. A Comunidade cristã é chamada a cuidar de seus doentes, de seus moribundos, de sepultar os mortos condignamente e de acompanhar os enlutados. Como o sepultamento diz respeito a toda a Comunidade, deve-se dar especial atenção à participação desta Comunidade.
A esperança é o centro do sepultamento cristão. Ela é testemunhada em meio ao sofrimento e ao lamento diante da morte. Expressa-se nas leituras bíblicas, nos hinos, nas orações e principalmente na pregação. Confessa-se, pois:
  • que Deus é o Senhor dos vivos e dos mortos;
  • que a "comunhão dos santos" engloba os vivos e os que morreram em Cristo;
  • que todos os presentes ao sepultamento estão caminhando em direção ao dia da ressurreição.
    Assim a família e a Comunidade despedem-se da pessoa tirada de seu meio pela morte, na certeza de que Jesus Cristo ressuscitou e há de ressuscitar também a nós.
A pregação deve orientar-se na situação específica. Esta também determinará a escolha do texto. (...) A mensagem do juízo e da graça de Deus deverá ser anunciada em relação ao momento específico.
É convicção luterana que nada podemos fazer para influenciar a sorte das pessoas falecidas junto a Deus. Deus é soberano em seu juízo e em sua graça. Por isto se proíbem "cultos em favor dos falecidos" ou atos semelhantes. O que podemos fazer é agradecer por suas vidas, recomendá-los à graça divina e por eles interceder. (...)
Na fórmula de sepultamento importa evitar falar em "entregarmos seu corpo...". Tal linguagem pode fomentar compreensões espíritas, de que o corpo é sepultado enquanto a alma ou o espírito continuariam vivendo e se reencarnando. Sugerimos formulações como "entregamo-lo/a" o "entregamos o/a falecido/a".
A forma de sepultamento é livre. Os familiares do/a falecido/a decidem sobre ela. A comunidade evangélica de confissão luterana respeitará a decisão tomada e acompanhará o sepultamento na forma escolhida.
Na Igreja cristã tem prevalecido a forma de enterro. O cadáver está sendo devolvido à terra de que, conforme Gn 3,19, foi formado. Mas também a cremação é uma forma de devolução da pessoa à terra. Ela não contradiz os princípios cristãos, e mais e mais tem se tornado praxe nas Igrejas luteranas.
A membros que se escandalizam com a cremação de uma pessoa falecida, ou que se sentem inseguros diante da decisão a tomar, diga-se:
  • A fé cristã não prescreve a forma de sepultamento; portanto, não existe um modo especificamente cristão deste ato;
  • A escolha da forma de sepultamento faz parte do exercício da liberdade cristã;
  • Dentro desta liberdade é lícito levar em consideração aspectos econômicos, higiênicos, de espaço físico, de distância geográfica ou outros, na opção por uma ou outra modalidade.
Quanto a possíveis objeções teológicas à cremação, convém lembrar:
  • O receio de que a destruição do corpo impediria a ressurreição é infundado. Deus saberá recriar o que uma vez criou, mesmo que aos olhos humanos a pessoa falecida tenha desaparecido completamente;
  • Quando, no início da Igreja cristã, mártires foram queimados/as e suas cinzas espalhadas ao vento ou na água pelos inimigos da Igreja, esta sempre afirmou que estes/as mártires, sem dúvida, participariam da ressurreição dos mortos.
A cremação, pois, não se presta a demonstração anti-cristã. Ela não limita ou impossibilita a ação re-criadora de Deus.
Há que se combater, isto sim, a idéia de que a cremação liberta ou purifica a alma ou o espírito de seus laços materiais e atinge somente o corpo. Toda a pessoa com corpo, alma e espírito, morre e desaparece desta vida, não havendo aí nenhuma diferença entre enterro e cremação.
Recomenda-se, ainda, com insistência, que a urna com as cinzas não seja guardada em casa, mas enterrada em local apropriado, para evitar que surja veneração de mortos/as ou que se criem amarras psicológicas.
Diante da falta de prática da IECLB no acompanhamento a familiares que optaram pela cremação de uma pessoa falecida, sugere-se que sejam realizados estudos a respeito, por instituições ou Sínodos, e seja elaborada orientação para os/as obreiros/as da Igreja.

"Porque eu estou bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem anjos, nem principados, nem cousas do presente, nem do porvir, nem poderes, nem altura, nem profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor." (Rm 8.38,39)

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terça-feira, 10 de abril de 2012

Que tipo de Páscoa foi a sua, pagã ou cristã?




