O Popol Vuh é
o livro sagrado dos maias, repositório fundamental das crenças desse povo que
conheceu o seu apogeu durante o chamado Período Clássico, que vai de 250 d.C.
até cerca de 900
d.C. Popol Vuh quer dizer “livro do conselho”,
e a versão que hoje conhecemos, escrita após a conquista espanhola, é a cópia
feita pelos próprios quiches de uma outra mais antiga, hoje desaparecida. A história divide-se em três partes: a primeira conta a
criação do mundo e dos homens, a segunda narra as peripécias dos heróis gêmeos
no inframundo, e a terceira é uma crônica da dinastia quiche. Vejamos primeiro
como os maias descreveram, em seu poema mítico, o começo do mundo.
Antes que o mundo fosse
criado, só havia um grande mar escuro, vazio e silencioso. Os deuses, que
preexistiam ao próprio caos, viviam imersos em meio a toda aquela quietude.
Um desses deuses era Kukulcán,
que por possuir o corpo de serpente recoberto de penas da ave quetzal foi chamado de Serpente Emplumada (que é a tradução
do seu nome).
A exemplo dos demais deuses,
Kukulcán passava o tempo mergulhado nas águas escuras e silentes do grande caos
aquoso. Nadando e pensando. Ele e os demais adoravam pensar, pois eram sábios.
Mas um dia, depois de tanto
pensarem, os deuses decidiram que era hora também de falar.
E foi então que, do meio da
treva aquosa, soou a voz majestosa de Kukulcán.
Dentre os deuses aos quais
ele dirigiu a palavra estava Huracán, o
deus das tormentas (Huracán, que no idioma quiche quer dizer “Um-Perna”, se
tornou o termo utilizado para designar, tanto na língua espanhola quanto
inglesa, um furação – Huracán e hurricane, respectivamente). Como o nome maia
está a indicar Huracán possuía apenas uma perna, tal qual os furações, mas seus
braços, enormes como pás, tinham o dom de girar velozmente, provocando uma
furiosa ventania.
Além de Huracán, outro deus que
travou diálogo primordial com Kukulcán foi Tepeu, deus
do céu. Juntos, os três deuses decidiram criar a luz, e o fizeram através
de três raios. Depois para criar a Terra, utilizaram apenas a Palavra.
-- Ulev! – gritaram eles, e a Terra
emergiu do oceano, pois “ulev” quer dizer terra”.
No começo, a terra, com seus
vales e montanhas, era apenas como uma nuvem, que aos poucos foi ganhando forma
e consciência. Logo, por cima da terra, criou-se a vegetação, e com ela as
árvores, até se formarem em muitas partes imensos bosques e florestas.
Ao verem o resultado do seu
ato criativo verbal, os três deuses congratularam-se:
--Nossa obra está benfeita! –
disseram eles, banhados em divina satisfação.