Professor
de história da Universidade de Oxford por vinte e três anos, H.R. Trevor-Roper,
possui conclusões diferentes acerca da origem do capitalismo nas potencias
protestantes. Primeiramente, Trevor-Roper propõe um período diferente do de
Weber como marco do capitalismo. O historiador postula alguns problemas que
fragiliza as conclusões de Weber, vejamos:
Em primeiro lugar,
Trevor-Roper apresenta que empiricamente a tese de Weber não passa no teste,
pois nações que se mantiveram na tradição religiosa católica, como é o exemplo
da Áustria e da França e que, portanto, não gozavam do mesmo rigor moral e das
concepções doutrinárias dos calvinistas que lastrearam o sucesso econômico dos
países onde foram beligerantes, contudo, progrediram à semelhança dos países
protestantes. Ao mesmo tempo em que nos pergunta o porquê da Escócia, com forte
tradição calvinista e recursos naturais generosos, não teve o mesmo ímpeto
desenvolvimentista que a anglicana Inglaterra. Para Trevor-Hope, situações como
estas são pontuais na hora de avaliar com cautela alguns axiomas propostos por
Weber.
Em segundo lugar,
Trevor-Roper também aponta para o fato de que nem todos os calvinistas eram
rigorosos em sua piedade e nem todos agiam conforme suas crenças, colocando em
xeque, então, o depósito moral que Weber alega possuir os calvinistas e que
tanto foi primordial no desenvolvimento das potências protestantes. Na verdade,
Trevor-Roper indica até mesmo a circulação nas trincheiras morais por parte de
alguns calvinistas, haja vista que muitos, mesmo defendendo confessionalmente o
calvinismo, ajudaram a financiar causas católicas contra os protestantes e isso
por causa do lucro e poder.
Em terceiro lugar,
Trevor-Roper também pontua que muitas das nações que abraçaram o calvinismo
como expressão da fé cristã protestante não se desenvolveram economicamente por
causa de tais crenças, mas sim porque em seus territórios circulavam
comerciantes estrangeiros (flamengos) que já eram empreendedores em seu país de
origem e uma vez expulsos de sua terra natal, encontraram em países como a
Holanda, por exemplo, as circunstâncias necessárias à livre empresa. Hoper faz
questão de dizer, inclusive, que as idéias calvinistas sobre economia pouco
efeito fizeram sobre os naturais de Escócia, Holanda e Suíça. E, mesmo cem anos
após a militância de João Calvino, não se produziu um único grande empresário
calvinista em terras suíças.
Trevor-Roper afirma
categoricamente que havia fortes movimentos capitalistas antes da Reforma
Protestante, especialmente capitaneada por Lisboa, Antuérpia, Milão, só para
citar alguns. Tais centros eram economicamente ativos e foram eles que deixaram
a herança do capitalismo para o século XVI e não a ética calvinista.
Para Trevor-Roper a confusão
começa quando Weber não percebe que o que aconteceu foi tão somente à emigração
destes capitalistas para as regiões onde afluíam às idéias protestantes. Eles
levaram o conhecimento e as técnicas de mercado para tais lugares, fugindo das
perseguições que lhes eram impostas. Na verdade, o que para Weber foi uma
contribuição doutrinária e prática do calvinismo, para Trevor-Roper tudo não
passou de contingência histórica, pois tais empreendedores aportaram em bolsões
calvinistas, mas, independentemente de onde estivessem, levariam seus conhecimentos
de mercado a efeito, até mesmo para lhes garantir a sobrevivência,
possibilitando assim o progresso econômico de qualquer maneira. Destarte, para
Trevor-Roper, o calvinismo levou a fama, sem merecer, de padrinho do
capitalismo nas proposições de Max Weber.
Trevor-Roper é conclusivo ao
afirmar que perseguições praticadas por autoridades católicas contra alguns
poderosos homens de negócios na Europa que compartilhavam das idéias do
humanista Erasmo de Roterdã, o que atraiu o ódio da Igreja Católica, foi o que
forçou tais empresários a fugir para ambientes mais seguros, geralmente em
países protestantes, sendo este, enfim, o evento catalisador para o
florescimento do capitalismo em domínios calvinistas.
Nossa proposta foi à
abordagem resumida de duas proposições distintas que explicam a origem do
capitalismo e qual a relação deste com a Reforma Protestante. Avanços no
intuito de chegar a conclusões mais aprofundadas serão necessários em
investigações posteriores. O assunto é rico. O contexto histórico situado é
amplo. O tema é instigante. Outros autores precisarão ser convocados à
contribuição.