Tenho me surpreendido com as últimas informações a respeito da fabricação, venda e consumo dos chamados ovos de páscoa. Como tudo no mundo capitalista há uma grande expectativa dos empreendedores ligados ao ramo do chocolate que projetam uma triplicação dos negócios e por consequência um aumento significativo em ofertas de empregos temporários e até fixos. 

Mas, até aonde a chamada festa da páscoa conserva seus objetivos cristãos? 

Em primeiro lugar, é necessário esclarecer que a ideia dos coelhos que botam ovos de chocolate é de origem pagã. Este costume é uma alusão a antigos rituais pagãos relacionados à deusa da fertilidade e do renascimento da mitologia anglo-saxã. A ideia original no paganismo está relacionada à sorte que uma lebre sacrificada poderia trazer em suas entranhas. Acompanhadas do ritual de previsão do futuro, sacerdotisas pagãs ministravam a tal benção ligada à prosperidade. 

Em segundo lugar, a festa da páscoa judaica está relacionada não diretamente a saída do povo judeu do Egito, mas sim ao livramento da praga da morte dos primogênitos, razão esta que levou Faraó a aceitar a saída do povo de Deus de sua servidão que já permanecia 400 anos. A palavra páscoa, original hebraico – “pessach” – significa: pular além da marca, passar por cima ou poupar, desta maneira o cordeiro perfeito proposto por Deus para sacrifício era uma tipologia a respeito da promessa do Messias. 

Em terceiro lugar, a festa da páscoa cristã deveria estar relacionada à correta interpretação bíblica da tipologia do livramento do povo judeu da praga da morte dos primogênitos e por consequência sua libertação da escravidão de Faraó. Tratando-se de uma sombra, o sacrifício do cordeiro aponta para a mensagem reconhecedora de João Batista que apontou para Jesus e disse:Eis aí o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” – João 1:29. 

“Depois do sábado, no domingo bem cedo, Maria Madalena e a outra Maria foram visitar o túmulo. De repente, houve um grande tremor de terra. Um anjo do Senhor desceu do céu, tirou a pedra e sentou-se nela. Ele era parecido com um relâmpago, e as suas roupas eram brancas como a neve. Os guardas tremeram de medo do anjo e ficaram como mortos.
Então o anjo disse para as mulheres: — Não tenham medo! Sei que vocês estão procurando Jesus, que foi crucificado, mas ele não está aqui; já foi ressuscitado, como tinha dito. Venham ver o lugar onde ele foi posto. Agora vão depressa e digam aos discípulos dele o seguinte: "Ele foi ressuscitado e vai adiante de vocês para a Galileia. Lá vocês vão vê-lo." Era isso o que eu tinha a dizer para vocês. Elas foram embora depressa do túmulo, pois estavam com medo, mas muito alegres. E correram para contar tudo aos discípulos.
De repente, Jesus se encontrou com elas e disse: — Que a paz esteja com vocês! Elas chegaram perto dele, abraçaram os seus pés e o adoraram. Então Jesus disse: — Não tenham medo! Vão dizer aos meus irmãos para irem à Galileia, e eles me verão ali.”--
Mateus 28:1-10 

Frequentemente, também nós, a exemplo dos discípulos de Jesus, não compreendemos direito o seu Reino e nos perdemos na busca por posições de importância ou de comando, ou mesmo queremos afastar-nos da vontade de Deus. Aos seus discípulos, Jesus precisou lembrar que eles estavam indo a Jerusalém, que era chegada a hora do Filho do Homem ser glorificado.

Que a autossuficiência e a soberbia de nos apegarmos a uma vida tranquila e descompromissada com a Vida Verdadeira, não sejam motivo para negar a fé em Jesus Cristo. Que tenhamos a valentia de reconhecer nossas faltas, porque a fé é um dom, dada por Cristo, não para nossa glória, senão para consolar, estar junto ao nosso próximo, nossa irmã e estarmos firmes na esperança que nos presenteia o Deus da Vida.

A festa da Páscoa além de absorver ideias errôneas e idólatras do paganismo apaga a memória correta da razão do nascimento e morte de nosso Salvador. Como podemos observar as chamadas datas de feriados religiosos em nosso país não contribuem em nada para o exercício da fé cristã bíblica, além de ser objeto de manipulação para o consumismo e os interesses capitalistas. Cabe a nós, que pela graça de Deus alcançamos a liberdade em Cristo, anunciarmos que Ele é o nosso Cordeiro pascal e que Ele morreu em nosso lugar, como um substituto voluntário para que por meio Dele tenhamos a vida eterna. Amém.

