sexta-feira, 7 de agosto de 2015

A peste negra e a grande fome


Estima-se que, em 1348, um terço da população europeia tenha sido dizimada pela peste negra.

►A origem e a propagação da peste negra: Durante a Idade Média, várias enfermidades, como a tuberculose e a disenteria, provocavam muitas mortes. Mas nenhuma teve tanto impacto quanto a peste negra. A doença é causada pela bactéria Yersinia pestis, que é transmitida ao ser humano por meio de pulga que se contaminam ao parasitar roedores que alojam a bactéria. Inicialmente se acreditava que a peste negra teria se originado na China, no início do século XIV. Acompanhando as rotas terrestres utilizadas para o comércio, como a famosa Rota da Seda, a peste teria se disseminado da Ásia Central até o Império Bizantino, atingindo sua capital, Constantinopla. Hoje defende-se que a epidemia teria surgido na Ásia Central e entrado na Europa através das rotas de caravanas. Do porto de Constantinopla, os navios que transportavam mercadorias para a Europa levavam também muitos ratos, cujas pulgas estavam contaminadas pela bactéria. Foi essa uma das vias pelas quais a peste negra alcançou os portos europeus, entre 1348 e 1352. Na época, não se conheciam os mecanismos de contágio da peste negra. Por isso, embora a doença não tenha escolhido um grupo social específico, as camadas sociais mais poupadas foram aquelas que dispunham de melhores condições de saneamento e higiene ou seja, os mais ricos.

►A grande fome: Entre 1315 e 1317, a produção agrícola europeia, que já era insuficiente, ficou ainda mais distante das necessidades alimentares da população. O esgotamento do solo, as fortes chuvas que castigaram a Europa em 1314 e 1315 e o clima mais frio foram as principais razões das más colheitas. A epidemia encontrou a população desnutrida e com o sistema imunológico fragilizado. A crise agrícola atingiu todas as camadas sociais. Como consequência das más colheitas, o preço dos cereais, principalmente do trigo, aumentou  e a população urbana sofreu com o desabastecimento e o aumento do banditismo. Nos campos, os senhores feudais passaram a explorar mais intensamente os camponeses.

►As consequências da peste negra: Diante do avanço da peste, as pessoas procuravam se isolar. Para isso, as cidades evitavam a entrada de estranhos, especialmente os oriundos das zonas mais afetadas. Testemunhos da época, no entanto, relatam atitudes de solidariedade. Várias pessoas se ofereciam para cuidar dos doentes ou para enterrar os mortos, mesmo sabendo do risco que corriam. A peste negra provocou a destruição de comunidades inteiras e um grave desequilíbrio social e econômico. Calcula-se que, até o ano de 1390, a peste tenha vitimado entre 20 e 25 milhões de pessoas na Europa, o que equivale a um terço da população do continente na época. As principais consequências dessa tragédia foram a redução ainda maior da atividade econômica e o desabastecimento, tanto no campo quanto na cidade, promovendo mais miséria. Mesmo depois de a epidemia abrandar, milhares de europeus continuaram morrendo, atingidos principalmente pela fome.

A formação dos Estados europeus modernos:


O fortalecimento do poder dos reis: A nascente burguesia comercial precisava promover algumas reformas para impulsionar o comércio. O transporte de mercadorias de uma cidade para outra, por exemplo, obrigava os comerciantes a cruzar vários feudos. Cada um deles, porém, estava sob autoridade de um senhor feudal, que estipulava suas próprias leis. A burguesia passou, então, apoiar a transferência de poder para as mãos de um rei. Dessa maneira, o rei poderia unificar a moeda, as leis, os impostos e estabelecer um sistema de pesos e medidas único, facilitando, assim, os negócios. Muitos senhores feudais também apoiaram a centralização política, mas por razões diferentes. Enfraquecidos após as Cruzadas  e as fugas de servos para as cidades, muitos nobres recorreram aos reis em busca de favores da Coroa. Com o fortalecimento de seu poder, os reis conseguiram impor sua autoridade sobre os habitantes de um território e estabelecer os chamados Estados modernos. Mas esse processo não foi igual em toda a Europa. A seguir estudaremos os casos de Espanha, Portugal, França e Inglaterra.

A Reconquista da Península Ibérica: Desde o início do século VIII, a Península Ibérica estava quase totalmente dominada pelos muçulmanos. Os cristãos que lá viviam ocupavam os territórios ao norte da península. A partir do século XI, as Cruzadas e as disputas políticas entre os muçulmanos estimularam os cristãos a retomar os territórios ocupados pelos árabes na Europa, em batalhas que ficaram conhecidas pelo nome de Reconquista. Aos poucos, os territórios reconquistados na península deram origem a reinos como Leão, Castela, Navarra e Aragão. Esses reinos, entretanto, também lutavam entre si pelo controle político e territorial sobre a região. Alianças entre famílias reais, firmadas por meio do matrimônio, também foram usadas para ampliar o poder de cada reino. As guerras e os casamentos arranjados explicam por que esses reinos variaram tanto em tamanho e poder político e militar. Essa instabilidade durou até o casamento de Fernando, herdeiro do trono de Aragão, com Isabel, irmã do rei de Leão e Castela. Da união desse três reinos formou-se a Espanha no final do século XV.

A formação de Portugal: No século XI, Afonso VI governava os reinos de Leão e Castela. Naquele momento, o rei concedeu ao nobre Henrique de Borgonha como recompensa por sua atuação nas guerras de Reconquista, uma porção de terras situada entre os rios Douro e Minho, denominada Condado Portucalense. Mais tarde, em 1139, Afonso Henriques, filho de Henrique de Borgonha, rompeu com o reino de Castela e com apoio da Igreja Católica proclamou-se rei das terras recebidas por seu pai. O passo seguinte foi à conquista das terras ao sul: era o inicio do reino de Portugal.

A França rumo à centralização: A formação da monarquia nacional francesa teve início no final do século XII, quando o poder real tomou medidas para enfraquecer a nobreza resistente à centralização do poder nas mãos do rei. A coroa criou um exército assalariado e passou a cobrar taxas sobre os bens da Igreja. Além de submeter à Igreja francesa, o rei Felipe, o Belo, que governou a França entre 1285 e 1314, convocou uma assembleia composta pelo clero, pela nobreza e por representantes das cidades para comunicar suas decisões, mais tarde conhecida como Estados Gerais.

A Inglaterra e os limites do rei: A centralização do poder na Inglaterra teve início com Henrique II, no século XII. Entretanto, seu sucessor, o rei Ricardo Coração de Leão, esteve ausente durante grande parte de seu reinado, lutando nas Cruzadas. Com isso, a autoridade real diminuiu. João Sem-Terra, sucessor do rei Ricardo Coração de Leão, logo teve de enfrentar a oposição dos nobres, descontentes com as pesadas taxas que pagavam. Pressionado pela nobreza, pelo clero e pela burguesia, João Sem-Terra assinou, em 1215, a Magna Carta, cujo principal objetivo era limitar os poderes do rei.