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lguns acreditam que a
civilização humana começou quando o homem conseguiu produzir e controlar o fogo
para seu benefício. Antes disso, o fogo era visto como algo terrível e
destruidor. Eventualmente, humanos, em diversas partes do planeta, descobriram
que pequenos fogos controlados, ou fogueiras, podiam trazer conforto quando
fazia frio e ajudar a enxergar no escuro. Passaram a reunir-se ao redor de
fogueira. Logo descobriram que alimentos preparados no fogo tinham melhor gosto
e duravam mais, e também que o fogo ajudava durante a caça e servia como defesa
contra predadores. Por volta de 500.000 a.C., métodos pra se criar fogo foram
descobertos quase ao mesmo tempo em várias partes do mundo. Os métodos mais
antigos incluem diversas técnicas de fricção, como esfregando dois gravetos. Na
América do Norte, as tribos iroquois e inuit (esquimós) desenvolveram instrumentos
bastante eficientes que criavam fogo com facilidade.
Com
o controle do fogo, o homem pôde amenizar as duras condições de vida impostas
por uma natureza muitas vezes hostil e dar um passo decisivo na luta pela
sobrevivência. Os alimentos passaram a ser cozinhados. A iluminação e o
aquecimento dos locais frios e escuros tornaram mais fácil a permanência nas
cavernas. A defesa contra os animais ferozes tornou-se mais eficaz. O fabrico
de instrumentos aperfeiçoou-se. A utilização do fogo provocou ainda alterações
físicas, demográficas e sociais na vida das primeiras comunidades.
Nossos
ancestrais levaram milhares e milhares de anos para conseguir o domínio do
fogo. Não foi tarefa fácil. O ato “ridiculamente simples” de acender um fósforo
representa a luta e o esforço de milhares de indivíduos ao longo de milhares de
anos. Não é possível precisar as circunstâncias exatas em que se deu esse
grande passo da humanidade. É provável que não tenha sido um evento isolado. É mais
plausível supor que o domínio do fogo tenha sido conquistado e perdido várias
vezes ao longo das gerações e em lugares e circunstâncias diferentes.
Isso
não importa num sentido mais amplo, podemos perfeitamente retratar essa grande
conquista pela história de Uga, “o deus dos macacos”. A luta do homem com a
natureza hostil e contra seus próprios temores do desconhecido de ter sido
fenomenal. Não fosse a coragem ou curiosidade de um Uga ou, quem sabe, um raio
fortuito (;)) é que quase certo que você não estaria hoje lendo essa página. É
provável inclusive que você sequer existisse ou fosse, ainda, apenas um outro
Uga, ou talvez nem isso.
Foi o fogo que deu ao homem pré-histórico o
poder de realmente dominar outros animais. Foi graças ao fogo que o homem pôde
sair de seu ninho seguro para desbravar o planeta. Foi o fogo que permitiu ao
homem sobreviver aos rigores do tempo. Foi o fogo que permitiu ao homem
desenvolver uma tecnologia, fundir metais, vidros e cozer alimentos. Sem o
fogo, continuaríamos eternamente na pré-história ou, quem sabe, teríamos sido simplesmente
extintos por animais mais fortes e adaptados ao meio.
Parece
estranho, quase um absurdo, que uma simples tocha de madeira tenha feito
tamanha diferença. Mas é exatamente esse o ponto. São as pequenas diferenças
que fazem o grande mistério do Universo.
Leandro Claudir Pedroso
Você quer saber mais?
Biehl,
Luciano Volcanoglo. A Ciência Ontem, Hoje e Sempre, Canoas: Editora da Ulbra,
2008.
Popper,
Karl. A Miséria do Historicismo. São Paulo: Cultrix, 1980.
Capra,
Fritjof. A Teia da Vida. São Paulo: Cultrix, 1997.
Capra,
Fritjof. O Ponto de Mutação. São Paulo: Cultrix, 1986.