Queridos amigos, queridas amigas: Lembrem-se, algumas coisas são explicadas pela ciência, outras pela fé. A Páscoa ou pessach, é mais do que uma data, é mais do que ciência, é mais do que a fé, Páscoa é AMOR” (A. Einstein).

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quinta-feira, 5 de abril de 2012

Átila, o Rei dos Hunos. “Ego Sum Flagellum Dei”!

Estátua de Átila na Hungria.


Autor: Leandro CHH do Blog Construindo História Hoje.

O relato da vida e morte de Átila, o Rei dos Hunos, como consta nos texto do historiador romano Priscus.
Apesar de ser um individuo com uma personalidade agressiva e desconfiada, Átila permitiu-se acompanhar por romanos durante os períodos de paz entre ambos os povos. Foi nesses períodos que Priscus pode conhecer melhor o homem por detrás do “flagelo de Deus” (Flagellum Dei), era dessa forma que Átila se autointitulava.

 Átila o Huno, segundo uma representação artística. 

Os hunos moravam em complexos murados semelhantes a povoados muito grandes. Como observou Priscus: “dentro da muralhas haviam um numeroso grupo de prédios, alguns feitos de tábuas e construídos  próximos para fins decorativos, outros eram feitos de troncos de madeira cuja casca havia sido arrancada, e haviam sido planejados em seguida. Eram dispostos em colunas circulares feitas de pedra, que começavam no chão e chegavam a uma altura moderada”.
Átila morava na maior residência, que era embelezada com torres para diferenciá-la das demais. Os aposentos eram acarpetados com tapetes que pareciam ser de lã e as mulheres hunas faziam bordados coloridos e delicadas roupas de cama e mesa. Os hunos jantavam em sofás, no mesmo estilo dos romanos. Tapeçarias e trabalhos ornamentais multicoloridos eram pendurados para decorar os quartos. Embora os guerreiros hunos praticassem a poligamia, estima-se que as mulheres tivessem um status superior entre os hunos em comparação com a maioria das sociedades nômades, das estepes ou orientais. 

Concepção artiistica de um Cavaleiro Huno. 
Apesar de uma sociedade guerreira, o caráter masculino era superior e algumas das descrições de Priscus mostram que as mulheres desempenhavam um papel de “embelezar” os rituais e trabalhos nas casas.
Mapa do Império Huno, em seu avanço máximo ao Oeste.

A entrada de Átila na sua sala de jantar é assim descrita:
“Quando Átila estava entrando, as moças vieram vê-lo e se perfilaram diante dele caminhando sob estreitas tiras de tecidos de linho branco, sustentadas pelas mãos de mulheres dos dois lados. Essas faixas de tecido eram esticadas de tal forma que sob cada uma delas caminhavam pelo menos sete moças. Havia muitas fileiras de moças sob os tecidos e elas cantavam canções citas.”

O próprio Átila não impressionou tanto Priscus à primeira vista: Baixo, de peito largo, rosto desmedido e corpo atarracado, tinha olhos pequenos e profundos, um nariz achatado e uma barba rala levemente grisalha. Caminhou ao longo da parede com um arrogante modo de andar, obsevando com altivez de um lado para o outro. Inconstante, melancólico, desconfiado, Átila parecia ser abstêmio em relação ao vinho e sem senso de humor: os bufões faziam os outros hunos rirem, mas Átila sentava lá, remoendo, taciturno e com a cara amarrada.
O único momento em que revelava um lado humano era quando seu filho caçula, Ernac, entrava no salão de banquetes. Priscus notou que os olhos rijos de Átila se enterneciam imediatamente; ele chamava o menino e acariciava sua bochecha. Por que ele era o preferido, perguntou-se Priscus? Parecia que um vidente lhe dissera certa vez que sua família entraria em decadência após sua morte, mas que Ernac restabeleceria a riqueza dos hunos. Profundamente supersticioso, habituado a presságios, oráculos, xamãs e curandeiros, Átila levou isso muito a sério.

Ilustração do Exército Huno.
No entanto, a despeito da sua figura, quanto mais Priscus o observava, mais ficava impressionado. Ele não era apenas um assassino brutal e um tirano cruel, mas revelava sagacidade e até sabedoria:

“Embora um amante da guerra, não era propenso à violência. Era um conselheiro muito sábio, misericordioso para com  quem o aceitava como amigo”.

