Cachorro com anatomia "moderna" de um Canis Lupus familiaris está presente na América do Sul a 1.500 anos segundo novas descobertas.
Cientistas encontraram
vestígios de cão que viveu há cerca de 1.500 anos, o que revela que o animal
pode ter sido domesticado antes da chegada dos europeus.
Com porte médio, pelagem
escura e aspecto semelhante ao de um doberman, o cão mais antigo do Brasil
vivia em acampamentos humanos no Rio Grande do Sul, há cerca de 1.500 anos.
Com
base em dois dentes molares e fragmentos do maxilar de um cachorro encontrado
às margens da Lagoa dos Patos, cientistas reconstruíram a história da
domesticação dos cães no país e descobriram que, cerca de 1.000 anos antes da
chegada dos europeus, já vivíamos com cães de estimação. É a primeira vez que
os pesquisadores encontram vestígios de um cachorro tão antigo no país.
Para chegar a essa
conclusão, uma equipe composta pela bioarqueóloga brasileira Priscilla Ulguim,
pesquisadora da Universidade de Teesside, na Inglaterra, e por cientistas da
Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e do Instituto Nacional de Antropologia e Pensamento Latinoamericano, na Argentina, analisou os vestígios do cão e
comparou-os a seus parentes selvagens e nativos da América do Sul, para verificar
se se tratava de um exemplar de Canis lupus familiaris, nome científico do cão
doméstico que conhecemos hoje.
Em seguida, os pesquisadores
fizeram datações pelo o método do carbono-14 e descobriram que o animal tinha
morrido entre 1.700 e 1.500 anos atrás, ou seja, pelo menos um milênio antes da
chegada de Pedro Álvares Cabral ao Brasil. Isso é uma descoberta importante,
pois quase não há registros de cachorros domésticos antes da chegada dos
europeus ao Sul da América do Sul.
Análises químicas indicaram
também que o animal tinha uma dieta que consistia em recursos aquáticos, como
peixes. Ainda são necessários mais estudos para confirmar essa ideia – porém,
se comprovada, é possível que o animal se alimentasse dos restos das pescarias
humanas feitas na lagoa. O estudo foi publicado na revista científica
International Journal of Osteoarchaeology.
Cães
domésticos
A domesticação dos cachorros
na América parece ser mais complexa que na Europa, onde estudos demonstram que
os primeiros cães passaram a viver com humanos há, no mínimo, 18.800 anos. Os
animais, que evoluíram a partir dos lobos, ajudavam na caça, em atividades como
guardar e proteger rebanhos, além de fazer companhia aos homens.
Nas Américas do Norte e
Central foram encontrados fósseis de cães domésticos de 10.000 anos e, na
América do Sul, os registros têm cerca de 7.500 anos, achados principalmente
nas regiões andinas. Contudo, na região mais ao Sul, que inclui o Brasil, a
maior parte dos registros indica a presença dos cachorros após a chegada
europeia, o que torna a idade do cão analisado pelos pesquisadores um indício
de que a domesticação dos animais pode ter acontecido nas Américas de maneira
independente – e também por razões diferentes.
Segundo os cientistas, o
próximo passo do estudo será a realização de uma análise genética para
descobrir a que raça pertencia a espécie.