Além dos Evangelhos e das Epístolas paulinas, outros testemunhos
importantes a respeito da crucificação de Jesus são citadas pelo historiador
judeu Flávio Josefo, pelo historiador romanoTacitus e
pelo Talmude. Abaixo os detalhes de cada uma das fontes:
1-Flávio Josefo nasceu em Jerusalém, em 37 ou 38 d.C., e pertencia à aristocracia
sacerdotal judaica. Na guerra judaica (66 – 70 d.C.), foi o
responsável pela proteção de Jerusalém contra o exército romano. Diante do
poderio das tropas imperiais Jerusalém foi totalmente destruída e Josefo foi
feito prisioneiro. Após obter o perdão imperial (supostamente profetizou
que Vespaziano seria imperador), recebeu cidadania romana (daí o nome
latino Flavius Josephus), uma residência, terras e uma pensão imperial. As
obras mais famosas de Josefo são: Antiguidades Judaicas,Guerras
Judaicas, A Vida de Josefo (uma polêmica autobiografia) eContra
Apion (uma apologia). O trecho em que Josefo cita Jesus parece ter sofrido
interpolações cristãs (o trecho ficou conhecido como Testimonium
Flavianum, Ant. 18,63s)[1], por isso citarei o texto colocando entre
colchetes aquilo que, de acordo com Dominic Crossan[2], provavelmente
representa acréscimo cristão:
“Por volta dessa
época viveu Jesus, um homem sábio [se é que se deve chamá-lo de homem].
Pois ele era capaz de proezas surpreendentes e ensinava as pessoas a aceitar a
verdade com alegria. Ele conseguiu converter muito judeus e muitos gregos. [Ele
era o messias]. Quando Pilatos, ao saber que ele havia sido acusado pelos
homens mais influentes entre nós, condenou-o a crucificação, aqueles que o
amavam em primeiro lugar não desistiram por sua afeição por ele. [No
terceiro dia ele apareceu-lhes recuperado para a vida, pois os profetas de Deus
haviam previsto esta e inúmeras outras coisas maravilhosas sobre ele.] E a
tribo dos cristãos, assim chamados por causa dele, não desapareceu até hoje.”
(Antiguidades Judaicas, 18,63).
2. P.
Cornelius Tacitus era membro da aristocracia
senatorial romana. Nascido por volta de 55, foi contemporâneo mais jovem de
Flávio Josefo. São de sua autoria duas famosas obras: as
Histórias (c. 105/110) e os Anais (c. 116/117). Tacitus tinha
repulsa tanto pelos judeus como pelos cristãos. Duas frases
escritas por ele mostram isso: “com relação a qualquer outro povo [os judeus]
sentem apenas ódio e inimizade” (Histórias 5.5.1); “[os cristãos são] uma
classe de homens detestados por seus maus hábitos” (Anais 15.44). No intuito de
explicar a origem do movimento cristão, ele fala da crucificação de Jesus:
“Este nome
(christiani) vem de Cristo, que foi executado sob Tibério pelo procurador
Pôncio Pilatus”.
(Anais, 15,44,3).
3. O
Talmude (sec. III e IV d.C.),
coleção de leis, preceitos, tradições e costumes judaicos, também faz
referência à crucificação de Jesus. Muitas dessas referências representam
respostas à provocações dos cristãos e é possível que algumas delas contenham
algo de histórico. Uma merece especial atenção:
“Na véspera da festa
de Páscoa suspenderam Ieshu. Quarenta dias antes gritou o arauto: ele será
levado ao apedrejamento porque praticou feitiçaria e porque seduziu Israel e o
fez apóstata. Quem tem algo a dizer em sua defesa que venha e o diga. Como nada
foi apresentado em sua defesa, ele foi pendurado na véspera da festa de
Páscoa...”
(Talmude Babilônico Sinédrio 43a).
Referências bibliográficas:
GRELOT, Pierra. A
esperança judaica no tempo de Jesus. São Paulo: Loyola, 1996.
THEISSEN, Gerd. O
Jesus histórico, uma manual. São Paulo: Loyola, 2002.
VERMES, Geza. A
paixão. Rio de Janeiro: Record, 2007.
CROSSAN,
Dominic. Quem matou Jesus? Rio de Janeiro: Imago Ed., 1995.
Notas:
[1] Uma ampla
discussão a respeito da autenticidade do Testimonium Flavianum pode ser
consultada na seguinte obra: THEISSEN, Gerd. O Jesus histórico, uma manual. São
Paulo: Loyola, 2002, p. 85-94.
[2] Cf. CROSSAN,
Dominic. Quem matou Jesus?, p. 17,18.
Jones Mendonça
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