Não tinha a riqueza como objetivo, exceto como um meio de controle político e social, e seus próprios gostos tendiam à austeridade em vez do visível consumo. Novamente nas palavras de Priscus:

“Enquanto para os outros bárbaros e para nós, só havia pratos preparados generosamente servidos em travessas de prata, para Átila havia somente carne em um prato de madeira...Copos de ouro e prata eram entregues para os homens no banquete, enquanto o dele era de madeira. Sua roupa era simples e não era nada diferente das demais, com exceção do fato de ser limpa. Nem a espada que ficava pendurada na lateral de seu corpo, nem as fivelas de suas botas bárbaras e nem as rédeas de seu cavalo eram decorados com ouro ou pedras preciosas, como aqueles de outros citas.”

Retrato anônimo de Átila (provavelmente do século XIX). Aparece representado como um europeu, embora seus traços devessem ser de tipo mongólico ou centro-asiático.

Átila estava assim enviando uma mensagem sutil. Não precisava das manifestações externas e ornamentos do poder, tendo em vista que estava muito seguro de seu próprio destino. Também estava dizendo para aqueles que o apoiavam que ele nunca poderia ser comprado com o ouro romano, e que só a austeridade dava origem a grandes guerreiros. Átila era cruel e liquidava inimigos conhecidos num abrir e fechar de olhos, mas também era inteligente e percebeu que a simples brutalidade acabava afastando até os discípulos próximos: conhecia suficientemente a história de Roma para se lembrar dos imperadores que tinham sucumbido por causa de sua crueldade insensata: Calígula, Nero, Domiciano, Commodus, Elagabulus. Seus seguidores tinham de saber que ele era duro, e ele lhes dava muitas provas disso; mas eles também precisavam perceber que ele era capaz de moderação, conciliação e respeito por parte de seus subordinados, o que faria valer a pena estabelecer uma parceria com ele para a vida toda.
Armamento usado pelos Hunos.

Foi por volta do ano de 451d.C, quando em sua campanha na França, Átila invadiu a cidade de Troyes. O bispo Lupus de Troyes foi pedir rendição conciliatória a Átila e disse-lhe ser um homem de Deus. Átila então respondeu EGO SUM FLAGELLUM DEI (eu sou a cólera de Deus), e isso se tornou parte das duradouras histórias de luta dos reinos cristãos sobre Átila.

 O Arco e a Flecha eram as armas principais dos Hunos.

Cavaleiro Huno, portando seu arco e flecha. Ilustração 1.
Cavaleiro Huno portando seu Arco e Flecha. Ilustração 2.

Cavaleiro Huno portando seu Arco e Flecha. Ilustração 3.

No retorno para a Hungria de sua campanha na Itália por volta de 452-453d.C, Átila planejava outra guerra de conquista, agora contra os bizantinos. Foi nesse contexto que o polígamo Átila fez outro casamento político, acrescentando uma princesa alemã chamada Ildico a seu pequeno grupo de esposas. Os hunos davam muito valor à posse de mulheres bem-nascidas, considerando-as como um acréscimo essencial para seu prestígio e exigindo frequentemente princesas e “damas” como parte do tributo pagos pelos inimigos conquistados. Uma requintada festa de casamento foi realizada no início de 453d.C.

 
A Festa de Átila, quadro do pintor húngaro Mór Than. Baseia-se no fragmento de Priscus, que o representa de branco na parte direita, segurando seu livro de história.

Segundo o historiador romano Priscus foi durante essa festa de casamento que Átila morreu subitamente e de forma estranha. Segue o relato de Priscus:

“Pouco antes de morrer, ele (Átila), se casou com uma moça muito bonita chamada Ildico, depois de outras inúmeras esposas, como era o costume de seu povo. Ele se entregou ao regozijo excessivo na festa de casamento, e quando se deitou de costas, cheio de vinho e de sono, um fluxo de sangue superficial, que deve ter saído de seu nariz, desceu pela garganta e o matou, uma vez que foi impedido de passar pelas vias normais. No dia seguinte , de manhã, os criados reias suspeitaram de algum mal,e, depois de grande alvoroço, irromperam nos aposentos. Descobriram que a morte de Átila estava consumada por um derramamento de sangue, sem nenhum ferimento, e a moça com o rosto abatido, chorando por detrás do véu.”

 Vestimenta de soldados hunos.

Essa é a versão convencional sobre a morte de Átila, geralmente aceita pelos historiadores. Os sintomas descritos sugerem ou a ruptura de uma úlcera do aparelho digestivo, possivelmente provocada pelo profundo estresse pelo qual Átila estava passando, ou hipertensão em uma veia importante do corpo – varizes na garganta provocadas pelo excesso de alcoolismo. Se uma dessas veias se rompe, o sangue vai direto para os pulmões, no caso dele, que estava deitado de costas; se ele estivesse de pé ou sóbrio, o ataque não teria sido fatal.
Os hunos prantearam seu grande líder. É assim que Priscus descreve os ritos fúnebres:

“No meio de uma planície seu corpo ficou deitado em uma tenda de seda, e um espetáculo extraordinário foi apresentado solenemente. Os melhores cavaleiros de todo o povo huno fizeram um círculo em torno do local onde seu corpo jazia, como nos jogos circenses, e recitaram suas façanhas em um canto fúnebre...Quando eles prantearam com tais lamentos, com grande folguedo celebraram no seu túmulo o que eles chamam strava, e deixaram-se abandonar em uma mistura de alegria e luto...Entregaram seu corpo à terra no sigilo da noite...Acrescentaram as armas dos inimigos conquistadas em combate, adornos para cavalos brilhando com várias pedras preciosas e ornamentos de tipos variados, as marcas da glória real. Além disso, para que essas grandes riquezas fossem mantidas a salvo da curiosidade humana, aqueles que tiveram a tarefa de arrumar tudo foram recompensados com a morte.”

 Átila. De uma ilustração para a Edda Poética.

Alguns detectaram “demasiados protestos” no hino funeral, ao se declamar as conquistas de Átila, depois prosseguindo: “ quando ele tinha conquistado tudo isso favorecido pela sorte, caiu não por causa do adversário, nem  em virtude da traição de seus amigos, mas no meio de seu povo em paz, alegre em seu regozijo e sem nenhuma sensação de dor. Há até quem chame isso de morte e ninguém acredita que seja uma vingança”.

Todavia, a versão oficial da morte de Átila é problemática em vários níveis. Véus, noivas chorosas, nenhum grito, portas fechadas à chave –tudo isso se parece demais com um mistério; a descrição preparada não convence. A versão recebida pode ser criticada em vários níveis diferentes. Priscus, o historiador em quem devemos confiar para tudo o que diz respeito a Átila, nem estava na Europa quando o grande líder huno morreu, uma vez que se encontrava em missão diplomática no Egito. Seu relato é de segunda mão ou até de terceira. Não traz nenhuma relação com aquele feito em primeira mão por Priscus, a respeito do banquete em 449d.C. na sua descrição, o historiador fala que os outros hunos estavam bebendo e se divertindo, mas afirma que Átila estava distante, abstêmio, bebendo aos pouquinhos, enquanto os outros davam grandes goles. Em poucas palavras o caráter de Átila apresentado por Priscus na qualidade de observador é muito distante da personalidade revelada na última descrição de sua morte. Naturalmente, era do interesse dos filhos de Átila e dos logades conspirar para dar a ideia de uma morte repentina e natural; a última coisa de que eles precisavam para poder ter uma sucessão pacífica era uma investigação lenta sobre um plano de assassinato. Se essa versão é suspeita, quais são as prováveis circunstâncias da morte de Átila?  Aqui a suspeita se volta contra o imperador bizantino Marciano, um inimigo implacável, subestimado por Átila. Os bizantinos estavam bem preparados para usar o assassinato como um instrumento político. O segundo motivo diz que o germano Edeco, pai de Odoacro, era um seguidor leal de Bleda, irmão de Átila, assassinado pelo mesmo. Edeco teria planejado uma vingança a longo prazo. Assim sendo, a morte de Átila, em 453a.C, estaria relacionada ao assassinato de Bleda, em 445d.C. Edeco poderia ter sido um autêntico agente duplo, ou pode ter sido “transformado” pelos bizantinos em algum momento.

Quanto ao meio usado para o assassinato, é mais provável que o envenenamento lento tenha sido fatal para Átila, possivelmente até a ingestão de bebidas em pequenos goles durante o banquete do casamento.


Autor: Leandro CHH


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McLYNN, Frank. Heróis e Vilões: Por dentro da Mente dos Maiores Guerreiros da História. São Paulo: Larousse do Brasil, 2008.

“De origine actibusque Getarum” do Historiador romano Jordanes, traduzido para o espanhol por: MARTÍN, José, María Sánhez. Origen y gestas de los godos Madri, Cátedra, 2001.